terça-feira, 21 de agosto de 2012

Editorial do Jornal Luta Operária nº 241, 1ª Quinzena de Agosto/2012
Por um boicote ativo ao circo eleitoral burguês!

Adentramos no mês de agosto e com ele veio o início o circo eleitoral da democracia dos ricos com o começo do horário eleitoral na TV e no Rádio e as primeiras “pesquisas de opinião” voltadas a manipular a vontade popular, escolhendo os candidatos preferidos da burguesia para gerenciar seus negócios em nível dos municípios. Dentre as “opções” postas, a maioria dos prefeitos e vereadores que serão escolhidos em 7 de outubro estará ligada aos partidos da base de apoio do governo Dilma Rousseff. Dentro desse quadro, a disputa em curso tem uma importância nacional porque seu resultado define justamente a correlação de forças no interior da frente popular. Já não resta a menor dúvida de que a presidente deseja enfraquecer o PT e, mais particularmente, os candidatos ligados ao lulismo, enquanto fortalece as legendas, como PSB e PRB, que estão fechadas no apoio a seu nome em 2014. Até aí nenhuma novidade, já que a “oposição conservadora” capitaneada pelo PSDB mal irá conseguir manter os parcos postos que detinha até então, com o governo federal conseguindo inclusive trazer para o seu “campo” o próprio PSD de Kassab que, embora esteja coligado com o PSDB na capital paulista, já namora com Russomano (PRB) diante do provável naufrágio de José Serra. Haddad do PT, nesse cenário, é apenas uma peça decorativa que vai servir justamente para mostrar a fragilidade dos nomes indicados por Lula, tanto que Dilma se negou até mesmo a gravar depoimento em apoio ao candidato de seu próprio partido não só em São Paulo, mas também em Fortaleza e Porto Alegre.

O certo é que para os capitalistas as eleições são uma mera maquiagem que deve ser pincelada no rosto “democrático” do regime burguês. O importante é estabilizar um governo de colaboração de classes e seus sustentáculos nos municípios que melhor garantam a acumulação de capital e a transferência das reservas estatais para seus negócios em uma conjuntura de trégua social e paralisia do movimento de massas. Nesse sentido, a corrida eleitoral em curso se reduz a feroz disputa intestina entre as máfias oligárquicas que dão sustentabilidade a frente popular. As eleições burguesas nada têm a ver com a soberania do voto popular. Estão condicionadas pela influência do poder econômico, pela manipulação da mídia e das falsas pesquisas e, por último, se nada disso resolver, pela fraude direta do sistema da urna eletrônica.

Buscando a todo custo conquistar alguns postos parlamentares e mesmo prefeituras de capitais, presenciamos em meio ao circo eleitoral o jogo desesperado do PSOL em estabelecer alianças com vários partidos da base de sustentação do governo Dilma e mesmo com a direita demo-tucana. Nessa tarefa é seguido em menor grau pelo PCB e mesmo pelo PSTU. Não é surpresa para ninguém que o PSOL, até para sobreviver eleitoralmente do ponto de vista de uma alternativa viável para setores da burguesia, precisa conquistar a prefeitura de Belém, elegendo o ex-prefeito petista Edmilson Rodrigues, cuja campanha é financiada diretamente por empreiteiras e empresas que se beneficiaram em suas duas gestões passadas. O PSOL também almeja projetar o partido na classe média paladina da “ética na política” com a candidatura de Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, justamente para em 2014, em parceria com Marina Silva e seu “movimento por uma nova política” fazer dobradinha em uma candidatura presidencial “alternativa” a do PT e PSDB. Não por acaso, o último congresso nacional do PSOL ampliou sua política de colaboração de classes em uma tentativa de manter no ambiente partidário sua “ala marinista” que engloba além de Heloísa todo o “MTL” da deputada carioca Janira Rocha, tão bajulada pelo PSTU.

Como o PSOL é parceiro estratégico do PSTU em torno da “Frente de Esquerda” não estamos de forma alguma surpresos diante do salto de qualidade que os morenistas deram em sua política eleitoral, compondo com o PCdoB em Belém e apresentando cinicamente a futura administração do ex-prefeito Edmilson Rodrigues como capaz de ser um ponto de apoio para a “revolução”. Esse desfecho político faz parte da “evolução” desse partido que está fazendo o jogo do imperialismo na Líbia e na Síria em nome da “defesa da democracia contra as ditaduras sanguinárias”, inclusive em “alianças táticas” com a OTAN e seus mercenários que também defendem a fantasiosa “revolução árabe”! Trata-se de um avançado processo de corrupção moral, político e material do PSTU e, portanto, nada mais “natural” que deixar de lado os parcos arroubos ortodoxos que ainda preservava no terreno eleitoral para conquistar alguns postos parlamentares! Lembremos que em Maceió, o PSTU está coligado com o PSOL controlado por Heloísa Helena, candidata a vereadora. Heloísa, mesmo já tendo declarado apoio ao movimento encabeçado por Marina Silva, continua filiada formalmente ao PSOL e mais uma vez é apoiada entusiasticamente pelo PSTU. Obviamente, para “consumo interno” o PSTU se diz contrário às coligações com partidos patronais, chegando a implorar ao PSOL para “rever” sua política de alianças, enquanto para o “grande público” apoia Edmilson e se coliga com Heloísa Helena. Na verdade, a direção nacional do PSTU é defensora da ampliação da política de alianças do partido, rompendo de vez com a velha tradição de formação de frentes unicamente com partidos da “esquerda” pequeno-burguesa.

Chama a atenção que alguns agrupamentos como a LER, Negação da Negação e Espaço Socialista, ainda que balbuciem contra a aliança estabelecida pelo PSTU com o PSOL e o PCdoB em Belém, defendam o “voto crítico” neste partido. Isso ocorre porque tais grupos e outros charlatões representantes do “trotskismo fictício”, como o Coletivo Lênin, se negam a fazer um combate de princípios ao conjunto do programa morenista, hoje vanguarda mundial do revisionismo na adaptação à democracia burguesa e atuando como força auxiliar do imperialismo pelo planeta. Por isto, não denunciam que a aliança em Belém representa um projeto maior do PSTU de estabelecer uma mini-frente popular capaz de gerenciar o capitalismo através de pequenas reformas! Não é papel dos revolucionários “tensionar” os canalhas morenistas a alterarem seu rumo socialdemocrata, ao contrário, cabe aos bolcheviques desmascará-los firmemente como verdadeiros agentes da contrarrevolução no interior do movimento de massas. Esta tarefa se faz ainda mais importante quando o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos acabou de fechar um acordo traidor vergonhoso com a GM que bloqueia qualquer ação direta do proletariado contra das demissões. Aqueles que acreditam que ao apoiarem “criticamente” o PSTU estão ajudando os morenistas a “expiar seus pecados” na verdade acabam por encobrir “pela esquerda” a escandalosa política de colaboração de classes desses senhores que hoje pouco se diferenciam do PSOL com seu vale tudo eleitoral.

Diante do atual quadro nacional onde o movimento operário encontra-se entorpecido pela política de colaboração de classes e frente à ausência de uma alternativa revolucionária com influência de massas, as eleições burguesas sequer colocam a possibilidade de uma publicidade comunista “por dentro” do processo legal. O caráter burlesco de eleições que já estão preliminarmente decididas empurra cada vez mais setores conscientes de nosso povo a se enojarem com toda essa farsa montada para desviar o curso da ação direta dos explorados. Avaliamos que nestas eleições municipais crescerá a tendência a abstenção e ao voto nulo como expressão passiva de repulsa a essa democracia dos ricos.

Para potenciar esse processo político adotamos neste momento uma tática que permite dialogar com os setores mais avançados de nossa classe, propondo ações unificadas que possibilitem romper o cerco imposto pela frente popular e o revisionismo. A política mais justa para a ação das massas diante do circo eleitoral passa por desenvolver uma ampla campanha nacional de boicote ativo a estas eleições, o que abarca não só chamado ao voto nulo, indo mais além no sentido de iniciativas ousadas para desmascarar o conjunto da fraude política em curso. Na medida de cada ação concreta pelo boicote eleitoral, abriremos uma trincheira de luta e mobilização permanente dos trabalhadores procurando desfazer o embotamento da consciência de classe e denunciar o engodo da política da frente popular. Frente a esse enorme desafio, convocamos os coletivos classistas e ativistas combativos a desenvolverem conosco a campanha nacional e ativa pelo voto nulo e pelo boicote ativo ao circo eleitoral. Para dar impulso a esta tarefa chamamos mais uma vez a organização de um encontro nacional antes do primeiro turno para que possamos ampliar o processo de agitação e denúncia deste regime democratizante e suas eleições fraudulentas. Compreendemos que para homogeneizar um programa de luta diante do circo eleitoral burguês e dotar o movimento operário de um eixo comum de ação é urgente construir uma plataforma revolucionária unitária com o objetivo de denunciar as candidaturas do regime e apontar, através da ação direta, uma alternativa de poder própria dos trabalhadores, baseada nos interesses históricos e imediatos dos explorados!