quarta-feira, 15 de agosto de 2012


FHC sai em firme defesa de Dilma, está se formando um novo eixo de poder no país?

A figura tucana do ex-presidente FHC esteve praticamente ausente na disputa presidencial de 2010, rompido frontalmente com Serra e estremecido com Aécio, preferiu ficar de “pijama” em casa para assistir passivo a vitória de Dilma. No início deste ano retornou com força ao cenário midiático, já que na cúpula tucana não encontra muito espaço para atuar na briga feroz dos três caciques do PSDB (Alckmin, Aécio e Serra). FHC, considerado o príncipe (senil) dos sociólogos, vem granjeando simpatia na classe média e na juventude urbana ao defender sua “tese” da legalização do consumo pessoal da maconha, tentando com isso deletar da memória nacional sua era das “privatarias” e subordinação ao receituário do FMI. Mas, desta vez o “intelectual” tucano vem ocupando a mídia “murdochiana” com a surpreendente defesa política de um segundo mandato para a presidente petista (?) Dilma Rousseff. No último domingo (12/08), no programa do notório reacionário João Doria Jr, na rede TV, discorrendo sobre as possibilidades da sucessão presidencial de 2014, FHC afirmou que o seu partido deveria se preparar bem para... 2018, ou seja, para suceder Dilma em seu segundo mandato. Sob a perplexidade de João Doria, o ex-presidente analisou que nenhum dos três caciques do PSDB estão em condições de enfrentar o “excelente governo” da gerentona Dilma. Novamente e para não deixar dúvidas, FHC sai em defesa da atual presidente sobre a greve dos servidores federais. Na edição de “O Globo” desta terça (14/08) o tucano declarou que: “O povo está achando que ela está direita, mesmo contrária a essas posições antigas do PT”. Para o tucano, Dilma tem toda razão de “enrijecer” com a mobilização do funcionalismo: “Não vejo como ela pudesse não enrijecer”. FHC obviamente tem muita identidade política com o governo Dilma, particularmente no que tange a arrochar salários dos servidores federais, mas esta afinidade vai bem mais além do que “somente” atacar a combativa greve do funcionalismo público.
 
 
Como já havíamos caracterizado anteriormente a operação “espetaculosa” do julgamento do escândalo do “mensalão”, pelo STF, recebe o amplo patrocínio do Palácio do Planalto. FHC consciente desta movimentação política da ex-“poste” Dilma, conclama sua contemporânea a depurar definitivamente a ala de José Dirceu e “afins” do campo governista, utilizando o julgamento do “mensalão” como instrumento desta manobra política. No caso de uma condenação judicial dos “mensaleiros” a tendência interna majoritária no PT, “Articulação” (da qual Dilma nunca fez parte) estaria praticamente fora do “jogo do poder”, enfraquecendo brutalmente a liderança já abalada de Lula, principalmente pelo seu “delicado” estado de saúde. Com índices de popularidade muito altos, seria uma tarefa inútil ousar enfrentar a reeleição de Dilma em 2014, a melhor opção para um setor da burguesia é tentar construir um novo pólo de poder “neoliberal 100%”, com Dilma e FHC, isolando os elementos “históricos” do PT e PSDB.
 
 
A tentativa de unir parte do PT e PSDB em um novo agrupamento ideológico não é propriamente uma novidade do mundo político burguês. Mas, a “ideia” volta a ganhar força em função da postura cada vez mais submissa do governo Dilma em relação aos ditames de Washington. Não que o governo do ex-presidente metalúrgico possuísse alguma característica anti-imperialista, mas pelo menos procurava manter um verniz de demagogia nacionalista, principalmente pela ação diplomática do Itamaraty. Dilma segue uma agenda econômica, imposta pelo amo do norte, sem nenhuma preocupação em desagradar a burocracia dirigente petista e cutista. Também importantes intelectuais “terceiro mundistas”, como Samuel Pinheiro, abandonam a nave governista denunciando a inflexão política direitista da atual gestão frente populista. O cenário da conjuntura nacional aponta para a sedimentação de novo bloco hegemônico, após uma certa fadiga do modelo original petista.

O elemento decisivo para o desenlace do atual impasse político, no seio das classes dominantes, será o fator econômico, ou seja, a capacidade do Brasil atravessar o atual cenário de recessão mundial. Com um horizonte turvo na economia internacional, o “desafio” da burguesia nativa é de inserir o Brasil em uma nova posição na divisão global das forças produtivas, aproveitando-se do crash financeiro dos centros imperialistas. Países como Canadá, Austrália, África do Sul, Índia, Rússia, China e, em certa medida, o próprio Brasil vem contornando a crise capitalista mundial com o novo “desenho” do fluxo mundial de investimentos (produtivos e financeiros). A gerência burguesa estatal, a ser parida em 2014, deve colar o país nesta vertente global, abandoando temporariamente o viés do “neodesenvolvimentismo”, tão cultuado pelo governo Lula. Provavelmente estaremos próximos de assistir a uma “depuração” ainda mais conservadora do PT, que nem a imensa crise política do mensalão de 2005 conseguiu produzir. Em resumo, atravessamos uma etapa de reação política e ideológica em toda linha, onde a classe operária continua atomizada e sem assumir o seu papel de protagonismo histórico.