quarta-feira, 24 de outubro de 2012


A “escolha de Sofia” do PSOL: converter-se em base do governo ou aliar-se definitivamente à oposição Demo-Tucana?

A reta final das eleições municipais se em nada serve a organização e luta do povo explorado, pelo menos vem cumprindo a função de clarificar politicamente aos olhos da vanguarda militante de esquerda em nosso país o verdadeiro caráter de classe do partido que até então encabeçava a chamada “oposição de esquerda”, estamos é claro falando do PSOL. Se algum analista político estrangeiro, minimamente criterioso, discorresse sobre o quadro eleitoral do PSOL neste segundo turno, poderia afirmar que o partido “rachou” diante dos caminhos aparentemente conflitantes assumidos nas duas capitais que está concorrendo. Afinal de contas, o PSOL em Belém adotou a posição de base de apoio do governo Dilma, recebendo apoio de Lula e na cidade de Macapá aliou- se a oposição Demo-Tucana contra o candidato do PDT apoiado pelo PT. Acontece que não há o menor indício de “racha” no PSOL, pelo menos no âmbito de sua direção majoritária. O que está acontecendo neste momento eleitoral para o PSOL nada mais é do que a pura expressão do fisiologismo pragmático mais tradicional, que permeia todos os partidos burgueses no Brasil. Para os charlatães de esquerda que anunciavam o nascimento do mais “novo” partido “socialista” no cenário político nacional, este segundo turno foi realmente revelador, do ponto de vista do genuíno marxismo revolucionário. As duas escolhas de alianças eleitorais do PSOL foram realizadas pela mesma corrente que dirige o partido, que não enxerga a menor contradição em receber ao mesmo tempo apoio do PT e dos Tucanos e sua corte reacionária. Em Macapá, o mesmo senador psolista que costurou o acordo com o Dem, foi à capital do Acre declarar apoio ao candidato da oligarquia petista que controla o estado. Em Belém, Edmilson Rodrigues pertence a mesma corrente interna do PSOL do senador Randolfe que, por sua vez, também integra o deputado Ivan Valente, presidente do partido, que chancelou os acordos políticos celebrados neste segundo turno. Em resumo, o “socialista” PSOL, que cresceu bastante nestas eleições a custa de um oportunismo sem parâmetros, não passa de mais um partido da ordem capitalista sem nenhum conteúdo proletário e classista.

Mas sem sombra de dúvidas a aproximação com o PT no Pará cobrará um alto preço político ao PSOL. A declaração que Lula e Dilma gravaram em apoio a Edmilson enfatiza muito mais os “feitos” do governo da frente popular do que mesmo a própria candidatura do ex-prefeito. Dilma afirmou que apóia o PSOL na certeza de um “parceiro” com o governo federal. Registre-se o fato de que a presidente não gravou programas de apoio para muitos candidatos do seu próprio partido que disputam este segundo turno, como foi o caso de Fortaleza. Como uma “reação” imediata ao namoro político estabelecido com o governo do PT, o ex-candidato do PSOL à presidência da república, Plínio de Arruda declarou que prefere o tucano Serra a Haddad em São Paulo e logo sofreu um “enquadramento” do próprio Ivan Valente. Já a esquerda do partido, impulsionada pela CST do eterno candidato Babá, lançou um manifesto contra as alianças com o PT e Tucanos, defendendo o completo “delírio” de que o PSOL havia realizado uma campanha “pela esquerda” com o sucesso eleitoral do deputado Marcelo Freixo no Rio. Caso se consolide uma vitória de Edmilson em Belém, o que até o momento é pouco provável, pela importância da cidade e das alianças realizadas (não só com o PT, mas também com latifundiários do PDT e PMDB) nos parece que o destino político do PSOL será mesmo o de integrar a base aliada do governo Dilma, como sua ala de “esquerda”. Na vertente de um triunfo do PSOL em Macapá, seria mais remota a possibilidade do “atiçamento” da direita partidária, como Plínio e Freixo, impor uma incorporação a oposição Demo-tucana.

O PSTU, pequeno beneficiário parlamentar da coligação eleitoral com o PSOL, ficará em uma situação bastante delicada caso se configure a posse de Edmilson Rodrigues na capital paraense. Os Morenistas fraudulentamente anunciaram que estavam se retirando da coligação “Belém nas mãos do povo” (PSOL, PCdoB e PSTU), quando na verdade apenas se retiraram da coordenação da campanha, enquanto o PSOL em nota oficial reafirma a “solidez da frente eleitoral” que levou Edmilson ao segundo turno. Como continuam cinicamente a apoiar “criticamente” o ex-prefeito petista, o PSTU avaliza desta forma a política da direção do PSOL em buscar a aproximação com o governo Dilma. Não temos a menor dúvida que caso seja eleito, Edmilson contará em sua base de apoio na câmara com o vereador eleito pelo PSTU, posto que os Morenistas não declararam nenhuma intenção em impulsionar a oposição classista, mesmo diante dos acordos feitos com latifundiários e capitalistas integrantes da base aliada da frente popular. Vale lembrar que o último parlamentar eleito pelo PSTU, antes dos dois atuais, foi resultado de uma coligação eleitoral com o próprio PT, na segunda maior cidade do Ceará. Agora novamente salivando o “gosto” do parlamento burguês, o PSTU praticará todo o tipo de malabarismo político oportunista para manter seus vínculos com o PSOL, mesmo na hipótese deste confluir no arco “mensaleiro” do governo petista. É mesmo uma ironia da história o mesmo PSTU que recentemente se somou ao “PIG” a dar loas ao reacionário STF por operar a “caça as bruxas” ao comando da “Articulação”, neste mesmo momento está apoiando a mesma candidatura em Belém.

Nós da LBI fomos a primeira corrente a caracterizar o PSOL como um fenômeno político tipicamente pequeno-burguês, que diante da dinâmica de sua integração ao Estado capitalista logo evolui para a formação de um partido patronal e corrupto. O PSOL nunca possuiu uma base sólida operária, favor não confundir com meia dúzia de burocratas sindicais liberados, foi originalmente formado por parlamentares profissionais com pouca trajetória de luta no próprio PT, como Chico Alencar e Heloísa Helena. A mitificação de que se tratava de um “partido socialista de novo tipo” serviu a toda sorte de arrivistas que pretendiam trilhar uma carreira parlamentar, com mais “liberdade” que tinham no próprio PT. A campanha do PSOL à prefeitura do Rio, que não contou com coligações, foi a expressão mais concentrada de um programa tipicamente pequeno-burguês, capaz de atrair “figuras” como o preconceituoso Caetano Veloso, ex-apoiador de FHC, o mesmo que não se cansava de chamar Lula de “analfabeto”. Obviamente o “mito” criado de que o PSOL seria “socialista” também ajudou os cretinos do PSTU (estiveram do lado da OTAN na Líbia) a impulsionar a malfadada “oposição de esquerda”, que hoje vive a disjuntiva de “Sofia”, ou converter-se em base aliada do governo Dilma, seguindo o caminho trilhado em Belém, ou se junta de malas e bagagens à oposição Demo-Tucana como já sugeriu o “decano” Plínio de Arruda.