Grécia:
Direita se fortalece enquanto Syrizia se prepara para comandar um “governo de
esquerda” seguindo o “modelo” petista de colaboração de classes
A Grécia é
palco de uma nova greve geral nesta quinta-feira, 18 de outubro, convocada pela
Confederação dos Funcionários Públicos e a Confederação Geral dos Trabalhadores
Gregos. Os trabalhadores paralisaram as atividades com o objetivo de protestar
contra os dirigentes da União Europeia reunidos em Bruxelas que discutem uma
nova onda de cortes nos salários e aposentadorias. Mais de 20.000 manifestantes
reuniram-se no centro de Atenas, à medida que a maioria das empresas e o setor
público interromperam as atividades para uma greve de 24 horas. Os serviços
públicos e os transportes, como o metrô, trens e os táxis, foram fortemente
afetados. Diversos vôos foram cancelados. A polícia reprimiu duramente os manifestantes e usou gás lacrimogêneo para
dispersar manifestantes do lado de fora do Parlamento. A Grécia vive a pior
recessão desde a 2a Guerra Mundial e deve cortar pelo menos mais 11,5 bilhões
de euros para atender as demandas da “troika” (UE, BCE e FMI) a fim do governo
da Nova Democracia assegurar a próxima parcela do resgate de 130 bilhões de
euros. O primeiro-ministro conservador Antonis Samaras acerta os últimos
detalhes do programa de ajuste econômico, que visa aprofundar os ataques aos
trabalhadores. Enquanto isso, a resposta das direções sindicais segue o roteiro
de inóquas greves de 24 horas, enquanto há uma clara polarização política e social, com
o crescimento da extrema-direita por um lado (Aurora Dourada) e o
fortalecimento da Syrizia, “coalizão da Esquerda Radical”, que foi nas eleições
passadas apoiada pela maioria do arco revisionista do trotskismo.
Militantes
gregos foram presos quando se manifestavam em Atenas contra o partido fascista
Aurora Dourada. Foram torturados na Direção Geral de Polícia, em Atenas,
sofrendo sevícias. As denúncias foram feitas em Atenas pelos advogados e pelas
próprias vítimas. As vítimas exibiram as provas das violências sobre elas
cometidas pelos agentes da Diretoria Geral de Polícia (GADA) em Ática, na
capital grega. As sevícias incidiram sobre cerca de 40 pessoas, 15 presas
inicialmente durante a manifestação contra o grupo nazista, que terminou em
confrontos. O jornal britânico Guardian revelou casos em que a polícia
aconselha pessoas a procurarem auxílio suplementar junto do Aurora Dourada,
sobretudo quando se trata de “questões com imigrantes”, em troca de
contribuições para os neonazistas. Esse processo indica o claro crescimento do
grupo Aurora Dourada, que inclusive se fortaleceu nas eleições passadas!
Em meio a
greve geral, Alexis Tsipras, dirigente do Syriza, tendo o apoio de vários “sindicatos
independentes”, declarou que “pretendo liderar uma força antiausteridade de
oposição no Parlamento”, mantendo o jogo de cena da democracia dos ricos e
tentar estabilizar o regime político pela via de suas instituições apodrecidas,
através de seus postos parlamentares. A Syriza é o “Plano B” da burguesia que está se
credenciando para assumir o governo em uma crise futura. No momento está
atuando na oposição parlamentar eleitoralista como um dique de contenção para a
radicalização das lutas do proletariado grego. Esse é seu principal papel hoje:
sustentáculo fundamental do regime político. Nesta tarefa, conta com o apoio
dos revisionistas (LIT, PO, MAS, UIT...) que clamaram por um “governo de
esquerda” ao moldes da gerência do PT do Brasil para fazer uma política abertamente frente
populista. Se tivesse ganho as eleições seu objetivo era compor um gabinete com
uma roupagem renovada para gerir a crise do regime grego questionando
limitadamente os termos estabelecidos pela troika em seu “plano de ajuste” que
impõe mais miséria e desemprego aos trabalhadores. Por isso, a Syriza não
defende sequer a saída da União Europeia (UE) e sim a revisão do chamado
“memorando” sob o slogan “Euro sem austeridade”. Como o imperialismo não a
escolheu para a tarefa de gerenciar diretamente o governo, faz oposição
parlamentar de fachada para legitimar o circo eleitoral e se apresentar como
“alternativa” eleitoral frente às massas descontentes. Enquanto isso a extrema-direita cresce nas ruas, aliada a polícia, como se viu nesta quinta-feira!
Enquanto
Alexis Tsipras fala de um “governo de esquerda” como suposta alternativa
concreta aos olhos dos trabalhadores a atual gestão abertamente submissa a
troika, o KKE propõe vagamente um “poder popular dos trabalhadores”, mas não
faz nada para concretizá-lo limitando-se a vergonhosos pedidos ao parlamento
burguês porque para os stalinistas “as condições objetivas e a correlação de
forças não estão maduras” para uma ruptura revolucionária! Uma grande delegação
do CC do KKE, encabeçada por Aleka Papariga, secretária-geral do CC do KKE,
participou na manifestação da PAME deste dia 18/10. A secretária-geral do CC fez a seguinte
declaração: “O que é preciso é um novo começo no agrupamento de forças, de
elevadas formas de luta e de reivindicações radicais para que as lutas sejam
eficazes. O povo tem que acreditar que uma Grécia, desligada da UE, uma Grécia
em que seja o povo a mandar, pode garantir a prosperidade social e evitar o
pior” (resistir.info). Depois de negar-se a chamar a derrubada do governo burguês do Pasok,
frente à gestão de unidade nacional controlada pela direita, o KKE apresenta
como proposta a “retirada da UE”. Tal medida protecionista, que a frágil
burguesia grega até poderia chegar a recorrer desesperadamente, tem a simpatia
de setores da própria direita nacional. A entrada da Grécia na chamada zona do
Euro a colocou em um colapso previamente anunciado. A única “saída possível”
para a burguesia grega seria a renúncia ao Euro e o rompimento com o
receituário draconiano da troika, mas isso é impossível no marco estatal de uma
classe dominante associada às burguesias imperialistas europeias, em especial à
alemã e francesa, que se beneficiam das exportações primárias da Grécia e
principalmente da jogatina especulativa de que o país é refém. Em resumo,
diante da covardia da burguesia nativa, o KKE assume a defesa da tarefa... dando-lhe
uma maquiagem de esquerda, mas sem questionar em nenhum momento o próprio poder
burguês.
É preciso
alertar, preparar e organizar o proletariado e, particularmente, sua vanguarda
mais combativa para um período de fascistização do regime político.
Tragicamente, o conjunto da esquerda grega, desde o stalinismo até os
revisionistas do trotskismo apresentam nada mais do que impotentes programas
sindicalistas, opondo-se a armar de uma plataforma revolucionária a classe para
os novos embates que emergem desta nova conjuntura dramática. Aos genuínos
marxistas cabe a tarefa de intervir ativa e pacientemente sobre estas lutas
para elevar o nível de consciência dos setores mais radicalizados, a fim de
fazê-la avançar da resistência defensiva atual para a disputa pela conquista do
poder político contra seus algozes, superando a criminosa influência política
que a centro-esquerda reformista e seus satélites revisionistas exercem sobre o
proletariado!