terça-feira, 30 de outubro de 2012


PT versus PT: Gleisi Hoffmann quer ver “companheiros” de partido na cadeia por decisão “encomendada” ao STF

A esquerda petista, inclusive as tendências revisionistas que ainda intervém no partido, vem denunciando com muito vigor a verdadeira arapuca montada pela burguesia, “camuflada” pela ação penal 470 (conhecido como processo do “mensalão”) que está às vésperas de seu encerramento pelo STF, para desmoralizar e encarcerar os dirigentes históricos do núcleo “duro” do PT. Também todo um setor da intelectualidade progressista, simpática ao PT, vem fartamente demonstrando que a falsa cruzada “ética e moral” dos ministros togados do Supremo está na verdade a serviço dos interesses mais reacionários e corruptos da classe dominante, agrupando em um único bloco político a decomposta mídia “murdochiana” e a oposição Demo-Tucana. Mas, o que nenhum petista quer admitir, enterrando a cara como uma avestruz, é o fato de o próprio governo Dilma estar diretamente empenhado na eliminação política dos dirigentes da antiga “Articulação” (corrente majoritária do PT) utilizando uma corte suprema subserviente, que sempre defendeu as causas mais retrógradas da burguesia nacional. Os petistas e seus aliados que vociferam legitimamente contra os arbítrios antidemocráticos do STF e de seus ministros “paladinos” de ocasião, simplesmente não querem ver o “dedo” da anturragem palaciana na conspiração institucional para condenar à prisão José Dirceu e Genoíno Neto, abrindo caminho para o retorno de Palocci à condição de “guru” neoliberal do governo Dilma. Mas, agora com alguns resultados eleitorais favoráveis, a turma neopetista palaciana resolveu mostrar a cara e se posicionar publicamente pela condenação dos “companheiros mensaleiros”. E quem veio com tudo na defesa da tese da “renovação” do PT, pela via do STF, foi nada menos que a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, braço direito da presidente Dilma. A senadora petista eleita pelo Paraná, licenciada para assumir o ministério, utilizou nesta segunda-feira (29/10) o jornal Folha de São Paulo para elogiar o STF e defender o cumprimento das penas impostas a Dirceu e Genoíno Neto. Afirmou Gleisi no periódico golpista da família Frias que: “Nós podemos gostar ou não de como as coisas se dão, mas nós temos de respeitar resultados e instituições.”

A ministra da Casa Civil, que é casada com o odiado burocrata Paulo Bernardo, Ministro das Comunicações, acaba de patrocinar a operação política que transferiu o ex-deputado tucano Gustavo Fruet para o PDT, possibilitando o apoio petista fundamental para a sua recente vitória na eleição municipal de Curitiba. Não por coincidência, Fruet foi um dos parlamentares da oposição de direita que mais se destacou na CPI do “mensalão” em 2005. Gleisi, que é candidata ao governo do Paraná em 2014, se arvora de ter iniciado uma “renovação” no PT ao sustentar uma aliança com o agronegócio em 2010, quando foi eleita senadora. A senadora revelou aos seus “amigos” da Folha como foram os debates no interior do PT: “Como que nós vamos fazer uma aliança com quem representa o agronegócio brasileiro? Como se isso fosse uma coisa ruim! Isso depois do governo Lula, sendo o agronegócio responsável por 23% do nosso PIB”. O PT paranaense comandado pelo “casal 20” da política oportunista tem um peso considerável no governo Dilma, vem apontando um rumo que tende a ser hegemônico no cenário nacional do campo político governista. As recentes vitórias dos candidatos “postes” petistas, todos com características de tecnocratas neoliberais, reforçam a tendência do surgimento de uma nova “maioria” no partido, onde as figuras da “velha” esquerda reformista mais “marcadas” pela burguesia não terão mais espaço político.

Solitariamente, a LBI, desde o começo do processo do chamado “mensalão”, vem caracterizando o engodo montado pela burguesia com o claro objetivo de atacar e suprimir as parcas liberdades democráticas conquistadas pelo movimento operário na luta contra o regime militar. A tentativa de criminalizar dirigentes da esquerda burguesa social-democrata, que mesmo corrompidos até a medula pelo Estado capitalista representam setores do “campo popular”, significa um profundo retrocesso do regime político e não pode ser comemorado por nenhum militante que reivindique o combate revolucionário às instituições do Estado capitalista. Nem por um segundo advogamos a “honestidade” da “quadrilha” de Dirceu em suas transações comerciais, quando esteve a frente do gabinete Lula. Outra coisa é que setores que se reclamam de esquerda pretendam fazer “justiça popular” pelas mãos do ultrarreacionário STF, uma instituição secular patronal, permeada pelos seus interesses de classe.

A disputa política que ocorre em torno do processo judicial do “mensalão” envolve frações das classes dominantes interessadas em “renovar” desgastados gerentes estatais, por uma nova camada de tecnocratas com pouca luminosidade política. Este movimento da burguesia já se refletiu objetivamente no resultado das eleições municipais do último domingo. Com um modelo de gestão mais consolidado a frente popular na sua versão “poste sem luz” vai caminhando para o quarto mandato estatal consecutivo, e nesta nova vereda política devem tombar no caminho os precursores da trilha da colaboração de classes. Lula só não irá acompanhar Dirceu, Delúbio e Genoíno no cárcere em função de sua enorme representatividade social, mas com certeza não ocupará mais nenhuma função executiva no staff da burguesia nacional. Este prognóstico foi feito pelo próprio ex-pupilo de Lula, Haddad, que depois de eleito foi primeiro ao “beija mão” da presidente, mesmo após esta ter vacilado bastante em abraçar sua candidatura no primeiro turno eleitoral.