Com a mão esquerda burguesia descarta Serra e com a direita degola Dirceu
Estamos às vésperas do segundo turno das eleições municipais e o novo quadro político nacional vai se desenhando com maior clareza, faltando alguns “ajustes” para a burguesia definir que só conheceremos na abertura das urnas “robotronicas” no próximo domingo (28/10). Como já tínhamos caracterizado em nosso primeiro balanço político, logo após o primeiro turno, ocorreu um certo equilíbrio de forças entre o campo governista e as chamadas oposições consentidas de “direita e esquerda”. O PT deu continuidade ao seu processo de “engorda” fisiológica, mas cedeu espaços importantes no interior da própria base aliada, com as fragorosas derrotas sofridas em Recife e BH para o PSB. Os Demo-Tucanos também não poderiam se queixar de seus resultados, em um clima econômico abertamente favorável ao governo Dilma. O PSDB conseguiu levar seus candidatos ao segundo turno em várias capitais, em particular São Paulo onde o veterano tucano Serra conquistou a primeira posição. No cômputo geral os Demo-Tucanos (vencedores em Maceió e Aracaju) passaram ao segundo turno além da capital paulista em Salvador, Manaus, Belém, São Luis, Teresina, João Pessoa, Rio Branco, etc.. Já o PSOL vai disputar pela primeira vez o segundo turno em Macapá e Belém. A vitória de Márcio Lacerda em BH pode ser dividida ao meio entre o governador Aécio Neves e a oligarquia “socialista” dos Ferreira Gomes. O PDT, outro partido da base aliada, reelegeu o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati muito pouco simpático a futuras alianças com o PT. Como se pode facilmente aferir o “troféu” de ganhador deste embuste eleitoral municipal só poderia mesmo ser decidido na reta final do segundo turno, mais além do consistente crescimento do voto nulo e abstenções.
Correndo paralelo ao processo eleitoral viciado, a população assistiu “on line” o “espetaculoso” julgamento do chamado “mensalão”, onde a burguesia e seus “instrumentos” midiáticos “murdochianos” decidiram “depurar” (com métodos de um tribunal reacionário de exceção) da vida política nacional a velha direção do PT. A operação política da burguesia, travestida de cruzada ética e moralizadora, tem por objetivo abrir caminho para um “novo” PT, sem o “ranço” de esquerda dos quadros históricos da tendência Articulação, como José Dirceu e Genuíno Neto. O STF, utilizado pela burguesia nacional como uma corte de serviçais togados cumpriu exemplarmente sua função institucional, ou seja, um tribunal classista patronal onde a classe operária e seus representantes políticos são invariavelmente condenados, ou não recordam da cassação do senador Prestes e de toda bancada parlamentar comunista. O PT que deve emergir politicamente após a provável prisão dos dirigentes do “campo majoritário”, será comandado diretamente pela anturragen da presidenta Dilma, os chamados neopetistas tecnocratas, da qual Dilma é a expressão mais concentrada. Este elemento da conjuntura explica o empenho dos ministros do STF, nomeados em sua maioria pelos governos da frente popular, em demonstrar total rigidez e inflexibilidade na condenação dos quadros da esquerda que fundaram o PT, transformando este partido em um dócil gerente estatal dos negócios de grandes grupos capitalistas. Agora estes setores fascistizantes e o “PIG” já salivam por colocar o próprio Lula no banco dos réus do STF, hipótese remota diante dos laços políticos que ainda unem Dilma ao ex-metalúrgico que chegou ao Planalto. De toda forma fica o recado a Lula dado pela burguesia: “Não interfira na reeleição da gerentona ou poderá ter o mesmo destino do companheiro Dirceu”.
Como a política praticada pelos “barões” capitalistas não passa de um verdadeiro balcão de negócios, onde uma das regras se chama a “lei das compensações”, a prisão de Dirceu deve ser calibrada com o descarte de um outro “capo” também histórico do terreno da oposição Demo- Tucana. E o “escolhido” foi justamente o desgastado e impopular Serra (vitorioso no primeiro turno graças a uma descarada fraude eletrônica e midiática) conduzido a “fogueira” eleitoral pelos próprios “camaradas” do PSDB, como Alckmin e FHC. A provável eleição do novato Haddad na maior cidade da América Latina, após uma tentativa frustrada do Planalto emplacar o populista evangélico Russomano, deslocará o pêndulo da vitória nacional nestas eleições para o campo político petista, mesmo que venha a perder em capitais importantes como Salvador,Fortaleza e Manaus. O fato de o debutante Haddad ter sido “bancado” pessoalmente por Lula, não o credencia à condição de “fidelidade” programática absoluta ao “velho e doente” dirigente maior do PT, como se pode constatar com a “pupila” Dilma que agora se empenha em cassar (pela via de um STF submisso) antigos companheiros da corajosa guerrilha que combateu o regime militar.
Como principal elemento político de relevância a ser abstraído destas eleições ficou a certeza de que a disputa presidencial de 2014 já está praticamente selada. Os Tucanos vão apresentar pela primeira vez o nome do ex-governador Aécio Neves (com a aposentadoria precoce de Serra), por isso a vitória de seu candidato em BH foi meticulosamente preparada, leia-se fraudada. É óbvio que Aécio não tem a menor chance contra Dilma, mas cumprirá a “missão” de preparar um novo bloco de poder para 2018, desta vez com as oligarquias “socialistas” dos Campos e Ferreira Gomes. O front da chamada “oposição de esquerda” deverá ser reforçado com a entrada política da eco-imperialista Marina Silva, não se sabe ainda se na legenda do PSOL ou na fundação de um novo partido unificado. Os Marxistas Leninistas que combateram na trincheira vigorosa da denúncia do circo eleitoral, como um instrumento das classes dominantes para desviar a ação direta do proletariado, não tivemos êxito na tarefa de unificar a vanguarda classista e grupos da esquerda anticapitalistas em uma campanha centralizada pelo boicote eleitoral ativo. Somos plenamente conscientes do profundo retrocesso na consciência da classe operária e da etapa contrarrevolucionaria que atravessamos em nível mundial, o que nos coloca em um franco isolamento político. Mas, como nos ensinou o mestre bolchevique e fundador do Exército Vermelho, em seus piores momentos do exílio político: “Os comunistas não intervém somente em momentos de afluxo das massas, devem se preparar para períodos de derrotas e isolamento ideológico na defesa da revolução socialista”.