segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Editorial do Jornal Luta Operária nº 246, 2ª Quinzena de Outubro/2012
Eleições Municipais: regime político da burguesia contemplou todos os partidos a serviço da ordem, da direita até a “extrema esquerda”

“Dividir para reinar”, ou melhor, para governar! Assim Maquiavel condensou teoricamente a tática muitas vezes usada pela classe dominante de sua época para controlar determinada situação política ou dominar novos territórios, garantindo a estabilidade necessária para avançar em seus objetivos imediatos e históricos. No Brasil, a burguesia tratou de aplicar esta mesma artimanha nas eleições municipais, pulverizando entre todos os partidos da ordem, desde o PSOL até o PSDB/DEM, passando obviamente pelo seu principal gerente de plantão, o PT, o controle das diversas capitais e grandes cidades do país. Presenciamos no circo eleitoral da democracia dos ricos um confronto político violento entre as legendas pelo controle do botim estatal ainda que estas representem os mesmos interesses sociais opostos ao do proletariado e do povo pobre. Fazendo um balanço político geral e apurado das eleições municipais constatamos que não houve uma vitória esmagadora do PT sobre a oposição demo-tucana, ao contrário, a divisão da base aliada do governo Dilma permitiu que todo o espectro político das legendas burguesas e pequeno-burguesas fosse contemplado à “esquerda” e à “direita”, estando desde já garantida uma vasta base de apoio para a reeleição da “gerentona” em 2014, que amplia sua influência palaciana para além das fronteiras petistas tradicionais. A estabilidade do regime político burguês será mantida justamente neste mosaico da falsa “pluralidade” política e democrática, em um jogo de equilíbrio onde os interesses de classe dos barões capitalistas e das oligarquias regionais estão preservados como cláusula pétrea, no famoso “ganhe quem ganhe” perdem os trabalhadores e os explorados em geral.

O PT ganhou em São Paulo, principal metrópole do país e da América Latina, assim como em outras três capitais (João Pessoa, Rio Branco e Goiânia). O triunfo “pessoal” de Lula já na entrevista coletiva de Haddad neste domingo a noite (28/10) foi extremamente diluído, já que o prefeito eleito ressaltou muito mais o papel de Dilma em sua vitória que o do ex-presidente. O “poste paulista” parece que já busca distanciar-se de seu padrinho “doente e frágil” para seguir o mesmo caminho da “gerentona” no Planalto, ou seja, ser porta-voz do “novo PT”, distante de nomes rifados como Dirceu e que recorre à imagem de Lula apenas quando for em seu benefício direto. O próprio “PT puro sangue” foi fragorosamente derrotado nestas eleições municipais. Já o PSDB conquistou Manaus e Belém, além de Teresina e Maceió em uma prova que está se recompondo lentamente. O seu fiel aliado, o DEM, obteve uma importante vitória em Salvador com ACM Neto, garantindo sua existência política reforçada com o domínio sobre Aracaju. O PPS ganhou em Vitória em confronto com o PSDB. Por sua vez, o PSD de Kassab se livrou da “relação carnal” com o finado Serra e agora negociará sua participação direta no Ministério, com o peso de ter ganhado em Florianópolis. Presenciamos um relativo equilíbrio de forças políticas, com o fortalecimento da base do governo da frente popular, a conquista importante do PT da capital paulista com Haddad, responsável por deslocar tenuemente o pêndulo da vitória nacional nestas eleições para o campo político petista e um claro freio na desestruturação demo-tucana, principalmente com as vitórias de Arthur Virgílio e ACM Neto, já que a derrota de Serra em São Paulo já era favas contadas, como a LBI prognosticou há vários meses.

Os partidos da base aliada do governo Dilma não têm do que reclamar na divisão do botim estatal. O PMDB manteve o controle da capital fluminense, que recebe enxurradas de recursos para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, além de ter abocanhado Boa Vista, o que lhe garante manter-se na vice-presidência na futura aliança nacional com o PT. O PDT, ainda que dividido, conquistou Porto Alegre, Natal e Curitiba, sendo que nesta última cidade sua vitória foi negociada como moeda de troca para o PT tentar em 2014 derrotar o fracionado PSDB paranaense rachado entre Beto Richa e Álvaro Dias, que deve migrar para o próprio PDT controlado pelo seu irmão. O fisiológico PP conquistou duas prefeituras (Palmas e Campo Grande) e o PTC, com uma candidatura costurada diretamente por Flávio Dino (PCdoB) ganhou em São Luís, derrotando o PSDB e abriu caminho para a disputa do governo estadual do Maranhão com grandes chances de vitória para a frente popular na terra de Sarney. O fiel da balança do próximo período será o PSB, que conquistou Fortaleza, Recife, Cuiabá e Belo Horizonte em confrontos diretos com o PT, além de ter garantido o controle de Porto Velho. As oligarquias Ferreira Gomes e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, devem se cacifar para em 2018 lançarem voo próprio e não mais atuar como satélite do PT. Até lá vão barganhar pesado na composição para a futura aliança em torno de Dilma em 2014. Sua próxima relação com Aécio Neves (PSDB) em Minas Gerais, mantida diretamente por Ciro Gomes, é um sinal claro desse caminho e as feridas da eleição custarão a ser saradas. O PCdoB, rifado nas urnas nas principais cidades em que disputou, vai seguir como eterno satélite do PT.

O PSOL perdeu em Belém, mas ganhou em Macapá, onde sua ala mais fisiológica garantiu um amplo leque de apoios burgueses que abarcou até a “direita”. Aqui, também 2014 ditará o desdobramento futuro direto, já que o PSOL estará junto com Marina Silva em seu projeto presidencial, não havendo nenhum racha previsto, já que o conjunto de sua direção tem em comum esse plano estratégico. O PSTU, aliviado com a derrota de Edmilson, já que se o PSOL assumisse a prefeitura de Belém iria cobrar alto e imediatamente a fatura pela aliança que elegeu o vereador morenista, agora irá aproveitar a derrota em Belém e a vitória da ala fisiológica do PSOL em Macapá (que recebeu apoio do PSDB/DEM) para tirar algum dividendo político “pela esquerda”, assim como vem fazendo a própria CST. Para além dessas manobras distracionistas para contemplar o público interno, o PSTU espera repetir em 2014 as alianças com o PSOL a fim lhe garantir um posto no Congresso Nacional ou mesmo uma crise neste partido que permita até mesmo uma unidade orgânica entre as duas legendas. Este última vereda é bastante improvável, já que o grupo de Ivan Valente, Randolfe e Cia marcha unido em suas negociações para a construção da “terceira via” com a ecocapitalista Marina para gerenciar os negócios da burguesia, em mais uma opção confiável para o imperialismo.

Apesar da imensa polarização política artificialmente montada na disputa do segundo turno, como em São Paulo, é sintomático que tenha crescido a abstenção eleitoral e se mantido praticamente o mesmo número de votos brancos e nulos em todo o país. De acordo com os dados da apuração do TSE, 19,99% dos eleitores da capital paulista – 1,72 milhão de pessoas – não compareceram às urnas neste domingo. No primeiro turno, realizado no dia 7 de outubro, o percentual havia sido de 18,48%. Isto ocorre porque há uma tendência histórica geral de um lento deslocamento das massas em relação a nulidade da institucionalidade burguesa como centro de resolução de suas reivindicações vitais. Outro aspecto importante a ser ressaltado neste balanço foi a fraude através do uso das urnas “roubotrônicas” que nesta eleição foi usada claramente em Fortaleza onde a “apuração” começou com 50 minutos de atraso justamente para garantir a vitória da oligarquia Ferreira Gomes, que controla o TRE, sobre o candidato petista ligado a Democracia Socialista de Luizianne Lins. A direção local do PT, apesar de saber da fraude eletrônica que lhe foi imposta, onde não existe a possibilidade de recontagem de votos, aceitou passivamente o roubo já que não pode romper o pacto de legitimação do circo eleitoral da democracia dos ricos. Limitou-se a pateticamente anunciar em entrevista coletiva antes mesmo do início do anúncio dos primeiros resultados que iria entrar na justiça contra o “abuso do poder econômico” dos ex-aliados do PSB.

A LBI, dentro de suas modestas forças, tratou de dotar a campanha pelo Voto Nulo e pelo boicote do circo eleitoral de um caráter militante e ativo. Interviemos em várias capitais do país e combatemos diretamente a minifrente popular em Belém, que inclusive já prognosticávamos que iria ser derrotada, justamente porque não representava nenhuma ruptura com a ordem burguesa, pelo contrário, tomou um rumo ainda mais direitista e acabou recebendo o “abraço de urso” de Lula e Dilma. Nossa campanha militante, apesar de não ter conseguido unificar nacionalmente uma intervenção com outros grupos políticos, demonstrou que é possível romper o cerco imposto pela frente popular e a “oposição de esquerda”. Mas do que nunca, é preciso agora compreender que o fato do regime político da burguesia contemplar todos os partidos a serviço da ordem, desde a “esquerda” até a “direita” do circo eleitoral, representa um enorme obstáculo para forjar uma alternativa política revolucionária dos trabalhadores, na medida em que as ilusões na democracia burguesa permanecem entre as amplas massas e a classe dominante se recicla com um cardápio político variado para amortecer a luta de classes nos próximos anos!