Governo reacionário turco anuncia ações militares contra a Síria em apoio à “revolução árabe” patrocinada pela OTAN
O parlamento turco aprovou nesta quinta-feira, 04 de outubro, uma lei autorizando o Exército a realizar operações em território sírio, um dia depois de um bombardeio com morteiros originado na Síria ter matado cinco pessoas próximas de uma base militar da OTAN onde são treinados “rebeldes” em uma cidade turca na fronteira. A decisão dá direito ao governo capacho do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, de enviar tropas ou caças para atacar alvos na Síria quando achar necessário. Também nesta quinta-feira, a Turquia voltou a disparar contra alvos na Síria pelo segundo dia seguido, usando como pretexto a retaliação ao bombardeio contra as bases do ELS na fronteira do país. Dentro da própria Turquia a decisão servil aos interesses das grandes potências imperialistas sofre resistência, tanto que manifestações contra a entrada do país na guerra foram brutalmente reprimidas pela polícia. Com a aprovação da medida, está aberto o caminho para ação unilateral das forças armadas turcas. Não por acaso, a OTAN divulgou nesta quarta-feira, 03 de outubro, um comunicado no qual exige que a Síria interrompa todas as supostas agressões ao território da Turquia, membro da aliança militar imperialista, afirmando: “A aliança continua ao lado da Turquia e exige o imediato fim desses atos agressivos contra um aliado. Exorta o regime sírio a pôr um fim a essa violação flagrante do direito internacional. As disposições da OTAN são muito claras e determinam que todos os países-membros tenham a responsabilidade de responder quando um deles é agredido” (Actualidad, 04/09). Já o governo de Bashar al Assad declarou que “As tropas sírias estão em total alerta para responder a qualquer agressão turca” (Idem) e sustentou que é a Turquia que viola diariamente a soberania síria, ao oferecer seu território para a passagem de mercenários “rebeldes” que estão promovendo atos terroristas como os ataques de ontem a Aleppo, onde explosões de carros-bomba mataram 34 pessoas e deixaram mais de 122 feridos.
Armado o cenário para uma possível agressão da Turquia a Síria, com o apoio da OTAN, o Exército Livre Sírio (ELS) mostrou-se disposto a “colaborar” com a Turquia em uma eventual intervenção militar na Síria: “Esperamos que qualquer intervenção seja coordenada conosco e creio que assim o farão” (O Estado de S.Paulo, 04/09), disse o “número dois” do ELS, Malek Kurdi, que destacou que uma eventual ação deveria ser produzida com o aval internacional. Mas a OTAN, que atuou durante meses na Líbia bombardeando o país, sabe que uma ação direta na Síria é bem mais difícil de sair vitoriosa, por isto está apostando no isolamento e debilitamento do governo de Assad após 18 meses de provocações contra o regime. O carniceiro secretário-geral da aliança imperialista, Anders Fogh Rasmussem afirmou que “A Síria é uma situação muito, muito complexa. Intervenções militares podem ter impactos amplos” (The Guardian, 04/09), justamente porque isso forçaria uma reação do Irã e afrontaria interesses da Rússia, que tem uma base militar no país. Tanto que o governo russo também interveio na tensão entre Turquia e Síria, pedindo para Ancara reconhecer que o ataque sírio foi um acidente. “Nós conversamos com as autoridades de Damasco que nos asseguraram que o que aconteceu na fronteira com a Turquia foi um acidente trágico, e que não acontecerá novamente” (Actualidad, 04/09), disse o ministro de Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov.
Todo esse teatro foi montado para criar mais um pretexto à agressão militar contra a Síria, já que até o momento através do Conselho de Segurança da ONU, devido aos vetos da Rússia e China, não foi aprovada a intervenção militar. Com a entrada em cena da Turquia, a OTAN agirá usando a desculpa de que um estado-membro da Aliança está sendo ameaçado pela Síria sem a necessidade de aprovação formal de outras instâncias internacionais como a ONU. Na verdade, a Turquia já invadiu várias vezes o espaço aéreo sírio e montou uma verdadeira base militar do ELS na fronteira com o país, onde os mercenários recebem armas e treinamento. Não esqueçamos que em 2003 a mesma Turquia pediu assistência da OTAN para garantir sua segurança diante da iminência da guerra do Iraque. Não por acaso, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou durante uma reunião especial da OTAN que se as tropas sírias se aproximarem da fronteira com a Turquia serão considerados alvos militares, o que significa uma verdadeira declaração de guerra contra a Síria.
Por outro lado, a preocupação da Turquia também é com os curdos na Síria. Nos últimos meses, Assad praticamente liberou para eles terem uma autonomia na região fronteira com a Turquia. Nesse contexto, os curdos na Síria incrementaram os contatos com o Curdistão iraquiano e com o PKK (Partido Trabalhista do Curdistão), brutalmente reprimido pelo governo de Recep Tayyip Erdogan. O PKK está organizando bases militantes no norte da Síria, o que impede as ações de sabotagem dos mercenários nas fronteiras com a Síria e também o uso do território turco nesta região do país para o lançamento de drones (aviões não-tripulados) com o objetivo de bombardear as principais cidades sírias como já vem ocorrendo. O centro da preocupação turca é que os curdos se fortaleçam ainda mais na região, porque o estabelecimento do governo autônomo curdo no norte do Iraque e a posse de cidades iraquianas de Mosul e Kirkut, após a ocupação, importantes centros de reserva e extração petrolífera, deu grande impulso a um sentimento popular que exige a constituição de um Estado independente. O ascenso do movimento nacionalista curdo também desestabiliza internamente a própria Turquia, já que em seu território existem mais de 12 milhões de curdos vivendo sob um férreo regime de opressão nacional, cuja expressão mais conhecida é a prisão do líder curdo nacionalista do PKK, Abdullah Ocalan. A consequente defesa do direito à autodeterminação curda através de um programa marxista revolucionário passa, neste momento, pelo chamado à unidade revolucionária dos trabalhadores turcos, iraquianos, iranianos, sírios e curdos, conformando milícias multiétnicas para derrotar o imperialismo e seu agente Erdogan.
O que está em curso neste momento é mais uma ofensiva voltada a aprofundar as ações terroristas do império contra o regime de Assad, se valendo dos países títeres como a própria Turquia (membro da OTAN), Qatar e Arábia Saudita. Isto ocorre porque mesmo com todo o apoio do imperialismo, a escória “insurgente” do ELS e do CNS, apesar das suas constantes ações internas terroristas, não consegue avançar contra a oligarquia Assad, sendo inclusive expulsa pelas milícias populares apoiadoras do atual regime sírio na segunda maior cidade do país, Aleppo, que está sendo destruída em meio à guerra civil. Os objetivos da estratégia da Casa Branca passam por isolar cada vez mais o clã da oligarquia Assad dentro do chamado “mundo árabe”, e assim minar seu governo e instaurar à força um regime neoliberal. “Seguimos aumentando a pressão externa. Anunciamos em Washington sanções destinadas a expor e a romper os vínculos entre Irã, Hezbollah e Síria, que prolongam a vida do regime de Assad”, afirmou a “madame” Clinton em entrevista ao jornal Daily Telegraph (04/09). Desta forma, um país “aberto” aos investimentos imperialistas com o fim das hostilidades contra o gendarme nazi-sionista de Israel e o aceleramento dos planos de guerra são metas a serem atingidas por Washington em curto prazo, já que um governo capacho em Damasco imporia o isolamento tanto a Palestina como ao Líbano (Hezbollah) e Irã. A paz dos cemitérios estaria assim imposta na região e a Turquia servil seria uma importante base de apoio aos planos neocolonialistas!
Escandalosamente, esta escalada militar é tratada pela esquerda revisionista (LIT, UIT, PO, PTS, CMI...) como um novo capítulo da “revolução árabe” que se encaminha para derrubar mais um “ditador sanguinário” no Oriente Médio. Como tivemos a oportunidade de ver, isso não corresponde à realidade, porque a queda do regime nacionalista burguês de Assad representaria um duro revés não só para os povos oprimidos do Oriente Médio, como também para os lutadores anti-imperialistas de todo o mundo. O principal inimigo dos povos, portanto, não é o regime sírio, como querem fazer crer os estrategistas do Pentágono e seus agentes travestidos de “esquerda”, mas sim o imperialismo, o mais cruel inimigo a ser combatido. Este deve ser vencido pelos genuínos revolucionários que neste momento devem se postar em frente única com as forças populares e anti-imperialistas que desejam barrar a sanha macabra auspiciada por Obama e a “madame” Clinton. Desde a LBI, defendemos a ação das forças armadas sírias contra a Turquia. Trata-se de um ato de autodefesa frente a provocação montada pela OTAN. Porém, esta “reposta” militar síria é extremamente limitada e defensiva. É preciso convocar as massas árabes e palestinas a se mobilizarem contra a agressão imperialista, que está voltada a avançar contra o Líbano e o Irã. O que está em jogo neste momento é a possibilidade do imperialismo ianque incrementar sua ofensiva no Oriente Médio e no norte da África usando como cortina de fumaça seu apoio a fantasiosa “revolução árabe” tão saudada pelos revisionistas do trotskismo.