domingo, 28 de junho de 2015


KOBANI E SÍRIA: POR UMA POSIÇÃO JUSTA E REVOLUCIONÁRIA PARA COMBATER A OFENSIVA IMPERIALISTA E SUA CRIATURA, O EI

Aparentemente os ataques do EI na Tunísia e Kuwait desta sexta-feira, 26, foram tentativas de demonstrar força frente aos reveses sofridos na Síria, tanto para as tropas do exército nacional do regime Assad como para as milícias curdas da YPG-YPJ (Unidades de Proteção do Povo). Diante da realidade de um conflito multifacetário, a posição dos Marxistas Revolucionários é primeiramente reafirmar a frente única com o exército nacional comandado por Bashar Al-Assad contra os “rebeldes” armados e financiados pela Casa Branca, que são o ELS, a Frente al-Nursa e o próprio EI. Estes grupos combatem o governo Assad e disputam entre si violentamente o controle dos territórios conquistados na Síria, tendo o ELS a simpatia pública da Casa Branca e dos revisionistas do trotskismo como a LIT e a UIT, que chegaram a pedir publicamente que Obama fornecesse armas e munições para os “rebeldes”. Por sua vez, os grupos precursores do EI foram anteriormente armados pela CIA para desestabilizar o governo sírio seguindo o mesmo script macabro imposto na Líbia de Kadaffi. Entretanto, os “fanáticos” jihadistas islâmicos estão sofrendo reveses em sua “missão” pelo exército nacional da Síria, que conta com amplo apoio popular. Frente as derrotas recentes na Síria, o EI acabou recuando para o Iraque e voltando suas forças contra o debilitado e impopular governo títere do imperialismo no Iraque. Trata-se de em um típico exemplo de quando o “feitiço se volta contra o mestre” devido às contradições vivas da luta de classes, que acabaram por colocar o EI em choque aberto com a marionete imposta em Bagdá pelos EUA. Esta realidade criou um impasse na Casa Branca. Obama perdeu o controle sobre o EI e ainda viu o fortalecimento do governo Assad no último ano. Diante desta nova realidade, o Pentágono voltou a bombardear o EI no Iraque no final de 2014 e a Síria em maio deste ano. Obama por sua vez vem armando outros grupos “rebeldes moderados” para fustigar o governo Assad e paralelamente deter o avanço dos jihadistas. Os trotskistas rechaçam os bombardeios imperialistas ao território da Síria, não assinando nenhum “cheque em branco” para Obama atacar o EI. Estes bombardeios da OTAN ao EI podem servir a qualquer momento como pretexto para as forças imperialistas atacarem Damasco ou mesmo o sul do Líbano controlado pelo Hezbolah. Ao denunciar a agressão imperialista, no campo militar os trotskistas reafirmam a frente única com o exército nacional comandado por Bashar Al-Assad contra toda a malta de “rebeldes” armados e financiados pela Casa Branca! No marco deste conflito encontra-se Kobani, cidade fronteiriça no norte da Síria com a Turquia, onde se concentram os curdos. O EI chegou a dar por conquistada a região no ano passado mas os curdos os expulsaram em janeiro, após meses de intensos confrontos e tiveram um outro revés antes dos ataques a Tunísia e Kuwait. Durante muito tempo, os curdos ficaram sozinhos defendendo Kobani, já que o governo da Turquia se recusava deixar ingressar curdos turcos e iraquianos (peshmerga) pela sua fronteira. Entretanto, a principal milícia síria curda (YPG-YPJ) conseguiu expulsar o EI com o apoio das bombas da coligação imperialista liderada pelos Estados Unidos e formada há um ano para lançar ataques aéreos contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria. Trata-se da mesma política utilizada pelo imperialismo ianque no Iraque com relação aos curdos, ou seja, a tentativa de um acordo para dar relativa autonomia para a região desde que suas direções se aliem as iniciativas militares do Pentágono. Essa região inclusive está sendo caracterizada acriticamente pelos revisionistas do trotskismo como a CS argentina e MRS no Brasil (que combatem Assad ao lado dos “rebeldes") como a “Kobani Vermelha” pela influência do PKK e de supostos anarquistas na cidade. Os EUA e seus aliados da OTAN já lançaram mais de 135 ataques aéreos em torno de Kobani e em volta da cidade na tentativa de deter o EI. Nesse contexto, os curdos na Síria incrementaram os contatos com o Curdistão iraquiano e com o PKK, brutalmente reprimido pelo governo turco de Erdogan, que declarou “Dar armas ao YPG para formar uma frente contra o EI? Vejamos, para nós, o YPG é igual ao PKK, também é uma organização terrorista, tão terrorista como o EI. Os Estados Unidos, nosso amigo e aliado na OTAN, estaria muito errado se esperasse de nós dizer 'sim' após anunciar abertamente apoio a uma organização terrorista como o YPG. Ninguém pode esperar algo assim de nós, não podemos dizer sim a algo assim” (UOL, 19.10.2014). O PKK está organizando bases militantes no norte da Síria, o que impede as ações de sabotagem dos mercenários islâmicos ligados ao EI nas fronteiras com a Síria. O centro da preocupação turca é que os curdos se fortaleçam ainda mais na região, porque o estabelecimento do governo autônomo curdo no norte do Iraque e a posse de cidades iraquianas de Mosul e Kirkut, após a ocupação, importantes centros de reserva e extração petrolífera, deu grande impulso a um sentimento popular que exige a constituição de um Estado independente. O ascenso do movimento nacionalista curdo também desestabiliza internamente a própria Turquia, já que em seu território existem mais de 12 milhões de curdos vivendo sob um férreo regime de opressão nacional, cuja expressão mais conhecida é a prisão do líder curdo nacionalista do PKK, Abdullah Ocalan, ainda mais agora quando o Partido Democrático do Povo (HDP), de orientação pró-curda conquistou importante representação parlamentar nas eleições legislativas de duas semanas atrás e tirou a maioria absoluta ao partido de Erdogan. A consequente defesa do direito à autodeterminação curda através de um programa marxista revolucionário passa, neste momento, pelo chamado à unidade revolucionária dos trabalhadores turcos, iraquianos, iranianos, sírios e curdos, conformando milícias multiétnicas para derrotar o imperialismo ianque e seu agente Erdogan. Não somos partidários da atual existência de uma imaginária “Kobani Vermelha” como fazem os revisionistas do trotskismo partidários da “revolução árabe”, que saúdam o apoio que as milícias curdas recebem dos EUA para enfrentar o EI, via os bombardeios e armas, como proclamam a LIT, UIT e a CS-MRS. Os Marxistas Revolucionários pacientemente estão ao lado dos combatentes curdos em Kobani demonstrando a inutilidade estratégica de uma aliança com os EUA. Muito menos nos colocamos ao lado dos jishadistas islâmicos contra a minoria curda, rechaçamos os ataques do EI a Kobani e suas provocações terroristas na região. Chamamos os combatentes do YPG a lutar pela sua independência nacional unindo os curdos do Iraque, Turquia e Síria em frente única com o governo Assad, contra a coalização imperialista, Erdogan e o EI, dando assim um caráter extremamente progressista a sua justa aspiração nacional.