KOBANI E SÍRIA: POR UMA POSIÇÃO JUSTA E REVOLUCIONÁRIA PARA
COMBATER A OFENSIVA IMPERIALISTA E SUA CRIATURA, O EI
Aparentemente os ataques do EI na Tunísia e Kuwait desta
sexta-feira, 26, foram tentativas de demonstrar força frente aos reveses sofridos
na Síria, tanto para as tropas do exército nacional do regime Assad como para as
milícias curdas da YPG-YPJ (Unidades de Proteção do Povo). Diante da realidade
de um conflito multifacetário, a posição dos Marxistas Revolucionários é
primeiramente reafirmar a frente única com o exército nacional comandado por
Bashar Al-Assad contra os “rebeldes” armados e financiados pela Casa Branca,
que são o ELS, a Frente al-Nursa e o próprio EI. Estes grupos combatem o
governo Assad e disputam entre si violentamente o controle dos territórios
conquistados na Síria, tendo o ELS a simpatia pública da Casa Branca e dos
revisionistas do trotskismo como a LIT e a UIT, que chegaram a pedir
publicamente que Obama fornecesse armas e munições para os “rebeldes”. Por sua
vez, os grupos precursores do EI foram anteriormente armados pela CIA para
desestabilizar o governo sírio seguindo o mesmo script macabro imposto na Líbia
de Kadaffi. Entretanto, os “fanáticos” jihadistas islâmicos estão sofrendo
reveses em sua “missão” pelo exército nacional da Síria, que conta com amplo
apoio popular. Frente as derrotas recentes na Síria, o EI acabou recuando para
o Iraque e voltando suas forças contra o debilitado e impopular governo títere
do imperialismo no Iraque. Trata-se de em um típico exemplo de quando o
“feitiço se volta contra o mestre” devido às contradições vivas da luta de
classes, que acabaram por colocar o EI em choque aberto com a marionete imposta
em Bagdá pelos EUA. Esta realidade criou um impasse na Casa Branca. Obama
perdeu o controle sobre o EI e ainda viu o fortalecimento do governo Assad no
último ano. Diante desta nova realidade, o Pentágono voltou a bombardear o EI
no Iraque no final de 2014 e a Síria em maio deste ano. Obama por sua vez vem
armando outros grupos “rebeldes moderados” para fustigar o governo Assad e
paralelamente deter o avanço dos jihadistas. Os trotskistas rechaçam os
bombardeios imperialistas ao território da Síria, não assinando nenhum “cheque
em branco” para Obama atacar o EI. Estes bombardeios da OTAN ao EI podem servir
a qualquer momento como pretexto para as forças imperialistas atacarem Damasco
ou mesmo o sul do Líbano controlado pelo Hezbolah. Ao denunciar a agressão
imperialista, no campo militar os trotskistas reafirmam a frente única com o
exército nacional comandado por Bashar Al-Assad contra toda a malta de
“rebeldes” armados e financiados pela Casa Branca! No marco deste conflito
encontra-se Kobani, cidade fronteiriça no norte da Síria com a Turquia, onde se
concentram os curdos. O EI chegou a dar por conquistada a região no ano passado
mas os curdos os expulsaram em janeiro, após meses de intensos confrontos e
tiveram um outro revés antes dos ataques a Tunísia e Kuwait. Durante muito
tempo, os curdos ficaram sozinhos defendendo Kobani, já que o governo da
Turquia se recusava deixar ingressar curdos turcos e iraquianos (peshmerga)
pela sua fronteira. Entretanto, a principal milícia síria curda (YPG-YPJ)
conseguiu expulsar o EI com o apoio das bombas da coligação imperialista
liderada pelos Estados Unidos e formada há um ano para lançar ataques aéreos
contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria. Trata-se da mesma política
utilizada pelo imperialismo ianque no Iraque com relação aos curdos, ou seja, a
tentativa de um acordo para dar relativa autonomia para a região desde que suas
direções se aliem as iniciativas militares do Pentágono. Essa região inclusive
está sendo caracterizada acriticamente pelos revisionistas do trotskismo como a
CS argentina e MRS no Brasil (que combatem Assad ao lado dos “rebeldes") como
a “Kobani Vermelha” pela influência do PKK e de supostos anarquistas na cidade.
Os EUA e seus aliados da OTAN já lançaram mais de 135 ataques aéreos em torno
de Kobani e em volta da cidade na tentativa de deter o EI. Nesse contexto, os
curdos na Síria incrementaram os contatos com o Curdistão iraquiano e com o
PKK, brutalmente reprimido pelo governo turco de Erdogan, que declarou “Dar
armas ao YPG para formar uma frente contra o EI? Vejamos, para nós, o YPG é
igual ao PKK, também é uma organização terrorista, tão terrorista como o EI. Os
Estados Unidos, nosso amigo e aliado na OTAN, estaria muito errado se esperasse
de nós dizer 'sim' após anunciar abertamente apoio a uma organização terrorista
como o YPG. Ninguém pode esperar algo assim de nós, não podemos dizer sim a
algo assim” (UOL, 19.10.2014). O PKK está organizando bases militantes no norte
da Síria, o que impede as ações de sabotagem dos mercenários islâmicos ligados
ao EI nas fronteiras com a Síria. O centro da preocupação turca é que os curdos
se fortaleçam ainda mais na região, porque o estabelecimento do governo
autônomo curdo no norte do Iraque e a posse de cidades iraquianas de Mosul e
Kirkut, após a ocupação, importantes centros de reserva e extração petrolífera,
deu grande impulso a um sentimento popular que exige a constituição de um
Estado independente. O ascenso do movimento nacionalista curdo também desestabiliza
internamente a própria Turquia, já que em seu território existem mais de 12
milhões de curdos vivendo sob um férreo regime de opressão nacional, cuja
expressão mais conhecida é a prisão do líder curdo nacionalista do PKK,
Abdullah Ocalan, ainda mais agora quando o Partido Democrático do Povo (HDP),
de orientação pró-curda conquistou importante representação parlamentar nas
eleições legislativas de duas semanas atrás e tirou a maioria absoluta ao
partido de Erdogan. A consequente defesa do direito à autodeterminação curda
através de um programa marxista revolucionário passa, neste momento, pelo
chamado à unidade revolucionária dos trabalhadores turcos, iraquianos,
iranianos, sírios e curdos, conformando milícias multiétnicas para derrotar o
imperialismo ianque e seu agente Erdogan. Não somos partidários da atual
existência de uma imaginária “Kobani Vermelha” como fazem os revisionistas do
trotskismo partidários da “revolução árabe”, que saúdam o apoio que as milícias
curdas recebem dos EUA para enfrentar o EI, via os bombardeios e armas, como proclamam
a LIT, UIT e a CS-MRS. Os Marxistas Revolucionários pacientemente estão ao lado dos
combatentes curdos em Kobani demonstrando a inutilidade estratégica de uma
aliança com os EUA. Muito menos nos colocamos ao lado dos jishadistas islâmicos
contra a minoria curda, rechaçamos os ataques do EI a Kobani e suas provocações
terroristas na região. Chamamos os combatentes do YPG a lutar pela sua
independência nacional unindo os curdos do Iraque, Turquia e Síria em frente
única com o governo Assad, contra a coalização imperialista, Erdogan
e o EI, dando assim um caráter extremamente progressista a sua justa aspiração
nacional.