OS 10 ANOS DO “MENSALÃO”, A ATUAL OPERAÇÃO LAVA JATO E A
PERSEGUIÇÃO A DIRCEU E DIRIGENTES HISTÓRICOS DO PT: COVARDIA POLÍTICA DE LULA ABRIU
CAMINHO PARA A OFENSIVA REACIONÁRIA CONTRA TODA A
ESQUERDA E O MOVIMENTO OPERÁRIO
No dia 06 de junho, sábado passado, completou-se 10 anos da
denúncia de Roberto Jefferson (PTB) sobre o suposto esquema de compra de apoio
parlamentar ao governo Lula, escândalo conhecido popularmente como “Mensalão”.
Durante esta década, consolidou-se o recrudescimento da ofensiva política e
ideológica reacionária contra o movimento de massas e a esquerda em geral, como
vimos nas manifestações da direita e de grupos fascistas em março e abril
usando como pretexto o “combate a corrupção” no governo Dilma. O alvo imediato
foi o PT, mais particularmente o antigo núcleo histórico da direção do partido
(Dirceu, Genoíno e Delúbio), preso após o julgamento-farsa da ação penal 470 no
STF sobre o comando de Joaquim Barbosa, em uma trama urdida pela mídia,
particularmente a Globo e a Veja, que imputou quase que exclusivamente ao
partido o “mar de lama” das negociatas estatais como se as “comissões”
(propinas) não estivesse presentes desde o nascimento da República. Não resta
dúvidas que os dirigentes petistas negociaram o recebimento de percentuais para
liberar a execução de obras e contratos em empresas públicas, mas este modus operandi
é o centro do funcionamento do Estado burguês, os tucanos e FHC que o digam!
Dirceu, Genoíno e Delúbio não foram presos por tal “delito” e sim como uma
forma de desmoralizar e perseguir o conjunto da esquerda. Essa sanha
reacionária se mantém até hoje com a Operação Lava Jato comandada pelo Juiz
Sérgio Moro, cujo alvo é cercar o próprio Lula e deixar o governo Dilma nas
cordas até 2018. Entretanto, como estamos vendo com a contrarreforma política
orquestrada por Eduardo Cunha e Renan Calheiros no Congresso Nacional, o
objetivo é bem mais amplo e estratégico: um ataque em toda linha as liberdades
democráticas e ao direito de organização política dos trabalhadores. Como a
LBI alertou desde 2012 , no começo do julgamento do “Mensalão” (enquanto PSOL e
PSTU comemoravam a detenção dos petistas), a covardia e até cumplicidade de
Lula, Rui Falcão, Dilma e da direção nacional do PT diante da prisão de seus
quadros históricos abriram caminho para o atual quadro político, onde a reação
burguesa deseja impor uma transição da atual gerência petista para um governo
ultra-conservador (Alckmin) tendo por base a repressão as lutas sociais (como
vimos nas greves do professores em SP e PR) e o esmagamento político do
conjunto da esquerda, tarefa que é facilitada pela aplicação do ajuste
neoliberal pelas mãos de Levy e Dilma. Não por acaso, segundo reportagem do
Estadão (07.06), Dirceu teria dito a amigos “De que serve toda covardia que o
Lula e a Dilma fizeram na ação penal 470 e estão repetindo na Lava Jato? Agora
estamos todos no mesmo saco, eu, o Lula, a Dilma”, afirmação até agora não
desmentida em seu Blog que acaba de publicar um manifesto de sindicalistas do
PT e da CUT contra o ajuste fiscal endereçado ao V Congresso do partido que começa neste dia 11 de junho. Ora se a operação “Lava Jato” decidir indiciar todos
os políticos do regime burguês por terem recebido recursos financeiros de
grandes empreiteiras, terão que incluir todos os congressistas, todos os
governadores desde 1982 e também todos os presidentes da república a partir de
1989! Está absolutamente claro que se trata de um “aviso” a todos os petistas
que decidam fazer “oposição” a Dilma. Dirceu e outros “rebeldes” recentes como
os senadores Paulo Paim e Lindbergh Farias não são “puros”, do ângulo de uma
política da classe operária, foram cooptados já a algum tempo pelo “establishment
capitalista” mas estão antevendo o fiasco eleitoral do PT em 2016 e 2018 e seu
esgotamento político mais geral, os dois últimos inclusive junto com Tarso
Genro já estão flertando com o PSOL. Segundo o Estadão, Dirceu comentou para
amigos a crise eleitoral petista nos próximos anos e avalia que o processo de
reorganização do PT “é coisa para 4, 6 ou 8 anos”. De fato, com a
contrarreforma política em curso, tudo leva a crer que, no mínimo, os próximos
dois mandatos presidenciais estejam nas mãos de um eixo político à direita do
PT. Diante do esgotamento do ciclo histórico petista a burguesia nacional
pretende estabilizar ao máximo esta transição através da “Reforma Política” com
uma harmonização quase “perfeita” entre a gerência estatal comprometida com os desejos
da Casa Branca e um outro Congresso Nacional. Tudo leva a crer que o “Opus Dei”
Alckmin é o nome reacionário mais adequado para esta tarefa, mais além de
pertencer as hostes tucanas. Neste sentido se aprovada em sua plenitude, é bom
frisar que as votações da “Reforma” estão apenas em sua fase inicial, a
candidatura de Lula ao Planalto estaria completamente descartada já no
nascedouro petista em função do novo quadro eleitoral estabelecido para 2018.
A mesma reportagem, reproduzida pelo portal Brasil 247, site
simpático ao petista, acrescenta que o ex-presidente do PT não esconde o temor
de voltar à cadeia por causa da Lava Jato “Querem me condenar ou me colocar
outra vez na cadeia. Imagine o estardalhaço”. De nossa parte, já em artigo de
23 de janeiro intitulado “José Dirceu ‘ameaça’ com a formação de uma nova
tendência mais à esquerda no PT e logo foi ‘enquadrado’ pela ‘Lava Jato’”
pontuamos: “Dirceu foi um dos fundadores e dirigente histórico da tendência
hegemônica do PT, a ‘temida’ e burocrática Articulação, hoje denominada de
‘CNB’ (Construindo um Novo Brasil), porém desde que foi escolhido pela
burguesia nacional como o ‘símbolo da antiga esquerda guerrilheira’ e cassado
no Congresso Nacional foi perdendo gradativamente sua influência no PT. No curso
do processo farsa do ‘Mensalão’ os seus companheiros da Articulação, incluindo
neste bojo o próprio Lula, foram se afastando e migrando para a ‘sombra’ mais
confortável do governo Dilma, Dirceu isolado e condenado pelos ‘togados’ do STF
não recebeu a solidariedade política que esperava permanecendo calado. Agora
passada a reeleição e com o agressivo curso neoliberal do governo petista,
Dirceu resolveu iniciar uma nova ‘articulação’ petista (apesar das severas
restrições da lei) com dirigentes e parlamentares do partido descontentes com a
política econômica”. Na época denunciamos que só foi Dirceu “ameaçar” criar
algum tipo de “problema” ao governo que logo Dilma ordenou aos novos
“parlapatões” da operação policial “Lava Jato” que incluíssem o nome do
ex-presidente do PT como “beneficiário das empreiteiras”. Para o Ministério
Público Federal, há indícios de que a empresa de consultoria de Dirceu (JD
Assessoria LTDA) tenha recebido recursos de empreiteiras ligadas ao esquema de
“comissões” na Petrobras. Na decisão judicial consta que a consultoria recebeu,
entre 2009 e 2013, R$ 3.761.000 das construtoras Galvão Engenharia, OAS e UTC
Engenharia. Em seu blog, Dirceu afirma que sua empresa prestou consultoria às
empreiteiras “para atuação em mercados externos, sobretudo na América Latina e
Europa”. A “caça às bruxas” em curso, sob a maquiagem jurídico policial da
Operação Lava Jato, está focada em paralisar o crescimento da Petrobras em
áreas estratégicas como o refino industrial do óleo cru (incluindo o “Pré-sal”)
e química fina, que precisam de grandes obras tocadas justamente pelas
empreiteiras nacionais. Como o juiz Miro sentiu-se amplamente amparado pela
venal mídia corporativa em sua empreitada contra os interesses do país e
posteriormente constatou que o próprio ministro da justiça, o petista Eduardo
Cardozo, não lhe impunha nenhum limite resolveu instalar um poder paralelo por
cima das próprias “instituições”. Trata-se da “República de Curitiba” que agora
elegeu como alvo político o PT, neste rumo Moro prendeu Vaccari e ameaça
novamente José Dirceu, sendo que este já responde centralmente por outra farsa
jurídica, o “Mensalão, baseado na mesma hipocrisia burguesa de que só o PT
neste país recebe "comissões"...Se Moro e a Operação “Lava Jato”
sinceramente pretendesse apurar a remessa de Dólares para o exterior (fruto das
“comissões” generalizadas) começaria pelo escândalo do Banestado, que evadiu do
país nada menos do que a soma de $20 bilhões de Dólares. Mas é claro que onde
as digitais da tucanalha estejam presentes, neste caso de caciques como Álvaro
Dias e Beto Richa, não haverá nenhuma investigação. Nem pensar é óbvio procurar
saber onde FHC, Serra e sua gang enfiaram as “comissões” da privataria, as
maiores recebidas desde a chegada de Cabral a costa brasileira.
Para Moro a corrupção estatal foi uma “invenção genuína” do
PT e o que é pior aplicada atualmente no âmbito exclusivo da Petrobras. Para
obter o resultado a que se propõe, “desmembrar” a Petrobras a serviço da
ExxonMobil, é necessário desmoralizar o núcleo político que tenuemente pensou
em alargar as fronteiras da estatal, embora ainda muito distante de um projeto
radicalmente nacionalista. Por isso volta a cenário nacional a figura de José
Dirceu, considerado o “capo” formulador da corrente “Articulação”, hegemônica
no universo das tendências internas do PT. Sem abrir mão do nosso programa
estratégico da revolução socialista, os marxistas sabem diferenciar o embuste
da reação imperialista e o campo político da Frente Popular. Sabemos bem que
Lula, Dilma e este governo são covardes e cúmplices diante da ofensiva
direitista, entregando o comando da economia do país a um representante direto
do capital financeiro internacional. Por isso mesmo é incapaz de esboçar sequer
uma defesa de seus próprios companheiros. Porém nossa trincheira é inflexível e
nunca estabeleceremos nenhum “bloco político” com o imperialismo em nome do
combate a corrupção estatal.
Não faltam os falsos “esquerdistas” úteis a reação, que
vociferam o fato de Dirceu ter elevado bastante seu padrão de vida e bens
financeiros. Estes parvos afirmam que se trata de uma “disputa inter-burguesa”
e para a “esquerda” tanto faz que o “corrupto” Dirceu seja novamente preso ou
não. Como Lenin caracterizou brilhantemente o “esquerdismo não passa de uma
doença infantil do comunismo”, e neste caso de extrema serventia política para
os bandos fascistas que pululam o cenário político nacional. Não se trata agora
de discutir o patrimônio acumulado por Dirceu, sabemos muito bem que está bem
acima de um trabalhador qualificado, a questão que se coloca é o
recrudescimento do regime político em curso, que ameaça não somente o núcleo
“duro” petista mas também ao espectro da esquerda revolucionária e as próprias
conquistas democráticas de conjunto. Combater o embuste da Operação “Lava Jato”
assim como a LBI combateu o julgamento farsa do “Mensalão” representa neste
momento unificar na mesma pauta programática a luta contra a ofensiva
neoliberal que pretende subtrair nossos direitos sociais e políticos, tarefa
que deve ser combinada com a defesa incondicional de todos os militantes
políticos da esquerda que se postam no campo nacional, democrático e popular. A
vanguarda classista deve abstrair todas as lições programáticas destes
episódios e jamais empunhar a bandeira da “ética e moralidade pública” como
fazem os cretinos revisionistas do PSOL e PSTU. Como afirmou Lenin, o Estado
burguês não pode ser “democratizado” ou tornar-se “público”, deve ser demolido
pela ação violenta e revolucionária da classe operária. A corrupção não é um
fenômeno episódico no regime capitalista, faz parte dos seus próprios
mecanismos de acumulação privada de mais-valor. Somente a imposição de outra ditadura
de classe, desta vez de caráter proletário, será capaz de iniciar a construção
de uma nova sociedade e para alcançar esse objetivo estratégico é preciso
edificar um partido operário revolucionário em nosso país, que supere o PT e
não seja sua reedição piorada como o PSOL.