CRISE MUNDIAL DAS BOLSAS, PRODUTO DA DESACELERAÇÃO DA
ECONOMIA CHINESA OU NOVO GOLPE BURSÁTIL PARA QUEBRAR OS "EMERGENTES"?
O fantasma do crash financeiro de setembro de 2008 voltou
rondar os mercados bursáteis de todo o mundo nesta segunda feira, já denominada
de "Black Monday" ou na linguagem própria dos operadores do cassino
"Sell-Off-Global". O agravante é que o start do "pânico"
financeiro veio da bolsa de Xangai, principal centro comercial da China,
desvalorizando cerca de 8,5% em um único dia. As economias capitalistas
periféricas ou "emergentes", no verbete dos rentistas, vem sofrendo
desde o ano passado com a abrupta queda na cotação internacional do preço das
comodities, fenômeno atribuído principalmente a desaceleração da economia
chinesa. O PIB chinês vinha se mantendo a uma média de 9,5% nos últimos dez
anos, a exceção de 2009 quando pontuou 6,8% na esteira da crise mundial,
"estranhamente" no ano seguinte o valor global das comodities
atingiria seus melhores níveis com a retomada do crescimento chinês. Em 2014
com o avanço do projeto dos BRICS, China e Rússia foram alvos de ataques
comerciais e financeiros vindos diretamente de Washington, que ainda continua
sendo um parceiro importante das duas economias. O imperialismo ianque teve um
peso determinante no processo de restauração capitalista dos dois antigos
Estados Operários, no caso chinês como sócio industrial e no russo como
comprador de reservas naturais, via Europa. Não foi muito difícil
"induzir" com todas as manobras possíveis uma desaceleração da
economia chinesa, diante da necessidade de apresentar para o mundo a suposta
recuperação econômica do "gigante" americano. É óbvio que não se
trata simplesmente de uma "artimanha conspiratória" contra a China, o
estancamento das forças produtivas do capital é um processo em marcha que
remonta bem antes do crash de 2008 e vai muito além dos ataques financeiros
especulativos contra nações semicoloniais promovidos por rentistas de Wall
Street. No caso específico da queda da bolsa de Xangai nesta segunda, ou mesmo
dos rumores sobre uma grave crise bancária, reduzido impacto terá sobre a
economia nacional da China ainda pouca "alavancada" com a especulação
de títulos financeiros. Porém se os problemas reais da economia chinesa não
estão seriamente relacionados com um cassino financeiro local, até mesmo a
desvalorização cambial do Yuan foi uma operação de defesa frente à baixa
cotação de outras moedas diante do Dólar, a "Black Monday" poderá
trazer efeitos mais negativos para economias mais frágeis, como a do Brasil por
exemplo. Para um país que tem seu sistema bancário e financeiro controlado
pelas mãos do Estado, os ataques especulativos internacionais sempre terão um
efeito reduzido, o que não se pode afirmar de outras nações subalternas aos
interesses dos parasitas do mercado de capitais. Em 1997 a bolsa de Xangai
também sofreu forte queda, logo a mídia "murdochiana" se lançou no
prognóstico da "catástrofe chinesa", porém quem entrou em crise foram
os vizinhos capitalistas também conhecidos como "Tigres Asiáticos",
Japão e Coreia do Sul amargaram anos de recessão econômica. Apesar da "forte
torcida" contrária o governo chinês anunciou a manutenção da meta de
crescimento do PIB neste ano em pelo menos 7%, ao contrário das "vozes do
mercado" que prognosticaram 6 ou 6,5%. A China vem completando um processo
de transição econômica onde houve tanto uma renovação da legislação trabalhista
(acarretando mais gastos sociais para o Estado ,em contraponto ao que ocorre
hoje no Brasil) como a da incorporação de grandes empresas estrangeiras ao
patrimônio estatal, estes dois elementos forçaram uma redução em investimentos
públicos para o triênio 2014/2016. A previsão do governo de Pequim é que em
2017 a China retome seus níveis acelerados de crescimento. Todos os países
exportadores para a "locomotiva chinesa" estão sendo afetados com a
situação atual, da qual o imperialismo ianque tenta tirar proveito de todas as
formas, a Casa Branca está consciente que a China será a menos atingida... mas
não podemos dizer o mesmo do Brasil, Argentina ou Rússia que assistem suas
balanças comerciais simplesmente desabarem. Os rentistas internacionais, no
entanto, estão à procura de novas "vítimas" para realizarem seus
lucros sob a base da especulação financeira em cima das ações dos trustes
americanos semifalidos, o alvo não poderá ser novamente a abalada economia
ianque, então não precisa ser muito esperto para descobrir quem arcará com o
ônus da crise imperialista...
O irônico deste novo repique do crash financeiro
internacional, pelo menos para o Brasil, é que a esquerda reformista passou
novamente a prever o "Armagedom", e desta vez para livrar a cara do
governo Dilma, que não teria responsabilidade alguma em descarregar nas costas
dos trabalhadores o ônus do " ajuste"... afinal tudo é produto da
crise mundial capitalista. Porém se detivermos nosso olhar para o centro do
"terremoto" , que todos querem nos convencer (da extrema direita
até a ultra esquerda) que seu epicentro localiza- se em pleno território
chinês, podemos aferir que lá os direitos trabalhistas e conquistas operárias
estão sendo ampliadas no marco da economia capitalista restaurada. Ou seja na
lama do capitalismo mundial o governo chinês deliberou por conceder alguns
benefícios sociais que haviam sido suprimidos no processo de transição que
sepultou o antigo Estado Operário Burocratizado. Ao contrário dos pigmeus do
imperialismo que difundem que o proletariado chinês é escravizado, a própria e
insuspeita ONU reconhece os avanços realizados nos últimos quatro anos. Não
nutrimos nenhuma simpatia política ou pretendemos defender a burocracia
restauracionista chinesa, porém se compararmos ao governo neoliberal do PT veremos
que Dilma segue integralmente à risca a pauta econômica imposta por Washington,
e não a adotada por Pequim.
As equivocadas tentativas de identificar os recorrentes
abalos bursáteis com o colapso final do modo de produção capitalista não são
propriamente uma novidade. No ápice do crash financeiro de 2008, com a falência
do banco de investimentos Lehman Brother, não faltaram na esquerda os "profetas do apocalipse" para anunciar o fim imediato do capitalismo e o
advento automático do socialismo, inclusive no interior da LBI também surgiu um
"papagaio" da esquerda para repetir tais asneiras, sendo excluído de
nossos quadros foi coerentemente procurar abrigo na seita do Sr. Pimenta. A
grosso modo a grande diferença da grave crise de 29 com a de 2008 foi falência
industrial generalizada nos principais centros imperialistas. Em 2008 foram
fechados importantes bancos e agências financeiras, porém nenhum grande truste
industrial foi à falência. O "tremor" da GM, um dos símbolos de 2008,
não passou de um recurso para receber enorme volume de crédito subsidiado (juro negativo)do FED norte-americano. Outro signo diferenciado entre os dois
crashs foi que em 2008 o Dólar não parou de subir no mundo todo, indicando que
os títulos do Tesouro ianque ainda eram os mais seguros do planeta. As crises
das ondas cíclicas do capitalismo, que incidem no mercado de ações, hoje quase
que completamente deslocado da produção material da humanidade, não significam
que o socialismo será produto de um "crash financeiro". As fortes
oscilações das bolsas mundiais dificilmente terão a capacidade de "quebrar" a ascendente economia chinesa, ainda mais quando hoje
contraditoriamente estão provocando o declínio no preço internacional das
comodities, o "carvão" que queima na "Locomotiva do "Dragão". O barril de petróleo cotado atualmente pela metade do seu preço
médio da última década poderá comprometer seriamente a Rússia, México,Venezuela
e até mesmo o Brasil, mas não a China. E esta situação vale também para outras
comodities agro-mineiras e seus países exportadores.
O período mitigado de transição histórica que atravessa a
China, entre o capitalismo de estado dependente e um nascente imperialismo
mundial ainda não confirmado, faz com que a burocracia estatal dirigente atue
com a máxima cautela diante da crise mundial, isto significa expor minimamente
sua economia nacional a especulação financeira e acionária. Um sistema
financeiro estatal é uma boa garantia para afastar os "apostadores"
de plantão do cassino, digo do mercado. Esta característica herdada e mantida
do antigo Estado Operário não significa a inexistência das bolsas ou mesmo de
certo crédito privado para financiar o desenvolvimento da indústria, afinal
para quem pode se dar ao "luxo" de ter uma colônia financeira, Hong
Kong, não se faz necessário comprometer a parte de sua economia
"controlada".