TSIPRAS RENUNCIA PARA ENCABEÇAR UM “NOVO” GOVERNO À SERVIÇO
DA TROIKA... “DISSIDENTES” DO SYRIZA FORMAM A UNIDADE POPULAR COMO “ALTERNATIVA
DE ESQUERDA” PARA REPETIR O "FILME" DO ENGANO!
Tsipras, o primeiro-ministro grego, apresentou sua demissão
neste 20 de agosto, dia em que o país recebeu a primeira parte do empréstimo
liberado depois do acordo com a Troika em que o traidor socialdemocrata
entregou o patrimônio nacional (aeroportos, portos...) aos grupos capitalistas
alemães. Segundo o vendilhão “o mandato de 25 de janeiro está esgotado”. Ele
deseja agora governar sem a demagogia socialdemocrata que marcou a campanha
eleitoral do Syriza no começo do ano, encabeçando uma nova gerência com um
gabinete que seja conformado com o apoio direto dos partidos da centro-direita,
como o Pasok, Anel, To Potami e outros. As eleições estão previstas para 20 de
setembro. Diante da disputa que se avizinha Tsipras cinicamente declarou “Sinto
a obrigação ética e política de deixar as minhas ações ao vosso julgamento: o
que foi certo, o que foi errado e o que não foi feito”, dizendo-se orgulhoso
das negociações e repetindo que o acordo privatista e antipovo com a UE, FMI e
BCE foi o melhor que se podia alcançar. Com esta manobra, Tsipras também se
livra dos parlamentares “dissidentes” de Syriza. 25 deles formaram um novo
partido, a Unidade Popular (UP), uma espécie de “Syriza das origens”
reivindicando o programa socialdemocrata para gerir a crise capitalista baseada
na velha política de colaboração de classes abandonada por Tsipras, que se
converteu rapidamente em um agente direto da Troika, traindo os interesses do
povo grego. Frente a esta realidade da repetição do “filme” do engano, os trotskistas revolucionários denunciam
que Tsipras convocou as eleições para com a legitimidade de um novo mandato lhe
concedida pelas urnas encabeçar um governo ainda mais subserviente a Troika, prometendo uma “renegociação justa da dívida” em outubro. A UP liderada pelo
ex-ministro Panagiotis Lafazani, também apresentará lista própria nas eleições
legislativas. Este novo partido não passa de uma versão requentada da receita
socialdemocrata que o Syriza apresentou em janeiro, buscando conciliar os
interesses dos capitalistas nacionais com o povo espoliado, através da bandeira
do retorno da moeda nacional (o Dracma), prometendo no máximo nacionalizar
bancos e algumas indústrias para criar um “Estado forte” que sirva a sua frágil
burguesia nativa. O ex-ministro da economia Yanis Varoufakis e a então
presidente do parlamento, Zoe Konstantopoulou, ainda não decidiram se irão
juntar-se a UP, podem fazê-lo até 9 de setembro ou se postular como candidatos
se também criarem um novo partido. Seja como for, desgraçadamente, estamos assistindo o
surgimento de mais uma vã tentativa de “resgatar” o moribundo capitalismo.
Todas as correntes revisionistas que semearam ilusões na última cartada
política do Syriza, o referendum-farsa denunciado pelo KKE e a LBI, agora migram para a UP. Por outro lado, o KKE apesar de suas limitações
programáticas se manteve “limpo” de todas as manobras da social democracia,
reunindo a autoridade política necessária para liderar os levantes populares
pela conquista do poder operário, para além das arapucas eleitorais que se
avizinham. Dentro desta realidade o mais justo e correto para os interesses do proletariado grego neste momento é apoiar as
candidaturas classistas do KKE contra Tsipras-Syriza, os velhos partidos da ordem e a
“nova esquerda” domesticada representada pela UP. A tarefa central que se mantêm neste cenário é apontar que o caminho dos trabalhadores e do povo grego para
barrar os ataques impostos pela Troika e o governo do Syriza não são as
eleições e sim a mobilização direta, suas greves e lutas pela nacionalização
dos bancos, indústrias, portos e aeroportos sob o controle dos trabalhadores e
de conselhos operários para lançar as bases para a construção de um poder de
novo tipo, um Estado Operário, forjando uma alternativa revolucionária
trabalhadores da cidade e do campo.
Para se credenciar como alternativa de “esquerda” com o
objetivo de gerir a crise capitalista, o ex-ministro Lafazanis e outros onze
dirigentes políticos de diversas organizações criaram a UP, unindo 25
parlamentares “dissidentes do Syriza”, setores que haviam rompido com o KKE,
revisionistas do trotskimo e a chamada esquerda extraparlamentar do Antarsya.
Essa frente socialdemocrata de “esquerda” publicou uma nota conjunta intitulada
“Não ao novo memorando! Apelo à luta e à mobilização por todo o país”
(InfoGrécia, 13.08) em que revela o conteúdo de “resgatar” o moribundo
capitalismo com “democracia e justiça social” e não aponta em nenhum momento a
perspectiva da luta pelo socialismo: “Os abaixo-assinados, representando um
vasto leque de forças e organizações da esquerda, rejeitam o terceiro memorando
apresentado hoje ao Parlamento e apelam a grandes lutas unitárias para anular
todos os memorandos e impor uma nova orientação progressista para o país...Ao
longo dos últimos cinco anos, o povo opôs-se por todos os meios possíveis ao
medo e à chantagem e lutou por uma Grécia soberana, democrática, reconstruída,
justa e independente. Continuaremos o caminho do 5 de julho até ao fim, até ao
derrube da política dos memorandos, com uma solução de mudança para o futuro,
pela democracia e a justiça social na Grécia. Apelamos à constituição de um
vasto movimento político e social no conjunto do país e à criação de comitês de
luta contra o novo memorando, contra a austeridade e contra a colocação do país
sob tutela. Será um movimento unitário à altura das aspirações do povo à
democracia e à justiça social. A luta que conduziu à vitória do ‘OXI’ a 5 de
julho continua e vai vencer!”. Para se credenciar junto a burguesia nacional a
fim de gerir a crise capitalista, a UP inclusive já apresentou um programa
“alternativo” em que anuncia seu respeito à sacrossanta propriedade privada. O
texto propõe “A elaboração de um plano apoiado em investimento público, sem que
isso bloqueie o desenvolvimento paralelo do investimento privado. A Grécia
precisa de uma nova e produtiva relação entre os setores público e privado para
entrar no caminho do desenvolvimento sustentável. A realização desse projeto
passa necessariamente por um restabelecimento da liquidez aliado à poupança
nacional”. Mais claro impossível, a UP defende um giro nacionalista burguês,
com a saída do Euro como caminho para um suposto desenvolvimento nacional autônomo
como apregoa “Nós devemos insistir no fato de que a saída do euro não é um fim
em si, mas a primeira etapa de um processo de transformação social, de
restabelecimento da soberania nacional e de progresso econômico que aliará
crescimento e justiça social. Isso faz parte de uma estratégia de conjunto que
se apoia sobre a recuperação produtiva, a estimulação de investimentos assim
como a reconstituição de um Estado social e de direito”. Ocorre que não basta a
saída da UE, é imprescindível a ruptura radical com o capital financeiro e não
simplesmente com a “Zona do Euro”. Não é demais lembrar que a Inglaterra
atravessou em 2012 sua pior crise dos últimos vinte anos, sem nunca ter
ingressado na Zona do Euro e mantendo sua própria moeda nacional. O fulcro da crise
capitalista vai muito além do modelo monetário adotado por um país ou mesmo uma
comunidade de países, como é o caso da União Europeia. Sem abordar com
radicalidade o verdadeiro cerne da questão em debate, os trabalhadores,
principais vítimas da ciranda financeira vigente, ficaram à deriva dos projetos
populistas e “antineoliberais” para superar o impasse de uma economia
capitalista falida, mas que não deixará a cena histórica sem a construção de
uma alternativa socialista e revolucionária, tudo o oposto do que defende a
Plataforma de Esquerda que reivindica um desenvolvimento público e privado
harmônico impossível de ocorrer em uma época de rapina imperialista sobre a
Grécia. Para deixar ainda mais claro o caminho nacional-desenvolvimentista que
prega, a UP indica a Suécia e a Dinamarca como exemplos a serem seguidos,
países sobre a direção de forças políticas cada vez mais à direita: “A Grécia
não se tornará menos europeia, entretanto, ela seguirá uma via diferente
daquela que seguem os países do núcleo da UE, uma opção que já foi tomada há
tempos por países como a Suécia e a Dinamarca. A saída da UE não isolará nosso
país, mas pelo contrário, nos permitirá interpretar um novo papel na cena
internacional; um papel baseado na independência e dignidade, longe da posição
de pária insignificante, imposto pelas políticas neoliberais dos memorandos”.
Trata-se claramente de um programa social democrata alternativo a linha oficial
que o governo resolveu seguir, baseado fundamentalmente na saída do Euro e o
restabelecimento do Dracma, não apontando em nenhum momento a ruptura com a
ordem capitalista.
Como se observa, estamos diante de um engodo montado por
várias organizações reformistas, sociais-democratas e revisionistas do
trotskismo, como a corrente grega ligada a CMI de Allan Woods, que nem
demagogicamente chama a ruptura com a UE em seu manifesto e muito menos a
expropriação da burguesia e luta pela revolução proletária. Além da Plataforma
de Esquerda do Syriza conformam a UP os grupos Renovação Comunista, Intervenção
de Esquerda, Organização de Reconstrução Comunista (grupo de antigos militantes
do KKE), a Associação Yannis Kordatos, um grupo de antigos militantes do KKE
liderado por Kaltsonis, que representou o KKE na Festa do Avante em 2007, a
DIKKI – Esquerda Socialista (grupo de antigos militantes do PASOK que estão no
Syriza), a ARAN – Recomposição de Esquerda (composto por fundadora do
Antarsya), o Grupo Anticapitalista de Esquerda (ARAS), os pseudo-trotskistas da
Xekinima (seção grega da CIT/CWI), Iniciativa dos 1000 e Luta Operária, dirigida
por Maria Souani, uma rede de militantes que se diz simpatizante do KKE. Como
se observa há uma forte pressão para o KKE integrar esta frente política da
esquerda domesticada mas até agora o partido corretamente rechaça esta
possibilidade. Perguntado por um repórter se “poderia o KKE, sob certas
pré-condições, começar discussões com um setor do SYRIZA, quero dizer aquele
setor que argumenta por um retorno à divisa nacional e uma organização
diferente da sociedade grega?”, o Secretário-Geral do CC do KKE, Dimitris
Koutsouba, respondeu “Se o senhor refere-se a quadros importantes do SYRIZA,
que arcam com pesadas responsabilidades pela situação a que chegamos, quadros
que apoiaram a estratégia política do SYRIZA, que venderam e continuam a vender
falsas esperanças e ilusões, impedindo a radicalização do movimento, quadros e
grupos que estão a vender o caminho capitalista para o dracma e a integração
numa diferente aliança imperialista como solução alegadamente pró povo, e na
verdade defendem um caminho que leva à ruína das relações sociais e da
prosperidade popular através de ‘rupturas’ como aquelas a que assistimos nos
últimos seis meses, respondo inequivocamente que não existe tal perspectiva de
um caminho comum. Naturalmente, as forças populares e dos trabalhadores que
apoiaram o SYRIZA, bem como outros partidos, são uma questão diferente. A eles,
o KKE dirige um apelo à discussão e à adoção de um caminho comum”
(Resistir.info 08.08).
A declaração do Secretário- Geral do CC do KKE, Dimitris
Koutsouba vai claramente no sentido de denunciar o engodo que representa a UP.
Ele também afirmou que “O Partido Comunista dará a batalha nas eleições e,
claro, não participa do processo de mandatos exploratórios. Além disso, não há
nenhuma possibilidade ou probabilidade de formar um governo sob as atuais
forças políticas. Mas o novo partido, SYRIZA No 2, quer desempenhar o papel de
um novo dique na radicalização do povo, cujos dirigentes compartilham a
responsabilidade pela situação atual” (site KKE, 21.08). Como se observa, KKE
irá participar das eleições legislativas e não integrará a UP, denunciado o engodo socialdemocrata. Desde a LBI
compreendemos que como o KKE vai apresentar candidaturas classistas devemos chamar os trabalhadores a
apoiar criticamente os comunistas gregos para derrotar Tsipras, os velhos
partidos da ordem e a “nova esquerda” domesticada representada pela UP.
Historicamente sempre fomos críticos da política do KKE por centrar suas ações
de massa na pressão ao parlamento burguês, consideramos que a PAME, conjunto de
sindicatos dirigidos pelo KKE e que tem peso social e político entre a classe
operária deve neste momento ser o polo de resistência classista a política de
subserviência a Troika de Tsipras-Syriza e da plataforma de colaboração de
classes da UP, liderando os levantes populares pela conquista do poder
operário. Estamos pelo estabelecimento de uma frente única com KKE que também
se converte em apoio eleitoral na disputa legislativa de 20 setembro, cabendo
aos genuínos trotskistas intervir neste processo para que os ativistas
combativos e militantes que se proclamem leninistas superem no curso da luta
política e ideológica os limites da posição do stalinismo e avancem pela senda
de um programa revolucionário que coloque na ordem do dia a expropriação da
burguesia, das transnacionais e a revolução proletária.