ELEIÇÕES PRIMÁRIAS ARGENTINAS: ALA MAIS À DIREITA DA FIT (PO
E IS) É DERROTADA PELO PTS. OPOSIÇÃO CONSERVADORA DE DIREITA (PREFEITO MACRI)
TAMBÉM SOFRE DERROTA PARA A PRESIDENTA CRISTINA
A "república do tango" viveu um domingo eleitoral
faltando ainda alguns meses paras as eleições gerais que renovarão o mandato da
Casa Rosada e grande parte do Congresso. A razão é simples na Argentina foi
instituído o mecanismo das eleições primárias (PASO) que servem tanto para
dirimir disputas partidárias internas como para estabelecer um piso mínimo de
votos necessários para a disputa definitiva que ocorrerá em outubro próximo.
Sendo assim as "PASO" servem como uma espécie de pesquisa de "boca
de urna" antecipada. A surpresa política destas Primárias foi a
contundente vitória da chapa apoiada pela presidenta Cristina Kirchner (FPV)
derrotando os dois principais blocos da oposição pró- imperialista, o do
prefeito racista da cidade de Buenos Aires, Maurício Macri (Cambiemos) e o
outro do deputado nacional Sérgio Massa (UNA). Cristina não poderá mais
concorrer à presidência já tendo acumulado dois mandatos que poderiam ser
somados ao do seu falecido marido Néstor Kirchner, perfazendo três gestões do
chamado "Peronismo de esquerda" na Argentina, uma espécie de meio
termo entre o nacionalismo Chavista e o neoliberalismo da Frente Popular no
Brasil. Neste contexto a FPV (Frente para a Vitória) dos Kirchner lançou o nome
do governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, identificado com uma
política considerada monetarista e portador de uma inflexão bem mais à direita
do que a da presidenta Cristina. A Argentina atravessa uma crise econômica em
função da desaceleração industrial de seu principal parceiro no Mercosul, o
Brasil. Este elemento impulsionou as variantes da oposição burguesa
conservadora a declarar o fim do ciclo histórico Kirchnerista, e que já
contavam como líquida e certa uma acachapante derrota da FPV na PASO do último
domingo. Esta avaliação foi seguida pelas organizações de esquerda que compõe a
FIT (PO, IS e PTS), mais concentrada ainda no PO (Partido Obrero) que
prognosticou a "catástrofe" política do governo diante da crise
econômica. O PO tem apoiado as iniciativas da direita argentina, como as
paralisações nacionais comandadas pela máfia sindical e também em marchas e
panelaços organizados pelo partido neofascista do prefeito Macri, o PRO. No
início deste ano a direita e sua mídia raivosa (Grupo El Clarín) armou uma
verdadeira conspiração contra Cristina, acusando a presidência pela morte do
promotor de justiça Alberto Nisman, PO e IS foram simpáticos a farsa montada
pela CIA e os "murdochianos" de El Clarín. Porém Cristina não é a
"Dilma portenha" e mesmo gerenciando a crise capitalista em favor da
burguesia nacional adotou algumas medidas de proteção social para os
trabalhadores. Em primeiro lugar não eliminou conquistas operárias, como fez o
governo petista, em segundo assegurou o aumento geral do Salário Mínimo (SM)
para o proletariado, o que hoje representa o dobro do valor pago aos
trabalhadores brasileiros em termos da cotação atual do Dólar. Em resumo mesmo
sendo burguês o governo Cristina não é "suicida" e agressivamente
neoliberal como o da Frente Popular. Girando a economia argentina para pesados
investimentos chineses em energia e infraestrutura, Cristina minimizou os
efeitos da recessão mundial em seu país, este fato agregou o ódio da elite
nativa pró-imperialista que "jurou" varrer os Kirchner do cenário
político da Argentina. Entretanto o governo mesmo sob o fogo cerrado da direita
soube conservar um mínimo de sua base social de apoio, mantendo uma folgada
maioria parlamentar. O resultado não poderia ser diferente, os que apostavam
suas fichas no crescimento das forças da reação foram os principais derrotados
destas prévias, o que inclui um arco político que vai da "extrema
esquerda" até a extrema direita. No seio da FIT a disputa interna levou a
um fiasco da aliança formada entre o PO e a Esquerda Socialista (IS em espanhol),
ganhando a fórmula presidencial encabeçada pelo jovem Nicolas Cano do PTS. A
FIT obteve pouco mais de 3% na PASO, cerca de 1% a mais do que a anterior
realizada em 2011, agora cabe ao humilhado Jorge Altamira digerir o fracasso ou
prognosticar também a "catástrofe" do PTS... O certo mesmo é que as
organizações da FIT em seu conjunto abandonaram por cerca de seis meses as
lutas concretas da classe operária para se dedicar quase que exclusivamente a
esta disputa da prévia eleitoral, embriagadas pela possibilidade de obterem
mais algumas vagas no parlamento burguês. Esta esquerda revisionista revelou
que não está à altura dos desafios históricos de nossa classe e que em muitas
ocasiões se coloca até mesmo à direita do vacilante nacionalismo burguês, como o
Kirchnerismo. O proletariado argentino precisa enfrentar a crise capitalista
construindo uma genuína ferramenta revolucionária, o Partido Leninista, que
encara as participação nas eleições burguesas apenas como uma tática de
publicidade socialista e nunca como a prioridade absoluta de sua ação junto às
massas.
A vitória preliminar do candidato presidencial oficialista
oferece um enorme fôlego para o círculo político kirchnerista, que tinha
sofrido uma importante defecção com a saída do deputado Sérgio Massa. Massa
chegou a ser cogitado como um novo elemento de fusão de todas as frações
opositoras, o que fatalmente teria colocado Cristina em uma situação delicada.
Porém os apetites mais reacionários do prefeito portenho impediram a unificação
da oposição direitista. Com o resultado da PASO o peronista dissidente Massa
perdeu a possibilidade de assumir o protagonismo da oposição, entretanto será
um fator decisivo no segundo turno das eleições presidenciais de outubro, onde
se enfrentarão Scioli e Macri. Será uma disputa muito acirrada em que o governo
Cristina optou por apostar em um nome de confiança dos "mercados" e
comprometido até a medula com uma agenda neoliberal.
No campo da esquerda revisionista vale registrar a
espetacular derrocada do MST (menos de 0,5%de votos) que ficou atrás até do
"Nuevo MAS", embora ambos não tenham atingindo o piso eleitoral
mínimo para se apresentarem em outubro. No interior da FIT os altamiristas
"ortodoxos" como a TPR e o PCO brasileiro buscam explicar a derrota
do PO como sendo produto de uma fraude na província de Mendonza, justamente
onde o jovem Cano do PTS foi eleito deputado nacional. Na verdade estas "viúvas" de Jorge Altamira não pretendem fazer nenhuma autocrítica do
passado político recente do PO, que legitimou as rebeliões induzidas pelo
imperialismo no Leste Europa como autênticas "revoluções políticas".
Não por acaso PO se emblocou com a corrente que defende as posições mais pró-imperialistas no curso da guerra civil na Síria, a IS, vinculada internacionalmente a UIT. PO e IS hoje tem muito
mais identidade em dar suporte a ofensiva ideológica da Casa Branca contra os
regimes nacionalistas burgueses do que o PTS. Por esta razão estiveram muito
próximos na aliança midiática e partidária da direita contra o governo
Cristina.
As PASO teve pelo menos o mérito de revelar o grau de
adaptação da esquerda revisionista ao eleitoralismo burguês. A FIT de conjunto
tem muito mais homogeneidade programática do que as escaramuças existentes em
torno do controle do aparato burocrático. Está provado que não passou no teste
mais elementar para uma organização revolucionária, a denúncia vigorosa do
regime da democracia dos ricos.