segunda-feira, 10 de agosto de 2015


ELEIÇÕES PRIMÁRIAS ARGENTINAS: ALA MAIS À DIREITA DA FIT (PO E IS) É DERROTADA PELO PTS. OPOSIÇÃO CONSERVADORA DE DIREITA (PREFEITO MACRI) TAMBÉM SOFRE DERROTA PARA A PRESIDENTA CRISTINA

A "república do tango" viveu um domingo eleitoral faltando ainda alguns meses paras as eleições gerais que renovarão o mandato da Casa Rosada e grande parte do Congresso. A razão é simples na Argentina foi instituído o mecanismo das eleições primárias (PASO) que servem tanto para dirimir disputas partidárias internas como para estabelecer um piso mínimo de votos necessários para a disputa definitiva que ocorrerá em outubro próximo. Sendo assim as "PASO" servem como uma espécie de pesquisa de "boca de urna" antecipada. A surpresa política destas Primárias foi a contundente vitória da chapa apoiada pela presidenta Cristina Kirchner (FPV) derrotando os dois principais blocos da oposição pró- imperialista, o do prefeito racista da cidade de Buenos Aires, Maurício Macri (Cambiemos) e o outro do deputado nacional Sérgio Massa (UNA). Cristina não poderá mais concorrer à presidência já tendo acumulado dois mandatos que poderiam ser somados ao do seu falecido marido Néstor Kirchner, perfazendo três gestões do chamado "Peronismo de esquerda" na Argentina, uma espécie de meio termo entre o nacionalismo Chavista e o neoliberalismo da Frente Popular no Brasil. Neste contexto a FPV (Frente para a Vitória) dos Kirchner lançou o nome do governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, identificado com uma política considerada monetarista e portador de uma inflexão bem mais à direita do que a da presidenta Cristina. A Argentina atravessa uma crise econômica em função da desaceleração industrial de seu principal parceiro no Mercosul, o Brasil. Este elemento impulsionou as variantes da oposição burguesa conservadora a declarar o fim do ciclo histórico Kirchnerista, e que já contavam como líquida e certa uma acachapante derrota da FPV na PASO do último domingo. Esta avaliação foi seguida pelas organizações de esquerda que compõe a FIT (PO, IS e PTS), mais concentrada ainda no PO (Partido Obrero) que prognosticou a "catástrofe" política do governo diante da crise econômica. O PO tem apoiado as iniciativas da direita argentina, como as paralisações nacionais comandadas pela máfia sindical e também em marchas e panelaços organizados pelo partido neofascista do prefeito Macri, o PRO. No início deste ano a direita e sua mídia raivosa (Grupo El Clarín) armou uma verdadeira conspiração contra Cristina, acusando a presidência pela morte do promotor de justiça Alberto Nisman, PO e IS foram simpáticos a farsa montada pela CIA e os "murdochianos" de El Clarín. Porém Cristina não é a "Dilma portenha" e mesmo gerenciando a crise capitalista em favor da burguesia nacional adotou algumas medidas de proteção social para os trabalhadores. Em primeiro lugar não eliminou conquistas operárias, como fez o governo petista, em segundo assegurou o aumento geral do Salário Mínimo (SM) para o proletariado, o que hoje representa o dobro do valor pago aos trabalhadores brasileiros em termos da cotação atual do Dólar. Em resumo mesmo sendo burguês o governo Cristina não é "suicida" e agressivamente neoliberal como o da Frente Popular. Girando a economia argentina para pesados investimentos chineses em energia e infraestrutura, Cristina minimizou os efeitos da recessão mundial em seu país, este fato agregou o ódio da elite nativa pró-imperialista que "jurou" varrer os Kirchner do cenário político da Argentina. Entretanto o governo mesmo sob o fogo cerrado da direita soube conservar um mínimo de sua base social de apoio, mantendo uma folgada maioria parlamentar. O resultado não poderia ser diferente, os que apostavam suas fichas no crescimento das forças da reação foram os principais derrotados destas prévias, o que inclui um arco político que vai da "extrema esquerda" até a extrema direita. No seio da FIT a disputa interna levou a um fiasco da aliança formada entre o PO e a Esquerda Socialista (IS em espanhol), ganhando a fórmula presidencial encabeçada pelo jovem Nicolas Cano do PTS. A FIT obteve pouco mais de 3% na PASO, cerca de 1% a mais do que a anterior realizada em 2011, agora cabe ao humilhado Jorge Altamira digerir o fracasso ou prognosticar também a "catástrofe" do PTS... O certo mesmo é que as organizações da FIT em seu conjunto abandonaram por cerca de seis meses as lutas concretas da classe operária para se dedicar quase que exclusivamente a esta disputa da prévia eleitoral, embriagadas pela possibilidade de obterem mais algumas vagas no parlamento burguês. Esta esquerda revisionista revelou que não está à altura dos desafios históricos de nossa classe e que em muitas ocasiões se coloca até mesmo à direita do vacilante nacionalismo burguês, como o Kirchnerismo. O proletariado argentino precisa enfrentar a crise capitalista construindo uma genuína ferramenta revolucionária, o Partido Leninista, que encara as participação nas eleições burguesas apenas como uma tática de publicidade socialista e nunca como a prioridade absoluta de sua ação junto às massas.

A vitória preliminar do candidato presidencial oficialista oferece um enorme fôlego para o círculo político kirchnerista, que tinha sofrido uma importante defecção com a saída do deputado Sérgio Massa. Massa chegou a ser cogitado como um novo elemento de fusão de todas as frações opositoras, o que fatalmente teria colocado Cristina em uma situação delicada. Porém os apetites mais reacionários do prefeito portenho impediram a unificação da oposição direitista. Com o resultado da PASO o peronista dissidente Massa perdeu a possibilidade de assumir o protagonismo da oposição, entretanto será um fator decisivo no segundo turno das eleições presidenciais de outubro, onde se enfrentarão Scioli e Macri. Será uma disputa muito acirrada em que o governo Cristina optou por apostar em um nome de confiança dos "mercados" e comprometido até a medula com uma agenda neoliberal.

No campo da esquerda revisionista vale registrar a espetacular derrocada do MST (menos de 0,5%de votos) que ficou atrás até do "Nuevo MAS", embora ambos não tenham atingindo o piso eleitoral mínimo para se apresentarem em outubro. No interior da FIT os altamiristas "ortodoxos" como a TPR e o PCO brasileiro buscam explicar a derrota do PO como sendo produto de uma fraude na província de Mendonza, justamente onde o jovem Cano do PTS foi eleito deputado nacional. Na verdade estas "viúvas" de Jorge Altamira não pretendem fazer nenhuma autocrítica do passado político recente do PO, que legitimou as rebeliões induzidas pelo imperialismo no Leste Europa como autênticas "revoluções políticas". Não por acaso PO se emblocou com a corrente que defende as posições mais pró-imperialistas no curso da guerra civil na Síria, a IS, vinculada internacionalmente a UIT. PO e IS hoje tem muito mais identidade em dar suporte a ofensiva ideológica da Casa Branca contra os regimes nacionalistas burgueses do que o PTS. Por esta razão estiveram muito próximos na aliança midiática e partidária da direita contra o governo Cristina.

As PASO teve pelo menos o mérito de revelar o grau de adaptação da esquerda revisionista ao eleitoralismo burguês. A FIT de conjunto tem muito mais homogeneidade programática do que as escaramuças existentes em torno do controle do aparato burocrático. Está provado que não passou no teste mais elementar para uma organização revolucionária, a denúncia vigorosa do regime da democracia dos ricos.