DIANTE DOS PANELAÇOS DA CLASSE MÉDIA: POR QUE MESMO LUTANDO CONTRA O
AJUSTE NÃO É CORRETO CONVOCAR A DERRUBADA DO GOVERNO DILMA?
Durante o programa eleitoral do PT na noite de ontem, como
já era esperado por todos, setores reacionários da classe média em todo o país
(moradores de condomínios de alto padrão) voltaram a bater panelas e xingar a
presidente Dilma com todos os impropérios mais racistas e preconceituosos
possíveis. O fato novo porém é que o Panelaço também foi verificado em bairros
e prédios mais modestos, embora possam ser agrupadas no marco geral da classe
média. Em regiões proletárias e nitidamente populares não se teve notícias de
manifestações contra o governo. A adesão de camadas médias da classe
trabalhadora aos protestos contra o governo do PT aconteceu por razões óbvias,
estão sendo duramente atingidas pelo ajuste levyano que já trouxe o desemprego
e perda de direitos fundamentais para o conjunto da população. Não se pode
"tapar o sol com a peneira" o profundo desgaste social do governo
Dilma não atinge só a chamada "classe média coxinha", granjeia vastas
camadas médias e pauperizadas de nosso povo. Neste contexto onde a crise
política ganha contornos de gravidade, setores da "oposição de
esquerda" críticas ao agressivo ajuste neoliberal, vem convocando a
necessidade da derrubada do governo Dilma. O PSTU, representante maior deste
bloco, afirma que não é a favor da saída de Dilma pelas mãos do corrupto
Congresso Nacional (impeachment), chamando o movimento social a romper com a
política do PT no sentido de buscar outra alternativa de governo, em suas
próprias palavras: "O que nosso partido (PSTU) propõe é que os trabalhadores
se organizem e lutem para derrubar o governo Dilma." A vanguarda classista
que já demonstrou nas ruas a disposição em combater o plano de austeridade
fiscal deste governo tão generoso com os rentistas, poderá até ficar
"seduzida" com a proposta do PSTU que convida para a derrubada de
Dilma. Acontece que a plataforma política destas organizações da "oposição
de esquerda" em nenhum momento aponta que para ocupar o cenário vazio de
uma possível queda do governo é necessário primeiro construir uma alternativa
de poder revolucionário dos trabalhadores, sem a dualidade do poder proletário
a derrubada de Dilma obrigatoriamente dará lugar a posse de um outro governo
burguês que nesta conjuntura teria colorações de direita. A proposta do PSTU
apesar de encoberta de frases radicalizadas como a da "mobilização dos
trabalhadores" e "Congresso Corrupto" não aponta na direção da
ruptura institucional e revolucionária com este regime, caindo Dilma com as
regras constitucionais vigentes ou teremos o vice Temer ou no máximo novas
eleições (em um curto prazo) onde o a direita tucana daria um
"passeio". Ou seja a única alternativa de poder já constituída no
momento para o "default" de Dilma é da ala burguesa mais reacionária
e "linkada" diretamente ao imperialismo. Nós da LBI fomos a primeira
corrente em afirmar a necessidade de construir uma oposição operária ao governo
da Frente Popular, enquanto o próprio PSTU chamava no início a um "apoio
crítico", entretanto não confundimos nossa estratégia com a realidade
concreta da situação política e organização da classe operária. Na atual
conjuntura o "Fora Dilma", sem que haja uma alternativa
revolucionária de nossa classe, significa concretamente o "Venha a
Direita" para o governo! Se opor ao institucional "Fora Dilma"
de maneira alguma representa emprestar apoio político a um governo que facilita
a marcha da direita fascista no Brasil. Não podemos cair no grave erro
histórico de 1964 quando o movimento de massas ficou atado a um governo
nacionalista burguês que assistia passivo a conspiração dos golpistas, e isto
guardada as enormes diferenças entre um Jango que propunha reformas
progressistas e Dilma que implementa o programa dos rentistas do "Consenso
de Washington". A tendência é que as manifestações contra este governo organizadas
pela oposição conservadora ganhem ainda mais dimensão, a política oficial dos
monopólios imperialistas é o do "sangramento de Dilma" (a operação
Lava Jato está ainda no início) por um longo período o que colocará ainda mais
o PT nas cordas. Este elemento poderá confundir setores do movimento de massas em considerar "justas" as manifestações reacionárias contra Dilma e a
"oposição de esquerda" logicamente tentará surfar na "onda da
direita" para tirar dividendos eleitorais. Como já afirmamos exaustivamente
em artigos anteriores é fundamental a construção de uma alternativa operária
diante da grave crise política e econômica que o país atravessa, porém esta
senda passa bem longe das saídas institucionais burguesas que estão postas
pelas oposições de "esquerda e direita". Demarcar o campo com a
reação fascista é um princípio básico para todo Marxista, mas que
desgraçadamente os revisionistas do PSTU não concebem. Delimitar claras
fronteiras com a política de colaboração de classes da Frente Popular é outro
princípio que foi ignorado pelos revisionistas do PCO. Forjar um árduo e necessário percurso no combate pela independência de classe com a bússola da estratégia socialista é a tarefa que se mantém viva nesta etapa política polarizada pelas diversas variantes burguesas.
O falso "radicalismo" da oposição de esquerda que
proclama ser contra o impeachment de Dilma por iniciativa do Congresso
"BBB" (Bíblia, Boi e Bala), não se apresenta quando a alternativa
burguesa colocada é a da convocação de novas eleições. Esta variante burguesa
diante da crise do governo vem ganhando adesões de frações importantes dos
partidos da oposição de direita e parece seduzir o apetite eleitoral do PSOL e
PSTU. Contudo as "cartas ainda não foram baixadas" e no pocker da
burguesia as apostas seguem no progressivo desgaste do governo até o fim do
mandato, ou pelo menos enquanto o PT tenha capacidade de controlar o movimento
social neste país.
Outro elemento importante da atual conjuntura que está
aberto ainda é o do nível e intensidade que ganharão as marchas contra Dilma. O
Panelaço ocorrido nesta última quinta-feira revelou uma tendência que pode ser
ou não confirmada quando a questão para a classe média é colocar seus pés nas
ruas. Não estamos falando simplesmente de manifestações domingueiras nos
bulevares da classe média e sim de mobilizações sistemáticas em todas as
regiões urbanas dos grandes centros. Caso o movimento " Fora Dilma"
ganhe contornos multitudinários, extrapolando as fronteiras dos bastidores de
Brasília e da mídia "murdochiana", certamente o PSTU seguirá seus
apêndices do MNN e MRS embarcando na correnteza do "golpismo" com
viés "democrático" de novas eleições gerais.
Do ponto de vista da classe operária e do movimento popular
não deve haver o menor interesse político da derrubada deste governo como um
produto da ofensiva de setores da burguesia nacional orientada diretamente pela
Casa Branca. É absolutamente correto afirmar que Dilma não representa nenhum
"projeto dos trabalhadores", neste sentido seu governo concentra os
interesses econômicos de grandes grupos capitalistas, nacionais e estrangeiros,
que nada tem em comum com as aspirações da genuína esquerda socialista. Todavia
a tarefa histórica de superar e ultrapassar a política de colaboração de
classes do governo da Frente Popular deverá ser resolvido pela ação
independente do movimento de massas com um norte progressista e revolucionário
e jamais "somando forças" com a direita pró-imperialista.