sexta-feira, 7 de agosto de 2015


DIANTE DOS PANELAÇOS DA CLASSE MÉDIA: POR QUE MESMO LUTANDO CONTRA O AJUSTE NÃO É CORRETO CONVOCAR A DERRUBADA DO GOVERNO DILMA?

Durante o programa eleitoral do PT na noite de ontem, como já era esperado por todos, setores reacionários da classe média em todo o país (moradores de condomínios de alto padrão) voltaram a bater panelas e xingar a presidente Dilma com todos os impropérios mais racistas e preconceituosos possíveis. O fato novo porém é que o Panelaço também foi verificado em bairros e prédios mais modestos, embora possam ser agrupadas no marco geral da classe média. Em regiões proletárias e nitidamente populares não se teve notícias de manifestações contra o governo. A adesão de camadas médias da classe trabalhadora aos protestos contra o governo do PT aconteceu por razões óbvias, estão sendo duramente atingidas pelo ajuste levyano que já trouxe o desemprego e perda de direitos fundamentais para o conjunto da população. Não se pode "tapar o sol com a peneira" o profundo desgaste social do governo Dilma não atinge só a chamada "classe média coxinha", granjeia vastas camadas médias e pauperizadas de nosso povo. Neste contexto onde a crise política ganha contornos de gravidade, setores da "oposição de esquerda" críticas ao agressivo ajuste neoliberal, vem convocando a necessidade da derrubada do governo Dilma. O PSTU, representante maior deste bloco, afirma que não é a favor da saída de Dilma pelas mãos do corrupto Congresso Nacional (impeachment), chamando o movimento social a romper com a política do PT no sentido de buscar outra alternativa de governo, em suas próprias palavras: "O que nosso partido (PSTU) propõe é que os trabalhadores se organizem e lutem para derrubar o governo Dilma." A vanguarda classista que já demonstrou nas ruas a disposição em combater o plano de austeridade fiscal deste governo tão generoso com os rentistas, poderá até ficar "seduzida" com a proposta do PSTU que convida para a derrubada de Dilma. Acontece que a plataforma política destas organizações da "oposição de esquerda" em nenhum momento aponta que para ocupar o cenário vazio de uma possível queda do governo é necessário primeiro construir uma alternativa de poder revolucionário dos trabalhadores, sem a dualidade do poder proletário a derrubada de Dilma obrigatoriamente dará lugar a posse de um outro governo burguês que nesta conjuntura teria colorações de direita. A proposta do PSTU apesar de encoberta de frases radicalizadas como a da "mobilização dos trabalhadores" e "Congresso Corrupto" não aponta na direção da ruptura institucional e revolucionária com este regime, caindo Dilma com as regras constitucionais vigentes ou teremos o vice Temer ou no máximo novas eleições (em um curto prazo) onde o a direita tucana daria um "passeio". Ou seja a única alternativa de poder já constituída no momento para o "default" de Dilma é da ala burguesa mais reacionária e "linkada" diretamente ao imperialismo. Nós da LBI fomos a primeira corrente em afirmar a necessidade de construir uma oposição operária ao governo da Frente Popular, enquanto o próprio PSTU chamava no início a um "apoio crítico", entretanto não confundimos nossa estratégia com a realidade concreta da situação política e organização da classe operária. Na atual conjuntura o "Fora Dilma", sem que haja uma alternativa revolucionária de nossa classe, significa concretamente o "Venha a Direita" para o governo! Se opor ao institucional "Fora Dilma" de maneira alguma representa emprestar apoio político a um governo que facilita a marcha da direita fascista no Brasil. Não podemos cair no grave erro histórico de 1964 quando o movimento de massas ficou atado a um governo nacionalista burguês que assistia passivo a conspiração dos golpistas, e isto guardada as enormes diferenças entre um Jango que propunha reformas progressistas e Dilma que implementa o programa dos rentistas do "Consenso de Washington". A tendência é que as manifestações contra este governo organizadas pela oposição conservadora ganhem ainda mais dimensão, a política oficial dos monopólios imperialistas é o do "sangramento de Dilma" (a operação Lava Jato está ainda no início) por um longo período o que colocará ainda mais o PT nas cordas. Este elemento poderá confundir setores do movimento de massas em considerar "justas" as manifestações reacionárias contra Dilma e a "oposição de esquerda" logicamente tentará surfar na "onda da direita" para tirar dividendos eleitorais. Como já afirmamos exaustivamente em artigos anteriores é fundamental a construção de uma alternativa operária diante da grave crise política e econômica que o país atravessa, porém esta senda passa bem longe das saídas institucionais burguesas que estão postas pelas oposições de "esquerda e direita". Demarcar o campo com a reação fascista é um princípio básico para todo Marxista, mas que desgraçadamente os revisionistas do PSTU não concebem. Delimitar claras fronteiras com a política de colaboração de classes da Frente Popular é outro princípio que foi ignorado pelos revisionistas do PCO. Forjar um árduo e necessário percurso no combate pela independência de classe com a bússola da estratégia socialista é a tarefa que se mantém viva nesta etapa política polarizada pelas diversas variantes burguesas.

O falso "radicalismo" da oposição de esquerda que proclama ser contra o impeachment de Dilma por iniciativa do Congresso "BBB" (Bíblia, Boi e Bala), não se apresenta quando a alternativa burguesa colocada é a da convocação de novas eleições. Esta variante burguesa diante da crise do governo vem ganhando adesões de frações importantes dos partidos da oposição de direita e parece seduzir o apetite eleitoral do PSOL e PSTU. Contudo as "cartas ainda não foram baixadas" e no pocker da burguesia as apostas seguem no progressivo desgaste do governo até o fim do mandato, ou pelo menos enquanto o PT tenha capacidade de controlar o movimento social neste país.

Outro elemento importante da atual conjuntura que está aberto ainda é o do nível e intensidade que ganharão as marchas contra Dilma. O Panelaço ocorrido nesta última quinta-feira revelou uma tendência que pode ser ou não confirmada quando a questão para a classe média é colocar seus pés nas ruas. Não estamos falando simplesmente de manifestações domingueiras nos bulevares da classe média e sim de mobilizações sistemáticas em todas as regiões urbanas dos grandes centros. Caso o movimento " Fora Dilma" ganhe contornos multitudinários, extrapolando as fronteiras dos bastidores de Brasília e da mídia "murdochiana", certamente o PSTU seguirá seus apêndices do MNN e MRS embarcando na correnteza do "golpismo" com viés "democrático" de novas eleições gerais.

Do ponto de vista da classe operária e do movimento popular não deve haver o menor interesse político da derrubada deste governo como um produto da ofensiva de setores da burguesia nacional orientada diretamente pela Casa Branca. É absolutamente correto afirmar que Dilma não representa nenhum "projeto dos trabalhadores", neste sentido seu governo concentra os interesses econômicos de grandes grupos capitalistas, nacionais e estrangeiros, que nada tem em comum com as aspirações da genuína esquerda socialista. Todavia a tarefa histórica de superar e ultrapassar a política de colaboração de classes do governo da Frente Popular deverá ser resolvido pela ação independente do movimento de massas com um norte progressista e revolucionário e jamais "somando forças" com a direita pró-imperialista.