domingo, 14 de maio de 2017

14 DE MAIO DE 1948: A FORMAÇÃO DE ISRAEL COMO ENCLAVE DO IMPERIALISMO NO ORIENTE MÉDIO E A LUTA POR UMA PALESTINA SOVIÉTICA BASEADA EM CONSELHOS DE OPERÁRIOS E CAMPONESES PALESTINOS E JUDEUS


Exatamente no dia da proclamação oficial da fundação do Estado de Israel, 14 de maio de 1948, foi declarada a primeira guerra aos países árabes. O novo exército de Israel, agora batizado "Tzahal", é abastecido belicamente pela Tchecoslováquia (membro do Pacto de Varsóvia) e Estados Unidos. Conseguindo uma triunfal vitória, alarga, desta forma, em três vezes o seu território traçado inicialmente pela ONU. O Estado árabe palestino estipulado pelo plano de partilha não consegue sair do papel, já estava morto antes de nascer. Restando ao Egito à anexação da faixa de Gaza e à Jordânia a anexação da Cisjordânia. Um milhão e meio de palestinos deixam o agora chamado Estado de Israel, expulsos de suas terras sob o bombardeio da aviação sionista, espalham-se pelo Líbano, Egito, Jordânia, Síria. 600 mil palestinos permanecem no Estado sionista, sem nenhum direito civil, tratados como cidadãos de segunda categoria em seu antigo território nacional, servindo de mão-de-obra barata que irá mover a engrenagem capitalista do enclave militar de Israel. A iminente eclosão da II guerra mundial obriga a Inglaterra, ameaçada diretamente pelo nazismo, a procurar o apoio dos países árabes contra a Alemanha. Para atrair sua simpatia, em 1939, adota o chamado "livro branco", limitando a entrada de judeus na Palestina. Tarde demais, o imperialismo norte-americano, emergente no cenário mundial, abraça a causa sionista, passando a fornecer armamento pesado às milícias sionistas que ameaçam até o próprio exército inglês. Com a vitória dos aliados e o despontar da hegemonia norte-americana só resta à Inglaterra sua retirada do cenário. A recém-fundada Organizações das Nações Unidas, substituta da antiga Liga da Nações, através da iniciativa dos Estados Unidos, e com o apoio entusiástico da URSS, decreta em 1947 a divisão definitiva da Palestina entre um Estado judeu e outro árabe palestino. O stalinismo, após os acordos de Yalta, deixará o Oriente como uma área de influência do imperialismo ianque, além da consideração do sionismo, em sua versão trabalhista como um aliado político, com o qual desenvolverá uma frente popular em Israel. O velho partido comunista palestino logo mudará seu nome para israelense por considerar as massas árabes e palestinas como atrasadas e feudais. Antes mesmo da oficialização do Estado de Israel, as tropas do Irgun retomam os massacres aos palestinos, como a chacina da aldeia de "Deir Yassin". Era o prenúncio do terrorismo sionista que irá assolar o povo palestino até hoje.

Recuando um pouco na história da criação do Estado de Israel no território palestino, iremos compreender o real conteúdo desta operação, dirigida inicialmente pelo imperialismo inglês e finalizada pelo imperialismo ianque com o objetivo de estender definitivamente seu domínio sobre uma região estratégica, de vários ângulos: econômico, político e militar. A maquiagem ideológica, que justificasse a criação de um país, a partir do quase nada, foi tomada emprestada ao movimento sionista pelo imperialismo britânico na primeira década deste século. O sionismo (referência à colina de Sion em Jerusalém) proclamava a necessidade de uma "regeneração" do povo judeu, que após a grande diáspora da Palestina, por volta do ano 70 da era cristã, teria se afastado de suas raízes produtivas, ligando-se exclusivamente as atividades comerciais e pecuniárias. Theodor Herzl, um dos fundadores do movimento, propõe "a conquista do trabalho pelo povo judeu" no retorno "à terra prometida" já em 1901. Sob o slogan "uma terra sem povo para um povo sem terra", os sionistas ‘esqueceram’ um ‘pequeno detalhe’, a existência de um milhão de palestinos que já habitavam aquela região há mais de 18 séculos!

O contexto histórico que marca a ascensão do sionismo é exatamente a profunda crise da economia capitalista, mergulhada em sua primeira grande guerra pela disputa de mercados, assistindo ao ressurgimento do nacionalismo exacerbado, colocando os judeus, particularmente os comerciantes e usurários em uma situação bastante delicada. Por outro lado, a vitória da revolução russa colocava objetivamente a possibilidade da absorção da cultura milenar do povo judeu em um patamar muito superior ao capitalismo, a construção solidária e multiétnica de uma nova ordem social, pondo um fim à discriminação nacional assassina que imperava na velha Rússia. O movimento sionista, que representa socialmente os interesses da grande e média burguesia judaica tenta responder a estas duas grandes questões - o colapso capitalista que elevava cada vez mais a segregação e o anti-semitismo e, ao mesmo tempo, a necessidade de uma profunda demarcação com os revolucionários russos, que abriram a possibilidade de uma assimilação pela via do socialismo debutante justamente em um país largamente povoado por judeus.

Trotsky, desmascarando as tentativas de apresentação do sionismo, como um movimento de características comuns ao socialismo, o define como um instrumento que estava sendo utilizado pelo imperialismo inglês: "mas os fatos de cada dia nos mostram que o sionismo é incapaz de resolver a questão judaica. O conflito entre judeus e árabes na Palestina adquire um caráter cada vez mais trágico e ameaçador. Eu não acredito de forma alguma que a questão judaica possa ser resolvida nos quadros do capitalismo decadente sob o controle do imperialismo britânico" (León Trotsky, Sobre a Questão Judaica).

A vitória da aliança franco-britânica sobre os alemães e seus aliados, entre os quais a Turquia na Iª guerra mundial, torna o imperialismo inglês o grande herdeiro do imenso e secular Império Otomano, que engloba todo o Oriente Médio. Em 1917, com o objetivo de estabelecer uma ‘cabeçeira de ponte’ na região, o governo inglês apóia a "construção do lar nacional para o povo judeu" na Palestina, através da célebre declaração de "Balfour". Toda a região é repartida entre Inglaterra e França, através dos acordos secretos de "Sykes-Picot", denunciados publicamente pelo partido bolchevique como a "partilha do covil sobre as nações oprimidas". São desenhadas fronteiras, criados países artificialmente como a Transjordânia (atual Jordânia) em 1921, tudo em função dos interesses econômicos do imperialismo europeu.

Mas a Palestina é a única nação que permanecerá sem qualquer rasgo de autonomia, ou seja, uma nação sem Estado, sem fronteiras nacionais, ficando sob o mandato inglês, confiado pela Liga das Nações em 1922. A partir daí o imperialismo britânico, através de magnatas do petróleo como o Barão de Rotchild, começa a financiar a emigração massiva de judeus na Palestina, que antes somavam apenas 25 mil, iniciando o processo de ocidentalização de um enclave, no meio do Oriente, em uma região que despontava pela riqueza do ouro negro e por sua localização estratégica do ponto de vista militar.

Com a ascensão do nazismo na Europa, em meados da década de trinta, o povo judeu assiste a vigorosa reaparição do anti-semitismo na sua forma mais violenta. Por sua vez, a União Soviética, dirigida pela burocracia stalinista, não mais representava uma alternativa de integração para o povo judeu. Muito pelo contrário, sob o tacão termidoriano, os revolucionários assistem ao renascimento do anti-semitismo em uma forma que não deixava muito a dever aos velhos pogrons tzaristas. A Oposição Unificada de Esquerda, formada por Trotsky, Zinoviev e Bukarin, entre outros, era definida pelo stalinismo como "união de judeus sujos vendidos a Gestapo". É neste marco que o sionismo, antes visto com muita desconfiança pelos trabalhadores judeus que o consideravam uma capitulação aos racistas, que preconizavam a expulsão dos judeus da Europa, vai afirmar-se como um grande movimento nacional de alcance de massas.

Na década de trinta, ocorre o grande fluxo migratório; em 1935, os judeus na Palestina já somavam quase 400 mil. A cidade de Haifa, a beira do Mediterrâneo, mais parecia uma cidade completamente europeia, no meio da cultura milenar do deserto. O objetivo imperialista inglês havia conseguido consolidar-se a passos largos. Os judeus, financiados com aportes massivos de capitais, formaram um verdadeiro Estado dentro do protetorado britânico na Palestina, inclusive com a criação de um exército próprio, as milícias do Irgun e Haganá encarregadas do extermínio de palestinos e árabes. Seu lema era "cem mil vidas árabes não valem a unha de um judeu". O sionismo transformou-se na reprodução do nazismo contra os povos árabes em seu próprio território.

Neste mesmo ano, explode a grande revolta palestina, com a deflagração de uma greve geral, que durou quase um ano. Somente em 37, o governo inglês consegue uma trégua, em função da vergonhosa traição do alto comitê árabe. Neste período, é enviada da Inglaterra a "Comissão Peel", encarregada de investigar os conflitos na região, concluindo pela primeira vez a necessidade da partilha da Palestina em dois Estados.

Do velho Egito, surge um setor de jovens oficiais, sublevados contra a vergonhosa traição do Rei Faruk, que durante a guerra de 48 forneceu fuzis defeituosos ao seu exército. Tomam o poder liderados por Nasser. É o início do nacionalismo árabe que logo se espalha como um rastilho de pólvora pela Síria, Iraque e Líbano. Em 1956, Nasser declara a nacionalização do Canal de Suez, que estava sob o controle das grandes potências mundiais sendo o ponto econômico mais estratégico de todo Oriente Médio, aonde transitam dois terços do petróleo destinado à Europa. A reação do imperialismo é imediata, Inglaterrra e França preparam a operação militar chamada "expedição de Suez". Cabe ao enclave de Israel, desempenhar seu papel de gerdame do imperialismo na região. Seus tanques e aviões bem mais sofisticados e em maior número que os da artilharia egípcia, logo em dois dias ocupam o deserto do Sinai até as margens do canal. Em seguida, passam o controle da região para as tropas da ONU, seguindo a orientação direta do imperialismo ianque.

Passados quase 11 anos da ocupação do Suez, novamente Nasser, agora apoiado por uma ajuda militar da URSS, que se vê obrigada a interferir no palco das operações militares do Oriente Médio, desta vez ao lado dos árabes, devido ao perigo de uma incursão militar imperialista no seu território oriental, retoma a bandeira do Suez, exigindo que tropas da ONU se retirem do Egito. É o motivo para que Israel entre em cena, com o sinal verde dos EUA. A aviação israelense ataca, e em uma manhã a guerra está ganha. Seus blindados são enviados para todos os frontes. Em seis dias, o Egito perde Gaza e o Sinai até o Suez. A Síria perde as colinas de Golan, também retomando da Jordânia a Cisjordânia anexada em 1948 e ocupa definitivamente o lado palestino da cidade de Jerusalém, conseguindo quadruplicar suas fronteiras iniciais. Sem uma ação direta das massas e devido ao forte poderio militar imperialista é imposta uma nova derrota para as burguesias árabes. Para o povo palestino é um desastre sem proporções, passando a habitar os territórios ocupados na condição de prisioneiros políticos. Segue-se uma luta de guerrilhas na região, a partir de bases militares palestinas instaladas no sul do Líbano, que extende-se até hoje.

O fim dos constantes massacres do povo palestino, assim como a realização da sua justa aspiração nacional para a constituição de uma verdadeira pátria, não passa, como já dissemos, pelos reacionários "acordos de paz" e a criação de um protetorado palestino sob as botas do Estado terrorista de Israel.

Para os Marxistas Revolucionários, a caracterização de Israel como um enclave do imperialismo estabelecido contra a luta das massas árabes do Oriente Médio é fundamental para defendermos a sua destruição, como parte de um programa revolucionário para os trabalhadores palestinos.

A essência de todos os conflitos militares travados na região reside na própria arena da luta de classes internacional, sendo a existência de Israel, um enclave militar artificialmente implantado no coração do Oriente, fundamental na repressão dos interesses do imperialismo mundial em uma região estratégica, pelas reservas petrolíferas, para o funcionamento da economia capitalista no planeta. É uma tarefa do conjunto do proletariado de todo mundo, inclusive o judeu, a destruição deste gerdame imperialista, no sentido de impulsionar enormemente a luta dos povos contra a exploração capitalista.

As ilusões que poderiam ser despertadas com a farsa dos acordos de paz, sobre os setores da população mais castigados e céticos por longos anos de sofrimento, se desfizeram antes mesmo de alcançarem alguma envergadura. A humilhação permanente dos sionistas sobre a malfadada "autoridade nacional palestina" tem contribuído em muito para isso. A tensão revolucionária que permeia a Palestina ocupada não conseguiu ser quebrada nem pela violenta reação militar, tampouco pelo pacto OLP-sionismo. Está aberta toda uma etapa, marcada pela resistência e grandes lutas que rapidamente porão abaixo o acordo traidor, colocando como centro a conquista de um verdadeiro Estado nacional.

A única alternativa que poderá dar uma resolução cabal à legítima reivindicação nacional do povo palestino, assim como livrar as massas e trabalhadores da região de seus gigantescos sofrimentos ao longo de vários séculos, é a defesa de uma Palestina Soviética baseada em conselhos de operários e camponeses palestinos e judeus. A expropriação do grande capital sionista, alimentado em décadas pelo imperialismo ianque, impossível de ser conquistada sem a destruição do Estado de Israel, garantirá a reconstrução da Palestina sob novas bases, trazendo para seu povo o progresso e a paz tão almejada durante quase 70 anos de guerra de rapinagem imperialista na região.