14 DE MAIO DE 1948: A FORMAÇÃO DE ISRAEL COMO ENCLAVE DO
IMPERIALISMO NO ORIENTE MÉDIO E A LUTA POR UMA PALESTINA SOVIÉTICA BASEADA EM
CONSELHOS DE OPERÁRIOS E CAMPONESES PALESTINOS E JUDEUS
Exatamente no dia da proclamação oficial da fundação do
Estado de Israel, 14 de maio de 1948, foi declarada a primeira guerra aos
países árabes. O novo exército de Israel, agora batizado "Tzahal", é
abastecido belicamente pela Tchecoslováquia (membro do Pacto de Varsóvia) e
Estados Unidos. Conseguindo uma triunfal vitória, alarga, desta forma, em três
vezes o seu território traçado inicialmente pela ONU. O Estado árabe palestino
estipulado pelo plano de partilha não consegue sair do papel, já estava morto antes
de nascer. Restando ao Egito à anexação da faixa de Gaza e à Jordânia a
anexação da Cisjordânia. Um milhão e meio de palestinos deixam o agora chamado
Estado de Israel, expulsos de suas terras sob o bombardeio da aviação sionista,
espalham-se pelo Líbano, Egito, Jordânia, Síria. 600 mil palestinos permanecem
no Estado sionista, sem nenhum direito civil, tratados como cidadãos de segunda
categoria em seu antigo território nacional, servindo de mão-de-obra barata que
irá mover a engrenagem capitalista do enclave militar de Israel. A iminente
eclosão da II guerra mundial obriga a Inglaterra, ameaçada diretamente pelo
nazismo, a procurar o apoio dos países árabes contra a Alemanha. Para atrair
sua simpatia, em 1939, adota o chamado "livro branco", limitando a
entrada de judeus na Palestina. Tarde demais, o imperialismo norte-americano,
emergente no cenário mundial, abraça a causa sionista, passando a fornecer
armamento pesado às milícias sionistas que ameaçam até o próprio exército
inglês. Com a vitória dos aliados e o despontar da hegemonia norte-americana só
resta à Inglaterra sua retirada do cenário. A recém-fundada Organizações das
Nações Unidas, substituta da antiga Liga da Nações, através da iniciativa dos
Estados Unidos, e com o apoio entusiástico da URSS, decreta em 1947 a divisão
definitiva da Palestina entre um Estado judeu e outro árabe palestino. O
stalinismo, após os acordos de Yalta, deixará o Oriente como uma área de
influência do imperialismo ianque, além da consideração do sionismo, em sua versão
trabalhista como um aliado político, com o qual desenvolverá uma frente popular
em Israel. O velho partido comunista palestino logo mudará seu nome para
israelense por considerar as massas árabes e palestinas como atrasadas e
feudais. Antes mesmo da oficialização do Estado de Israel, as tropas do Irgun
retomam os massacres aos palestinos, como a chacina da aldeia de "Deir
Yassin". Era o prenúncio do terrorismo sionista que irá assolar o povo
palestino até hoje.
Recuando um pouco na história da criação do Estado de Israel
no território palestino, iremos compreender o real conteúdo desta operação,
dirigida inicialmente pelo imperialismo inglês e finalizada pelo imperialismo
ianque com o objetivo de estender definitivamente seu domínio sobre uma região
estratégica, de vários ângulos: econômico, político e militar. A maquiagem ideológica, que justificasse a criação de um
país, a partir do quase nada, foi tomada emprestada ao movimento sionista pelo
imperialismo britânico na primeira década deste século. O sionismo (referência
à colina de Sion em Jerusalém) proclamava a necessidade de uma
"regeneração" do povo judeu, que após a grande diáspora da Palestina,
por volta do ano 70 da era cristã, teria se afastado de suas raízes produtivas,
ligando-se exclusivamente as atividades comerciais e pecuniárias. Theodor
Herzl, um dos fundadores do movimento, propõe "a conquista do trabalho
pelo povo judeu" no retorno "à terra prometida" já em 1901. Sob
o slogan "uma terra sem povo para um povo sem terra", os sionistas
‘esqueceram’ um ‘pequeno detalhe’, a existência de um milhão de palestinos que
já habitavam aquela região há mais de 18 séculos!
O contexto histórico que marca a ascensão do sionismo é
exatamente a profunda crise da economia capitalista, mergulhada em sua primeira
grande guerra pela disputa de mercados, assistindo ao ressurgimento do
nacionalismo exacerbado, colocando os judeus, particularmente os comerciantes e
usurários em uma situação bastante delicada. Por outro lado, a vitória da
revolução russa colocava objetivamente a possibilidade da absorção da cultura
milenar do povo judeu em um patamar muito superior ao capitalismo, a construção
solidária e multiétnica de uma nova ordem social, pondo um fim à discriminação
nacional assassina que imperava na velha Rússia. O movimento sionista, que
representa socialmente os interesses da grande e média burguesia judaica tenta
responder a estas duas grandes questões - o colapso capitalista que elevava
cada vez mais a segregação e o anti-semitismo e, ao mesmo tempo, a necessidade
de uma profunda demarcação com os revolucionários russos, que abriram a
possibilidade de uma assimilação pela via do socialismo debutante justamente em
um país largamente povoado por judeus.
Trotsky, desmascarando as tentativas de apresentação do sionismo,
como um movimento de características comuns ao socialismo, o define como um
instrumento que estava sendo utilizado pelo imperialismo inglês: "mas os
fatos de cada dia nos mostram que o sionismo é incapaz de resolver a questão
judaica. O conflito entre judeus e árabes na Palestina adquire um caráter cada
vez mais trágico e ameaçador. Eu não acredito de forma alguma que a questão
judaica possa ser resolvida nos quadros do capitalismo decadente sob o controle
do imperialismo britânico" (León Trotsky, Sobre a Questão Judaica).
A vitória da aliança franco-britânica sobre os alemães e
seus aliados, entre os quais a Turquia na Iª guerra mundial, torna o
imperialismo inglês o grande herdeiro do imenso e secular Império Otomano, que
engloba todo o Oriente Médio. Em 1917, com o objetivo de estabelecer uma
‘cabeçeira de ponte’ na região, o governo inglês apóia a "construção do
lar nacional para o povo judeu" na Palestina, através da célebre
declaração de "Balfour". Toda a região é repartida entre Inglaterra e
França, através dos acordos secretos de "Sykes-Picot", denunciados
publicamente pelo partido bolchevique como a "partilha do covil sobre as
nações oprimidas". São desenhadas fronteiras, criados países
artificialmente como a Transjordânia (atual Jordânia) em 1921, tudo em função
dos interesses econômicos do imperialismo europeu.
Mas a Palestina é a única nação que permanecerá sem qualquer
rasgo de autonomia, ou seja, uma nação sem Estado, sem fronteiras nacionais,
ficando sob o mandato inglês, confiado pela Liga das Nações em 1922. A partir
daí o imperialismo britânico, através de magnatas do petróleo como o Barão de
Rotchild, começa a financiar a emigração massiva de judeus na Palestina, que
antes somavam apenas 25 mil, iniciando o processo de ocidentalização de um
enclave, no meio do Oriente, em uma região que despontava pela riqueza do ouro
negro e por sua localização estratégica do ponto de vista militar.
Com a ascensão do nazismo na Europa, em meados da década de
trinta, o povo judeu assiste a vigorosa reaparição do anti-semitismo na sua
forma mais violenta. Por sua vez, a União Soviética, dirigida pela burocracia
stalinista, não mais representava uma alternativa de integração para o povo
judeu. Muito pelo contrário, sob o tacão termidoriano, os revolucionários
assistem ao renascimento do anti-semitismo em uma forma que não deixava muito a
dever aos velhos pogrons tzaristas. A Oposição Unificada de Esquerda, formada
por Trotsky, Zinoviev e Bukarin, entre outros, era definida pelo stalinismo
como "união de judeus sujos vendidos a Gestapo". É neste marco que o
sionismo, antes visto com muita desconfiança pelos trabalhadores judeus que o
consideravam uma capitulação aos racistas, que preconizavam a expulsão dos
judeus da Europa, vai afirmar-se como um grande movimento nacional de alcance
de massas.
Na década de trinta, ocorre o grande fluxo migratório; em
1935, os judeus na Palestina já somavam quase 400 mil. A cidade de Haifa, a
beira do Mediterrâneo, mais parecia uma cidade completamente europeia, no meio
da cultura milenar do deserto. O objetivo imperialista inglês havia conseguido
consolidar-se a passos largos. Os judeus, financiados com aportes massivos de
capitais, formaram um verdadeiro Estado dentro do protetorado britânico na
Palestina, inclusive com a criação de um exército próprio, as milícias do Irgun
e Haganá encarregadas do extermínio de palestinos e árabes. Seu lema era
"cem mil vidas árabes não valem a unha de um judeu". O sionismo
transformou-se na reprodução do nazismo contra os povos árabes em seu próprio
território.
Neste mesmo ano, explode a grande revolta palestina, com a
deflagração de uma greve geral, que durou quase um ano. Somente em 37, o
governo inglês consegue uma trégua, em função da vergonhosa traição do alto
comitê árabe. Neste período, é enviada da Inglaterra a "Comissão
Peel", encarregada de investigar os conflitos na região, concluindo pela
primeira vez a necessidade da partilha da Palestina em dois Estados.
Do velho Egito, surge um setor de jovens oficiais,
sublevados contra a vergonhosa traição do Rei Faruk, que durante a guerra de 48
forneceu fuzis defeituosos ao seu exército. Tomam o poder liderados por Nasser.
É o início do nacionalismo árabe que logo se espalha como um rastilho de
pólvora pela Síria, Iraque e Líbano. Em 1956, Nasser declara a nacionalização
do Canal de Suez, que estava sob o controle das grandes potências mundiais
sendo o ponto econômico mais estratégico de todo Oriente Médio, aonde transitam
dois terços do petróleo destinado à Europa. A reação do imperialismo é imediata,
Inglaterrra e França preparam a operação militar chamada "expedição de
Suez". Cabe ao enclave de Israel, desempenhar seu papel de gerdame do
imperialismo na região. Seus tanques e aviões bem mais sofisticados e em maior
número que os da artilharia egípcia, logo em dois dias ocupam o deserto do
Sinai até as margens do canal. Em seguida, passam o controle da região para as
tropas da ONU, seguindo a orientação direta do imperialismo ianque.
Passados quase 11 anos da ocupação do Suez, novamente Nasser,
agora apoiado por uma ajuda militar da URSS, que se vê obrigada a interferir no
palco das operações militares do Oriente Médio, desta vez ao lado dos árabes,
devido ao perigo de uma incursão militar imperialista no seu território
oriental, retoma a bandeira do Suez, exigindo que tropas da ONU se retirem do
Egito. É o motivo para que Israel entre em cena, com o sinal verde dos EUA. A
aviação israelense ataca, e em uma manhã a guerra está ganha. Seus blindados
são enviados para todos os frontes. Em seis dias, o Egito perde Gaza e o Sinai
até o Suez. A Síria perde as colinas de Golan, também retomando da Jordânia a
Cisjordânia anexada em 1948 e ocupa definitivamente o lado palestino da cidade
de Jerusalém, conseguindo quadruplicar suas fronteiras iniciais. Sem uma ação
direta das massas e devido ao forte poderio militar imperialista é imposta uma
nova derrota para as burguesias árabes. Para o povo palestino é um desastre sem
proporções, passando a habitar os territórios ocupados na condição de
prisioneiros políticos. Segue-se uma luta de guerrilhas na região, a partir de
bases militares palestinas instaladas no sul do Líbano, que extende-se até
hoje.
O fim dos constantes massacres do povo palestino, assim como
a realização da sua justa aspiração nacional para a constituição de uma
verdadeira pátria, não passa, como já dissemos, pelos reacionários
"acordos de paz" e a criação de um protetorado palestino sob as botas
do Estado terrorista de Israel.
Para os Marxistas Revolucionários, a caracterização de
Israel como um enclave do imperialismo estabelecido contra a luta das massas
árabes do Oriente Médio é fundamental para defendermos a sua destruição, como
parte de um programa revolucionário para os trabalhadores palestinos.
A essência de todos os conflitos militares travados na
região reside na própria arena da luta de classes internacional, sendo a
existência de Israel, um enclave militar artificialmente implantado no coração
do Oriente, fundamental na repressão dos interesses do imperialismo mundial em
uma região estratégica, pelas reservas petrolíferas, para o funcionamento da
economia capitalista no planeta. É uma tarefa do conjunto do proletariado de
todo mundo, inclusive o judeu, a destruição deste gerdame imperialista, no
sentido de impulsionar enormemente a luta dos povos contra a exploração
capitalista.
As ilusões que poderiam ser despertadas com a farsa dos
acordos de paz, sobre os setores da população mais castigados e céticos por
longos anos de sofrimento, se desfizeram antes mesmo de alcançarem alguma envergadura.
A humilhação permanente dos sionistas sobre a malfadada "autoridade
nacional palestina" tem contribuído em muito para isso. A tensão
revolucionária que permeia a Palestina ocupada não conseguiu ser quebrada nem
pela violenta reação militar, tampouco pelo pacto OLP-sionismo. Está aberta
toda uma etapa, marcada pela resistência e grandes lutas que rapidamente porão
abaixo o acordo traidor, colocando como centro a conquista de um verdadeiro
Estado nacional.
A única alternativa que poderá dar uma resolução cabal à
legítima reivindicação nacional do povo palestino, assim como livrar as massas
e trabalhadores da região de seus gigantescos sofrimentos ao longo de vários
séculos, é a defesa de uma Palestina Soviética baseada em conselhos de
operários e camponeses palestinos e judeus. A expropriação do grande capital
sionista, alimentado em décadas pelo imperialismo ianque, impossível de ser
conquistada sem a destruição do Estado de Israel, garantirá a reconstrução da
Palestina sob novas bases, trazendo para seu povo o progresso e a paz tão
almejada durante quase 70 anos de guerra de rapinagem imperialista na região.