quarta-feira, 17 de maio de 2017

Publicamos o artigo do trotskista norte-americano James Petras analisando a experiência dos trabalhadores gregos com o governo de Alexis Tsipras, do SYRIZA, desde 2015. Apesar de nossas diferenças políticas com Petras, o texto em questão tira corretas conclusões políticas da gestão burguesa do partido que foi apresentado por grande parte da esquerda mundial, inclusive correntes que se reivindicam trotskistas, como uma “alternativa radical ao neoliberalismo”. Essas lições são importantes de serem apreendidas pela vanguarda militante porque no Brasil temos um partido similar ao SYRIZA, o PSOL. Não por acaso os dirigentes do PSOL saudaram entusiasticamente o ascensão de Alexis Tsipras ao governo grego e agora mantém o silêncio diante da plataforma de ataques neoliberais e submissão a União Europeia que seu aliado vem aplicando contra os trabalhadores. Esse debate ganha ainda mais importância na medida em que o PSOL lançou Chico Alencar como pré-candidato a Presidência da República, nome inclusive apoiado pelas correntes de esquerda da legenda como alternativa eleitoral à direita e a Frente Popular encabeçada pelo PT no 1º turno. Como já denunciamos, Alencar representa a defesa do “capitalismo sustentável” que somado a seu apoio a Operação Lava Jato não deixa dúvidas que será porta-voz de um programa que muito se assemelha a demagogia inicial do SYRIZA, que depois desembocou em uma gestão burguesa de draconianos ataques aos trabalhadores, com privatizações, redução de salário e pensões e submissão ao imperialismo! Vale salientar que no interior do SYRIZA, como registra Petras, uma série de grupos conformam a “Plataforma de Esquerda” que no máximo critica os “exageros” de Tsipras, assim como fazem alguns de seus similares no Brasil com relação à conduta vergonhosa de Chico Alencar, como na sua presença no recente rega-bofe com o golpista Temer ou na escandalosa defesa da caçada do Juiz Moro contra o Lula e o PT. A LBI, que combateu desde o início as ilusões no SYRIZA como faz no Brasil com o PSOL, considera que assim como Alexis Tsipras traiu os trabalhadores gregos, esse é o caminho inexorável do PSOL, ainda que não esteja colocado neste momento assumir a gerência burguesa no Brasil. Sua função será tirar votos de Lula e abrir caminho para a direita na disputa eleitoral que se avizinha.



PRIMEIRO-MINISTRO GREGO ALEXIS TSIPRAS: "TRAIDOR DO ANO" * JAMES PETRAS

Apesar da árdua competição de outros infames traidores da esquerda por todo o mundo, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras vence o prêmio "Traidor global do ano".
Tsipras merece o título de "Traidor global" porque:
1) Fez a viragem mais rápida e mais brutal da esquerda para a direita do que qualquer dos seus venais competidores.
2) Apoiou a subjugação da Grécia aos ditames dos oligarcas de Bruxelas quanto a exigências de privatizações, concordando em vender todo o seu patrimônio nacional, incluindo sua infraestrutura, ilhas, minas, praias, museus, portos, transportes, etc.
3) Ele decretou a mais brutal redução de pensões, salários e salários mínimos da história europeia, enquanto aumentava drasticamente o custo de cuidados de saúde, hospitalização e remédios. Ele aumentou o IVA (imposto sobre o consumo) e impostos sobre importações e sobre o rendimento agrícola enquanto "olhava para o outro lado" em relação a impostos de evasores ricos.
4) Tsipras é o único líder eleito a convocar um referendo sobre as duras condições da UE, recebe um mandato maciço para rejeitar o plano da UE e então dá meia volta e trai os eleitores gregos em menos de uma semana. Ele até aceitou condições mais severas do que as exigências originais da UE!
5) Tsipras reverteu suas promessas de se opor às sanções da UE contra a Rússia e retirou o apoio histórico da Grécia aos palestinos. Ele assinou um acordo de mil milhões de dólares sobre petróleo e gás com Israel, o qual capturou campos petrolífero no offshore de Gaza e na costa libanesa. Tsipras recusou opor-se ao bombardeamento da Síria pelos EUA-UE, assim como da Líbia, ambos antigos aliados da Grécia.
Tsipras, como líder do supostamente partido de "esquerda radical" SYRIZA, saltou da esquerda para a direita num piscar de olhos.
A primeira e mais reveladora indicação da sua viragem para a direita foi o apoio de Tsipras à continuação da Grécia como membro da União Europeia (UE) e da NATO durante a formação do SYRIZA (2004).
A "esquerda" do SYRIZA balbucia as platitudes habituais que acompanham a condição de membro da UE, levantando "questões" e "desafios" vazios enquanto fala de "lutas". Nenhuma destas frases "semi-grávidas" faz sentido para qualquer observador que entenda o poder que os oligarcas dirigidos pelos alemães têm em Bruxelas e sua adesão rígida à austeridade imposta pela classe dominante.





Em segundo lugar, o SYRIZA tem desempenhado um papel menor, na melhor das hipóteses, nas numerosas greves gerais e movimentos de trabalhadores e estudantes que conduziram à sua vitória eleitoral em 2015.

O SYRIZA é um partido eleitoral da classe média baixa, conduzido por políticos que querem subir na vida e que têm poucas, se é que algumas, ligações ao chão da fábrica e às lutas agrárias. Suas maiores lutas parecem revolver-se em torno de guerras internas de facção sobre assentos no Parlamento!

O SYRIZA era uma colecção frouxa de grupos e facções briguentas, incluindo "movimentos ecológicos", seitas marxistas e políticos tradicionais que flutuaram sobre o moribundo e corrupto Partido Socialista Pan Helénico (PASOK). O SYRIZA expandiu-se como partido no princípio da crise financeira de 2008 quando a economia grega entrou em colapso. De 2004 a 2007 o SYRIZA aumentou sua presença no Parlamento de 3,5% para apenas 5%. Sua falta de participação nas lutas de massa e suas querelas internas levaram a um declínio nas eleições legislativas de 2009 para 4,6% dos assentos.

Tsipras assegurou que o SYRIZA pemaneceria na UE, mesmo sua auto-designada "ala esquerda", a Plataforma de Esquerda, liderada pelo "acadêmico marxista" Panagiotis Lafazanis, prometeu "manter uma porta aberta para a saída da UE". Alexis Tsipras foi eleito primeiramente para o conselho da municipalidade de Atenas, onde atacou publicamente colegas corruptos e demagogos enquanto tomava lições privadas de poder da parte da oligarquia.

Em 2010, o direitista PASOK e o partido de extrema-direita Nova Democracia concordaram com um bail-out da dívida ditado pela UE que levou a perdas maciças de empregos e cortes de salários e pensões. O SYRIZA, que estava fora do poder, denunciou o programa de austeridade e fez elogios verbais aos protestos maciços. Esta postura permitiu ao SYRIZA quadruplicar sua representação no parlamento, passando a 16% na eleição de 2012.

Tsipras saudou [a entrada] de membros corruptos e conselheiros financeiros do PASOK para dentro do SYRIZA, incluindo Yanis Varoufakis, que passava mais tempo a andar de motocicleta para bares de luxo do que a apoiar nas ruas os trabalhadores desempregados.

Os "memorandos" da UE ditavam a privatização da economia, bem como cortes mais profundos na educação e saúde. Estas medidas foram implementadas em ondas de choque desde 2010 até 2013. Como partido da oposição, o SYRIZA aumentou suas cadeiras em 27% em 2013 ... uns escassos 3% atrás do partido governante Nova Democracia. Em Setembro de 2014, o SYRIZA aprovou o Programa Salónica prometendo reverter a austeridade, reconstruir e estender o estado de bem-estar social, restaurar a economia, defender empresas públicas, promover justiça fiscal, defender a democracia (democracia directa, nada menos!) e implementar um "plano nacional" para aumentar o emprego.

Todo o debate e todas as resoluções revelaram-se como uma farsa teatral! Uma vez no poder, Tsipras nunca implementou uma única das reformas prometidas no Programa. Para consolidar o seu poder como chefe do SYRIZA, Tsipras dissolveu todas as facções tendências em nome de um "partido unificado" – o que estava longe de ser um passo rumo a maior democracia!

Sob o controle do "Querido Tio Alexis", o SYRIZA tornou-se uma máquina eleitoral autoritária apesar da sua postura de esquerda. Tsipras insistiu em que a Grécia permaneceria dentro da UE e aprovou um "orçamento equilibrado" contradizendo toda as suas falsas promessas de campanha de investimentos públicos para "ampliar o estado de bem-estar social"!

Um novo bail-out da UE foi seguido por um salto no desemprego de mais de 50% entre a juventude e de 30% de toda a força de trabalho. O SYRIZA venceu as eleições parlamentares de 25 de Janeiro de 2015 com 36,3% do eleitorado. Faltando um único voto para assegurar uma maioria no parlamento, o SYRIZA fez uma aliança com o partido de extrema-direita ANEL, ao qual Tsipras deu o Ministério da Defesa.

Imediatamente depois de tomar posse, o primeiro-ministro Alexis Tsipras anunciou seus planos para renegociar com a oligarquia da UE e o FMI o bail-out da Grécia e o "programa de austeridade". Este falso posicionamento não podia ocultar sua impotência. Uma vez que o SYRIZA estava comprometido a permanecer na UE, a austeridade continuaria e outro oneroso bail-out se seguiria. Durante "reuniões internas", membros da "Plataforma de Esquerda" do SYRIZA no gabinete ministerial apelaram ao abandono da UE, ao repúdio da dívida e a forjar laços mais estreitos com a Rússia. Apesar de estarem totalmente ignorados e isolados, eles permaneceram como um impotente "sinal esquerdista" no gabinete ministerial.

Com Tsipras agora liberto para impor políticas de mercado neoliberais, milhares de milhões fluíram para fora da Grécia e os seus próprios bancos e negócios permaneceram em crise. Tanto Tsipras como a "Plataforma de Esquerda" recusaram-se a mobilizar a base de massa do SYRIZA, a qual havia votado em favor da ação e exigiu um fim à austeridade. O impertinente dos media, o ministro das Finanças Varoufakis, simulou um espetáculo com grandes gestos teatrais de desaprovação. Estes foram abertamente descartados pela oligarquia UE-FMI como travessuras de um impotente palhaço mediterrânico.

Superficiais como sempre, acadêmicos de esquerda canadianos, estado-unidenses e europeus estavam amplamente inconscientes da história política do SYRIZA, da sua composição oportunista, da sua demagogia eleitoral e ausência total da luta de classe real. Eles continuaram a palrar acerca do SYRIZA como governo da "esquerda radical" da Grécia e cumpriram suas funções de relações públicas. Quando o SYRIZA abraçou flagrantemente os cortes mais selvagens contra os trabalhadores gregos e seus padrões de vida afetando a vida diária, os bem pagos e distintos professores finalmente falaram os "erros" do SYRIZA e serviram a "esquerda radical" deste ensopado de oportunistas! Suas grandes excursões oratórias à Grécia estavam acabadas e eles voaram para longe a fim de apoiar outras "lutas".

Ao aproximar-se o Verão de 2015, o primeiro-ministro Tsipras tornou-se ainda mais próximo de toda a agenda de austeridade da UE. O "querido Alexis" despediu o ministro das Finanças Varoufakis, cujo histrionismo havia irritado o ministro das Finanças da Alemanha. Euclid Tsakalotos, outro "radical" de esquerda, substituiu-o como ministro das Finanças, mas revelou-se ser um maleável subordinado de Tsipras, desejoso de implementar toda e qualquer das medidas de austeridades impostas pela UE sem as travessuras.

Em Julho de 2015, Tsipras e o SYRIZA aceitaram um duro programa de austeridade ditado pela UE. Isto rejeitava todo o Programa de Salónica do SYRIZA, proclamado no ano anterior. A totalidade da população e os membros da base do SYRIZA estavam cada vez mais irados, exigindo um fim à austeridade. Apesar de aprovarem um "cinturão de austeridade" para a sua base eleitoral de massa durante o Verão de 2015, Tsipras e sua família viviam no luxo numa villa generosamente emprestada por um plutocrata grego, longe das filas da sopa e barracas dos desempregados e pobres.

O primeiro-ministro Alexis Tsipras implementou políticas merecedoras do prémio "Traidor do Ano". A sua estratégia foi dúplice. Em 5 de Julho de 2015 ele convocou um referendo sobre a aceitação das condições do bail-out da UE. Pensando que os seus apoiantes "favoráveis à UE" votariam "Sim", ele tencionava utilizar o referendo como um mandato para impor novas medidas de austeridade. Tsipras julgou mal o povo: A sua votação foi um repúdio esmagador ao duro programa de austeridade ditado pelos oligarcas de Bruxelas.

Mais de 61% do povo grego votou "não" ao passo que apenas 38% votaram a favor das condições do bail-out. Isto não se limitou a Atenas. A maioria em todas as regiões do país rejeitou os ditames da UE – um resultado sem precedente! Mais de 3,56 milhões de gregos exigiram um fim à austeridade. Tsipras estava "confessadamente surpreendido" ... e desapontado! Ele secretamente e estupidamente pensava que o referendo lhe daria carta branca para impor austeridade. Quando os resultados da votação foram anunciados afixou a sua habitual cara risonha.

Menos de uma semana depois, em 13 de Julho, Tsipras renunciou aos resultados do seu próprio referendo e anunciou o apoio do seu governo ao bail-out da UE. Talvez para punir os eleitores gregos, Tsipras apoiou um esquema de austeridade ainda mais duro do que aquele rejeitado no seu referendo! Ele cortou drasticamente pensões públicas, impôs maciças altas regressivas de impostos e cortou US$12 mil milhões de serviços públicos. Tsipras concordou com o infame "memorando Judas" de Julho de 2015, o qual aumentavam o regressivo imposto geral sobre o consumo (IVA) para 23%, um imposto de 13% sobre alimentos, um aumento agudo nos custos médicos e farmacêuticos e de taxas de instrução, além de adiar a idade de reforma em cinco anos, para a idade de 67.

Tsipras continuou a sua violência "histórica" sobre o sofredor povo grego ao longo de 2016 e 2017. O seu regime privatizou mais de 71.500 propriedades públicas, incluindo o património histórico. Só a Acrópole foi poupada do leilão em bloco.. por enquanto! O desemprego resultante levou mais de 300 mil gregos educados e qualificados a emigrarem. Pensões cortadas para 400 euros levaram à desnutrição e a um triplicar de suicídios.

Apesar destas grotescas consequências sociais os banqueiros alemães e o regime de Angela Merkel recusaram-se a reduzir os pagamentos da dívida. A abjecção de Tsipras não teve efeito.

Altas agudas de impostos sobre combustíveis agrícolas e transporte para ilhas turísticas levaram a manifestações constantes e greves em cidades, fábricas, campos e auto-estradas.

Em Janeiro de 2017 Tsipras perdeu metade do seu eleitorado. Ele respondeu com repressão: asfixiando com gás e espancando gregos idosos que protestavam contra suas pensões de pobreza. Três dúzias de sindicalistas, já absolvidos pelos tribunais, foram reprocessados pelos promotores de Tsipras num vicioso "julgamento espectáculo". Tsipras apoiou os ataques dos EUA-NATO à Síria, as sanções contra a Rússia e os acordos de energia e militares de mil milhões de dólares com Israel.

Excepto durante a ocupação nazi (1941-44) e a guerra civil anglo-grega (1945-49), o povo grego não havia experimentado um declínio tão precipitado dos seus padrões de vida desde o tempo dos otomanos. Esta catástrofe ocorreu sob o regime Tsipras, vassalo da oligarquia de Bruxelas.

Turistas académicos de esquerda da Europa, Canadá e EUA têm "aconselhado" o SYRIZA a permanecer na UE. Quando as consequências desastrosas dos seus "conselhos políticos" se tornaram claros... eles simplesmente voltaram-se ao aconselhamento de outras "lutas" com os seus falsos "fóruns socialistas".

Conclusões

As traições de líderes "de esquerda" e "esquerdistas radicais" são devidas parcialmente às suas práticas comuns como políticos a fazerem acordos pragmáticos nos parlamentos. Em outros casos, antigos líderes extra-parlamentares e guerrilheiros foram confrontados com isolamento e pressão de regimes "de esquerda" vizinhos para submeterem-se a "acordos de paz" imperiais, como no caso das FARC. Enfrentando o fortalecimento maciço dos exércitos dos oligarcas, abastecidos e aconselhados pelos EUA, eles dobraram-se e traíram seus apoiantes de massa.

O quadro eleitoral dentro da UE encorajou a colaboração de esquerda com classes inimigas – especialmente banqueiros alemães, potências da NATO, militares dos EUA e o FMI.

Desde as suas origens, o SYRIZA recusou-se a romper com a UE e sua estrutura autoritária. Desde o seu primeiro dia de governo, ele aceitou mesmo as dívidas pública e privadas mais comprovadamente ilegais acumuladas pelos regimes corruptos do PASOK e da Nova Democracia. Em consequência, o SYRIZA foi reduzido a mendigar.

Inicialmente o SYRIZA poderia ter declarado a sua independência, salvado seus recursos públicos, rejeitado dívidas ilegais dos seus antecessores, investido suas poupanças em novos programas de emprego, redefinido suas relações comerciais, estabelecido uma divisa nacional e desvalorizado o dracma para tornar a Grécia mais flexível e competitiva. A fim de romper as cadeias de vassalagem e da oligarquia estrangeira que impuseram a austeridade, a Grécia precisaria sair da UE, renunciar à sua dívida e lançar uma economia socialista produtiva baseada em cooperativas auto-administradas.

Apesar do seu mandato eleitoral, o primeiro-ministro grego Tsipras seguiu o caminho destrutivo do líder soviético Mikhail Gorbachov, traindo seu povo a fim de continuar debaixo de uma aliança cega de submissão e decadência.

Se bem que vários líderes ofereçam árdua competição para o "Prêmio Traidor do Ano", a traição de Alexis Tsipras tem sido mais longa, mais profunda e continua até os dias de hoje. Ele rompeu mais promessas e reverteu mais mandatos populares (eleições e referendos) mais rapidamente do que qualquer outro traidor. Além disso, nada excepto uma geração permitirá aos gregos recuperar sua esquerda política [NR] . A esquerda tem sido devastada pelas mentiras monstruosas e a cumplicidade dos antigos "críticos de esquerda" de Tsipras.


As obrigações de dívidas acumuladas pela Grécia exigirão pelo menos um século para terminarem – se o país puder mesmo sobreviver. Sem dúvida, Alexis Tsipras é o "Traidor do Ano" por unanimidade!!!