sexta-feira, 13 de abril de 2018

HÁ TRÊS ANOS DA MORTE DE EDUARDO GALEANO


GALEANO PRESENTE! UM INTELECTUAL PROGRESSISTA QUE NÃO COLOCOU A VENDA SUA HISTÓRIA DE VIDA

“Vivemos em plena cultura da aparência: O contrato de casamento importa mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais do que o corpo e a missa mais do que Deus.” - Eduardo Galeano

A morte de Eduardo Galeano representa um duro golpe no campo progressista e anti-imperialista mundial em uma época onde a ofensiva do capital financeiro sobre os povos atinge seus níveis mais acentuados. Galeano não era um comunista, mas soube honrar até o último dia de sua vida suas profundas convicções democráticas sobre as raízes da realidade latino-americana, abordada em inúmeras crônicas, artigos e livros. Nos dias da cólera neoliberal são poucos os escritores, intelectuais e artistas de um modo geral que não sucumbem a lógica do mercado para se tornarem mais palatáveis a chamada "cultura de massas", um eufemismo que costuma agradar os agiotas do conhecimento humano. Nascido em Montevidéu no ano de 1940 desde muito jovem abraçou o ofício do jornalismo, quando desistiu de seu futuro futebolístico mais tarde retratado em sua obra "O futebol ao sol e à sombra". Galeano iniciou sua carreira jornalística no início da década de 60 como editor do "Marcha", importante periódico semanal que contava como articulistas Vargas Llosa e Mario Benedetti. Em 1971 publicou seu livro mais conhecido "As Veias Abertas da América Latina" afirmando seu viés ideológico de esquerda anti-imperialista com a denúncia libertária do saque colonial de nosso continente. Em 1973 foi preso em Montevidéu e posteriormente obrigado a se exilar na Argentina em virtude do golpe militar em seu país, três anos depois estava na "lista de morte" do sanguinário general Videla, quando partiu para um novo exílio para o Estado Espanhol. Na Europa deu início a trilogia "Memória do Fogo", obra premiada internacionalmente. Em 1985 quando do término do regime militar no Uruguai, Galeano retornou ao seu amado país onde viveu até sua morte. Acerca do governo "democraticamente eleito" de Julio Sanguinett, Galeano sempre manteve uma postura crítica, posição que sustentou até os dias de hoje no Uruguai sob o poder da Frente Ampla, mesmo intervindo em uma de suas alas de esquerda. Com sua morte os barões da mídia corporativa tentaram falsamente imputar a Galeano uma autocrítica política de sua obra, distorcendo algumas de suas declarações sobre "Veias Abertas da América Latina". Porém Galeano não era um intelectual venal do tipo FHC rechaçando cabalmente a torpe falsificação. Mesmo mantendo nítidas diferenças programáticas com alguns pontos da trajetória e dos próprios escritos de Galeano, prestamos nossa modesta homenagem a esse combatente da causa popular latino-americana, conscientes que nesta hora de profundo recrudescimento da ofensiva imperialista contra os povos após a "Queda do Muro de Berlim" nossa trincheira perdeu um valoroso guerreiro.

A última aparição pública de Galeano aconteceu no final de fevereiro deste ano, em Montevidéu para receber o presidente da Bolívia, Evo Morales. Evo visitou o Uruguai durante a posse de Tabaré Vázquez, que assumiu o governo no lugar de José Mujica. Nas fotos, Galeano aparecia magro mas bastante sorridente, enquanto recebia um livro das mãos de Morales com os argumentos bolivianos para exigir uma saída para o mar, um livro que logo batizou como o “Livro do Mar Roubado”. Este encontro serviu para dissipar os boatos de que Galeano teria se passado para o "outro lado", a partir de seus próprios comentários irônicos acerca de seus livros mais antigos e da "linguagem pesada" que a esquerda utilizava naquela época. Nas últimas eleições, Galeano voltou a apoiar politicamente o partido da Frente Ampla, resultando em um forte ataque das forças da reação, que em seu programa eleitoral televisivo tentou classificar Galeano como representante da "cultura oficial". Mais uma inútil tentativa da direita uruguaia em desqualificar a trajetória de Galeano.

Quando tinha 31 anos foi publicado seu livro " Veias Abertas..." naquela época, como admitiu depois o próprio Galeano, o autor não tinha formação teórica suficiente para a tarefa à qual se dispôs. “Tentou ser uma obra de economia política, só que eu não tinha a formação necessária”, afirmou sobre o seu livro mais publicitado em todo o mundo.  Uma clara referência a influência que sofrera das ideias econômicas "cepalinas", muito difundidas em meados dos anos 60 no Cone Sul. “Não me arrependo de tê-lo escrito", afirmou Galeano pouco antes de perder a luta contra um câncer muito agressivo em seu pulmão, talvez para selar a sentença final de suas firmes convicções políticas em uma sociedade mais fraterna e justa.