“NEM BANDIDO NEM HERÓI”: DIRCEU PRESO POLÍTICO VÍTIMA DE SUA PRÓPRIA ESTRATÉGIA DE COLABORAÇÃO DE CLASSES COM A BURGUESIA QUE ABRIU CAMINHO PARA REAÇÃO DA DIREITA
(ARTIGO HISTÓRICO PUBLICADO NO BLOG DA LBI, 4 DE AGOSTO DE 2015)
A "reprisão" de José Dirceu, um estágio avançado
da ofensiva midiática e ideológica da direita contra tudo que possa ter
"cheiro de esquerda" neste país, vem suscitando um importante debate
no seio do movimento social e da chamada blogosfera progressista. Teria ou não
a esquerda classista a tarefa de defender uma figura política acusada de
intermediar negócios milionários com grandes grupos capitalistas nacionais e
internacionais, afinal a JD consultoria (empresa de Dirceu) reconhece que
recebeu cerca de 9,5 milhões de Reais em serviços prestados ao longo de oito
anos somente das empreiteiras envolvidas na investigação da operação Lava Jato.
Fora estas empresas a JD também celebrou contratos com a Ambev, Telefonica,
EMS, etc... perfazendo um significativo volume de 39 milhões de Reais em quase
uma década. É importante ressaltar que estes contratos foram firmados bem antes
de sua primeira prisão no processo do "Mensalão" em 2013 e que não
procede a acusação feita pelo Ministério Público Federal de que Dirceu estaria
"operando" ativamente mesmo preso no complexo da Papuda. Porém não
queremos "tapar o sol com a peneira" e a verdade é que Dirceu
estabeleceu várias relações comerciais com grandes burgueses, seguindo a
prática política de colaboração de classes instituída por ele mesmo no interior
do Partido dos Trabalhadores. Este programa da Frente Popular também buscou o
financiamento eleitoral do PT a partir de grandes grupos econômicos, que se
sentiram contemplados com a plataforma de governo do partido. Para defender
estas posições no interior do PT, Dirceu comandou já em meados dos anos 90 um
processo de depuração e expulsão das correntes mais à esquerda do partido que
se recusavam a aceitar o policlassismo como linha oficial da legenda. A vitória
de Lula em 2002 em uma chapa de composição com um dos maiores empresários do
país, José Alencar do PL, "coroou" esta estratégia
"reformista" do PT que se avolumou até hoje. No início do primeiro
mandato de Lula parecia que reinava a confiança de que a aliança com a burguesia
e os barões da mídia corporativa nunca seria desfeita. A Rede Globo chegou a
ser tratada como uma das TV's que dariam suporte ao governo Lula, é lógico que
para os Marinhos não faltou uma generosa linha de crédito aberta pelo BNDES e
uma gigantesca verba estatal de publicidade. Porém veio o escândalo do
"Mensalão" e a lealdade dos Marinho não pareceu tão firme assim...
Mas Lula foi preservado para a reeleição de 2006 e uma nova depuração política
ocorreu no PT, só que desta vez comandada pela mão dos "parceiros" da
burguesia que exigiram a cabeça de Dirceu, Genoino, Gushiken, Delúbio e outros
dirigentes processados e posteriormente condenados na ação penal 470 do STF.
Não seria exagero afirmar que a direção nacional do PT abandonou alguns de seus
dirigentes históricos a própria sorte e a razão disto não foi o surgimento de
divergências programáticas mas sim a visão de que o governo Dilma deveria ser
"higienizado" de figuras marcadas pelas classes dominantes. A nota de
hoje (04/08) da Executiva Nacional do PT sequer menciona a defesa política de
Dirceu, seguindo a linha do Planalto de que o importante "é manter o
ambiente de negócios e investimentos no país". A anturragem Dilmista que
hoje controla o PT optou pela omissão e até submissão institucional diante da
ofensiva reacionária em curso, a lógica é seguir no ajuste neoliberal contra o
povo trabalhador e assim ganhar a confiança da elite capitalista para concluir
o mandato, quanto a Dirceu e Vaccari que apodreçam no cárcere da Lava Jato...
Nós da LBI não nutrimos nenhuma afinidade programática ou política com Dirceu e
muito menos com este governo petista que promove ataques aos direitos e
conquistas dos trabalhadores à serviço do capital financeiro. Entretanto os
Bolcheviques sabemos muito bem distinguir o fascismo da Frente Popular, o
primeiro embrulhado no discurso da moralização e ética da coisa pública e o
segundo atolado e refém da sua própria política de colaboração de classes. A
defesa política de Dirceu e Vaccari, presos como em uma vitrine midiática, para
dar uma "lição" desmoralizante em qualquer esquerdista que se meta em
"negócios" com a burguesia, é um ato de enfrentamento com a brutal
ofensiva ideológica da direita e não pode ser confundido com o apoio ou
solidariedade ao programa burguês da colaboração de classes levado a cabo pelo
PT. A covardia da executiva nacional do PT (para não falar dos petistas
palacianos) semeia ainda mais o terreno fértil para a histeria direitista que
cruza o país e que logo baterá na porta de Lula e depois nas lideranças
classistas do movimento de massas. Neste sentido, a tarefa dos Leninistas é
denunciar vigorosamente a prisão política de Dirceu assim como a estratégia de
colaboração de classes que levou o PT a completa subserviência diante da
burguesia mesmo quando seus quadros históricos são perseguidos e presos, tendo
o encarceramento de Lula no horizonte próximo como parte da sanha reacionária
em curso no país. É necessário defender publicamente nas ruas e nas lutas a
liberdade imediata de Dirceu e Vacarri neste momento contra a trama da direita
reacionária que deseja entregar a economia nacional ao completo domínio dos
monopólios imperialistas. Esta tarefa necessariamente precisa estar combinada
com o chamado à mobilização direta dos trabalhadores contra o ajuste neoliberal
que vem sendo aplicado pelo governo Dilma, na tentativa desesperada de manter
sua governabilidade burguesa.