Há 36 anos, mais precisamente no dia 02 de abril de 1982,
sob a intensa pressão do movimento operário e popular, com a ditadura genocida
em colapso, a Junta Militar de Galtieri determinou a invasão das Malvinas com o
objetivo de desviar o foco das manifestações contra o regime e recuperar o
apoio popular, explorando o justo ódio antiimperialista das massas exploradas.
Na verdade, a Junta Militar não tinha nenhuma intenção de entrar em conflito
armado com o imperialismo. Os generais argentinos alimentavam ilusões de que
não haveria uma resposta militar enérgica do império britânico, devido a um
suposto desinteresse deste em manter seu domínio sobre as ilhas. Ademais,
esperavam contar com o apoio do imperialismo norte-americano, através do
"cawboy" Ronald Reagan, considerado como um aliado incondicional da
ditadura fascistizante, para intermediar
um acordo diplomático. A resposta da primeira ministra Thatcher foi uma
imediata declaração de guerra com o envio da frota real britânica para iniciar
o contra-ataque, que contou com aliados de primeira hora como os EUA e o Chile
de Augusto Pinochet, que cedeu o território chileno para base de operações e de
abastecimento das forças armadas do Reino Unido.
A reação do governo “conservador” de Margaret Thatcher, em
parte, foi uma conseqüência da situação política interna marcada pela queda de
popularidade provada pela recessão econômica, o crescimento do desemprego e as
medidas de ajuste, conhecidas como “políticas neoliberais”, que incluíam as
privatizações e o corte dos direitos sociais, enfrentando a reação dos
trabalhadores, como a histórica greve dos mineiros. Nessas circunstâncias, um
revés na arena militar enfraqueceria ainda mais o governo e aprofundaria a
crise social. Além disso, o império britânico não podia admitir que a falta de
uma resposta à ocupação das Malvinas fosse vista pelos povos de todo o mundo
como um símbolo de debilidade de seu poder bélico. Por outro lado, para os
Estados Unidos, ainda que a ditadura argentina fosse um importante parceiro dos
ianques na América Latina, a Inglaterra era um aliado mais importante na sua
cruzada reacionária anticomunista em nível mundial, sobretudo contra a URSS e
os estados operários do Leste Europeu. Dessa forma todas as expectativas que
nortearam a aventura militar da Junta Militar argentina foram frustradas, não
lhes restando outra saída no âmbito de sua estratégia a não ser a completa e
vergonhosa rendição, após o cerco aéreo e naval imposto as tropas argentinas,
praticamente abandonadas com fome e frio nas Malvinas.
Objetivamente, o conflito entre a Argentina e a Inglaterra
despertou um sentimento antiimperialista não só entre as massas argentinas, mas
entre os povos oprimidos de todo o mundo. Contra a ofensiva militar do
imperialismo britânico, ocorrem massivas manifestações em vários países
latino-americanos. No Peru, por exemplo, cerca de 150.000 manifestantes
marcharam sobre a capital, Lima. Nos Estados Unidos, milhares de imigrantes
latinos realizaram manifestações nas ruas de Los Angeles e São Francisco. Na
Argentina a postura antiimperialista da maioria da população ficou marcada num
conjunto de iniciativas protagonizadas pelas massas, como a suspensão dos
serviços de comunicação com o Reino Unido pelos trabalhadores telefônicos, a
organização de campanhas de coletas de dinheiro, alimentos e roupas para as
tropas e a apresentação de mais de 100 mil voluntários para combater.Por outro
lado os vizinhos regimes militares "muy amigos", se bandearam para o
campo militar da Inglaterra temendo o pequeno apoio que a Argentina recebera da
URSS.
No campo da esquerda revisionista que reivindicava o
trotskismo, a corrente de maior peso no movimento operário e de massas, o PST
(organização morenista que antecedeu o MAS, anos depois partido fundador da
LIT) defendeu a derrota militar do Reino Unido como eixo central para o
desenvolver uma mobilização de massas que, ao mesmo tempo, prepararia a luta
contra a ditadura. Essa posição estava expressa na consigna “No a la paz sin
soberania”. Os morenistas do PST afirmavam estar “no mesmo campo militar do
governo argentino, enquanto este continue a guerra contra o imperialismo”.
Hoje, a LIT que foi fundada então pelo MAS argentino passou de paladina da
correta unidade de ação militar com o carniceiro Galtieri em defesa das Malvinas
contra a agressão anglo-imperialista a Argentina no começo dos anos 80, a
apologistas de uma “revolução democrática” no Oriente Médio, onde o
imperialismo ianque é o ator principal do suposto combate as “ditaduras
sanguinárias” anteriormente na Líbia e agora na Síria. Passados 36 trinta anos,
a LIT que à época foi duramente criticada por outras correntes revisionistas
européias por uma suposta capitulação a um regime militar assassino de mais de
trinta mil militantes de esquerda, se converteu hoje em partidária da “frente
única circunstancial” com a OTAN e Israel, em nome da defesa das “liberdades
democráticas” e do “combate a ditadura de Assad”. Estes revisionistas jogaram
no lixo o abc do leninismo e do trotskismo, além de esquecerem as próprias
lições deixadas por Moreno, quando afirmava que “preferia estar no campo
militar dos generais facínoras do que em nome da democracia apoiar a ocupação
da Argentina pela frota imperial da Inglaterra”.
É sintomático que a própria LIT, anteriormente na mesma
trincheira da “ditadura sanguinária” de Galtieri contra o imperialismo
britânico, agora se utilize do pretexto de que Kadaffi ou Al-Assad seriam
ditadores para se postar no campo político e militar do imperialismo
“democrático” e sua falsa “rebelião”. Com a benção do imperialismo e de Israel,
a “revolução” aplaudida pela LIT na Líbia substituiu um regime que colocava
alguns entraves na presença dos EUA na região por uma "associação" de
mafiosos ex-kadafistas que estão loteando o país entre as principais potências
imperialistas. Os mesmo os “amigos da Síria” pretendem fazer patrocinando os
ataques da oposição de direita ao governo de Al-Assad. Esses canalhas da
direção da LIT, que hoje envergonhariam o próprio Moreno se vivo estivesse, são
os mesmos que depois de saudarem a contrarrevolução que liquidou a URSS nos anos
90 como um “acontecimento revolucionário” se renderam à reação democrática
mundial e não passam de papagaios da Casa Branca.
Vale lembrar que não faltaram as vozes da esquerda do “velho
mundo” para apoiar a permanência das Malvinas sob o tacão real, supostamente
“sensibilizados” pelos reclamos dos Kelpers. Neste arco encontram-se correntes
revisionistas como a de Alan Woods e Peter Taaff, Esquerda Marxista e LSR respectivamente.
Estes agrupamentos internacionais com “matriz” em Londres, no conflito de 1982
apoiaram vergonhosamente a Inglaterra “democrática” de Thatcher contra a
Argentina “autoritária” dos generais gorilas, repetindo a mesma posição
pró-imperialista nos dias de hoje, como na Líbia. A política do derrotismo na
guerra das Malvinas equivale, objetivamente, a se emblocar com o imperialismo
britânico contra a Argentina, um país cujo caráter semicolonial vinha
seaprofundando cada vez mais desde a implantação da ditadura semifascista que,
agindo sob a proteção do imperialismo e em nome dos interesses do capital
financeiro internacional, destruía aceleradamente indústria nacional e
transformava o país numa colônia agrário-exportadora.
Tanto há 36 anos atrás na Argentina como hoje na Síria a
posição dos verdadeiros marxistas revolucionários é a defesa incondicional da
nação oprimida contra a agressão imperialista, inclusive em frente única
militar com as forças do regime, tendo claro a incapacidade de qualquer
burguesia nacional em conduzir um confronto militar com o imperialismo até a plena
vitória. Esta tática deve estar baseada no princípio da mais completa
independência política dos explorados e subordinada à estratégia revolucionária
da tomada do poder pelo proletariado. Nesse sentido, a defesa de uma frente
militar com o governo Galtiere, com absoluta independência política, passava
pela criação de organismos próprios de poder proletário e a formação de
milícias armadas de voluntários, não submetidas à disciplina e à hierarquia das
reacionárias forças armadas do regime, responsáveis pelo assassinato de 30.000
lutadores. O mesmo programa se impõe na Síria hoje para derrotar a ameaça
colonialista da OTAN e do enclave sionista!