A TV Globo festejará seus 53 anos de existência neste 26 de
abril, data em que começou a funcionar no ano de 1965, fundada por Roberto
Marinho. A emissora é criatura do golpe militar de 1964. O então diretor do
jornal “O Globo” Roberto Marinho foi um dos principais incentivadores da
deposição do presidente João Goulart, dando sustentação política, ideológica e
logística à ação das FFAA. Um ano depois, foi fundada a sua emissora de
televisão, que ganhou graças a ação dos generais gorilas em parceria com
investimentos financeiros de corporações da mídia ianque. O império foi construído
com incentivos públicos, isenções fiscais e outras mutretas, passadas e
recentes. Em 2015 em um editorial do pastelão “O Globo”, sua direção anunciou
uma “autocrítica” pelo “apoio editorial” ao golpe militar desferido contra o
povo brasileiro em 1964. Agora em 2018, quando chega aos 53 anos, a Globo está
comemorando o golpe parlamentar vitorioso e semeando um golpe de estado para o
próximo período. O esgotamento precoce do governo Dilma e o desenvolvimento
posterior que desaguou no seu impedimento, não partiu de uma necessidade da
burguesia nacional em desfechar um Golpe de Estado, ou seja, alterar
radicalmente as linhas fundamentais do regime democratizante (uma paródia de
democracia burguesa) instaurado com o advento da “Nova República” no Colégio
Eleitoral em 1985. Esta variante (Golpe de Estado) se coloca diante de uma
situação de absoluta radicalização da luta de classes, onde a liberdade de
organização da classe operária (direitos democráticos) pode se transformar em
avanços revolucionários que ameacem a dominação capitalista. Nenhum destes
ingredientes esteve presente na crise política do regime que levou ao
impeachment. Recapitulando, o default prematuro da quarta gerência petista foi
produto do fim de um ciclo econômico mundial, no qual a política de conciliação
de classes da Frente Popular foi extremamente útil para os negócios da
burguesia nacional. Encerrado o “boom” das commodities e da fartura do crédito
para introduzir no mercado de consumo a chamada “classe C” e financiar a
expansão das grandes empresas, o governo petista perdeu sua utilidade para os
reais donos do poder, o capital, sendo apeado do governo por um golpe
parlamentar pela mesma Globo que fingiu se autocriticar por ter orquestrado o
golpe militar de 1964. Não se pode esquecer que o apoio (na verdade uma
conspiração) a todo processo que culminou na derrubada do governo nacionalista
de Goulart, teve como primazia os interesses comerciais do empreendimento dos
Marinho, o que agora se repetiu em 2016 com o golpe parlamentar contra Dilma.
Com a sedimentação da ditadura militar o jornal "O Globo" transformou-se rapidamente em uma rede nacional de TV, desbancando o império das comunicações nacional, construído por Assis Chateaubriand. Em plena sintonia com o imperialismo ianque, que financiou inicialmente todo o megaprojeto dos Marinho em parceria com o grupo Time Life, a TV Globo converteu-se na principal base de apoio de “massas” do regime militar (o monopólio da cobertura da copa do mundo em 70 foi o ponto determinante da inflexão), sendo muito bem gratificada pelos serviços prestados. Mas se no caso dos milicos a “ideologia” reacionária dos Marinho casava muito bem com seus interesses empresariais, não se pode dizer o mesmo da última década dos governos petistas, onde mesmo sendo beneficiada com generosas verbas estatais (faturadas diretamente por anúncios públicos ou via empréstimos do BNDES) a rede Globo não consegue digerir uma longa sequência histórica de “poder” da Frente Popular. Por suas viscerais ligações com o grande “Amo do Norte”, os Marinho se oferecem mais uma vez para serem parceiros da ofensiva imperialista contra os governos da “centro-esquerda” na América Latina, só que desta vez “jurando amor” pela democracia! Somente muito tolos ou inocentes úteis podem acreditar que a participação dos Marinho em 64 se restringiu a um “apoio editorial” aos militares golpistas. Como esquecer nas páginas de O Globo a fotografia de nossos combatentes sendo expostas com a chamada de “Procura-se os perigosos terroristas”! Será que a “amnésia” dos Marinho os fizeram esquecer de seus inúmeros editoriais, ao longo de vinte anos celebrando figuras sinistras como os torturadores Fleury, Costa e Silva e Médici. E quando vociferaram por repressão brutal ao movimento operário, os Marinho por acaso estavam vivendo em um momentâneo “surto” autoritário? Mas não mais que de repente a rede Globo se declarou contrária a censura e até “protetora” de intelectuais comunistas perseguidos pelos militares, e como justificar a completa legitimidade que deu ao famigerado AI-5? Realmente a “autocrítica” dos Marinho não é capaz de convencer a ninguém minimamente esclarecido sobre a história recente do país.
O controle político que os Marinho hoje detém da maioria do STF, produzindo midiaticamente a figura de seu ex-presidente Joaquim Barbosa como um “herói nacional” em pleno “combate” aos corruptos dirigentes do PT, função que alçou também o Juiz Sérgio Moro, é um claro sinal de seus objetivos golpistas, que podem percorrer várias trilhas. Só este elemento deveria receber a mais veemente repulsa de todo o arco das forças que reivindicam a democracia formal em nosso país, a exigência da renúncia do conjunto desta comprometida Corte Suprema se coloca como tarefa imediata do movimento de massas. Desgraçadamente muitos dos que faziam oposição de “esquerda” ao governo Dilma pensam que é progressiva a “chicana” feita pelo STF e agora pelo Juiz Moro (premiado pelas Organizações como “o Homem do Ano”) contra o PT, ignorando que se trata de um ataque ao conjunto da esquerda e das próprias liberdades democráticas.
A primeira opção dos golpistas e seu partido midiático, o PIG, ainda é o tradicional processo eleitoral. Neste terreno possuem todos os instrumentos possíveis para a manipulação contra o PT e a favor das candidaturas conservadoras. Também contam com o fraudulento sistema da urna eletrônica, criado como um recurso preventivo da burguesia para evitar resultados eleitorais inaceitáveis, fato que nos faz relembrar o escândalo da fraude do Proconsult contra Brizola em 1982, adversário confesso da emissora global. Mas a ofensiva imperialista em curso “trabalha” com variantes que necessariamente não podem esperar somente pelo resultado das urnas, por mais manietados que estes sejam. Nesta via entram em cena as alternativas golpistas “constitucionais”, lastreadas nas próprias instituições do regime vigente (como recentemente ocorreu em Honduras e no Paraguay), que necessitam de forte legitimação nos setores da população desorganizada. Este processo está em plena gestação em países como Venezuela, Bolívia e Equador e de forma mais embrionária na Argentina e Brasil. A Globo, seguindo a orientação imperial, ao anunciar sua “autocrítica” em relação ao apoio dado a quartelada militar, na verdade declarou a “praça” que está bem ativa na organização golpista “constitucional” como em 2016 ou mesmo para um novo golpe de estado clássico em um futuro próximo.
Nas “descomemorações” dos 53 anos da Rede Globo aproveitamos para declarar ser impossível existir uma “mídia independente” dos grandes monopólios dos meios de comunicação, sem a ruptura revolucionária com o Estado burguês e a expropriação dos meios de comunicação capitalistas, que manipulam a população segundo seus interesses de classe sob o silêncio cúmplice do governo do PT, gerência que servilmente chegou a financiar fartamente os barões da mídia e que teve como “retribuição” o apoio decidido da Globo a prisão de Lula e a perseguição aos dirigentes petistas. A única forma de ter uma mídia comprometida com os interesses dos trabalhadores e do povo pobre é lutando pela liquidação do próprio Estado burguês, pondo abaixo o “quarto poder” que aliena as massas para manter a exploração capitalista e a hegemonia do imperialismo sobre os povos do planeta.