quarta-feira, 4 de abril de 2012



O que está por trás do “protesto” que une a FIESP e centrais sindicais “chapa branca” em São Paulo?
Uma manifestação organizada pela FIESP e as centrais sindicais “chapa branca” (FS, CUT, UGT) unido empresários e empregados de diversos setores da indústria reuniu cerca de 50 mil pessoas em São Paulo. O ato faz parte do chamado “Grito de Alerta em Defesa da Produção Nacional e do Emprego” que reivindica medidas do governo federal que garantam aumento da atividade industrial com menos impostos, em uma pressão pela redução do custo de produção, leia-se do custo na folha de pagamento e mais subsídios para as empresas. Em resumo, os capitalistas usam os trabalhadores para aumentarem seus lucros e tornarem suas fábricas mais eficientes frente à concorrência capitalista externa, particularmente da indústria chinesa. Para isso, contam com o apoio das quadrilhas da CUT e da Força Sindical, corrompidas e integradas ao regime da democracia dos ricos. O inusitado desta “aliança” policlassista é que sequer assume um caráter “nacionalista”, tão caro ao reformismo de todos os matizes, posto que as transnacionais ianques e europeias estão por trás destes “protestos”, dirigidos contra a “indústria chinesa”.

Segundo o mafioso deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) o ato reúne empresários e sindicalistas de vários setores produtivos, pois para ele o plano de incentivos à indústria anunciado pela presidente Dilma Rousseff “foi feito nas coxas” e “não ataca o cerne do problema”. O arquipelego da FS afirma que “O projeto de ontem são medidas pontuais e importantes. O governo desonerou 11 setores produtivos, mas a indústria nacional é composta por 127 setores. O plano não ataca o cerne do problema. O coração do problema é juros e câmbio. O Brasil precisa baixar juros e equilibrar o câmbio”. Já o presidente da CUT, Artur Henrique, ainda mais alinhado com o Planalto disse que o protesto é importante para pressionar também empresários, prefeitos e governadores a investir: “O governo federal mostrou ontem que está trabalhando pela indústria nacional e os empregos. Ainda falta reduzir os juros e realizar a reforma tributária, mas os governos estaduais também precisam colaborar, promovendo, por exemplo, uma redução geral de alíquotas de ICMS para aumentar vendas e estimular os investimentos da indústria”. Como se vê, a luta contra o “desemprego” nada mais é que uma cortina de fumaça usada para pressionar o governo federal a reduzir ainda mais os impostos dos grandes capitalistas. Enquanto isso se impõe nas empresas o arrocho salarial e o aumento dos ritmos de produção!
O mais revelador de todo essa artimanha é que a manifestação foi mantida mesmo após Dilma Rousseff anunciar nesta terça-feira, 03/04, um pacote de medidas para aumentar a competitividade das “empresas nacionais”. As medidas anunciadas pelo Planalto englobam a ampliação do processo de desoneração da folha de pagamentos, aumento da oferta de crédito para o setor produtivo, além de ações de defesa comercial, com o objetivo de evitar um aumento maior das importações e do lançamento de um novo regime automotivo que pretende estimular investimentos no Brasil com o aumento do conteúdo local nas peças nacionais. O tamanho do pacote anunciado para estimular a indústria será de R$ 60,4 bilhões este ano. Dentro do pacote, as desonerações via redução de impostos somam R$ 3,1 bilhões.

O proletariado não pode cair no canto de sereia da “luta em comum” com os capitalistas, contra a desindustrialização do país, como atualmente fazem a CUT, CTB e FS, promovendo marchas com as federações patronais. Os novos investimentos industriais têm como objetivo a acumulação capitalista concentrada em meia dúzia de “emergentes” burgueses, simpáticos a um modelo político de governo da colaboração de classes, como o presidente da FIESP, Paulo Skaf ou mesmo o megaempresário Eike Batista. O combate por uma plataforma em defesa dos salários, emprego e reajuste salarial mantém toda sua atualidade, mas não será vitorioso pela via da colaboração de classes, já que não há independência dos trabalhadores nestas “lutas”. Ao contrário desse engodo faz-se urgente organizar uma ampla campanha por um verdadeiro programa de reivindicações transitórias dos explorados, completamente distinto das atuais “campanhas salariais” corporativas, organizadas pela burocracia “chapa branca” e mesmo pela Conlutas, que sequer reivindicam a reposição plena das perdas históricas.
A manifestação de hoje em São Paulo é a expressão prática do pacto social de fato celebrado entre as direções sindicais e os empresários, um caminho que foi consolidado através da gestão da própria frente popular no comando do governo federal. Agora, segundo as palavras dos dirigentes da CUT e do PT, os patrões são parceiros dos trabalhadores na defesa de uma indústria nacional, para preservar empregos “ameaçados” pela concorrência “predatória internacional”. Esta farsa chamada de “Grito de Alerta em Defesa da Produção Nacional e do Emprego” nada mais é que uma verdadeira cortina de fumaça para auxiliar a burguesia em sua ofensiva para atacar direitos e conquistas históricas dos trabalhadores, devendo ser rechaçada pela classe operária.