domingo, 15 de julho de 2012

Família “Murdoch” Marinho (TV Globo) versus Igreja Universal (TV Record): a Olimpíada mercantilizada é a “vítima” desta disputa comercial

Terá inicio no próximo dia 27 de julho, na cidade de Londres, a XXX edição dos Jogos Olímpicos da era moderna. O maior evento esportivo do planeta contará com a participação de 11.025 atletas das delegações oriundas de 193 países e 11 territórios. Estes números e, sobretudo, as cifras multimilionárias que envolvem sua realização, conferem às olimpíadas o status de símbolo mais expressivo do fenômeno esportivo capitalista, ou seja, um megaespetáculo que trás consigo um grande valor de mercado. Tal condição transformou os Jogos Olímpicos de uma mera competição entre atletas amadores numa voraz disputa entre países (governos) para sediar o evento, empresas multinacionais patrocinadoras e os grupos de comunicação, em particular os conglomerados de redes de televisão tanto as de sinal aberto como as por assinatura, afinal são milhões de telespectadores “prontos para consumir” em todo o mundo.

A respeito da cobertura televisiva das Olimpíadas de Londres, com a rede Record do bispo Edir Macedo detendo o direito exclusivo de transmissão, tem chamado a atenção o completo boicote do principal canal de TV aberto do país, a Rede Globo. Na sua grade de programação está vetado, mesmo nos programas esportivos, qualquer tipo de divulgação (notícia, reportagem, comentários etc.) das Olimpíadas. A ordem na emissora, que mantém a liderança esmagadora de audiência, é ignorar e esconder a existência dos jogos do telespectador. Em que pese estar havendo a cobertura e transmissão das olimpíadas pelos canais das TVs por assinatura (inclusive os das organizações Globo), segmento que hoje penetra em 17% das residências do país, o boicote da Rede Globo como consequência direta das pugnas entre os mafiosos grupos de comunicações significa objetivamente negar informações sobre as olimpíadas a maioria da população brasileira. Apesar de evidentemente não ser oficial, a posição da emissora de esconder as Olimpíadas, de tão notória já foi defendida por suas celebridades do jornalismo esportivo, como o apresentador Tiago Leifert como declarou a revista GQ: “Na hora de conversar sobre direitos esportivos a gente tem que perder o romantismo... Existe uma ideia errada de que a Globo tem que falar de tudo porque o cara quer ver tudo na Globo. Meu amigo, muda de canal pra ver a sua notícia! Não tem Fórmula Indy na Globo, não vai ter Panamericano na Globo, não vai ter Olimpíada na Globo! Essa cobrança é puro romantismo! A gente tem que perder essa mania de achar que tudo é uma força do mal. Não é isso, é negócio”.

Essa situação adversa para as organizações Globo, império da família Marinho construído à margem de qualquer controle e através das suculentas benesses do Estado burguês desde ditadura militar, tem relação direta com o escanteamento da máfia comandada por João Havelange e seu genro Ricardo Teixeira na Fifa e CBF. Agentes dos altos conglomerados capitalistas estão envolvidos em inúmeros escândalos de corrupção, como por exemplo o recebimento de milionárias propinas da empresa de marketing esportivo ISL. Para “limpar a cara” desta genuína multinacional corrupta que é a Fifa a dupla de parasitas foi rifada por uma disputa entre as quadrilhas encasteladas nesta entidade, a fim de deixar tudo como está. Sem a influência da família Havelange (representante histórico dos interesses das organizações Globo) dentro da Fifa e por consequência do COI, o monopólio do direito de transmissão exclusiva dos grandes eventos esportivos da Rede Globo foi quebrado. Sem a “mãozinha leve” de Havelange e Teixeira, a Globo tem travado um duro leilão com outras emissoras, em particular com a Rede Record que parece estar abarrotada de dinheiro dos dízimos dos fieis da Igreja Universal, para deter esses direitos igualmente monopolistas. Foi assim que a Record conseguiu a transmissão exclusiva dos jogos Panamericanos de Guadalajara realizados ano passado, também boicotado pela Globo e agora as Olimpíadas de Londres.

Trata-se de uma clara disputa comercial entre distintos bandos capitalistas que almejam deter para si o monopólio das comunicações, uma vez que o esporte de autorrendimento, profissional, transformado pela mídia “murdochiana” em espetáculo através de todo um arsenal propagandístico e da tecnologia áudio-visual, desperta um grande interesse da população mundial (onde hoje predomina o culto à imagem, ao imediato), por isso incute um ímpeto consumista cada vez mais intenso nos telespectadores. Neste sentido, o esporte é utilizado como instrumento ideológico-político para incrementar os lucros das transnacionais, tais como as ligadas aos grandes conglomerados financeiros, a indústria automobilística, operadoras de telefonia, as grifes do esporte (Nike, Adidas) etc.. Nos marcos do regime da propriedade privada dos meios de produção não há espaço para o esporte como sinônimo de bem-estar, de entretenimento ou de paixão popular genuína de raízes. Aqui, a “vítima” é a Olimpíada mercantilizada voltada apenas a um público consumidor idiotizado. Portanto, a expressão da cultura corporal dos povos, da mesma maneira como o conjunto das manifestações artísticas, só pode ter lugar e praticada pela humanidade de forma plena (livre, criativa e prazerosa) a partir da abolição do modo de produção capitalista e o fim da sociedade de classes, tarefa que só pode ser alcançada pela revolução socialista.