O que está por trás das especulações acerca do crescimento do PIB de 2012?
A imprensa “murdochiana” nunca especulou tanto sobre a expectativa do crescimento do PIB Brasileiro para 2012, chega a fazer mais prognósticos do que as inúmeras previsões acerca do time ganhador do campeonato brasileiro deste ano. Mas, como sempre, a mídia capitalista nunca é neutra ou imparcial e neste caso replica sordidamente as próprias especulações do mercado financeiro e suas inocentes “agências de consultoria” muito “preocupadas” com a evolução do PIB nacional. O IBGE, órgão estatal, não emitiu uma única projeção para a variação anual do PIB, até porque ainda está aferindo os dados colhidos do crescimento econômico do mês de maio, ou seja, seria uma completa irresponsabilidade fazer “previsões” antes mesmo do início do segundo semestre, onde tradicionalmente a economia tem seu melhor desempenho. O governo Dilma, através da equipe do ministro Mantega, anunciou no começo do ano que esperava um crescimento econômico na ordem de 3,5%, mas depois dos efeitos do crash financeiro europeu afirmou que ficaria satisfeito com “alguma coisa acima de 2011”, leia-se acima do tímido resultado de 2,7% obtido pelo PIB do ano passado. Os únicos dados oficiais fornecidos pelo IBGE, que ainda conta com alguma credibilidade técnica, revelam que até maio o PIB teve uma elevação de 0,85% em comparação com o mesmo período do ano anterior, apesar do recuo de 0,02% no mês de maio. Por sua vez, o “deus” mercado (com a devida ajuda do próprio BC) não para de, a cada dia, projetar um recuo cada vez maior do PIB para o ano corrente. As temerárias “agências de classificação de risco”, todas com sede em Wall Street e que acuaram até Obama, já “prevêem” um crescimento do PIB brasileiro na ordem de apenas 1% para 2012. Mas, afinal qual é a razão de tamanho interesse dos rentistas internacionais acerca da “catástrofe” projetada pelas baixas taxas de crescimento da economia nacional?
Em primeiro lugar, seria bom esclarecer para os incautos (papagaios da mídia “murdochiana”) que desconhecem a dinâmica do mercado financeiro, no aspecto que tange ao lucrativo mercado futuro de derivativos. Em outras palavras, fugindo do “economês”, o mercado financeiro criou um cassino para “investidores” onde se aposta em quase tudo. Os rentistas podem “apostar” no pregão de títulos da bolsa de New York na cotação futura do dólar, na taxa de juros, no preço das principais commodities e inclusive na variação do PIB das economias mais importantes do planeta. Estas “apostas”, em forma de promessas de compra de títulos futuros são protegidas por um mecanismo chamado pelos agiotas de “hedge”, onde quase sempre os perdedores representam instituições monetárias estatais. Portanto, o interesse do mercado de capitais em se passar como “analista científico” da economia brasileira não passa de uma burla vulgar, com pesados interesses de lucro fácil, que apenas pode enganar os apedeutas da esquerda revisionista, interessados na chegada da “catástrofe” para colherem alguns votinhos na vã esperança de eleger algum parlamentar.
O segundo e mais importante elemento da “indústria da catástrofe”, para além da especulação financeira, é o da pressão exercida pela burguesia nativa e imperialista para que o estado “afrouxe” suas reservas fiscais no sentido da “indução” do crescimento econômico. Nesta decisão política do Estado burguês, são beneficiados os grandes grupos capitalistas, seja pela via da renúncia de impostos ou pela aquisição direta de bens, créditos públicos a fundo perdido ou simplesmente serviços. Quem não se lembra da “choradeira” da GM norte-americana em 2008, anunciado sua iminente falência, para logo depois abocanhar do governo ianque um valor de mais de um trilhão de Dólares a fundo perdido. Pois bem, hoje esta mesma GM é uma das empresas mais lucrativas do planeta no triênio 2009/2011, lançando um novo modelo de carro praticamente a cada dois meses. No Brasil, a dinâmica da chantagem sobre o Estado é a mesma, sob a ameaça da retração do PIB o governo Dilma já isentou o IPI da indústria automobilística, anunciou a compra estatal de cerca de dez bilhões de reais em equipamentos e insumos, liberou vinte bilhões para obras públicas nos estados e flexibilizou mais de cinquenta bilhões em compulsórios para os bancos “encharcarem” o mercado de crédito, além é claro de atender a demanda do agronegócio em bancar (pelas mãos do BC) a valorização do Dólar.
Fica evidente para qualquer observador atento, mesmo leigo em assuntos econômicos, que o governo da frente popular tem lastro financeiro para impulsionar um crescimento mediano do PIB em 2012, pelo menos para escapar da insolvência europeia, apesar de caminhar na vereda das medidas neoliberais e de subordinação aos ditames de Washington. Muito além das “manchetes da crise”, o governo possui cerca de quinhentos bilhões de dólares em reservas cambiais (um recorde histórico), mantém uma inflação relativamente controlada, apesar da pressão da alta do Dólar, e o mais importante para aferir o grau de estabilidade econômica de um país é a manutenção de níveis de elevação na captação da poupança interna nacional. É bem verdade que a política neoliberal de comprimir salários e incentivar o crédito ilimitado da população é uma verdadeira bola de neve contra o governo, que tenta compensar seu viés monetarista com o incentivo ao “microempreendedorismo”, urbano e rural, através das verbas do BNDES. Os investimentos internacionais diretos no Brasil sofreram uma redução neste primeiro semestre, cravando a marca de cerca de quarenta bilhões de Dólares, um valor que ainda coloca o país na rota dos principais destinos do capital globalizado, sempre a procura de um regime de estabilidade e poucos conflitos sociais, “itens” oferecidos pela política de colaboração de classes do governo petista.
A face real do “neodesenvolvimentismo”, alcunha dada pelos intelectuais “chapa branca” à política neoliberal dos governos da frente popular, aponta na direção de apenas contornar a crise capitalista estrutural (não surgiu em 2008 como pensam os estúpidos revisionistas), tentando ancorar o país no cinturão econômico do bloco “Briciano”. Este bloco que tem na cabeça os ex-Estados operários da Rússia e China, não se converteu em alternativa econômica à hegemonia do imperialismo, como publicitam alguns estalinistas “reciclados”, apenas se configura como uma “nova fronteira” explorada e dominada pelos EUA. A frágil “pujança” econômica brasileira caminha na mesma direção dos BRICS, ou seja, a desnacionalização e dependência associada ao capital financeiro internacional. Para superar efetivamente (do ângulo das massas proletárias) e de forma soberana a crise capitalista mundial, somente a revolução socialista (que não guarda nenhuma semelhança com a “catástrofe” apregoada por uma esquerda sem princípios leninistas) será capaz de apresentar um novo rumo progressivo para a humanidade.