quinta-feira, 19 de julho de 2012


Rajoy aprova no parlamento “plano de ajuste” imposto pela Troika! Manifestações carecem de uma perspectiva classista e revolucionária!

O governo espanhol aprovou nesta quinta-feira, 19/07, o pacote de “medidas de ajuste” ditado pela Troika (FMI, UE, BCE). O franquista Rajoy não teve dificuldades em garantir os votos necessários no parlamento para impor o corte de salários, fim de conquistas sociais, aumento de impostos, a suspensão do abono de Natal para os funcionários públicos e a redução do valor do seguro desemprego. Apesar de milhares de manifestantes terem se concentrado na Praça del Sol, em Madri e protestado em várias cidades do país, o eixo político das direções sindicais foi simplesmente exigir um referendo sobre as medidas. Toda a energia e combatividade dos trabalhadores espanhóis está sendo desperdiçada em uma política que de fato apenas reivindica alterações do plano de ajuste imposto pelo FMI e o BCE. Os poucos focos de manifestantes que romperam com a orientação da UGT e CCOO, ligadas ao PSOE e se dirigiram ao parlamento foram brutalmente reprimidos pela Polícia Nacional. É mais uma dura derrota sofrida pelo proletariado europeu que paga o ônus da crise capitalista com o aprofundamento da barbárie social. A ausência de uma direção revolucionária com influência de massas para enfrentar a ofensiva capitalista vai fazendo da Espanha uma nova Grécia, onde o PSOE abriu caminho para o PP franquista aprofundar os ataques aos trabalhadores.

Os manifestantes mais radicalizados chegaram até a linha de barreiras que protege o Congresso e foram reprimidos pelos agentes da tropa de choque. Os policiais usaram cassetetes e balas de borracha para dispersar os ativistas, muitos ligados a correntes anarquistas, que reagiram atirando objetos e incendiando latas de lixo nas ruas em torno da Puerta del Sol e da Câmara dos Deputados. No mesmo dia que o governo conseguiu a aprovação do ajuste mais duro dos últimos tempos, um corte de 65 bilhões de euros em dois anos, as centrais sindicais CCOO, UGT, CGT, Intersindical, USO e CSI-F ofereceram uma coletiva de imprensa em conjunto e que se limitarem a criticar a brutal medida do governo de Rajoy. As direções sindicais “exigem” do governo a convocação de um referendo sobre as medidas de austeridade e até falaram na possibilidade de realização de uma greve geral nos próximos meses. O que está claro é que o elemento comum que marca estas “lutas” é que todas têm um caráter claramente defensivo, não conseguem sequer barrar os ataques as suas conquistas sociais. São combates defensivos que ocorrem no marco de uma nova investida capitalista 20 anos depois da derrota histórica que o proletariado sofreu com a restauração capitalista da URSS e a queda contrarrevolucionária do Muro de Berlim, acontecimentos que abriram uma etapa de profunda ofensiva econômica, política e ideológica do capital contra os trabalhadores. O crash de 2008 veio a acentuar essa tendência. Pela ausência de um programa classista estas paralisações massivas tragicamente não avançam um milímetro sequer do ponto de vista de suas reivindicações econômicas e, muito menos, conseguem impor uma conquista política, como a queda de um governo “neoliberal” de esquerda ou direita pela via das mobilizações populares. Pelo contrário, a burguesia tem substituído seus governos desgastados de corte social-democratas, como foi o de Zapatero do PSOE por gerentes ainda mais aliados aos mandos da troika (BCE, FMI e UE) como é o franquista Rajoy (PP).

A política de obrigar as massas a pagarem a conta da crise financeira estimula protestos contra governos burgueses. Por sua vez, a traição das direções e, principalmente, a falta de alternativa revolucionária à esquerda pavimenta o retrocesso ideológico e o caminho da reação. O racismo e a xenofobia presentes nos protestos não estão restritos às ações da extrema-direita, são reforçadas entre as massas por suas direções que apoiam as medidas burguesas de restrições ao acesso ao emprego e à educação, principalmente contra ciganos e negros, mas também contra estrangeiros em geral. Na Espanha, por exemplo, a direção da UGT e CCOO assumiu a condição de polícia para proteger o parlamento burguês contra os anarquistas e setores mais radicalizados da marchas de protesto realizada neste dia 19/07, taxando-os de “provocadores”, sendo por isso elogiado pelas forças de direita governamentais pela sua “responsabilidade” e “espírito cívico”! Antes, na manifestação dos mineiros fizeram um pacto com a patronal em torno da pressão sobre o governo para não cancelar os subsídios as empresas, as mesmas que ameaçam demitir em massa!

Neste marco, em meio a um processo de convulsão social, com o aprofundamento do desemprego e o recrudescimento da crise capitalista no Velho Mundo, a direta avança assumindo os governos até então sob a gerência da social-democracia e dos partidos ditos “socialistas”. A direita recrudescida como o PSD em Portugal, PP na Espanha e a ND na Grécia, voltam aos governos para preparar novos ataques e impor novas derrotas. Essa tarefa é facilitada pela falta de uma perspectiva política classista por parte das direções que encabeçaram o movimento para além as reivindicações econômicas, um norte estratégico que aponte para a superação da decadente ordem burguesa que impõe a retirada de direitos e conquistas operárias. Insistimos na lição de que não haverá mobilizações, por mais multitudinárias e heroicas que sejam, como as que estamos presenciando na Espanha e Grécia, capazes de derrotar a burguesia e seus governos de plantão sem a adoção de uma estratégia revolucionária de luta pelo poder. Sob a direção de um programa revolucionário e de um partido bolchevique forjado no calor do combate das ruas poderemos marchar em toda a Europa para a “hora da verdade” no confronto de classe com a burguesia e vencer, caso contrário não romperemos com a onda de derrotas que estão sendo impostas aos trabalhadores! Pelo caráter defensivo que as direções sindicais e políticas imprimem às manifestações, tanto potencial de combatividade é desperdiçado, tendendo sempre a levar a classe a mais uma derrota, assim como acompanhamos perante a luta dos irmãos espanhóis e gregos, muito embora também tenham expressado a radicalidade da luta dos trabalhadores. O conjunto dos explorados reage ao saque de seus direitos para desonerar o Estado comprometido com o saneamento dos cofres dos bancos e das grandes empresas, mas se chocam com um dique de contenção capitaneado pelas suas direções sindicais burocráticas e os partidos “comunistas” e sociais-democratas (“socialistas”)comprometidos com a manutenção da ordem burguesa.

Os mineiros espanhóis mostraram o caminho, parando a produção, ocupando as ruas de Madri e ameaçando a burguesia! A ação direta dos trabalhadores guiados por um programa revolucionário marxista, que tenha como objetivo combater não apenas pontualmente o corte orçamentário, mas principalmente toda a política de ajuste capitalista, a perseguição aos irmãos imigrantes e a xenofobia, pondo em pé um Partido Comunista proletário, representa o primeiro passo para quebrar a onda de derrotas que tragicamente percorre o velho continente.