Balanço e Perspectivas para o início
do circo eleitoral
Recém encerrado o circo do
mundial da mafiosa FIFA marcado pelo vexame da seleção brasileira em campo e
pela dura repressão fora dos estádios aos lutadores que contestaram os gastos
bilionários com obras feitas sob medida para engordar os bolsos das grandes empreiteiras
e das oligarquias governantes, entramos neste mês de julho em outra arena
armada para enganar e embotar a consciência do povo trabalhador: o teatro
montado pela burguesia para renovar seus gerentes em nível nacional e nos
estados da federação. Sem dúvida, teremos pela frente uma dura disputa política
entre as duas principais alas da classe dominante representadas pelo PT e PSDB
pelo controle do governo nacional e das gerências estaduais. O fato da Copa do
Mundo ter ocorrido com relativo êxito, apenas com a ocorrência de pequenos
protestos populares duramente reprimidos e sem nenhuma “catástrofe”
organizativa (como torcia o tucanato e a mídia burguesa arquirreacionária
agrupada no PIG) deu ao PT a certeza de que o próximo mandato está garantido ao
final do concorrido campeonato eleitoral. Entretanto, a presidente Dilma deve
ser reeleita em segundo turno por uma pequena margem de votos, já que Aécio irá
contar com a “torcida” de todo o arco conservador representado pela “nova”
direita, incluindo aí o apoio velado de Eduardo Campos e Marina, em uma
campanha ofensiva marcada por duros ataques à frente popular e sua limitada
política de “compensações sociais”. Diante deste quadro de polarização burguesa
e de um retrocesso no movimento de massas depois da derrota das greves no
primeiro semestre (Metroviários, Rodoviários...), já que nada aponta que uma
nova “jornada” como a de junho de 2013 venha ocorrer, os Marxistas
Revolucionários devem intervir ativamente nos debates que serão travados no
interior da vanguarda militante com o objetivo de defender uma alternativa
política revolucionária não somente diante das candidaturas burguesas, mas
acima de tudo através de uma rigorosa delimitação programática com o reformismo
(PSOL e PCB) e o revisionismo trotskista (PSTU e PCO). Ao mesmo tempo, devemos
apoiar e intervir decididamente em todos os processos de luta direta dos
trabalhadores e do povo pobre que se choque com o regime político burguês e sua
democracia, publicitando a necessidade da revolução proletária e da destruição
do Estado capitalista como única forma de apontar uma saída progressiva e
comunista para os explorados da cidade e do campo! A atual campanha pela
imediata liberdade dos presos políticos do governo Pezão/Dilma, detidos
“preventivamente” para impedir qualquer manifestação no final da Copa é o
primeiro passo desta tarefa militante!
A chamada esquerda
“chapa branca” com influência no movimento de massas e nos sindicatos vem com a
velha cantilena do “perigo da volta da direita” para pressionar amplos setores
da classe trabalhadora a votar pela reeleição de Dilma. Ainda que sejamos os
melhores combatentes do fascismo e da reação burguesa, o embate eleitoral em
curso aponta apenas para a disputa entre as duas vertentes burguesas no campo
da caricatura da democracia burguesa no Brasil. O PT, na verdade, vem
preparando o retorno eleitoral da direita e o fortalecimento ideológico da
reação na medida em que criminalizou os movimentos sociais e aprofundou nestes
14 anos de gestão da frente popular seus vínculos políticos e materiais com as
oligarquias reacionárias comandadas por Sarney, Renan, Jucá, Henrique
Alves,Collor que ao menor sinal de crise pulam do barco como ratos e caem nas
mãos do PSDB, como já estão fazendo em vários estados. Não esteve e muito menos
está colocada agora qualquer medida de cunho golpista contra o PT, porque ao
contrário do que prega a burocracia sindical governista a frente popular é
atualmente o principal pilar de sustentação do regime político burguês. A
pressão da Casa Branca, da mídia “murdochiana” e do tucanato é para manter o PT
nas cordas mesmo com a vitória eleitoral de Dilma, a fim de que seu novo
mandato seja uma espécie de “transição pactuada” para uma gerência de corte
mais conservador, que apostamos será encabeçada via candidatura de Alckmin em
2018. Não por acaso, o membro da Opus Dei (que mantém diversos militantes
detidos em São Paulo através de prisões absolutamente arbitrárias) não move
nenhum esforço real para a vitória de Aécio. Alckmin deseja ele mesmo ser o
nome da burguesia para derrotar o PT no futuro, prometendo um governo com mão
de ferro e de cunho fascistizante como vem fazendo em São Paulo, construindo um
novo eixo de poder político alinhado aos republicanos de Washington que
sucederão Obama. O mauricinho Aécio “Névoa” inclusive deve perder a disputa
para o PT em seu berço eleitoral, por isto joga tudo na disputa no Rio de
Janeiro via Pezão para compensar os resultados medíocres em MG e São Paulo. Por
sua vez, Campos vê sua candidatura naufragar, como já afirmava a LBI desde o
anuncio de sua aventura eleitoral e mesmo depois da aliança com Marina Silva.
Já a ecocapitalista, apesar de se aliar a políticos reacionários nas alianças
que vem fazendo através do ingresso do Rede no PSB, procura se preservar ao
máximo para ser uma alternativa de “centro” em 2018, que ganhe votos tanto dos
eleitores do PT como da direita. Como este processo vai evoluir saberemos
durante o segundo mandato de Dilma, mas sem dúvida Marina, ao lado de Alckmin
vem com muita força diante do esgotamento do ciclo petista, que vai avançando
na medida em que a bolha de crédito murcha e a balança comercial bate recordes
negativos.
Limpo o terreno de
análise das candidaturas burguesas, cabe uma caracterização das opções no campo
da “esquerda” que se reivindicam anticapitalistas. O PSOL vai de Luciana Genro,
uma candidatura totalmente domesticada pela “folha corrida” que marca sua
própria adaptação ao regime político burguês, cuja campanha eleitoral para a
prefeitura de Porto Alegre em 2008 foi apoiada pelo maior conglomerado
capitalista gaúcho, o Grupo Gerdal, estando em coligação eleitoral com o PV de
Zequinha Sarney e Gabeira! O PSOL se cristalizou como um partido campeão no
cretinismo parlamentar, que faz aliança tanto com a base eleitoral da frente
popular como com a direita para viabilizar a conquista de postos parlamentares.
O fato de no Amapá ter indicado o candidato a vice-governador na chapa com o
PSB da oligarquia Capiberibe e, em Alagoas, abrigar a candidatura ao Senado de
Heloísa Helena (Rede) que abriu o palanque presidencial para Eduardo Campos/Marina
e conta com o apoio informal de Aécio Neves para derrotar a postulação de
Collor ao Senado, demonstra o oportunismo sem limites do PSOL, uma verdadeira
legenda de aluguel no interior da “esquerda”.
Já o PSTU, apesar de ter
lançado José Maria à presidência, aprofundou suas alianças com o PSOL nos
estados, mergulhando de cabeça em acordos que viabilizem suas candidaturas, nem
que para isso tenha aceitado aliar-se ao grupo de Ivan Valente em SP, uma
verdadeira quadrilha responsável por aprofundar o curso direitista do PSOL,
além de ter se coligado com o MES no RS aceitando na prática o financiamento de
campanha pelos capitalistas. Não bastasse isso, para fechar com “chave de ouro”
as coligações estaduais, coligou com a Rede de Heloísa Helena. O que ocorre
hoje em Alagoas com o PSTU é apenas o reflexo direto de seu arco de alianças em
nível nacional, cabendo “acordos” (financeiros e políticos) que vão desde a
grande corporação capitalista Gerdau no Rio Grande do Sul até a “costura”
indireta para o palanque de Marina Silva no Nordeste. O PCB e PSTU são
apêndices do PSOL, apesar de ambos contarem com candidaturas majoritárias à
presidência da república, os acordos estaduais realizados sob a absoluta
hegemonia programática do “maior partido” e, não por coincidência, o único com
representação parlamentar no Congresso, comprovam o que afirmamos. No
“campeonato eleitoral” dos revisionistas o que importa afinal são os
“resultados”, ou seja, com os parlamentares eleitos, o programa passa a ser uma
mera formalidade. Por isso subordinam todas as lutas sindicais que dirigem para
o campo dos “dividendos” eleitorais, além de utilizarem os melhores ativistas
sociais e as categorias em luta como “comitês de campanha” de suas
“candidaturas prioritárias”. Os Marxistas Revolucionários entendem a
importância do estabelecimento de frentes e alianças no interior do campo da
esquerda, focadas na organização do proletariado para impulsionar seu combate
de classe. Esta política nada tem a ver com formação de frentes eleitoreiras
com partidos da ordem capitalista como propõe o PSTU e mesmo o PCB. Coligar-se
eleitoralmente em nome da “luta socialista” com uma quadrilha política chefiada
por Luciana Genro e Ivan Valente representa uma enorme fraude política, um
verdadeiro embuste distracionista para mascarar sua completa adaptação ao
regime da democracia dos ricos.
Para concluir a análise
da família revisionista, temos o liliputiano PCO que sequer conseguiu lançar
candidaturas nos estados onde historicamente tinha militância, como Paraíba,
Rio Grande do Sul ou na Bahia. A fim de compensar a liquidação completa de suas
regionais e buscando desesperadamente romper seu isolamento político, Causa
Operária tratou de contratar os serviços de militantes quebrados e arrivistas
sindicais que formam “grupos políticos” a fim de colocar-se à venda para algum
aparato partidário fragilizado nas eleições. Logo, a casca oca que é atualmente
o PCO, financiado pelas generosas verbas do fundo partidário geridas pelo TSE,
tratou de apresentar tais “acordos” de bastidores com esta escória como uma
espécie de “frente política”, provando que assim como seus “primos” morenistas
também celebra “alianças” que não estão movidas por qualquer base programática
comum, mas apenas por manobras artificiais que sirvam para esconder sua
falência política. Afinal de contas, a política patrioteira do PCO em defesa da
Copa da FIFA e sua “torcida” ufanista pela seleção brasileira não é capaz
aproximar qualquer militante honesto e classista, a não ser que se esteja
interessado justamente no contrário... Em sua ridícula sanha verde-amarela,
Causa Operária chegou a acusar o movimento “Não Vai ter copa” (que tem vários
dirigentes presos neste momento!) de estar a serviço da direita! Idiotices tipo
dizer que a seleção brasileira perdeu da Alemanha porque foi roubada pelo juiz
ou que o futebol nacional é um “patrimônio do povo negro” elogiando figuras
vendidas como Pelé... já não se trata de uma ruptura somente com o marxismo,
mas com qualquer racionalidade! Tragicamente, estas “teses” estapafúrdias
proferidas por Rui Pimenta acabaram por legitimar a repressão ordenada pelo
PT/PMDB contra o ativismo classista às véspera da final do mundial de futebol,
afinal de contas segundo o PCO os atuais presos políticos também eram
contrários à Copa para favorecer no fundo o PSDB nas eleições! A orientação
ultradireitista de Causa Operária no terreno nacional, aliada às suas posições
anticomunistas de apresentar a destruição da URSS como uma vitória
revolucionária ou a derrubada de Kadaffi pela OTAN como uma revolução na Líbia
a tornam incapaz de se constituir como um eixo de um verdadeiro reagrupamento
revolucionário, somente servindo, de fato, para que oportunistas de plantão
“lucrem” em cima de sua moribunda situação!
Durante todo o primeiro
semestre, a LBI advogou junto à vanguarda classista o lançamento de uma
anticandidatura operária à presidência da república, como um contraponto
revolucionário a este circo comercial que se transformou a eleição brasileira.
Desgraçadamente, nossa posição não encontrou eco nas fileiras das organizações
que se reivindicam leninistas, que optaram por seguir o “curso oficial”
determinado pelo TSE. Desta forma, restou a LBI encabeçar o chamado ao boicote
eleitoral, se dirigindo as amplas massas para denunciar o descarado estelionato
da soberania popular, representado pela urna eletrônica e pelo poder econômico
das corporações capitalistas que na verdade “elegem” seus candidatos
preferenciais à revelia da verdadeira vontade da população. À ausência de uma
perspectiva operária e revolucionária para as próximas eleições não
dissimularemos nossa posição na defesa do Boicote Eleitoral Ativo, combinando
esta tarefa com a consigna da necessidade da construção do partido Leninista,
demarcando desta forma com todas as variantes anarquistas e despolitizadas
(antipartido) que estão no campo do Voto Nulo.