Greve dos professores em
Fortaleza: “É preciso transformar a desconfiança da categoria com as direções
burocráticas em ação direta contra o governo Roberto Cláudio e seus aliados de
ontem e hoje”
O Jornal Luta Operária
entrevista as companheiras Aparecida Albuquerque e Lilian Caldas, ambas
professoras do município de Fortaleza, militantes da TRS e da Oposição de Luta.
JLO – Como você analisa
a deliberação da assembleia geral dos trabalhadores em educação pela greve a
partir do dia 1º de agosto?
Aparecida Albuquerque
(AA): A greve, em primeiro lugar, foi chamada de forma tardia, porque a gestão
Roberto Cláudio já está há quase dois anos no comando dos ataques a nossa
categoria e sobre o funcionalismo municipal sem que nada tenha sido feito até
então para barrar as investidas do filhote do clã Ferreira Gomes. Somente agora
a direção do Sindiute, completamente subordinada à política de colaboração de
classes da direção estadual do PT aliada à oligarquia Ferreira Gomes, convocou
uma assembleia da categoria. Mesmo com a presença massiva dos trabalhadores na
última assembleia, mais de dois mil, a direção petista do sindicato manobrou
para decretar o início da greve apenas para 1º de agosto, se valendo do surrado
argumento burguês-jurídico de “respeito à Lei de Greve” e assim atrasar o
desenvolvimento da luta, ou seja, atuou de forma proposital e consciente ao não
elaborar um calendário de lutas, nem organizar piquetes para atuar antes e
durante a greve.
JLO – A greve foi
deliberada para responder à política de arrocho salarial e privatista do
prefeito Roberto Cláudio contra os professores. Como está a situação dos
salários da categoria, há um arrocho?
Lilian Caldas (LC): Com
toda certeza! Há um grande arrocho salarial, como parte da política privatista
levada a cabo pelo prefeito Roberto Cláudio, pois deveríamos ter recebido um
aumento de 13%, mas o pupilo dos Gomes concedeu um pífio reajuste de 8%.
Exigimos desta forma, os 4,9% do piso salarial retroativo a janeiro, aumento do
vale alimentação e o pagamento imediato dos anuênios atrasados, direitos que a
prefeitura quer nos tomar à força.
JLO - Vocês estão
afirmando que há um arrocho salarial e um profundo ataque às condições de vida
dos trabalhadores em educação, mas ao mesmo tempo há dificuldades para levar
adiante a greve nas escolas, regionais e no Impha, apesar da massiva presença
de dois mil professores na assembleia?
AA: Apesar do imenso
descontentamento existente no seio de nossa categoria, e a assembleia do dia 24
espelhou um pouco isto, há sim certa dificuldade real. Isto se deve porque
gestão após gestão todas atacaram diretamente as condições de vida dos
professores, o que provocou diversas mobilizações, com adesão quase que
espontânea da categoria. No entanto, mesmo com a forte disposição de luta, as
direções burocráticas jogam tudo para esmorecer a vontade da categoria, para no final dos
enfrentamentos nos traírem vergonhosamente e que aceitemos passivos a “derrota”,
o que vem acontecendo com frequência desde a administração petista dirigida por
Luizianne Lins. A nossa mobilização tem que ser forte, para evitar novas
traições da canalha sindical perante Roberto Cláudio. Não podemos deixar que
vigore o sentimento de insegurança e receio de aderir a greve, devemos
transformar a indignação com a política de colaboração de classes em uma luta
de enfrentamento aberto com os ditames da prefeitura e a corja capitalista do
PROS, PT e PMDB.
JLO – Diante destas
dificuldades expostas, como está a reação dos professores em sala de aula, nas
escolas, como você analisa esta situação?
LC: Para mim, o conjunto
dos professores apresenta uma justa desconfiança em relação à burocracia
sindical, não mais confiam nas direções do Sindiute. Mas como colocou a
companheira Aparecida, é preciso transformar esta desconfiança em ação direta
contra o governo Roberto Cláudio e seus aliados de ontem e hoje, para que não
tenhamos que nos submeter a um absurdo e massacrante calendário de reposição de
aulas no período pós-greve. Um passo fundamental para nossa vitória é que as
correntes políticas de oposição rompam com a direção chapa branca do sindicato
e formem uma frente de luta e um comando de greve ativo, cujo desfecho deve ser
plenárias sem interferência da burocracia para organizar nossas intervenções no
processo paredista. Afinal, quem deve pagar é a prefeitura e não os
trabalhadores com o sacrifício e suor de seus rostos!
JLO – Em nome do Núcleo
de Oposição dos Professores da LBI, quais são as tarefas do ativismo classista
nesta semana como preparação da greve que se inicia dia 1º de agosto?
AA: É importante chamar
a atenção que esta greve não foi chamada apenas em função do arrocho salarial,
que já é uma dura realidade, mas em decorrência da retirada de direitos e
conquistas da nossa categoria, muito mais como consequência da paralisia
imposta pelas direções chapa branca encasteladas no Sindiute. Precisamente por
isto a tarefa a que estamos incumbidos neste momento é colocar para o ativismo
classista e combativo a denúncia das manobras e da falta de vontade política
dos burocratas sindicais em mobilizar pela base a categoria, com cartazes,
faixas, carro de som nas portas das escolas, organização de piquetes, enfim que
o sindicato ponha para rua toda sua estrutura. Para tanto, é necessária a nossa
pressão política para que o sindicato rompa com a sua paralisia e impulsione
piquetes em cada local de trabalho e agitações em frente as escolas. Este é o
nosso caminho para a vitória!