terça-feira, 3 de fevereiro de 2015


Ferreira Gomes preparam sua entrada no PT, os ACM fazem o mesmo no PDT:     Por que as oligarquias reacionárias aderiram aos partidos da “esquerda socialista”?

Em um país onde um draconiano ajuste neoliberal contra os direitos dos trabalhadores é operado pelo governo do PT, que ainda se proclama socialista em dias de festa, não chega a ser estranho que as oligarquias mais reacionárias sintam-se à vontade para ingressar em partidos que se reclamam de “esquerda”. Nos últimos dias vem circulando na imprensa que ACM Neto, prefeito de Salvador e herdeiro político do prócer da ditadura “Toninho Malvadez”, o falecido e odiado chefe da oligarquia baiana que comandou a Arena, o PDS e depois o PFL no estado, vai trocar o falido DEM pelo PDT fundado por Leonel Brizola e hoje dirigido pelo canalha mercenário Carlos Lupi. Como primeiro passo da mudança, ACM aquinhoou a Secretaria de Trabalho da prefeitura aos pedetistas e orientou os deputados do DEM a votarem no candidato do PDT ao comando da Assembleia Legislativa baiana, Marcelo Nilo, que acabou eleito contra a vontade do PT. Lupi não disfarça “São sinais de que o prefeito nos quer ao lado dele”. Brizola, que chegou a presidir a Internacional Socialista, deve estar se remoendo no túmulo ao ver seu velho partido nacionalista burguês ser traficado por Lupi em negociatas com figuras sinistras do calibre do seguidor político de “Malvadeza”, eminente apoiador da ditadura militar. Ele, como Ministro das Comunicações do governo Sarney, foi responsável direto por entregar para a Rede Globo centenas de concessões públicas de TV para fortalecer as oligarquias regionais que sustentaram os militares genocidas e na “redemocratização” foram premiadas para controlarem representações estaduais televisivas em parceria com a familgia Marinho, tão denunciada por Brizola como um máfia midiática anti-povo. Esse deslocamento de ACM Neto muito se assemelha ao que vem operando há algum tempo a oligarquia Ferreira Gomes. Abrigada temporariamente no PROS, os irmãos Cid e Ciro já controlam o PT do Ceará e aguardam o melhor momento de migrar para o partido de Lula, alimentando o sonho de Ciro se candidatar a presidente da república. Para consolidar esta ponte, a oligarquia cearense elegeu como governador do Ceará um fiel representante seu dentro do PT, o “laranja” Camilo Santana e encontra-se em negociações avançadas para embarcar na anturragem neopetista. A indicação de Cid Gomes para o Ministério da Educação faz parte desse projeto de poder. Com a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados, em que um dos coordenadores de sua campanha vitoriosa foi o deputado Miro Teixeira, do PROS-RJ, ficou claro que os Ferreira Gomes não tem qualquer controle da legenda “prosaica”, o que reforça o rumo ao PT a ser sacramentado no próximo período. Para a chamada “esquerda petista” que se proclama socialista e até mesmo revolucionária ou os “nacionalistas” do PDT que juram fidelidade ao trabalhismo de Brizola fica a patética tarefa de aceitar passivamente os novos “companheiros” representantes das reacionárias oligarquias dos Ferreira Gomes e dos ACM, inimigos históricos dos trabalhadores, de qualquer traço de soberania nacional e, obviamente, do socialismo!

Todo este quadro partidário onde caciques burgueses direitistas se descolam para legendas que se dizem que “esquerda” está diretamente explicado pelas facilidades que esse movimento projeta na divisão do botim estatal e, particularmente, na relação parasitária com o governo Dilma. ACM Neto, por exemplo, nas hostes do PDT terá ampla possibilidade de chantagear a “gerentona” petista por mais verbas para Salvador a fim de favorecer sua oligarquia em negociatas bilionárias em troca de apoio no Congresso Nacional. A recente eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, com Eduardo Cunha do PMDB derrotando de forma humilhante o candidato do PT, Chinaglia, demonstrou o caminho que os “aliados” (e que aliados!!!) do Planalto devem seguir até o fim do mandato de Dilma. Abocanhar mais espaços nos ministérios em detrimento ao PT e impor um pauta ultradireitista no parlamento. O próprio PDT não conformou formalmente o bloco parlamentar de apoio a Chinaglia e grande parte de seus deputados votaram em Cunha, com o aval da anturragem dilmista comandada por Mercadante. Com ACM Neto na legenda fundada por Brizola esta prática se aprofundará, ainda mais em um quadro onde Dilma leva a cabo um ajuste fiscal e monetário neoliberal que o velho “Toninho Malvadeza” aplaudiria com o seu célebre sorriso macabro! Vale ressaltar que com a vitória de Cunha na Câmara de Deputados, o PMDB sai fortalecido e torna o Planalto refém de sua vontade, além de prover mais força a legendas como o PDT, que com a presença de ACM Neto tencionará o governo ainda mais a direita. Por sua vez, esse quadro desidrata o projeto de Kassab e seu PL, já que o fortalecido Cunha irá barrar a ida de parlamentares para o novo partido que o ex-prefeito de São Paulo desejava criar para dar sustentação do Planalto. Se antes, legendas como PMDB, PDT, PP e PR temiam o risco de ter parte dos seus quadros engolidos pelo futuro PL agora esta perspectiva mudou e a tendência é que as legendas existentes se mantenham firmes nesse jogo de poder parlamentar, como PDT ganhando musculatura.

Como já afirmamos anteriormente, no momento em que Ciro orientou seu grupo regional a sabotar a então candidatura presidencial de seu companheiro de partido, Eduardo Campos (PSB), os Ferreira já preparavam uma manobra “estratégica” em direção a não somente apoiar a reeleição de Dilma mas fundamentalmente fertilizar o terreno para ingressar no PT. Na ruptura com o PSB em 2013 ainda não estavam postas as condições políticas para os irmãos Ferreira “assinarem” a ficha de filiação do PT, alugaram temporalmente uma legenda oca, o PROS. Mas nem mesmo no minúsculo e inexpressivo PROS os Ferreira conseguiram impor uma hegemonia nacional. A única possibilidade de Ciro manter viva sua obsessão política em disputar (e ganhar) a Presidência da República seria ingressar em um partido com raízes históricas no movimento social deste país. As alternativas se encurtaram entre o PDT e o PT, já que a permanência na legenda de aluguel do PROS está com os dias contados. Nesse sentido, os caminhos entre ACM Neto e Cid Gomes podem inclusive se cruzar. Com o reforço do PDT via o ingresso do prefeito de Salvador no “trabalhismo neoliberal” também não está descartada a ida dos Ferreira Gomes para este partido de aluguel. Ainda que a preferência da oligarquia cearense seja o PT, o quadro político de instabilidade do governo Dilma pode levar os irmãos Gomes para o PDT para trabalhar com mais “autonomia” por um candidatura presidencial de Ciro. Como muita água ainda vai “rolar debaixo da ponte” até as próximas eleições presidenciais, o certo é que ambas as oligarquias reacionárias migram para a “esquerda” convertida ao capital a fim de ter viabilizado seu controle direto dos negócios estatais bilionárias e seu projeto político nacional de poder.

Segundo circula nos bastidores da política burguesa, ACM Neto não foi ainda para o PDT porque deseja fazer uma saída organizada com peso político para melhor negociar com Lupi e sua quadrilha. Junto com o prefeito baiano, o presidente estadual da legenda e deputado federal diplomado, José Carlos Aleluia, conhecido por seu discursos inflamados e reacionários que destilam ódio de classe, típico dos coronéis nordestinos, declarou “Meu projeto atual é muito vinculado ao projeto do prefeito, vamos analisar o que é mais conveniente. Todos os vereadores, deputados estaduais e federais estão afinados com ACM Neto”. Em resumo, toda a oligarquia ACM e sua escória reacionária vão ingressar no PDT e codirigi-lo com o calhorda Lupi. Do velho nacionalismo burguês de Jango, Darcy Ribeiro e Brizola não restou muita coisa, apenas um oportunista PDT sem o menor perfil ideológico, povoado por máfias sindicais, carreiristas e oligarquias regionais sem a menor história política. Com Lupi e Manoel Dias tornando o PDT uma legenda de aluguel, podemos abstrair que o fenômeno social do “nacionalismo” hoje se encontra muito mais alinhado com o neoliberalismo “de esquerda” do que com as grandes causas nacionais do nosso povo, hoje uma sigla oca ultracorrompida que nada tem a ver com o velho nacionalismo burguês de Brizola e Darcy Ribeiro. Ao lado do PDT, a evolução neoliberal do PT é o sintoma político mais evidente que já não existe qualquer traço classista nas fileiras destes partidos, configurando-se programaticamente como legendas capitalistas no espectro da política burguesa do Brasil que estão de braços abertos até para filhotes da ditadura e coronéis políticos reacionários.