Ferreira Gomes preparam sua entrada no PT, os ACM fazem o
mesmo no PDT: Por que as oligarquias reacionárias aderiram aos partidos da
“esquerda socialista”?
Em um país onde um draconiano ajuste neoliberal contra os
direitos dos trabalhadores é operado pelo governo do PT, que ainda se proclama
socialista em dias de festa, não chega a ser estranho que as oligarquias mais
reacionárias sintam-se à vontade para ingressar em partidos que se reclamam de
“esquerda”. Nos últimos dias vem circulando na imprensa que ACM Neto, prefeito
de Salvador e herdeiro político do prócer da ditadura “Toninho Malvadez”, o
falecido e odiado chefe da oligarquia baiana que comandou a Arena, o PDS e
depois o PFL no estado, vai trocar o falido DEM pelo PDT fundado por Leonel Brizola e
hoje dirigido pelo canalha mercenário Carlos Lupi. Como primeiro passo da
mudança, ACM aquinhoou a Secretaria de Trabalho da prefeitura aos pedetistas e
orientou os deputados do DEM a votarem no candidato do PDT ao comando da
Assembleia Legislativa baiana, Marcelo Nilo, que acabou eleito contra a vontade
do PT. Lupi não disfarça “São sinais de que o prefeito nos quer ao lado dele”.
Brizola, que chegou a presidir a Internacional Socialista, deve estar se
remoendo no túmulo ao ver seu velho partido nacionalista burguês ser traficado
por Lupi em negociatas com figuras sinistras do calibre do seguidor político de
“Malvadeza”, eminente apoiador da ditadura militar. Ele, como Ministro das
Comunicações do governo Sarney, foi responsável direto por entregar para a Rede
Globo centenas de concessões públicas de TV para fortalecer as oligarquias
regionais que sustentaram os militares genocidas e na “redemocratização” foram
premiadas para controlarem representações estaduais televisivas em parceria com
a familgia Marinho, tão denunciada por Brizola como um máfia midiática
anti-povo. Esse deslocamento de ACM Neto muito se assemelha ao que vem operando
há algum tempo a oligarquia Ferreira Gomes. Abrigada temporariamente no PROS,
os irmãos Cid e Ciro já controlam o PT do Ceará e aguardam o melhor momento de
migrar para o partido de Lula, alimentando o sonho de Ciro se candidatar a
presidente da república. Para consolidar esta ponte, a oligarquia cearense
elegeu como governador do Ceará um fiel representante seu dentro do PT, o “laranja” Camilo Santana e encontra-se em negociações avançadas
para embarcar na anturragem neopetista. A indicação de Cid Gomes para o
Ministério da Educação faz parte desse projeto de poder. Com a eleição de
Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados, em que um dos
coordenadores de sua campanha vitoriosa foi o deputado Miro Teixeira, do
PROS-RJ, ficou claro que os Ferreira Gomes não tem qualquer controle da legenda
“prosaica”, o que reforça o rumo ao PT a ser sacramentado no próximo período.
Para a chamada “esquerda petista” que se proclama socialista e até mesmo
revolucionária ou os “nacionalistas” do PDT que juram fidelidade ao trabalhismo
de Brizola fica a patética tarefa de aceitar passivamente os novos
“companheiros” representantes das reacionárias oligarquias dos Ferreira Gomes e
dos ACM, inimigos históricos dos trabalhadores, de qualquer traço de soberania
nacional e, obviamente, do socialismo!
Todo este quadro partidário onde caciques burgueses
direitistas se descolam para legendas que se dizem que “esquerda” está
diretamente explicado pelas facilidades que esse movimento projeta na divisão
do botim estatal e, particularmente, na relação parasitária com o governo
Dilma. ACM Neto, por exemplo, nas hostes do PDT terá ampla possibilidade de
chantagear a “gerentona” petista por mais verbas para Salvador a fim de
favorecer sua oligarquia em negociatas bilionárias em troca de apoio no
Congresso Nacional. A recente eleição para a presidência da Câmara dos
Deputados, com Eduardo Cunha do PMDB derrotando de forma humilhante o candidato
do PT, Chinaglia, demonstrou o caminho que os “aliados” (e que aliados!!!) do
Planalto devem seguir até o fim do mandato de Dilma. Abocanhar mais espaços nos
ministérios em detrimento ao PT e impor um pauta ultradireitista no parlamento.
O próprio PDT não conformou formalmente o bloco parlamentar de apoio a
Chinaglia e grande parte de seus deputados votaram em Cunha, com o aval da
anturragem dilmista comandada por Mercadante. Com ACM Neto na legenda fundada
por Brizola esta prática se aprofundará, ainda mais em um quadro onde Dilma
leva a cabo um ajuste fiscal e monetário neoliberal que o velho “Toninho Malvadeza”
aplaudiria com o seu célebre sorriso macabro! Vale ressaltar que com a vitória de
Cunha na Câmara de Deputados, o PMDB sai fortalecido e torna o Planalto
refém de sua vontade, além de prover mais força a legendas como o PDT, que com
a presença de ACM Neto tencionará o governo ainda mais a direita. Por sua vez,
esse quadro desidrata o projeto de Kassab e seu PL, já que o fortalecido Cunha
irá barrar a ida de parlamentares para o novo partido que o ex-prefeito de São
Paulo desejava criar para dar sustentação do Planalto. Se antes, legendas como
PMDB, PDT, PP e PR temiam o risco de ter parte dos seus quadros engolidos pelo
futuro PL agora esta perspectiva mudou e a tendência é que as legendas
existentes se mantenham firmes nesse jogo de poder parlamentar, como PDT
ganhando musculatura.
Como já afirmamos anteriormente, no momento em que Ciro
orientou seu grupo regional a sabotar a então candidatura presidencial de seu
companheiro de partido, Eduardo Campos (PSB), os Ferreira já preparavam uma
manobra “estratégica” em direção a não somente apoiar a reeleição de Dilma mas
fundamentalmente fertilizar o terreno para ingressar no PT. Na ruptura com o
PSB em 2013 ainda não estavam postas as condições políticas para os irmãos
Ferreira “assinarem” a ficha de filiação do PT, alugaram temporalmente uma
legenda oca, o PROS. Mas nem mesmo no minúsculo e inexpressivo PROS os Ferreira
conseguiram impor uma hegemonia nacional. A única possibilidade de Ciro manter
viva sua obsessão política em disputar (e ganhar) a Presidência da República
seria ingressar em um partido com raízes históricas no movimento social deste
país. As alternativas se encurtaram entre o PDT e o PT, já que a permanência na
legenda de aluguel do PROS está com os dias contados. Nesse sentido, os caminhos
entre ACM Neto e Cid Gomes podem inclusive se cruzar. Com o reforço do PDT via
o ingresso do prefeito de Salvador no “trabalhismo neoliberal” também não está
descartada a ida dos Ferreira Gomes para este partido de aluguel. Ainda que a
preferência da oligarquia cearense seja o PT, o quadro político de
instabilidade do governo Dilma pode levar os irmãos Gomes para o PDT para
trabalhar com mais “autonomia” por um candidatura presidencial de Ciro. Como
muita água ainda vai “rolar debaixo da ponte” até as próximas eleições
presidenciais, o certo é que ambas as oligarquias reacionárias migram para a
“esquerda” convertida ao capital a fim de ter viabilizado seu controle direto
dos negócios estatais bilionárias e seu projeto político nacional de poder.
Segundo circula nos bastidores da política burguesa, ACM
Neto não foi ainda para o PDT porque deseja fazer uma saída organizada com peso
político para melhor negociar com Lupi e sua quadrilha. Junto com o prefeito
baiano, o presidente estadual da legenda e deputado federal diplomado, José
Carlos Aleluia, conhecido por seu discursos inflamados e reacionários que
destilam ódio de classe, típico dos coronéis nordestinos, declarou “Meu projeto
atual é muito vinculado ao projeto do prefeito, vamos analisar o que é mais
conveniente. Todos os vereadores, deputados estaduais e federais estão afinados
com ACM Neto”. Em resumo, toda a oligarquia ACM e sua escória reacionária vão
ingressar no PDT e codirigi-lo com o calhorda Lupi. Do velho nacionalismo
burguês de Jango, Darcy Ribeiro e Brizola não restou muita coisa, apenas um
oportunista PDT sem o menor perfil ideológico, povoado por máfias sindicais, carreiristas e oligarquias
regionais sem a menor história política. Com Lupi e Manoel Dias tornando o PDT
uma legenda de aluguel, podemos abstrair que o fenômeno social do
“nacionalismo” hoje se encontra muito mais alinhado com o neoliberalismo “de
esquerda” do que com as grandes causas nacionais do nosso povo, hoje uma sigla
oca ultracorrompida que nada tem a ver com o velho nacionalismo burguês de Brizola
e Darcy Ribeiro. Ao lado do PDT, a evolução neoliberal do PT é o sintoma
político mais evidente que já não existe qualquer traço classista nas fileiras
destes partidos, configurando-se programaticamente como legendas capitalistas
no espectro da política burguesa do Brasil que estão de braços abertos até para
filhotes da ditadura e coronéis políticos reacionários.