quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015


O Carnaval do “Face” e sua falsa euforia: A vazia espetacularização da vida a serviço da dominação cultural e ideológica de nosso povo!

William Waack, o ventríloquo da famiglia  Marinho, anunciou no Jornal da Globo da última sexta-feira, 13, que iria começar o “carnaval brasileiro”, nas palavras dele a “única coisa que dá certo em nosso país, que gera alegria ao povo em tempos de crise”. Em campanha aberta para desmoralizar a Petrobras, o PT e demonstrar que o Brasil é uma “bandalheira geral” que nada presta, o âncora global enalteceu os desfiles no Sambódromo e na Bahia como exemplos únicos de organização e beleza, como se a prostituição e a mercantilização da verdadeira festa popular fosse seu melhor exemplo. Nos spots da emissora viu-se em Salvador, Cláudia Leite, a “musa” do momento e os trios elétricos potentes recheados de marcas de patrocinadores, desde cervejas até produtos de beleza comandarem uma multidão de foliões idiotizados vestidos de uniformes em formas de abadás coloridos pagos a peso de ouro pela classe média deslumbrada com seus “selfies” para colocar no “Face”... Os camarotes, organizados por grandes marcas capitalistas e espalhados nos principais pontos da “folia” do país, são a atualização da Casa Grande que assiste drogada a “senzala” passar com uma “euforia” injustificada. No “berço” do carnaval a cidade do Rio, o sambódromo com as “escolas de samba”, desfilaram a riqueza portentosa com suas celebridades televisivas que em nada tem relação com a vida pobre do povo, sob o aplauso de turistas que pagaram pacotes caríssimos nas arquibancadas saudando a “majestosa festa nacional”. Não por acaso, a escola campeã, a Beija-flor foi patrocinada em R$10 milhões pelo sanguinário ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, enquanto a maioria do povo do país africano sobrevive com menos de R$1 por dia. Unindo o espetáculo vazio, a euforia artificial dos foliões que se auto-fotografam na espetacularização das vidas privadas via as chamadas “redes sociais” e que são alvos fáceis das necessidades do mercado. Este escolhe a dedo suas “musas” para vender revistas de celebridades, produtos diversos e sucessos sonoros a fim de emplacar verdadeiros lixos nas “paradas de sucesso”. Este é o modelo de “alegria” que a elite decadente deseja nos impor artificialmente, deculturando o país com “hits” idiotizantes e padrões de beleza “sarados” para impor um perfil de comportamento barbarizado e bestial ao melhor estilo dos BBB´s, patrocinando “valores” que são a base do fascismo. A Rede Globo e a direita esperam o passar desta quarta-feira “de cinzas” em que termina a “festa” manipuladora para retomar sua ofensiva política para privatizar a Petrobras e manter o desnorteado governo Dilma nas cordas. Desgraçadamente, o Carnaval perdeu totalmente seu teor contestatório, de autêntica festa popular e se tornou em um grande evento de alienação de massas, quadro que se aprofundou nos dozes anos de governo nacional da Frente Popular. Na transformação desta festa em um espetáculo para a exibição de valores e comportamentos não há qualquer correspondência com o espírito popular de sua origem chamado “entrudo”, ou seja, a festa “de libertação” que antecede a quaresma, uma vez que o Carnaval era sinônimo de subversão dos “bons costumes” da elite oligarca ultrarreacionária. Hoje a “festa” que vemos na TV não representa mais o caráter contestatório político-religioso presente até meados da década de 50 (a sátira política como crítica ao regime político vigente). Até mesmo os “blocos alternativos” cada vez mais se rendem ao mercado e os foliões se dobram a “falsa euforia” que tanto agrada as classes dominantes. Para romper com este ciclo cultural, político e ideológico destrutivo só há uma saída: colocar abaixo pela senda revolucionária o modo de produção capitalista e seu mercado que reduz as festas populares a meros espetáculos voltados ao lucro e a dominação de nosso povo idiotizado que encobrem seus problemas pessoais e sociais através das imagens glamorosas do mundo imaginário do “Face”!

Nestes últimos dias, vimos milhares de pessoas se aglomerando pelas ruas em blocos financiados pelas grandes empresas, escolas de samba que transformaram seus desfiles privados em negócios bilionários, “celebridades” internacionais e “estrelas” globais, muitos corpos “sarados e malhados”, todos desfilam pelas telonas de TV ávidos por serem alvos dos holofotes da mídia. Hoje terminou a grande festa midiática do carnaval do mercado onde os protagonistas são os negócios que entram e pedem passagem para destruir a legítima e original cultural popular que é a festa de carnaval. Isto em uma etapa de aberto retrocesso ideológico das massas e de contrarrevolução levada a cabo pelo capital e o imperialismo sobre todos os povos do planeta, o que no Brasil se reflete na ofensiva para privatizar a Petrobras. O carnaval nos moldes atuais é montado para deculturar o país, pois quem dita as regras (e verbas) são os grandes meios de comunicações da mídia “murdochiana” e seus anunciantes. Até mesmo em locais onde a festa de carnaval conservava-se como elemento de resistência à pasteurização da “axé music” como em Recife e Olinda hoje cada vez mais vem se degradando e se adaptando ao processo de mercantilização. Por exemplo, o “Galo da Madrugada” arrasta consigo quase um milhão de pessoas pelas ruas da capital pernambucana sob o patrocínio de várias empresas e com seus camarotes “vip”. O carnaval baiano tornou-se uma festa privada para poucos (mauricinhos e patricinhas) da qual só participa entre as cordas e os truculentos seguranças do bloco quem pode pagar um “abadá” de 300 reais ou mais. Rio e São Paulo concentram todas as atenções do mercado por serem os grandes centros nos quais circulam a maior quantidade de capital e se efetivam os grandes negócios ao lado dos suculentos aportes de patrocínio privado e estatal. Os chamados blocos de carnaval em sua origem desfilavam despretensiosamente de forma desordenada pelas ruas das grandes e pequenas cidades, hoje as escolas de samba são obrigadas a cumprir rígidas normas de organização e disciplina, dando mostras absolutas de sua domesticação imposta principalmente pelos padrões assépticos da Rede Globo.
Não por acaso, o carnaval do mercado firmou-se também na Bahia, particularmente em Salvador, onde a autêntica cultura afro deveria ser um elemento de resistência ao lixo cultural imposto pelo imperialismo e sua indústria cultural, mas acabou dando lugar ao processo de deculturação que se expressa com maior virulência e sistematização mercadológica. Os trios elétricos de “axé” puxados por Cláudia Leite e Ivete Sangalo na capital baiana com sua “música” pasteurizada e idiotizante resume todo o processo de contrarrevolução cultural por que passa o país há alguns anos. Na cultura afro, “axé” significa força, ânimo, vida, poder, na capoeira adquire sinônimo de resistência, luta do negro escravo contra a opressão do branco colonizador, hoje lamentavelmente está voltado para identificar todo o lixo cultural despejado sobre as grandes massas com o objetivo de aliena-las cada vez mais com uma música “esbranquiçada” e “filtrada” de seus elementos da cultura negra de enfrentamento com o establishment da elite/classe dominante branca. 

O carnaval do mercado abre passagem em “fronts” nos quais ainda resistiam a industrialização da festa popular, ou seja, o carnaval de Recife e Olinda. Uma festa originariamente espontânea e de saudável caos que se transformou gradativamente em um espetáculo grandioso, ferreamente controlado e armado pela burguesia e o grande capital que interverem no evento impondo caríssimos ingressos e desfiles para camarotes de “vips” destinados à “alta sociedade”. Um espetáculo voltado para aglutinar milhões de pessoas numa única passagem, o que destrói com selvageria os antigos maracatus, os clubes (abertos) carnavalescos, os papangus (desfiles de máscaras), o corso, cabloquinhos etc., os quais tendem a perder espaços a cada carnaval.

Como marxistas revolucionários dizemos que não houve nada a “festejar” nestes dias, ainda mais se não rompemos com o móvel cultural desse carnaval mercenário, vazio e banal imposto pela mídia “murdochiana”, a burguesia e seus agentes. Contra a “carnavalização” comercial empurrada acriticamente goela abaixo da população pela mídia, é preciso resgatar o carnaval com o genuíno espírito de resistência, lutando ideologicamente para dotar o movimento operário de uma clara conscientização programática acerca do que representa o carnaval no regime capitalista e o caráter nefasto da política de aprofundamento da submissão ao imperialismo e da deculturação do país.