quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015


Por que o Dólar sobe no quadro de estancamento da economia? Ou o "golpe" silencioso dos rentistas que conta com a ajuda de Levy e Tombini

Em meio as manchetes convulsionadas da mídia corporativa sobre a crise da Petrobras, corrupção dos gestores estatais e lógico o envolvimento do PT em todas as "desgraças" do país podemos ler sem muito destaque que a cotação do Dólar em relação ao Real atingiu o maior valor dos últimos dez anos. Não existem razões econômicas ou financeiras no cenário mundial, como por exemplo um crash bursátil em algum centro imperialista, que justifiquem a vertiginosa alta da moeda norte-americana no mercado brasileiro. Tampouco a lenta recuperação da economia ianque ainda não foi capaz de comprimir a cotação de outras moedas nacionais, apesar de apontar uma recomposição cambial do Dólar em 2014 com a forte ajuda do FED. No plano local não podemos encontrar o motivo da desvalorização do Real em nenhum dos fundamentos econômicos da conjuntura atual, não estamos atravessando um aquecimento das importações e o consumo interno está indicando uma tênue tendência a recessão ou estagnação temporal. Porém os "experts" consultores do mercado de capitais logo encontraram uma razão nada crível para a valorização do Dólar: "A corrupção na Petrobras". Para os leitores menos entrosados com a "ciência da economia" não custa registrar que a elevação do Dólar não só influência os índices inflacionários nacionais, aumentando o preço de insumos básicos, mas também infere diretamente nas reservas cambiais do país, o lastro mais importante da economia brasileira no momento em que as "projeções" do PIB revelam um crescimento zero para este ano. Quando os rentistas internacionais apostam na depreciação da nossa moeda, no mercado nacional, promovem um verdadeiro ataque especulativo as reservas cambiais do país, hoje orçadas em cerca de 400 bilhões de Dólares. Diante do "ataque" o BC se vê forçado a promover leilões de Dólar (swaps cambiais) para baixar a cotação e aí os rentistas fazem "barba e cabelo"! Este "golpe" do mercado contra a economia nacional não é propriamente uma novidade, vem sendo utilizado justamente em momentos de crise e instabilidade política, como denunciamos nas "Jornadas de Junho" de 2013. Também para ser exitoso o "ataque especulativo" deve contar com a aquiescência das autoridades monetárias, no caso a direção do Banco Central e Tesouro Nacional, dispostas a ceder aos apetites vorazes dos "golpistas". Agora "descobriram" um terreno fértil para tentar solapar o último "bastião" do governo Dilma, já que a Balança Comercial do país encontra-se deficitária. A crise artificial provocada para destruir a Petrobras parece estar servindo para objetivos múltiplos, desde os trustes transnacionais do petróleo, passando pela oposição reacionária tucana e agora chegando ao bolso dos especuladores do mercado de capitais. Por sua vez o chefe da equipe econômica palaciana, Joaquim Levy, parece prestar ordens não ao governo Dilma mas aos rentistas que se refestelam com o assalto as reservas cambiais do Brasil. Este criminoso "golpe" financeiro contra o povo trabalhador, que em última medida pagará a conta do "ataque especulativo", está passando desapercebido das atenções da esquerda "chapa branca" muito preocupada com o suposto impeachment da presidenta...

A "sangria" das reservas cambiais acontece "tecnicamente" sob a forma dos swaps cambiais, onde o BC vai ao mercado ofertar seus dólares para em tese forçar a queda de sua cotação. O BC realizou hoje (11/02) mais um leilão para rolar os contratos de swap que vencem em 2 de março. Foram vendidos 13 mil swaps: 10.900 com vencimento em 1º de abril de 2016 e os outros 2.100 para 1º de junho do ano que vem. A operação financeira movimentou o equivalente a US$ 629,6 milhões. Ao todo, o BC já "rolou" o equivalente a US$ 5,049 bilhões, ou cerca de 48% do lote total, correspondente a US$ 10,438 bilhões. Uma "fatia" das reservas bem generosa para saciar a voracidade dos rentistas.

O mais grave neste ataque especulativo atual, muito similar ao que ocorreu em 2013, é que o país não está mais gerando "gordura" cambial em decorrência do déficit da nossa Balança Comercial. O grande "trunfo" econômico da chamada era Lula já não existe mais, a retração do mercado mundial e a queda no preço das commodities agro-minerais, somada a valorização das importações de bens de capital e insumos industrializados (como os combustíveis por exemplo) levaram o país ao "vermelho". Sem capacidade de produção industrial para competir mundialmente, o Brasil fica completamente refém da "fazenda", ou como os tecnocratas gostam de qualificar: o "moderno" agronegócio. E são exatamente as oligarquias agrárias que pressionam o governo para rebaixar cada vez mais a cotação da moeda nacional, acusada de "vilã" responsável pela crise econômica, tanto por o arco da malta reacionária mas também pelos "neodesenvolvimentistas" da esquerda reformista.

Com uma valorização de quase 10% somente neste começo do ano, o Dólar passa a indexar o conjunto de preços de insumos materiais e também de serviços de nossa economia, provocando a desvalorização de ativos mercantis e do patrimônio nacional, como a Petrobras. É muito provável que este seja mesmo o alvo principal dos especuladores internacionais, adquirir segmentos fragmentados da estatal a "preço de banana". Como o governo da Frente Popular não esboça reação alguma diante dos rentistas, as projeções já indicam que a moeda ianque pode atingir o valor de 4 reais até meados do ano, o que provocaria um "default" no Tesouro Nacional. Os Marxistas defendem claramente o programa de controle do câmbio, assim como o da valorização da moeda nacional de forma totalmente independente das oligarquias do agronegócio e dos grandes exportadores.