"Festa" dos 35 anos: Sob o fogo cerrado da direita, PT conduz a ofensiva
neoliberal contra as massas preparando seu próprio enterro político!
Uma questão elementar deve ser respondida pelos apologistas
da teoria da "catástrofe golpista" dobrando a esquina, como poderia
um governo da direita tradicional, imaginando que no lugar de Dilma assuma no
restante do mandato um condomínio político entre alas do PMDB, PSDB e DEM,
concluir com sucesso o duro "ajuste" fiscal, monetário e salarial em
fase ainda inicial? Teria um Eduardo Cunha ou Aécio a capacidade política de
logo após depor Dilma declarar um "arrocho" ainda mais violento
contra os trabalhadores? Só mesmo muita ingenuidade política ou idiotice útil
para acreditar nesta vertente para o regime burguês. Sem um governo de Frente
Popular (que conta com o respaldo da esmagadora maioria das entidades sindicais
e populares) a conclusão do "ajuste" no país só seria possível sob a
tutela de uma ditadura militar, mas então o golpe não seria unicamente
parlamentar... O PT e seu governo tem um papel fundamental no realinhamento da
economia nacional em direção ao mercado norte-americano, Dilma e Lula estão de
acordo em restabelecer o canal privilegiado com Washington e os
"barões" de Wall Street (que nunca foi rompido totalmente), o comando
da economia nacional foi entregue a um leal funcionário dos rentistas
internacionais. É necessário dar um mínimo de tempo para que Levy e seus
colegas ponham em marcha o desmonte do chamado "sonho
neodesenvolvimentista", que girou o Brasil para a margem dos BRICS.
Qualquer interrupção aventureira parlamentar deste contraditório processo que
recém começa, interfere em forças muito mais poderosas do que os apetites da
escória tucana a afins. A burguesia nacional historicamente tem mostrado muita
maturidade para se colocar à frente dos fatos, foi assim com a Abertura
Política, Colégio Eleitoral e as eleições de FHC e LULA mais recentemente, não
colocaria o regime em uma crise de governabilidade aberta enquanto toda a
"potencialidade" do PT junto as massas não estivesse completamente
esgotada.
O "modelo de crescimento" guiado pelo PT para o
país nos últimos doze anos está claramente às vésperas de seu esgarçamento
final, quanto a isto não há muita "polêmica", basta conferir os
dados econômicos. Sob o governo Lula o Brasil "tangenciou" o crash financeiro
internacional deflagrado em 2008, não perdemos emprego e a renda média salarial
apresentou uma pequena elevação. Também não houve corte do crédito, ao
contrário do que ocorreu nos centros imperialistas e a maioria dos países
periféricos. O "milagre" Lulista consistiu em deslocar a produção de
commodities do Brasil para um outro eixo comercial, que no sentido inverso dos
mercados dos EUA e UE continuava comprador. Sem sombra de dúvidas as
exportações para China e Rússia e países "marcados" do nosso
continente como a Venezuela, impulsionaram um vasto leque de atração de
capitais e consumo para nossa economia. A burguesia nacional foi beneficiada
financeiramente de conjunto pela "estratégia" lulista, e portanto
retribuíram ao PT quatro gestões estatais. Porém os EUA recuperaram
parcialmente sua economia do colapso bursátil e a China e Rússia não ostentam
mais o "ciclo virtuoso" de uma década atrás. Fica evidente que o
"milagre" econômico petista tinha os pés de barro, não estava
alicerçado em um projeto autônomo de desenvolvimento capitalista. Nosso parque
industrial continuou mais sucateado ainda, inexistindo qualquer plataforma
tecno-científica que permitisse ao Brasil superar seu atraso semicolonial. A
única promessa de um falso "gigantismo" econômico vinha da
"canoa furada" do Pré-Sal, caracterizado exclusivamente pela LBI à
época como um grande embuste financeiro e político. Não pode haver uma genuína
soberania econômica enquanto as elites disseminarem o "conto de
fadas" que o "fazendão" Brasil será uma nova potência mundial.
Se todos os vetores indicam que o atual "modelo"
econômico vai dar lugar a outro, isto não significa afirmar que o país já
faliu, como tanto alardeia a oposição Tucana. Ao longo das gerências petistas
foi gestado um confortável acúmulo de gordura cambial, o que permite ao Tesouro
Nacional honrar no mercado mundial todos os seus títulos financeiros. O Brasil
continua sendo uma rentável (com uma taxa SELIC nas alturas) e segura rota do
fluxo de capitais internacionais, remunerando em dia rentistas do "over
night" e investidores de médio e longo prazo. A robustez de nossa banca
tupiniquim faz "inveja" até aos trustes financeiros imperialistas. Os
governos da Frente Popular souberam muito bem manter intactos e até
potencializar os rendimentos dos rentistas, que hoje controlam toda a área
econômica do Planalto. Na outra ponta da economia o nível de emprego permanece
relativamente estável e as perdas salariais com o repique inflacionário não
ultrapassaram o limite suportável. Este dados não revelam que estamos em pleno
"céu de brigadeiro", as demissões na indústria tendem a aumentar com
a redução do crédito e consumo, além do arrocho salarial (com ênfase no setor
público) que já se anuncia. O que tentamos demonstrar é que a
"bandeira" da burguesia e do imperialismo no momento é
"sangrar" ao máximo o governo Dilma, porém mantendo a estabilidade
deste regime que aufere um bom retorno aos seus interesses de classe. Um
possível impeachment de Dilma não seria o mesmo "passeio cívico"
ocorrido no "Fora Collor", mesmo desmoralizado com a agenda
neoliberal o PT tem capacidade de mobilização social, colocando este recurso
constitucional como última via para a burguesia.
Não faltaram vozes reverberadas no seio da esquerda
revisionista para defender a burlesca operação "Lava Jato", o próprio
governo Dilma alimentou o "monstro" que segundo seus "quadros
pensantes" resultaria em menos corrupção estatal. Ledo engano... As
"comissões" ou propinas praticadas em todas, vamos repetir todas, as
esferas da república continuam a proliferar no país. Também é totalmente
equivocada a comparação feita entre a "Lava Jato" e a operação "
Mani Pulite" (Mãos Limpas) ocorrida na Itália no começo da década de 90.
Neste caso tratou-se de uma depuração do regime bipartidário então existente
frente à Máfia, exigida pelo Mercado Comum Europeu às vésperas da Itália
"unificar" sua economia com as potências do continente. O paralelo
entre o juiz Falcone e Sergio Moro se resumem a super promoção de ambos pela
mídia corporativa. Moro não pretende depurar um milímetro da corrupção
sistêmica no regime burguês, tem como único objetivo "quebrar" a
Petrobras, utilizando o anteparo das altas comissões pagas pelo cartel das
empreiteiras aos gestores da estatal. De quebra tenta desesperadamente vincular
os militantes do PT como "criadores do pecado original". É óbvio e
ululante que os petistas praticam o "metiê " das comissões, por sinal
bem mais baixas do que as cobradas pelos falsos vestais da tucanalha. Porém a questão em jogo não é quem é mais ou menos corrupto, simplesmente porque todo o
arco da política burguesa o é! O que está em questão com a "Lava
Jato" representa um confronto entre um pálido projeto nacionalista burguês
e o entreguismo pró-imperialista em nível aguçado. A destruição da Petrobras é
a fronteira entre estes dois "bandos". Como Marxistas não somos
"neutros" neste confronto, que sob a direção política do PT já emite
sinais de uma derrota retumbante.
A crise política do governo promete não dar trégua e sua
dinâmica aponta para uma crescente polarização, que atingirá em última
instância as classes sociais. Nesta estreita senda entre uma direita hidrófoba
e uma esquerda reformista que promete ceder cada vez mais terreno, temos que
elaborar uma política de independência do proletariado que não se assemelhe ao
imobilismo de falsos "princípios". A proposta em discussão da
formação de uma Frente de Esquerda para lutar contra a retirada dos direitos,
não pode excluir a priori nem setores do campo da esquerda governista e
tampouco do oposicionista de esquerda, sob pretextos "ideológicos".
Todos que estiverem a favor de uma plataforma de combate, pela via da ação
direta, contra a agenda neoliberal e o embuste "ético" da direita
serão bem vindos. Sem agitar o "fantasma" do golpe para fazer recuar
o movimento de massas e tampouco compactuar com o cerco fascista ao governo da
Frente Popular, o proletariado e sua vanguarda classista terão a oportunidade
de apresentar a população oprimida o seu próprio projeto de poder político!
Conseguir no próximo período andar nesse tênue “fio da navalha” significa aplicar
uma linha justa para a conjuntura brasileira, enfrentando nas ruas pela via da
ação direta das massas os ataques neoliberais do governo da Frente Popular e, ao
mesmo tempo, alertando que o combate a “gerência” petista se dá no terreno da denúncia frontal da direita e do tucanato, sem estabelecer qualquer “unidade de ação” com estes
setores reacionários, como tende a fazer o PSTU, CST e afins. Este grande desafio
histórico e político determinará os setores de vanguarda classista no interior da “Frente de
Esquerda” que se alçarão como base política, programática e ideológica para a construção
de uma genuína alternativa revolucionária dos trabalhadores da cidade e do campo!