quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015


Fracassa a "Marcha por Nisman", com 
a ajuda de um forte temporal a presidente Cristina Kirchner consegue respirar para retomar iniciativa política contra a direita 

A "Marcha do Silêncio" rodeada de uma grande expectativa política por parte da oposição de direita ao governo CFK acabou frustrando seus promotores. Sob um forte temporal que desabou no final da tarde de ontem (18/2) sobre a cidade autônoma de Buenos Aires, um contingente de cerca de 100 mil pessoas marcharam até a Praça de Maio (sede do governo) para responsabilizar a presidenta Cristina pela morte do promotor de justiça federal Alberto Nisman ocorrida exatamente a um mês atrás. O bloco conservador (praticamente todo unido um torno da convocatória da Marcha) esperava organizar a maior manifestação da história recente da Argentina, contaram com o frenético apoio de todos os setores da mídia corporativa e também da maioria de juízes e promotores de justiça do Estado Burguês. Mas o que seria o "golpe letal" contra a permanência do governo Cristina até o final de seu mandato se transformou em mais uma das mobilizações medianas convocadas pela reacionária classe média portenha. Nem de longe compareceram mais de um milhão de manifestantes (era a menor "aposta" da oposição), ao contrário perto de cem mil apáticos cidadãos portavam cartazes "exigindo justiça para o caso Nisman", sem o menor entusiasmo político. O comando geral da oposição burguesa compareceu em peso a "fria" passeata, "castigada" por uma intensa chuva do verão argentino. A mídia "murdochiana" transmitia ao vivo o protesto, além de convocar desesperadamente a população a comparecer as ruas do centro portenho. O prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, do partido semifascista PRO era uma das cabeças políticas da Marcha que contou também com a participação dos deputados Hermes Binner (Partido Socialista), Sergio Massa (Frente Renovador), Margarita Stolbizer (GEN), Elisa Carrió (Coalición Cívica ARI) e Julio Cobos (UCR); todos estes aspirantes de "primeira linha" a ocupar a Casa Rosada nas próximas eleições presidenciais de outubro. Enquanto a oposição amargava o grande fracasso da Marcha, Cristina e sua anturragem estatal inaugurava uma nova central nuclear, Atucha II, que colocará a Argentina na rota da produção de artefatos atômicos. Este comparativo nos fornece as razões políticas do fiasco da mobilização organizada pela direita com o objetivo de "tomar de assalto" o governo, a presidente Cristina assume tímidas medidas que afrontam os interesses imperialistas no país, este elemento é suficiente para gerar uma forte desconfiança dos setores mais conscientes do proletariado em uma oposição conservadora completamente subordinada a Casa Branca. No compasso em que o governo CFK estabelece acordos comerciais e militares com os adversários de Washington, o bloco reacionário e entreguista tenta desferir em vão sua carga direitista contra as conquistas sociais e democráticas da população trabalhadora, mirando a conquista do poder estatal.

Como nós da LBI já tínhamos pontuado logo após a morte de Nisman, as forças reacionárias locais tentaram reproduzir na Argentina o mesmo clima político de "comoção nacional" que ocorreu com o assassinato dos chargistas na França. Não por coincidência tentou-se de imediato responsabilizar pela "tragédia" um governo que "protegia" os terroristas islâmicos do Irã e Hezbolah. Este por sinal era o eixo político do próprio defunto Nisman, um agente confesso do sionismo, inimigo da causa palestina. Porém se na França o embuste do "Charlie Hebdo" conseguiu galvanizar setores populares e a juventude, na Argentina o fato criado com a morte do promotor granjeou um eleitorado ultra conservador, em geral muito próximo das posições do prefeito de Buenos Aires Macri, um direitista sem limites de disfarces.

Os promotores de justiça e juízes, uma elite aristocrática do Estado Burguês, não conseguiram empalmar nas camadas populares seus "reclamos de ódio" contra o governo CFK. Apesar de terem unificado quase que totalmente o "poder judiciário" na convocatória da Marcha, ironicamente em nome de supostos ideais republicanos, "olvidaram" que para mobilizar o proletariado é necessário apresentar uma plataforma programática em defesa das conquistas sociais, muitas das quais reivindicadas parcialmente pelo governo nacionalista burguês. "Cortando" politicamente pela direita em relação aos acenos de CFK, os charlatães da justiça e seus "amigos" da mídia corporativa mostraram que não vão muito além de um tradicional "cacerolazo" da classe média capitalina.

Os principais candidatos à presidência que esperavam potencializar o desgaste eleitoral de Cristina com a mobilização de ontem devem ter amanhecidos mais cautelosos e já não tão confiantes em um triunfo dado como certo em outubro com a realização das prévias. A esquerda revisionista agrupada na FIT, que já contabilizava o aumento de sua bancada no parlamento burguês também levou um "aviso" político, os Kirchner não estão tão mortos como se pensava... Da aliança informal estabelecida pela FIT com a direita argentina, a vanguarda proletária deve abstrair as lições necessárias: Estas direções políticas não servem para impulsionar a revolução socialista!