ALTA DO DÓLAR E RECESSÃO ECONÔMICA, MERA COINCIDÊNCIA OU
DUAS VERTENTES DOS RENTISTAS SEGUIDAS À RISCA POR DILMA?
Hoje os "analistas" do mercado financeiro
começaram a perguntar qual é o teto para a elevação da cotação do Dólar no
país, posto que a barreira dos 4 Reais para a compra da moeda norte-americana
parece já ter ficado para trás. Com uma desvalorização de mais de 40% só neste
período vigente de 2015, o Real ganhou o troféu de campeão mundial de derrotas
frente ao Dólar, algo similar somente pode ter paralelo na goleada de 7 a 1
sofrida pelo Brasil diante da Alemanha na última Copa do Mundo. Ironia a parte
há quem aposte que se mantendo a política da "rédea frouxa", adotada
atualmente pela cúpula do Banco Central, o Dólar pode chegar a casa dos 6 Reais
em menos de um ano. Porém existe uma crassa diferença entre os ataques
especulativos sofridos pelo Tesouro do país entre os anos de 2013 e 2014, ambos
gerando perdas bilionárias para as reservas cambiais do Brasil e que passaram
despercebidos pela nossa mídia corporativa. O modal que hoje vigora na equipe
econômica palaciana é o da "não intervenção" no mercado cambial, ou
seja, a livre flutuação do Dólar está diretamente relacionada a inoperância
efetiva dos chamados "swaps cambiais", um recurso do BC para a venda
massiva da moeda estrangeira no sentido de "defender" a cotação do
Real. O governo Dilma já "queimou" mais de 70 bilhões de Dólares do
Tesouro em swaps de janeiro até agosto deste ano e sinaliza para o mercado que
continua "comprador", em síntese, vende Dólar mais barato para logo
em seguida comprá-lo mais caro e desta forma alimentar a cadeia da especulação
sistêmica. É óbvio para qualquer leigo em economia que se trata de uma política
estatal que fomenta o "lucro fácil" dos rentistas do mercado
financeiro do câmbio. Mas não se trata de "somente" transferir renda
do estado para os operadores internacionais de câmbio, a disparada sem limites
do Dólar favorece artificialmente alta da inflação em um cenário macro
econômico injustificável. O consumo nacional está em queda livre em todos os
segmentos, por sua vez o governo reduz gastos em investimento e verbas de
custeio em todas as áreas do estado, a massa salarial está estagnada e a
poupança interna não para de retroceder, então de que ponto material está se
gerando a inflação? Aprendemos nas aulas básicas de economia marxista que a
desvalorização cambial tem sua gênese na emissão descontrolada da moeda
nacional, fenômeno recorrente em países semicoloniais e até mesmo nos centros
imperialistas em períodos de grave crise econômica (Alemanha e Japão na etapa
que precedeu a II guerra mundial), mas este registro está longe de ocorrer no
Brasil da famigerada Lei de Responsabilidade Fiscal. Nem mesmo a China pode
servir mais como "bode expiatório" para a elevação do Dólar, o
suposto default de sua pujante economia (que fez a festa de Wall Street) não
durou muito e logo os parasitas do mercado bursátil foram obrigados a retirar
suas mentiras do "ar". Só encontraremos uma única razão para a
vigência do binômio Dólar e inflação em linha crescente no Brasil, uma política
consciente do governo Dilma para induzir a recessão econômica (estagflação) no
horizonte do aumento das taxas de juros que já consumiram cerca de 500 bilhões
de Reais para o pagamento da dívida pública ou 8% do PIB nacional. Diante deste
montante os 70 bilhões "torrados" para estabilizar o câmbio não passa
de um "troco". O fulcro da questão reside na posse dos títulos
mercantis da enorme dívida estatal, sob controle dos rentistas que impõe sua
política a este governo subalterno ao capital financeiro. O ministro Levy que
foi "eleito" pela esquerda "chapa branca" como o
"centro do mal", não passa de um mero estafeta de banqueiro que mesmo
trocado por outro "office boy" em nada alterará a política global
deste governo petista que segue a cartilha neoliberal do imperialismo. A
receita pode ser "cozida" por Levy ou Barbosa, pouco importa se não
muda o "cardápio" monetarista do governo! Enquanto isso o
proletariado industrial e as camadas médias da classe trabalhadora vão pagando
o ônus da crise com seus salários reduzidos e empregos perdidos, mas o que
realmente importa é "impedir o golpe da direita"... Afinal para esta
esquerda corrompida os rentistas entranhados na medula do governo Dilma não são
tão "malvados" como os "Tucanos golpistas"...
A sobrevalorização do Dólar não é um fenômeno nacional, tem
ocorrido nas principais "cestas" das moedas que representam as
maiores economias do planeta. Como os títulos do Tesouro norte-americano, que
financiam a dívida pública ianque, representam de fato o "cofre
forte" mundial de dólares de quase todas as nações capitalistas, a
elevação internacional da moeda imperialista reafirma uma hegemonia abalada
pela crise financeira. Entretanto a sobrevalorização do Dólar no Brasil só
encontra paralelo mundial na Rússia, que passa por um processo de cerco e
sabotagem econômica por parte dos EUA. As reservas cambiais do Brasil, cerca de
400 bilhões de Dólares, estão todas aplicadas em títulos da dívida do Tesouro
norte-americano, portanto se encontram fisicamente em território estrangeiro,
apesar dos reduzidíssimos rendimentos determinados pelas taxas de juros do FED.
A resolução desta equação parece óbvia, o governo Dilma estimula a
desvalorização do Real supondo que suas reservas cambiais depositadas nos EUA
ficarão fortalecidas. Em segundo plano atende a "reivindicação" do
agronegócio e de grandes exportadores de minérios para desta forma provocar
artificialmente um superávit na balança comercial brasileira. Porém o "preço"
a ser pago por este artifício do governo é desastroso para país, e em primeiro
lugar para a classe trabalhadora que verá sua renda salarial ser derretida pela
alta de preços gerada por uma "inexplicável" inflação cotada em
Dólar.
Mas a burguesia industrial também se encontra profundamente
afetada pela alta do Dólar, as importações de bens de capital (como máquinas
para a produção em série) ficam praticamente inviabilizadas, além de terem o
mercado invadido pelos "importados", que invadem o Brasil em busca de
um mercado bem precificado. Com um parque industrial sucateado e defasado
tecnologicamente, as empresas nacionais se resumem a função de
"maquiagem" dos produtos estrangeiros. Outro elemento fundamental é
que a dívida financeira das grandes industriais é firmada em base da cotação do
Dólar, quase sempre intermediada pelo BNDES que capta recursos internacionais
dos conglomerados bancários imperialistas. A tendência apontada pelo ritmo
alucinante da alta do Dólar é da falência generalizas das principais indústrias
de capital nacional.
A grande maioria dos "intelectuais" da esquerda
reformista defende ardorosamente a política cambial suicida do governo Dilma,
afirmam que o Real barato significa a boa colocação dos produtos brasileiros no
mercado mundial. Só "esquecem" de dizer que estes produtos têm pouco
valor agregado e estão flutuando para baixo com a deterioração do valor
internacional das comodities agro-minerais. Para agravar a situação temos no
horizonte próximo um novo tarifaço no preço dos derivados e combustíveis
fósseis, importados pela Petrobras em função do colapso das poucas refinarias
existentes no país.
O governo não parece se importar com a desorganização da
economia nacional para favorecer o "deus" Dólar e seus "pastores"
na terra, os rentistas. Somente a construção de uma alternativa classista de
massas poderá derrotar este governo fiel amigo dos "golpistas" do
capital financeiro. Unificar as greves em curso do funcionalismo federal com a
greve nacional bancária será um bom começo para preparar uma greve geral no
sentido de combater o ajuste neoliberal do governo e a ofensiva reacionária da
direita.