quarta-feira, 2 de setembro de 2015


ALTA DO DÓLAR E RECESSÃO ECONÔMICA, MERA COINCIDÊNCIA OU DUAS VERTENTES DOS RENTISTAS SEGUIDAS À RISCA POR DILMA?

Hoje os "analistas" do mercado financeiro começaram a perguntar qual é o teto para a elevação da cotação do Dólar no país, posto que a barreira dos 4 Reais para a compra da moeda norte-americana parece já ter ficado para trás. Com uma desvalorização de mais de 40% só neste período vigente de 2015, o Real ganhou o troféu de campeão mundial de derrotas frente ao Dólar, algo similar somente pode ter paralelo na goleada de 7 a 1 sofrida pelo Brasil diante da Alemanha na última Copa do Mundo. Ironia a parte há quem aposte que se mantendo a política da "rédea frouxa", adotada atualmente pela cúpula do Banco Central, o Dólar pode chegar a casa dos 6 Reais em menos de um ano. Porém existe uma crassa diferença entre os ataques especulativos sofridos pelo Tesouro do país entre os anos de 2013 e 2014, ambos gerando perdas bilionárias para as reservas cambiais do Brasil e que passaram despercebidos pela nossa mídia corporativa. O modal que hoje vigora na equipe econômica palaciana é o da "não intervenção" no mercado cambial, ou seja, a livre flutuação do Dólar está diretamente relacionada a inoperância efetiva dos chamados "swaps cambiais", um recurso do BC para a venda massiva da moeda estrangeira no sentido de "defender" a cotação do Real. O governo Dilma já "queimou" mais de 70 bilhões de Dólares do Tesouro em swaps de janeiro até agosto deste ano e sinaliza para o mercado que continua "comprador", em síntese, vende Dólar mais barato para logo em seguida comprá-lo mais caro e desta forma alimentar a cadeia da especulação sistêmica. É óbvio para qualquer leigo em economia que se trata de uma política estatal que fomenta o "lucro fácil" dos rentistas do mercado financeiro do câmbio. Mas não se trata de "somente" transferir renda do estado para os operadores internacionais de câmbio, a disparada sem limites do Dólar favorece artificialmente alta da inflação em um cenário macro econômico injustificável. O consumo nacional está em queda livre em todos os segmentos, por sua vez o governo reduz gastos em investimento e verbas de custeio em todas as áreas do estado, a massa salarial está estagnada e a poupança interna não para de retroceder, então de que ponto material está se gerando a inflação? Aprendemos nas aulas básicas de economia marxista que a desvalorização cambial tem sua gênese na emissão descontrolada da moeda nacional, fenômeno recorrente em países semicoloniais e até mesmo nos centros imperialistas em períodos de grave crise econômica (Alemanha e Japão na etapa que precedeu a II guerra mundial), mas este registro está longe de ocorrer no Brasil da famigerada Lei de Responsabilidade Fiscal. Nem mesmo a China pode servir mais como "bode expiatório" para a elevação do Dólar, o suposto default de sua pujante economia (que fez a festa de Wall Street) não durou muito e logo os parasitas do mercado bursátil foram obrigados a retirar suas mentiras do "ar". Só encontraremos uma única razão para a vigência do binômio Dólar e inflação em linha crescente no Brasil, uma política consciente do governo Dilma para induzir a recessão econômica (estagflação) no horizonte do aumento das taxas de juros que já consumiram cerca de 500 bilhões de Reais para o pagamento da dívida pública ou 8% do PIB nacional. Diante deste montante os 70 bilhões "torrados" para estabilizar o câmbio não passa de um "troco". O fulcro da questão reside na posse dos títulos mercantis da enorme dívida estatal, sob controle dos rentistas que impõe sua política a este governo subalterno ao capital financeiro. O ministro Levy que foi "eleito" pela esquerda "chapa branca" como o "centro do mal", não passa de um mero estafeta de banqueiro que mesmo trocado por outro "office boy" em nada alterará a política global deste governo petista que segue a cartilha neoliberal do imperialismo. A receita pode ser "cozida" por Levy ou Barbosa, pouco importa se não muda o "cardápio" monetarista do governo! Enquanto isso o proletariado industrial e as camadas médias da classe trabalhadora vão pagando o ônus da crise com seus salários reduzidos e empregos perdidos, mas o que realmente importa é "impedir o golpe da direita"... Afinal para esta esquerda corrompida os rentistas entranhados na medula do governo Dilma não são tão "malvados" como os "Tucanos golpistas"... 

A sobrevalorização do Dólar não é um fenômeno nacional, tem ocorrido nas principais "cestas" das moedas que representam as maiores economias do planeta. Como os títulos do Tesouro norte-americano, que financiam a dívida pública ianque, representam de fato o "cofre forte" mundial de dólares de quase todas as nações capitalistas, a elevação internacional da moeda imperialista reafirma uma hegemonia abalada pela crise financeira. Entretanto a sobrevalorização do Dólar no Brasil só encontra paralelo mundial na Rússia, que passa por um processo de cerco e sabotagem econômica por parte dos EUA. As reservas cambiais do Brasil, cerca de 400 bilhões de Dólares, estão todas aplicadas em títulos da dívida do Tesouro norte-americano, portanto se encontram fisicamente em território estrangeiro, apesar dos reduzidíssimos rendimentos determinados pelas taxas de juros do FED. A resolução desta equação parece óbvia, o governo Dilma estimula a desvalorização do Real supondo que suas reservas cambiais depositadas nos EUA ficarão fortalecidas. Em segundo plano atende a "reivindicação" do agronegócio e de grandes exportadores de minérios para desta forma provocar artificialmente um superávit na balança comercial brasileira. Porém o "preço" a ser pago por este artifício do governo é desastroso para país, e em primeiro lugar para a classe trabalhadora que verá sua renda salarial ser derretida pela alta de preços gerada por uma "inexplicável" inflação cotada em Dólar.

Mas a burguesia industrial também se encontra profundamente afetada pela alta do Dólar, as importações de bens de capital (como máquinas para a produção em série) ficam praticamente inviabilizadas, além de terem o mercado invadido pelos "importados", que invadem o Brasil em busca de um mercado bem precificado. Com um parque industrial sucateado e defasado tecnologicamente, as empresas nacionais se resumem a função de "maquiagem" dos produtos estrangeiros. Outro elemento fundamental é que a dívida financeira das grandes industriais é firmada em base da cotação do Dólar, quase sempre intermediada pelo BNDES que capta recursos internacionais dos conglomerados bancários imperialistas. A tendência apontada pelo ritmo alucinante da alta do Dólar é da falência generalizas das principais indústrias de capital nacional.

A grande maioria dos "intelectuais" da esquerda reformista defende ardorosamente a política cambial suicida do governo Dilma, afirmam que o Real barato significa a boa colocação dos produtos brasileiros no mercado mundial. Só "esquecem" de dizer que estes produtos têm pouco valor agregado e estão flutuando para baixo com a deterioração do valor internacional das comodities agro-minerais. Para agravar a situação temos no horizonte próximo um novo tarifaço no preço dos derivados e combustíveis fósseis, importados pela Petrobras em função do colapso das poucas refinarias existentes no país.

O governo não parece se importar com a desorganização da economia nacional para favorecer o "deus" Dólar e seus "pastores" na terra, os rentistas. Somente a construção de uma alternativa classista de massas poderá derrotar este governo fiel amigo dos "golpistas" do capital financeiro. Unificar as greves em curso do funcionalismo federal com a greve nacional bancária será um bom começo para preparar uma greve geral no sentido de combater o ajuste neoliberal do governo e a ofensiva reacionária da direita.