Apoiador de Paes em 2012, Brizolinha Neto ingressa agora no PSOL pelas mãos de Luciana Genro |
Voltando a falar da transferência de “peixes graúdos” do PT e do PSOL para a Rede de Marina Silva, devemos ter claro que este “movimento” corresponde a interesses eleitorais imediatos mais também estratégicos, de longo prazo. Ambos parlamentares sabem que integraram-se a um partido cuja principal liderança apoiou o tucano Aécio Neves e se alinhou setores de peso dos rentistas e do imperialismo. A ideia de que a ida de ambos pode “barrar” essa relação política é absurda, mas defendida por Tarso Genro: “Tanto o deputado Molon, como o Senador Randolfe - pelo que conheço de ambos - não estão fazendo esta opção por oportunismo ou vantagens políticas pessoais. São homens de esquerda, que se opuseram à natureza dos ajustes ortodoxos do Governo atual e que, me custa a crer o contrário, não estariam se trasladando para um campo político que caracterizou as últimas intervenções de Marina Silva, no cenário nacional: o campo demo-tucano, das reformas liberais, combinadas com a crescente vontade de desestabilizar e derrubar uma Presidente legitimamente eleita. Este campo, na minha opinião, jamais seria o campo destes dois quadros da esquerda que, independentemente de divergências, até ontem eram respeitados e elogiados por todos nós” (Tarso Genro, Os julgamentos do Presente, 27.09). Não sabemos se avaliação do ex-governador petista do RS é apenas uma equivocada “avaliação teórica” ou se o próprio Tarso via embarcar nesse movimento (como deve fazer Paulo Paim rumo à Rede) “construindo pontes” com Marina, mas sabemos que esse está em curso uma guinada à direita de quadros do PT e do PSOL que desejam formar uma “novo campo” que se alce como opção política do imperialismo. Não por acaso, Tarso afirma em tom de saber o que está falando “Se bem conheço os personagens deste cenário, ambos devem ter feito algum tipo de negociação política com Marina, de que a sua nova Rede não seria furada por ‘palometas’, que abririam rombos pelos quais transitariam acordos com a direita e com a centro-direita, como ocorreu recentemente nas eleições presidenciais. Posso estar enganado, mas se este acordo ocorreu de maneira formal, Marina Silva, a quem conheço há décadas, sendo uma pessoa de caráter, como efetivamente o é, cumprirá o ajuste. E aí teremos um novo cenário partidário no país, que poderá permitir coalizões mais orgânicas e frentes mais programáticas, que até poderiam ser testadas, em algumas cidades, em 2016” (Idem). Neste novo cenário estaria a Rede, setores do PSOL e do próprio PT... na chamada “frente de esquerda ampla” que Tarso costura diante da crise do governo Dilma mas que definitivamente não representa nenhum avanço para os interesses da classe operária, ao contrário, Marina Silva representa a junção “ideal” do capital financeiro com as alas messiânicas da burguesia ianque, pretende transformar o Brasil em uma espécie nova “terra sagrada” para os interesses dos “Calvinistas neoliberais”. A “antipatia” pelo agronegócio, manifestada pela Rede nada tem a ver com a defesa da ecologia, é produto direto de seus compromissos com os grandes produtores rurais imperialistas, que não veem com bons olhos o crescimento das exportações brasileiras para os principais centros capitalistas. Sob um governo Marina estaria recolocado o eixo econômico “carnal” do Brasil com os EUA, abalado pela estratégia do PT de voltar o país no sentido dos BRICS, após o crash financeiro internacional de 2008. Esta “opção comercial” da Frente Popular permitiu ao país atravessar a crise mundial do final da década anterior com um forte superávit na balança de pagamentos, gerando um confortável “colchão” de reservas cambiais e forte atração de crédito internacional. Com este “modelo”, lastreado na expansão do consumo interno (bolha de crédito), o PT fez seu “milagre” econômico ao inserir milhões de novos consumidores no mercado, criando uma relativa “mobilidade social” de camadas mais baixas da população. Esta é exatamente a razão do “ódio visceral” dos seguimentos mais conservadores das classes dominantes ao PT, Marina surgiu no cenário político para por um fim a este “ciclo histórico”, inaugurando uma nova etapa da ofensiva imperialista contra as conquistas sociais do proletariado brasileiro. O mito de que o espectro político de Marina poderia representar algo de progressista ou mesmo de uma “esquerda light” (eco-socialista) não corresponde hoje minimamente à realidade. A ex-senadora acreana iniciou de fato sua militância política no antigo PRC (Partido Revolucionário Comunista), que na época tinha como um de seus dirigentes Genuíno Neto. A vigarice política de Marina começa quando o PRC decide entrar definitivamente no PT, no final dos anos 80, e a jovem militante comunista se encaminha diretamente para a tendência interna mais à direita do partido, a “Articulação”, negando seus antigos “ideais” de esquerda. Na sequência posterior Marina se elege senadora pelo PT do Acre, abraçando a as teses da “ecologia” e a defesa do “capitalismo sustentável”, tornando-se logo a “queridinha” de Lula. Nomeada ministra do Meio Ambiente, Marina pretendia ser a candidata de Lula para disputar o Planalto em 2010 quando foi preterida por Dilma abandona o PT em 2009, ingressando no PV para uma curta temporada. Nas eleições presidenciais de 2010 Marina se lança como uma “alternativa da terceira via” entre as candidaturas do PT e PSDB, catalisando um amplo segmento da reacionária classe média urbana. Em 2010 a LBI foi a única corrente de esquerda a afirmar que o “fenômeno” político Marina correspondia a uma nova alternativa de “poder” fomentada pelo imperialismo diante do esgotamento do Tucanato como principal polo de oposição. Mas o PV não era o “ninho” ideal para as pretensões eleitorais de Marina, o partido era controlado diretamente pelo PSDB paulista e por uma ala da oligarquia Sarney, restava criar um novo partido onde pudesse controlar com “mão de ferro” e impor sua plataforma messiânica e pró-imperialista. A ex-militante comunista teria se convertido a uma seita evangélica por puro oportunismo eleitoral e também para agradar seus patrocinadores ianques. Porém, naquele momento a Rede não obteve o registro do TSE por conta de uma perigosa e bem sucedida manobra do governo Dilma e Marina teve que se contentar com a “generosa” oferta de ser a vice de Eduardo, mas a Casa Branca nunca deu como definitivo este cenário para 2014... Obama não aceitava que sua candidata preferencial tivesse o simples papel de coadjuvante do PSB. E o pior mesmo para o campo conservador era o fato de Eduardo não conseguir sequer decolar nas pesquisas, indicando claramente que o PT poderia inclusive “liquidar a fatura” já no primeiro turno. O estranho “acidente” do moderno jato que conduzia Eduardo e sua equipe reintroduziu o “cenário dos sonhos” para o imperialismo no Brasil: Marina entrou no centro político da disputa. Esta perspectiva volta a acontecer agora às vésperas das eleições de 2016, com a legalização da Rede e seu arrasto de vários nomes do PT, PCdoB e PSOL.
Nós comunistas compreendemos que a tática eleitoral não pode comprometer a estratégia revolucionária, rejeitamos a via da cobertura política das alternativas da nova social democracia (PSOL, Syriza, Podemos, assim como fenômenos eleitorais como Jeremy Corbyn na Inglaterra e Bernie Sanders nos EUA, etc..) ou mesmo a “Frente de Esquerda” como propõe o PSTU, fórmulas ainda mais danosas para avançar na consciência de classe do proletariado, como fizeram o MRT e a Esquerda Marxista. Nossa tarefa neste momento é apoiar as ações de luta direta da classe operária contra o ajuste neoliberal e a reação burguesa, denunciando o circo eleitoral da democracia dos ricos e a tendência de fortalecimento político da “nova direita” como vemos através do crescimento da Rede de Marina. Nesse sentido, fazemos um chamado em particular ao PCB (único partido legal que proclama a inviabilidade da "revolução por etapas") a junto com a LBI denunciar a política oportunista e pró-imperialista do PSOL e do PSTU a fim de agrupar o melhor da vanguarda classista e combativa nas lutas e também no terreno eleitoral com o objetivo de apontar uma plataforma revolucionária de denúncia do conjunto da democracia burguesa, regime político que não passa de mais uma forma da ditadura do capital contra os trabalhadores!