domingo, 20 de setembro de 2015


PAPA PEDE QUE "CUBA SE ABRA AOS EUA": BERGOGLIO INTERMEDIA NEGOCIAÇÕES ENTRE OBAMA E A BUROCRACIA CASTRISTA PARA O AVANÇO DA RESTAURAÇÃO CAPITALISTA NA ILHA OPERÁRIA

O Papa Francisco chegou neste sábado, 19, em Havana, a primeira etapa da viagem na qual visitará Cuba e Estados Unidos, dois países que firmaram recentemente o acordo de restabelecimento de relações diplomáticas, processo que Bergoglio teve um papel de destaque. Em discurso após o desembarque, Raul Castro deu as boas vindas ao Papa e agradeceu por seu apoio ao “diálogo”: “O restabelecimento das relações diplomáticas foi um primeiro passo no processo de normalização dos vínculos entre ambos os países”. O pontífice também discursou e disse que “o mundo precisa de reconciliação. Estamos sendo testemunhas de um acontecimento que nos enche de esperanças: o processo de normalização das relações entre dois povos, depois de anos de distanciamento. É um processo. É um símbolo da vitória da cultura do encontro, do diálogo”. Como se observa a visita do Papa tem um objetivo político definido: servir de principal intermediário no processo de restauração capitalista em Cuba, tanto que depois ele segue diretamente para os EUA a fim de se encontrar com Obama. Considerado inicialmente como um conservador que teria colaborado inclusive com a ditadura militar argentina, o Papa Francisco foi aos poucos ganhando espaço e simpatia de setores da “esquerda” domesticada que agora saem a saudar com entusiasmo seu mandato “renovador” e até mesmo “subversivo” na Igreja Católica. Esta avaliação chegou a seu ápice com o papel de primeira grandeza que assumiu no acordo de reatamento das relações diplomáticas entre Cuba e EUA. Na verdade, não há nada de novo no que defende o Pontífice, trata-se da surrada cantilena da “justiça social” como uma forma de convencer aos explorados de que é possível dentro do capitalismo conviver harmonicamente as classes sociais desde que haja a “distribuição da riqueza” e não a destruição revolucionária da burguesia e seu Estado, uma crença equivalente a ilusão na existência do “paraíso” no reino dos céus! Este é o modelo que Bergoglio defende para a restauração capitalista em Cuba. A retomada das relações diplomáticas entre Cuba e os EUA colocou o debate sobre a restauração capitalista na Ilha operária no centro da pauta política da esquerda mundial. De imediato podemos afirmar como defensistas incondicionais do Estado Operário Cubano que a iniciativa da Casa Branca está inserida neste momento no contexto da própria crise que atravessa a ofensiva imperialista contra os povos, em particular no impasse militar no "Mundo Árabe" após o êxito inicial contra o regime kadafista na Líbia. O empatanamento da invasão contra a Síria e as dificuldades de iniciar a estratégica operação contra o Irã agora revertida parcialmente pela via do acordo militar recém celebrado, sem falar na impossibilidade de "dobrar" a influência militar da Rússia na região, obrigaram o Império a voltar o "foco" do Departamento de Estado para Cuba. Hoje a "mão estendida" de Obama para o regime castrista com a intermediação do Papa Francisco tem por objetivo liberar as forças até então represadas de uma restauração capitalista no mesmo modelo da chamada "via chinesa". Como declarou Obama no discurso que anunciou sua decisão "Vamos discutir as diferenças diretamente, como vamos continuar a fazer sobre as questões relacionadas com a democracia e os direitos humanos em Cuba. Mas eu acredito que podemos fazer mais para apoiar o povo cubano e promover os nossos valores por meio do engajamento. Afinal de contas, estes 50 anos têm demonstrado que o isolamento não tem funcionado. É hora de uma nova abordagem. Eu acredito que as empresas americanas não devem ser colocadas em desvantagem, e que o aumento do comércio é bom para os americanos e para os cubanos. Então, vamos facilitar as transações autorizadas entre os Estados Unidos e Cuba. Instituições financeiras dos EUA serão autorizados a abrir contas em instituições financeiras cubanas. E vai ser mais fácil para os exportadores dos EUA para vender bens em Cuba". O porto de Mariel em Cuba, construído pela empreiteira Odebrecht e financiado pelo governo Dilma via empréstimo de 800 milhões do BNDES, tem um papel importante na abertura da Ilha para produtos do EUA. A principal agenda do governo brasileiro em Cuba é aprofundar as relações econômicas tendo por base o processo de restauração capitalista em curso promovido pela burocracia castrista, principalmente após o último congresso do PCC, em que copia parcialmente a chamada “via chinesa”. Trata-se da entrega de setores da economia para o controle de grupos capitalistas, estreitando cada vez mais os vínculos da casta dirigente com grandes empresas estrangeiras que investem no país, ao mesmo em tempo que se fragiliza e ataca conquistas históricas da revolução. Na atual conjuntura internacional o principal ponto de "travamento" da ofensiva imperial encontra-se no receio de um enfrentamento direto com o poderio militar russo, herdado do antigo Exército Vermelho. Putin pretendia estender a influência militar russa para Cuba, com a instalação de uma moderna base naval no Caribe, seria um duro golpe para o Pentágono e a OTAN que hoje sequer conseguem impor um recuo de seus adversários no leste europeu. Com uma possível "cooptação" de Cuba os EUA de uma só tacada podem conseguir neutralizar a Venezuela e impedir a entrada da Rússia na geopolítica latino-americana. No mesmo compasso, com a popularidade em alta via o acordo com Cuba e o Irã Obama tentará eleger a víbora Hillary nas eleições presidenciais de 2016 buscando derrotar o republicano Jeb Bush, já que os Clinton apoiam integralmente a "jogada" de aproximação com Cuba. A visita do Papa aos EUA logo após sua estadia em Cuba fortalece esta perspectiva. Como Trotskistas não podemos rejeitar possíveis manobras diplomáticas de um Estado Operário no contexto de um mundo hegemonizado pelo capital financeiro, reconhecemos o direito de Cuba exigir o fim do criminoso bloqueio comercial, porém não somos "ingênuos" ao ponto de desconsiderar os objetivos estratégicos do imperialismo ianque. Como nos ensinou Lenin que pessoalmente em sua época celebrou vários acordos comerciais com o imperialismo europeu, é necessário aproveitar as fissuras da crise imperialista sem "baixar a guarda" de uma política que convoque permanentemente a mobilização do proletariado mundial contra a atual ofensiva neoliberal contra os povos. Nesta perspectiva revolucionária não podemos confiar plenamente na burocracia Castrista, que busca conservar o atual regime estatal cada vez mais sob as bases de concessões econômicas e políticas. Frente a esta disjuntiva histórica, está colocado a construção do genuíno Partido Operário Revolucionário na Ilha com o objetivo de avançar nas conquistas sociais e do chamado a expropriação da burguesia mundial, se opondo a política de colaboração de classes das direções reformistas, rompendo desta forma o isolamento de Cuba por meio da vitória da revolução proletária em outros recantos do planeta! O imperialismo tenta cooptar Cuba com a "promessa" de massivos investimentos comerciais e financeiros na economia do Estado Operário, uma armadilha da qual a classe operária cubana não pode cair, sob o risco de reproduzir a desastrosa "via chinesa". O proletariado cubano deve marchar no sentido oposto ao da restauração capitalista, se preparando para enfrentar novos desafios como a nefasta influência ideológica, cultural, política e econômica que os EUA na condição de principal potência capitalista desejam impor a Ilha agora na cínica condição de novo "parceiro".

O Papa Francisco não pretende alimentar nenhum movimento de fato contestador e “progressista” no interior da Igreja como foram de fato as comunidades eclesiais de base no final da década de 60 (inspiradas nas mudanças implementadas pelo Papa João XXIII) e que se chocavam abertamente com o poder do latifúndio, as ditaduras militares e a reação burguesa, muito de seus seguidores na Igreja Católica inclusive pagando com a vida pela “opção preferencial pelos pobres”. Longe disto, Bergoglio pretende usar a demagogia social para lhe abrir espaço no interior das instituições parlamentares de poder da burguesia, demarcando pela direita claramente com o comunismo, a revolução e até mesmo com os governos da centro-esquerda burguesa. Segundo as palavras do Papa, “Terra, teto e trabalho. É estranho, mas se eu falo disso, o Papa é um comunista. Não se compreende que o amor pelos pobres é o centro do Evangelho. Terra, casa e trabalho, aquilo para o qual vocês lutam, são direitos sagrados. Exigir tais coisas, de fato, não é algo estranho, é a doutrina social da Igreja”. Como podemos observar, trata-se da velha teoria do capitalismo com “rosto humano” em contraposição a revolução proletária e a expropriação da burguesia enquanto classe pela via da violência revolucionária, como foi por exemplo a própria Revolução Cubana dirigida por Fidel, Che e Raul Castro. As grandes conquistas operárias e sociais dos países capitalistas centrais (terra, teto, trabalho) jamais podem ser implementadas nos periféricos não pela ausência de “justiça social” mas porque estes pertencem a uma cadeia mundial de divisão das forças produtivas onde seu papel econômico é alimentar as metrópoles imperiais, com a rapinagem de suas riquezas naturais e também com a mais-valia do seu proletariado urbano e rural!

A burocracia castrista instalada na cabeça do Estado operário cubano optou por um caminho de sucessivas concessões políticas ao imperialismo ianque, ainda que mantendo as principais bases da economia socializada. Com a eleição da ala “democrata” do império em 1992 (Clinton), o próprio Fidel Castro alimentou enormes expectativas na melhoria do relacionamento político com os ianques, o que resultou em um retumbante fracasso, levando inclusive ao relaxamento de normas de segurança que facilitaram a prisão de militantes dos serviços de inteligência cubana em Miami, como atesta o recente livro do escritor “progressista” Fernando Morais (Os últimos soldados da Guerra Fria). Com a posse de Obama, o “fenômeno” da empatia dos stalinistas cubanos com os carrascos “democratas” se repetiu. Nunca é demais lembrar que Cuba chegou a demonstrar inicialmente simpatia com os “rebeldes” monárquicos da Líbia. Somente quando se delineou a intervenção militar da OTAN, Raul percebeu que o “conto” da tal “revolução árabe” estava voltado a dar uma cobertura “humanitária” a mais uma invasão ianque, e o que é pior, o próximo alvo “democrático” do imperialismo poderia ser a própria Cuba! Os “ziguezagues” do castrismo diante da ofensiva mundial do imperialismo ianque colocam em risco a defesa das conquistas históricas da revolução cubana, que mesmo debilitadas por um bloqueio criminoso, permanecem socialmente vigentes para o proletariado da ilha operária. Agora o mesmo se repete com a aproximação entre os EUA e Cuba pelas mãos do Papa Francisco.

Para os Marxistas Revolucionários, apesar do enorme retrocesso histórico na consciência das massas, não resta a menor vacilação ideológica em manter firme a denúncia vigorosa da instituição “paraestatal” (o Vaticano só é considerado um Estado para benefício das máfias eclesiais que detém imunidade internacional diplomática) mais reacionária do planeta, assim como de seu chefe maior: o Papa! Neste sentido, faz-se necessário enfrentar o "abraço de urso" restauracionista que Obama e o Papa Francisco desejam impor ao Estado Operário com a redobrada defesa da revolução e das conquistas sociais frente à "nova" tática do imperialismo ianque. A destruição do Estado operário cubano seja pela via da agressão militar ou da contrarrevolução “democrática” como deseja o Papa, inspirada na farsesca “revolução árabe” apoiada por todo arco revisionista, não por acaso os mesmos canalhas de “esquerda” que clamam pela “derrubada da ditadura dos irmãos Castro”, representará uma enorme derrota para o proletariado da América Latina, abrindo um período sem precedentes de avanço imperialista. Por isso, nossa resposta continua sendo a defesa incondicional de Cuba e das conquistas da revolução!