PAPA PEDE QUE "CUBA SE ABRA AOS EUA": BERGOGLIO
INTERMEDIA NEGOCIAÇÕES ENTRE OBAMA E A BUROCRACIA CASTRISTA PARA O AVANÇO DA
RESTAURAÇÃO CAPITALISTA NA ILHA OPERÁRIA
O Papa Francisco chegou neste sábado, 19, em Havana, a
primeira etapa da viagem na qual visitará Cuba e Estados Unidos, dois países
que firmaram recentemente o acordo de restabelecimento de relações
diplomáticas, processo que Bergoglio teve um papel de destaque. Em discurso
após o desembarque, Raul Castro deu as boas vindas ao Papa e agradeceu por seu
apoio ao “diálogo”: “O restabelecimento das relações diplomáticas foi um
primeiro passo no processo de normalização dos vínculos entre ambos os países”.
O pontífice também discursou e disse que “o mundo precisa de reconciliação.
Estamos sendo testemunhas de um acontecimento que nos enche de esperanças: o
processo de normalização das relações entre dois povos, depois de anos de
distanciamento. É um processo. É um símbolo da vitória da cultura do encontro,
do diálogo”. Como se observa a visita do Papa tem um objetivo político
definido: servir de principal intermediário no processo de restauração
capitalista em Cuba, tanto que depois ele segue diretamente para os EUA a fim
de se encontrar com Obama. Considerado inicialmente como um conservador que
teria colaborado inclusive com a ditadura militar argentina, o Papa Francisco foi
aos poucos ganhando espaço e simpatia de setores da “esquerda” domesticada que
agora saem a saudar com entusiasmo seu mandato “renovador” e até mesmo
“subversivo” na Igreja Católica. Esta avaliação chegou a seu ápice com o papel
de primeira grandeza que assumiu no acordo de reatamento das relações
diplomáticas entre Cuba e EUA. Na verdade, não há nada de novo no que defende o Pontífice, trata-se da surrada cantilena da “justiça social” como uma forma
de convencer aos explorados de que é possível dentro do capitalismo conviver
harmonicamente as classes sociais desde que haja a “distribuição da riqueza” e
não a destruição revolucionária da burguesia e seu Estado, uma crença
equivalente a ilusão na existência do “paraíso” no reino dos céus! Este é o
modelo que Bergoglio defende para a restauração capitalista em Cuba. A retomada
das relações diplomáticas entre Cuba e os EUA colocou o debate sobre a
restauração capitalista na Ilha operária no centro da pauta política da
esquerda mundial. De imediato podemos afirmar como defensistas incondicionais
do Estado Operário Cubano que a iniciativa da Casa Branca está inserida neste
momento no contexto da própria crise que atravessa a ofensiva imperialista
contra os povos, em particular no impasse militar no "Mundo Árabe"
após o êxito inicial contra o regime kadafista na Líbia. O empatanamento da
invasão contra a Síria e as dificuldades de iniciar a estratégica operação
contra o Irã agora revertida parcialmente pela via do acordo militar recém
celebrado, sem falar na impossibilidade de "dobrar" a influência
militar da Rússia na região, obrigaram o Império a voltar o "foco" do
Departamento de Estado para Cuba. Hoje a "mão estendida" de Obama
para o regime castrista com a intermediação do Papa Francisco tem por objetivo
liberar as forças até então represadas de uma restauração capitalista no mesmo
modelo da chamada "via chinesa". Como declarou Obama no discurso que
anunciou sua decisão "Vamos discutir as diferenças diretamente, como vamos
continuar a fazer sobre as questões relacionadas com a democracia e os direitos
humanos em Cuba. Mas eu acredito que podemos fazer mais para apoiar o povo
cubano e promover os nossos valores por meio do engajamento. Afinal de contas,
estes 50 anos têm demonstrado que o isolamento não tem funcionado. É hora de
uma nova abordagem. Eu acredito que as empresas americanas não devem ser colocadas
em desvantagem, e que o aumento do comércio é bom para os americanos e para os
cubanos. Então, vamos facilitar as transações autorizadas entre os Estados
Unidos e Cuba. Instituições financeiras dos EUA serão autorizados a abrir
contas em instituições financeiras cubanas. E vai ser mais fácil para os
exportadores dos EUA para vender bens em Cuba". O porto de Mariel em Cuba,
construído pela empreiteira Odebrecht e financiado pelo governo Dilma via
empréstimo de 800 milhões do BNDES, tem um papel importante na abertura da Ilha
para produtos do EUA. A principal agenda do governo brasileiro em Cuba é
aprofundar as relações econômicas tendo por base o processo de restauração
capitalista em curso promovido pela burocracia castrista, principalmente após o
último congresso do PCC, em que copia parcialmente a chamada “via chinesa”.
Trata-se da entrega de setores da economia para o controle de grupos
capitalistas, estreitando cada vez mais os vínculos da casta dirigente com
grandes empresas estrangeiras que investem no país, ao mesmo em tempo que se
fragiliza e ataca conquistas históricas da revolução. Na atual conjuntura
internacional o principal ponto de "travamento" da ofensiva imperial
encontra-se no receio de um enfrentamento direto com o poderio militar russo,
herdado do antigo Exército Vermelho. Putin pretendia estender a influência
militar russa para Cuba, com a instalação de uma moderna base naval no Caribe,
seria um duro golpe para o Pentágono e a OTAN que hoje sequer conseguem impor
um recuo de seus adversários no leste europeu. Com uma possível
"cooptação" de Cuba os EUA de uma só tacada podem conseguir
neutralizar a Venezuela e impedir a entrada da Rússia na geopolítica
latino-americana. No mesmo compasso, com a popularidade em alta via o acordo
com Cuba e o Irã Obama tentará eleger a víbora Hillary nas eleições
presidenciais de 2016 buscando derrotar o republicano Jeb Bush, já que os
Clinton apoiam integralmente a "jogada" de aproximação com Cuba. A
visita do Papa aos EUA logo após sua estadia em Cuba fortalece esta
perspectiva. Como Trotskistas não podemos rejeitar possíveis manobras
diplomáticas de um Estado Operário no contexto de um mundo hegemonizado pelo
capital financeiro, reconhecemos o direito de Cuba exigir o fim do criminoso
bloqueio comercial, porém não somos "ingênuos" ao ponto de
desconsiderar os objetivos estratégicos do imperialismo ianque. Como nos
ensinou Lenin que pessoalmente em sua época celebrou vários acordos comerciais
com o imperialismo europeu, é necessário aproveitar as fissuras da crise
imperialista sem "baixar a guarda" de uma política que convoque
permanentemente a mobilização do proletariado mundial contra a atual ofensiva
neoliberal contra os povos. Nesta perspectiva revolucionária não podemos
confiar plenamente na burocracia Castrista, que busca conservar o atual regime
estatal cada vez mais sob as bases de concessões econômicas e políticas. Frente
a esta disjuntiva histórica, está colocado a construção do genuíno Partido
Operário Revolucionário na Ilha com o objetivo de avançar nas conquistas
sociais e do chamado a expropriação da burguesia mundial, se opondo a política
de colaboração de classes das direções reformistas, rompendo desta forma o
isolamento de Cuba por meio da vitória da revolução proletária em outros recantos
do planeta! O imperialismo tenta cooptar Cuba com a "promessa" de
massivos investimentos comerciais e financeiros na economia do Estado Operário,
uma armadilha da qual a classe operária cubana não pode cair, sob o risco de
reproduzir a desastrosa "via chinesa". O proletariado cubano deve
marchar no sentido oposto ao da restauração capitalista, se preparando para
enfrentar novos desafios como a nefasta influência ideológica, cultural,
política e econômica que os EUA na condição de principal potência capitalista
desejam impor a Ilha agora na cínica condição de novo "parceiro".
O Papa Francisco não pretende alimentar nenhum movimento de
fato contestador e “progressista” no interior da Igreja como foram de fato as
comunidades eclesiais de base no final da década de 60 (inspiradas nas mudanças
implementadas pelo Papa João XXIII) e que se chocavam abertamente com o poder
do latifúndio, as ditaduras militares e a reação burguesa, muito de seus
seguidores na Igreja Católica inclusive pagando com a vida pela “opção preferencial
pelos pobres”. Longe disto, Bergoglio pretende usar a demagogia social para lhe
abrir espaço no interior das instituições parlamentares de poder da burguesia,
demarcando pela direita claramente com o comunismo, a revolução e até mesmo com
os governos da centro-esquerda burguesa. Segundo as palavras do Papa, “Terra,
teto e trabalho. É estranho, mas se eu falo disso, o Papa é um comunista. Não
se compreende que o amor pelos pobres é o centro do Evangelho. Terra, casa e
trabalho, aquilo para o qual vocês lutam, são direitos sagrados. Exigir tais
coisas, de fato, não é algo estranho, é a doutrina social da Igreja”. Como
podemos observar, trata-se da velha teoria do capitalismo com “rosto humano” em
contraposição a revolução proletária e a expropriação da burguesia enquanto
classe pela via da violência revolucionária, como foi por exemplo a própria Revolução Cubana dirigida por Fidel, Che e Raul Castro. As grandes conquistas
operárias e sociais dos países capitalistas centrais (terra, teto, trabalho)
jamais podem ser implementadas nos periféricos não pela ausência de “justiça
social” mas porque estes pertencem a uma cadeia mundial de divisão das forças
produtivas onde seu papel econômico é alimentar as metrópoles imperiais, com a
rapinagem de suas riquezas naturais e também com a mais-valia do seu
proletariado urbano e rural!
A burocracia castrista instalada na cabeça do Estado
operário cubano optou por um caminho de sucessivas concessões políticas ao
imperialismo ianque, ainda que mantendo as principais bases da economia
socializada. Com a eleição da ala “democrata” do império em 1992 (Clinton), o
próprio Fidel Castro alimentou enormes expectativas na melhoria do
relacionamento político com os ianques, o que resultou em um retumbante
fracasso, levando inclusive ao relaxamento de normas de segurança que
facilitaram a prisão de militantes dos serviços de inteligência cubana em
Miami, como atesta o recente livro do escritor “progressista” Fernando Morais
(Os últimos soldados da Guerra Fria). Com a posse de Obama, o “fenômeno” da
empatia dos stalinistas cubanos com os carrascos “democratas” se repetiu. Nunca
é demais lembrar que Cuba chegou a demonstrar inicialmente simpatia com os
“rebeldes” monárquicos da Líbia. Somente quando se delineou a intervenção
militar da OTAN, Raul percebeu que o “conto” da tal “revolução árabe” estava
voltado a dar uma cobertura “humanitária” a mais uma invasão ianque, e o que é
pior, o próximo alvo “democrático” do imperialismo poderia ser a própria Cuba!
Os “ziguezagues” do castrismo diante da ofensiva mundial do imperialismo ianque
colocam em risco a defesa das conquistas históricas da revolução cubana, que
mesmo debilitadas por um bloqueio criminoso, permanecem socialmente vigentes
para o proletariado da ilha operária. Agora o mesmo se repete com a aproximação
entre os EUA e Cuba pelas mãos do Papa Francisco.
Para os Marxistas Revolucionários, apesar do enorme
retrocesso histórico na consciência das massas, não resta a menor vacilação
ideológica em manter firme a denúncia vigorosa da instituição “paraestatal” (o
Vaticano só é considerado um Estado para benefício das máfias eclesiais que
detém imunidade internacional diplomática) mais reacionária do planeta, assim
como de seu chefe maior: o Papa! Neste sentido, faz-se necessário enfrentar o
"abraço de urso" restauracionista que Obama e o Papa Francisco
desejam impor ao Estado Operário com a redobrada defesa da revolução e das
conquistas sociais frente à "nova" tática do imperialismo ianque. A
destruição do Estado operário cubano seja pela via da agressão militar ou da
contrarrevolução “democrática” como deseja o Papa, inspirada na farsesca
“revolução árabe” apoiada por todo arco revisionista, não por acaso os mesmos
canalhas de “esquerda” que clamam pela “derrubada da ditadura dos irmãos
Castro”, representará uma enorme derrota para o proletariado da América Latina,
abrindo um período sem precedentes de avanço imperialista. Por isso, nossa
resposta continua sendo a defesa incondicional de Cuba e das conquistas da
revolução!