segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

DIREITA VENCE COM FOLGA ELEIÇÕES PARLAMENTARES NA VENEZUELA: ENCRUZILHADA PARA O CHAVISMO, OU EXPROPRIA OS CAPITALISTAS SABOTADORES OU SERÁ VARRIDO DO PODER PELA VIA DA DEMOCRACIA BURGUESA


O MUD (Mesa da Unidade Democrática), bloco de oposição semifascista ao regime Bolivariano, ganhou neste domingo (06/12) com larga margem de votos e cadeiras as eleições gerais parlamentares que empossarão a nova Assembleia Nacional Venezuelana. A presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena, acaba de anunciar que o MUD triunfou nas eleições legislativas com um total de 99 deputados, contra 46 do GPP (Grande Polo Patriótico) coalização de apoio ao governo Nicolás Maduro. A Assembleia Nacional é composta por 167 cadeiras e ainda faltam preencher 22 assentos (alguns com critérios específicos para minorias), o que poderá resultar em um desastre ainda maior para o Chavismo caso o MUD conquiste 2/3 dos parlamentares. Após o anúncio oficial o presidente Nicolás Maduro aceitou em rede nacional a derrota eleitoral com "moral e ética", segundo suas próprias palavras: "Olhando para estes resultados a que chegamos com nossa moral, nossa ética, para reconhecer estes resultados adversos, a aceitar e dizer que a nossa Venezuela ganhou a Constituição e a democracia". É a primeira vez em 16 anos que a oposição de direita ao Chavismo sai vitoriosa no Parlamento, desde que a Assembleia Nacional foi  criada no ano de 2000 após a dissolução constitucional do antigo regime político e seu Congresso Parlamentar. A cúpula do MUD, diretamente ligada à Casa Branca e aos grandes grupos capitalistas que controlam a economia do país, festejou os resultados eleitorais como o " início do fim" do regime nacionalista burguês inaugurado na Venezuela com vitória do coronel Hugo Chavez em 1998. "Começou a mudança Venezuela, hoje temos razões para comemorar, o país pedia uma mudança, essa mudança começou hoje", disse o secretário-executivo do MUD, Jesús Torrealba, com os resultados provisórios de 96,03% dos votos apurados. A já esperada derrota eleitoral do Chavismo ocorre no marco de uma profunda ofensiva mundial do imperialismo contra os regimes e governos nacionalista adversários dos interesses ianques no planeta. Como denunciamos vigorosamente desde o blog da LBI, esta ofensiva tem como fundamento econômico o ultraneoliberalismo, focado para eliminar conquistas operárias e sociais existentes nos regimes nacionalistas burgueses ainda sobreviventes a este "furacão reacionário". A derrocada do regime do coronel Muamar Kadaffi na Líbia em 2011, muito bem planejada desde os gabinetes de Washington, foi o "start" desta operação criminosa  que encontrou brava resistência desde a Venezuela de Chavez. Na Síria pela via da guerra civil  e agora na Venezuela pela senda "democrática", o fajuto "Democrata" Obama quer impor um novo governo moldado aos interesses econômicos dos EUA. Por isso mesmo as corporações transnacionais de energia e petróleo derrubaram em mais da metade o preço internacional do barril do óleo cru, ao mesmo tempo em que dobraram a cotação dos derivados refinados do petróleo (gasolina , diesel , querosene para aviação etc...). Acontece que os países periféricos e semicoloniais não possuem grandes refinarias industriais, apesar das reservas naturais de hidrocarbonetos, e são obrigados a importar combustíveis do cartel dos trustes imperialistas. A Venezuela vive este drama e sua economia nacional está sendo estrangulada  por sabotagens internas e uma herança do modelo capitalista monoprodutor. Com um desabastecimento geral de produtos alimentares e de primeiras necessidades, um PIB negativo em 2014  e uma inflação galopante não foi muito difícil mesmo para a "esquálida" oposição derrotar o Chavismo nestas eleições, lembrando que já na anterior Maduro foi eleito por uma diferença muito pequena de votos. O mais escandaloso exemplo da sabotagem econômica e desabastecimento social está relacionado ao preço dos ovos. Este produto básico, que é uma das mais importantes fontes de proteína da dieta diária do povo venezuelano, estava sendo vendido a aproximadamente 100 bolívares por uma caixa de 30 ovos no início de 2014. Um ano mais tarde, havia acumulado um aumento de 200% e estava sendo vendido a 300 bolívares. No final de outubro de 2015, seu preço tinha alcançado mais de 1.000 bolívares, e então o governo decidiu regular seu preço em 420 bolívares para uma caixa de 30 ovos. O resultado imediato foi o completo desaparecimento dos ovos nos pontos de venda, uma vez que os produtores e comerciantes se recusam a vender ao preço oficial. O governo Maduro tenta inutilmente disciplinar a burguesia, seja com o controle cambial seja com o tabelamento de preços ou até mesmo com pequenos confiscos comerciais, medidas muito insignificantes diante da ofensiva aberta para desestabilizar o regime "Bolivariano". As massas estão sendo penalizadas pela sabotagem das corporações e o regime perdendo sua capacidade de investimento social diante da recessão econômica, não há grandes reservas de dólares no país. Se perdurar esta dinâmica social nas próximas eleições presidenciais o PSUV colherá uma derrota acachapante e nada adiantará para o proletariado e suas conquistas o vergonhoso discurso de "perdemos com ética" mas a "democracia foi assegurada". É necessário romper com os limites impostos pela economia de mercado e expropriar os negócios da burguesia sob o controle operário, para que se mantenha e se avance nas conquistas. Entretanto o regime Chavista e sua "revolução bolivariana" são apenas uma caricatura nacionalista burguesa do genuíno socialismo revolucionário. Como um partido burguês o PSUV, mesmo combatendo no campo antiimperialista, é incapaz historicamente de conduzir  a Venezuela ao terreno do socialismo e o cheiro de uma derrota para a reação já exala no ar. O proletariado venezuelano necessita construir sua própria ferramenta de poder para vencer o fascismo e a reação democrático burguesa, neste  necessário caminho a tarefa inicial passa por não depositar confiança política em nenhum mecanismo eleitoral e forjar os comitês operários e populares de expropriação de cada empresa capitalista que patrocina a sabotagem e o desabastecimento nacional.

O esgotamento dos investimentos sociais do regime "bolivariano" possui, além das razões óbvias decorrentes queda na receita das exportações do petróleo, fatores internos graves. Além da sabotagem de setores empresariais que fomentam o desabastecimento e consequentemente a espiral inflacionária, temos os "boliburgueses" que contribuem para a falência do estado. Os capitalistas "amigos da revolução" são na verdade parasitas das verbas públicas que em nome de transações comerciais autorizadas pelo regime, se locupletam de milhões de dólares hoje escassos na economia venezuelana. Um destes mecanismos dos "boliburgueses" achacarem o regime Chavista consiste no privilégio de obterem dólares do tesouro a uma cotação muito "especial" (lembrando que o valor do câmbio é controlado pelo governo) em nome de importarem produtos estrangeiros para o mercado nacional. Muitas destas importações subsidiadas pelo caixa central do governo não servem para nada, são produtos sucateados ou vencidos, úteis somente para o lixo,  ou melhor dizendo, para engordar os bolsos corruptos da "boliburguesia". Com esta parceria comercial inútil, o regime acaba jogando a população no mercado negro de consumo, aí controlado de fato por burgueses "esquálidos" da oposição fascista.

Nos chama atenção para a "ode democrática" que a esquerda vem fazendo da derrota do Chavismo. Parece que torcem para que o fim do regime Chavista (nacionalismo burguês) ocorra pacificamente, e que o PSUV retorne ao governo em outro marco institucional, ou seja, em um regime democrático neoliberal como o do Brasil ou Argentina. Trata-se da mesma lógica aplicada na Nicarágua no final dos anos 80, onde o Sandinismo entregou a revolução em uma eleição burguesa em que previamente já estava derrotado pela direita pró-ianque. Após anos o Sandinismo retorna ao poder pela via eleitoral, porém o regime da Nicarágua já não tinha nenhum traço das conquistas revolucionárias de 1979. Esta esquerda que ressalta a democracia como valor universal e o respeito às urnas, é a mesma que apoia as medidas neoliberais do governo do PT brasileiro e aconselha o PSUV a seguir a mesma trajetória. Não estão muito preocupados com a vida e as conquistas na luta do proletariado, mas sim com a normalidade democrática que dizem respeitar incondicionalmente. Neste arco reformista, paladino da democracia burguesa, podemos encontrar desde figuras petistas como Valter Pomar até organizações revisionistas do Trotskismo como o CMI de Alan Woods.

Os Marxistas Revolucionários não nutrem ilusões na capacidade revolucionária do Chavismo ultrapassar suas limitações históricas de um movimento radicalizado da burguesia nacionalista, combatemos na mesma trincheira antiimperialista porém somos conscientes de sua incapacidade programática de romper seus vínculos materiais com o capitalismo. Devemos acompanhar a própria experiência das massas e da vanguarda classista com o Chavismo, sem a cooptação das benesses estatais do regime e apontando sempre o caminho do enfrentamento revolucionário com a burguesia nativa e subordinada aos interesses do "grande Amo do Norte". O fundamental é que o proletariado venezuelano possa construir sua própria independência de classe, erguendo no curso da luta política sua genuína bandeira socialista.