DIREITA VENCE COM FOLGA ELEIÇÕES PARLAMENTARES NA VENEZUELA:
ENCRUZILHADA PARA O CHAVISMO, OU EXPROPRIA OS CAPITALISTAS SABOTADORES OU SERÁ
VARRIDO DO PODER PELA VIA DA DEMOCRACIA BURGUESA
O MUD (Mesa da Unidade Democrática), bloco de oposição
semifascista ao regime Bolivariano, ganhou neste domingo (06/12) com larga
margem de votos e cadeiras as eleições gerais parlamentares que empossarão a
nova Assembleia Nacional Venezuelana. A presidente do Conselho Nacional
Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena, acaba de anunciar que o MUD triunfou nas eleições legislativas
com um total de 99 deputados, contra 46 do GPP (Grande Polo Patriótico)
coalização de apoio ao governo Nicolás Maduro. A Assembleia Nacional é composta
por 167 cadeiras e ainda faltam preencher 22 assentos (alguns com critérios
específicos para minorias), o que poderá resultar em um desastre ainda maior
para o Chavismo caso o MUD conquiste 2/3 dos parlamentares. Após o anúncio
oficial o presidente Nicolás Maduro aceitou em rede nacional a derrota
eleitoral com "moral e ética", segundo suas próprias palavras:
"Olhando para estes resultados a que chegamos com nossa moral, nossa
ética, para reconhecer estes resultados adversos, a aceitar e dizer que a nossa
Venezuela ganhou a Constituição e a democracia". É a primeira vez em 16
anos que a oposição de direita ao Chavismo sai vitoriosa no Parlamento, desde
que a Assembleia Nacional foi criada no
ano de 2000 após a dissolução constitucional do antigo regime político e seu
Congresso Parlamentar. A cúpula do MUD, diretamente ligada à Casa Branca e aos
grandes grupos capitalistas que controlam a economia do país, festejou os
resultados eleitorais como o " início do fim" do regime nacionalista
burguês inaugurado na Venezuela com vitória do coronel Hugo Chavez em 1998.
"Começou a mudança Venezuela, hoje temos razões para comemorar, o país
pedia uma mudança, essa mudança começou hoje", disse o
secretário-executivo do MUD, Jesús Torrealba, com os resultados provisórios de
96,03% dos votos apurados. A já esperada derrota eleitoral do Chavismo ocorre
no marco de uma profunda ofensiva mundial do imperialismo contra os regimes e
governos nacionalista adversários dos interesses ianques no planeta. Como
denunciamos vigorosamente desde o blog da LBI, esta ofensiva tem como
fundamento econômico o ultraneoliberalismo, focado para eliminar conquistas
operárias e sociais existentes nos regimes nacionalistas burgueses ainda
sobreviventes a este "furacão reacionário". A derrocada do regime do
coronel Muamar Kadaffi na Líbia em 2011, muito bem planejada desde os gabinetes de Washington, foi o
"start" desta operação criminosa
que encontrou brava resistência desde a Venezuela de Chavez. Na Síria
pela via da guerra civil e agora na
Venezuela pela senda "democrática", o fajuto "Democrata"
Obama quer impor um novo governo moldado aos interesses econômicos dos EUA. Por
isso mesmo as corporações transnacionais de energia e petróleo derrubaram em
mais da metade o preço internacional do barril do óleo cru, ao mesmo tempo em
que dobraram a cotação dos derivados refinados do petróleo (gasolina , diesel ,
querosene para aviação etc...). Acontece que os países periféricos e
semicoloniais não possuem grandes refinarias industriais, apesar das reservas
naturais de hidrocarbonetos, e são obrigados a importar combustíveis do cartel
dos trustes imperialistas. A Venezuela vive este drama e sua economia nacional
está sendo estrangulada por sabotagens
internas e uma herança do modelo capitalista monoprodutor. Com um
desabastecimento geral de produtos alimentares e de primeiras necessidades, um
PIB negativo em 2014 e uma inflação
galopante não foi muito difícil mesmo para a "esquálida" oposição derrotar
o Chavismo nestas eleições, lembrando que já na anterior Maduro foi eleito por
uma diferença muito pequena de votos. O mais escandaloso exemplo da sabotagem
econômica e desabastecimento social está
relacionado ao preço dos ovos. Este produto básico, que é uma das mais
importantes fontes de proteína da dieta diária do povo venezuelano, estava
sendo vendido a aproximadamente 100 bolívares por uma caixa de 30 ovos no
início de 2014. Um ano mais tarde, havia acumulado um aumento de 200% e estava
sendo vendido a 300 bolívares. No final de outubro de 2015, seu preço tinha
alcançado mais de 1.000 bolívares, e então o governo decidiu regular seu preço
em 420 bolívares para uma caixa de 30 ovos. O resultado imediato foi o completo
desaparecimento dos ovos nos pontos de venda, uma vez que os produtores e comerciantes
se recusam a vender ao preço oficial. O governo Maduro tenta inutilmente
disciplinar a burguesia, seja com o controle cambial seja com o tabelamento de
preços ou até mesmo com pequenos confiscos comerciais, medidas muito
insignificantes diante da ofensiva aberta para desestabilizar o regime
"Bolivariano". As massas estão sendo penalizadas pela sabotagem das
corporações e o regime perdendo sua capacidade de investimento social diante da
recessão econômica, não há grandes reservas de dólares no país. Se perdurar
esta dinâmica social nas próximas eleições presidenciais o PSUV colherá uma
derrota acachapante e nada adiantará para o proletariado e suas conquistas o
vergonhoso discurso de "perdemos com ética" mas a "democracia
foi assegurada". É necessário romper com os limites impostos pela
economia de mercado e expropriar os negócios da burguesia sob o controle
operário, para que se mantenha e se avance nas conquistas. Entretanto o regime
Chavista e sua "revolução bolivariana" são apenas uma caricatura
nacionalista burguesa do genuíno socialismo revolucionário. Como um partido
burguês o PSUV, mesmo combatendo no campo antiimperialista, é incapaz
historicamente de conduzir a Venezuela
ao terreno do socialismo e o cheiro de uma derrota para a reação já exala no
ar. O proletariado venezuelano necessita construir sua própria ferramenta de
poder para vencer o fascismo e a reação democrático burguesa, neste necessário caminho a tarefa inicial passa por
não depositar confiança política em nenhum mecanismo eleitoral e forjar os
comitês operários e populares de expropriação de cada empresa capitalista que
patrocina a sabotagem e o desabastecimento nacional.
O esgotamento dos investimentos sociais do regime
"bolivariano" possui, além das razões óbvias decorrentes queda na
receita das exportações do petróleo, fatores internos graves. Além da sabotagem
de setores empresariais que fomentam o desabastecimento e consequentemente a
espiral inflacionária, temos os "boliburgueses" que contribuem para a
falência do estado. Os capitalistas "amigos da revolução" são na
verdade parasitas das verbas públicas que em nome de transações comerciais
autorizadas pelo regime, se locupletam de milhões de dólares hoje escassos na
economia venezuelana. Um destes mecanismos dos "boliburgueses"
achacarem o regime Chavista consiste no privilégio de obterem dólares do
tesouro a uma cotação muito "especial" (lembrando que o valor do
câmbio é controlado pelo governo) em nome de importarem produtos estrangeiros
para o mercado nacional. Muitas destas importações subsidiadas pelo caixa
central do governo não servem para nada, são produtos sucateados ou vencidos,
úteis somente para o lixo, ou melhor
dizendo, para engordar os bolsos corruptos da "boliburguesia". Com
esta parceria comercial inútil, o regime acaba jogando a população no mercado
negro de consumo, aí controlado de fato por burgueses "esquálidos" da
oposição fascista.
Nos chama atenção para a "ode democrática" que a
esquerda vem fazendo da derrota do Chavismo. Parece que torcem para que o fim
do regime Chavista (nacionalismo burguês) ocorra pacificamente, e que o PSUV
retorne ao governo em outro marco institucional, ou seja, em um regime
democrático neoliberal como o do Brasil ou Argentina. Trata-se da mesma lógica
aplicada na Nicarágua no final dos anos 80, onde o Sandinismo entregou a
revolução em uma eleição burguesa em que previamente já estava derrotado pela
direita pró-ianque. Após anos o Sandinismo retorna ao poder pela via eleitoral,
porém o regime da Nicarágua já não tinha nenhum traço das conquistas
revolucionárias de 1979. Esta esquerda que ressalta a democracia como valor
universal e o respeito às urnas, é a mesma que apoia as medidas neoliberais do
governo do PT brasileiro e aconselha o PSUV a seguir a mesma trajetória. Não
estão muito preocupados com a vida e as conquistas na luta do proletariado, mas
sim com a normalidade democrática que dizem respeitar incondicionalmente. Neste
arco reformista, paladino da democracia burguesa, podemos encontrar desde
figuras petistas como Valter Pomar até organizações revisionistas do Trotskismo
como o CMI de Alan Woods.
Os Marxistas Revolucionários não nutrem ilusões na capacidade revolucionária do Chavismo ultrapassar suas limitações históricas de um movimento radicalizado da burguesia nacionalista, combatemos na mesma trincheira antiimperialista porém somos conscientes de sua incapacidade programática de romper seus vínculos materiais com o capitalismo. Devemos acompanhar a própria experiência das massas e da vanguarda classista com o Chavismo, sem a cooptação das benesses estatais do regime e apontando sempre o caminho do enfrentamento revolucionário com a burguesia nativa e subordinada aos interesses do "grande Amo do Norte". O fundamental é que o proletariado venezuelano possa construir sua própria independência de classe, erguendo no curso da luta política sua genuína bandeira socialista.
Os Marxistas Revolucionários não nutrem ilusões na capacidade revolucionária do Chavismo ultrapassar suas limitações históricas de um movimento radicalizado da burguesia nacionalista, combatemos na mesma trincheira antiimperialista porém somos conscientes de sua incapacidade programática de romper seus vínculos materiais com o capitalismo. Devemos acompanhar a própria experiência das massas e da vanguarda classista com o Chavismo, sem a cooptação das benesses estatais do regime e apontando sempre o caminho do enfrentamento revolucionário com a burguesia nativa e subordinada aos interesses do "grande Amo do Norte". O fundamental é que o proletariado venezuelano possa construir sua própria independência de classe, erguendo no curso da luta política sua genuína bandeira socialista.