Os trabalhadores da Hungria ocuparam as ruas
contra a chamada “Lei Escravista” imposta pelo governo ultranacionalista de direita de Orbán.
Essa dura medida que permitiu aos empresários ampliar o número de horas extras
anuais exigidas dos funcionários de 250 para 400, podendo pagá-las em até três
anos (antes, eram obrigados a pagar em doze meses) foi o estopim das
mobilizações contra o governo neoliberal. Todos os dias milhares protestaram em
Budapeste sob temperaturas abaixo de zero. Os protestos convocados por partidos
de oposição, entidades estudantis e sindicatos se levantam não apenas contra o
ataque a direitos dos trabalhadores mas contra uma série de medidas repressivas
de Orbán. Com o claro objetivo de barrar a capacidade de reação dos
trabalhadores, a lei impõe ainda o corte do poder de negociação dos sindicatos,
liberando os patrões a fugirem das negociações coletivas em troca de acordos
localizados. O controle sobre os meios de comunicação é uma das principais
armas de Orbán para manter no governo e para defender os interesses da
burguesia, como por exemplo a campanha contra os imigrantes. Orbán é membro da
União Cívica Húngara (Fidesz), um partido de populista de direita e conservador
que se alinha a direita nacionalista reacionária europeia junto com a Frente
Nacional (França), o Partido da Liberdade (Holanda), o Alternativa para
Alemanha e o Partido Popular Suíço. Desde que assumiu o governo em 2010, o
neofascista Orbán alterou o sistema eleitoral para favorecer seu partido e tem
usado rádio e TV para disseminar o discurso nacionalista e populista que vê a
imigração como ameaça ao “povo húngaro”. Seu governo já reformou há muitos anos
largamente a legislação fiscal e trabalhista em prol dos empresários: o direito
de greve, por exemplo, foi seriamente restrito e o imposto pago por empresas na
Hungria é o menor em toda a União Europeia (UE). Na semana passada, também foi
aprovada uma lei sobre a criação de um novo tribunal administrativo. Trata-se
de uma nova seção do Judiciário que passa a estar em grande parte sob o
controle do Ministério da Justiça, ou seja, um claro recrudescimento do regime
político. O governo de Viktor Orbán respondeu aos protestos com dura repressão e afirmando que eles
foram patrocinados pelo bilionário George Soros e tem a simpatia das potências capitalistas que
conformam a União Europeia. A relação amistosa entre Orbán e Putin, com várias
negociações econômicas e comerciais estratégicas envolvendo Hungria e Rússia (como a usina atômica de
Paks com investimentos de 12 bilhões), serve para explicar também o pano de
fundo dessas tensões políticas que buscam ser manipuladas segundo vários
interesses geopolíticos em jogo. Em um país que foi um Estado operário
deformando até o fim da década de 80, é necessário lutar por genuína revolução
proletária para que os trabalhadores voltem de fato a controlar o poder
político e econômico do país, que mergulhou na barbárie social com a
restauração capitalista. A Hungria e todos os demais países da região que foram
libertados pelo Exército Vermelho do domínio nazista, assistiram ao
estabelecimento de Estados Operários burocratizados que depois acabaram por
cair com as falsas “revoluções democráticas” na década de 80 festejada pelos
revisionistas do trotskismo. Nesse cenário, fica evidente que setores do
imperialismo europeu buscam aproveitar a crise para substituir seu gerente
inconveniente na disputa interna na União Europeia. Os trabalhadores húngaros
devem ter uma política independente de classe diante dos bandos burgueses em
conflito, apontando a luta pela derrubada revolucionária do governo Orbán a
partir das necessidades imediatas e históricas dos explorados e oprimidos,
lutando nas ruas e nas fabricas pelo fim da “Lei Escravista”, um passo concreto
para amadurecer a consciência de classe rumo a construção de um poder operário
e socialista.