HÁ 38 ANOS JONH LENNON ERA ASSASSINADO: NOSSO RESPEITO AO
GRANDE ARTISTA E CRÍTICA REVOLUCIONÁRIA DA ILUSÃO DE “IMAGINAR” A MUDANÇA DO
MUNDO SEM DESTRUIR O CAPITALISMO
No dia 8 de dezembro de 1980, há exatos 38 anos, era assassinado às portas do
seu edifício Dakota, em frente ao Central Park, New York, prédio em que vivia,
o mais rebelde poeta dos Beatles, John Lennon, por um fã que horas antes havia
lhe pedido um autógrafo. Mark David Chapman disparou cinco tiros, quatro
acertaram o ex-Beatle. Calava-se dramática e abruptamente uma das vozes mais
controversas dos anos 60, ícone de uma época conturbada e explosiva. Lennon,
nascido em 1940, era filho de um marinheiro, típico da zona portuária de
Liverpool, Inglaterra, teve uma infância marcada pela pobreza e abandono por
parte de mãe e pai, marcando-o psicologicamente por toda a sua vida, o que pode
ter dado asas à sua rebelde imaginação que no final de sua vida aproximara-se
do partido comunista norte-americano. A obra de Lennon foi produto inexorável
da época em que vivia. Em meados de 1969 rompe com a sanha comercial dos
Beatles, um bem sucedido produto da indústria fonográfica imperialista, para
dar início à sua nova orientação de ativista de esquerda engajado nos
acontecimentos políticos globais.
A década de 60, principalmente o explosivo ano de 1968,
marca o despertar da mobilização da juventude, da revolução dos costumes, a libertação
da mulher, a ofensiva da classe operária como elementos de uma conjuntura de
contestação ao establishment pautado pelo “american way life”, ou seja, da
sociedade de consumo. Marca o período de auge da chamada Guerra Fria (EUA X
URSS) pós-revolução cubana, a revolução cultural na China de Mao Tse Tung, os
crimes hediondos na Guerra do Vietnã praticados pelo imperialismo ianque. Tudo
isto culminou num movimento de contracultura e protestos intensos nos Estados
Unidos que traria a pequena burguesia para o centro da mobilização
anticapitalista.
UMA GUINADA À ESQUERDA
Contudo, o que mais despertou atenção de Lennon foi a Guerra
do Vietnã e as massivas mobilizações contra o conflito levado a cabo pelo então
presidente Nixon. Muito distante da apatia que ocorre hoje com as revelações
das atrocidades cometidas na guerra de ocupação ao Iraque. Neste ínterim,
surgem movimentos políticos chamados de “Nova Esquerda” (New Left) ou ativismo
social. Nos EUA a NE debuta vinculada aos protestos contra a Guerra do Vietnã e
pelos direitos civis. Como um dos inspiradores do movimento estava Lennon que,
além do fim da Guerra, atuava pela derrota de Richard Nixon nas eleições de
1972, responsabilizando-o pela morte de 50 mil jovens como carne de canhão no
Vietnã.
Neste contexto, a “velha” obra musical dos Beatles para
Lennon era extremamente limitada politicamente e opressiva. Em uma entrevista
afirmou: “A consciência contínua do que estava acontecendo me fazia sentir
vergonha de não dizer nada. Desde já, os EUA aumentavam a pressão,
especialmente porque a guerra acontecia lá... Os 'Fab Four' (Quatro Fabulosos)
chegaram ao auge cantando sobre drogas e sexo...". E concluía: "o
furacão do mundo dos Beatles cada vez mais me afastava da realidade" (The
Lost John Lennon. Interview, "Power to the People", Tariq Ali, 1971).
Em agosto de 1971, Lennon e sua companheira Yoko Ono,
militante do Partido Comunista e hostilizada pelos outros membros
pequeno-burgueses domesticados da banda, mudaram-se para Nova Iorque, dando
início a uma nova fase em sua produção artístico-política, abraçando
abertamente o ativismo político. Entram em contato com os militantes
antiguerra, Terry Rubin, Abbie Hoffman e apóiam formalmente o "Programa
dos 10 pontos" do Partido dos Panteras Negras. Fazem inúmeras declarações
e discursos pela libertação do poeta e militante pacifista John Sinclair (preso
por estar com dois cigarros de maconha), contra o massacre de presos na
"Rebelião de Attica" por parte do aparato de repressão do Estado
ianque. Envolveu-se, por pressão dos fatos, com o Partido Comunista americano,
ao promover uma campanha pela liberdade da militante Angela Davis, acusada de
participar do sequestro e assassinato do juiz racista Harold Haley. Não demorou
muito, o governo Nixon colocou seu aparato de agentes secretos do FBI para
espionar a vida de John Lennon.
A POLÍTICA MARXISTA APARECE EM SUA OBRA
O primeiro álbum solo de John Lennon, de 1970, espelha com muita precisão o que se passava a seu redor. Compõe "God", uma canção que marca o rompimento com a era Beatles: "Eu não acredito em Jesus/... Eu não acredito em Beatles/Apenas acredito em mim/Yoko e eu/E essa é a realidade/O sonho acabou/O que posso dizer?". Dois anos depois, lança o seu terceiro trabalho. Trata-se de "Some Time in the New York City", obra pela qual navega por vários temas políticos, pondo às ruas uma campanha pela liberdade de Sinclair e Angela Davis, além da denúncia do massacre do presídio de Attica? "John Sinclair", "Angela" e "Attica State", respectivamente. Em "Sunday Blood Sunday" aborda ainda o assassinato de manifestantes na Irlanda do Norte por parte da polícia a serviço da Grã-Bretanha em janeiro de 1972.
"Happy Xmas (War Is Over)" é uma canção escrita
por John Lennon e Yoko Ono em 1971. Ostensivamente uma canção de protesto sobre
a Guerra do Vietnã, foi sendo prostituída como uma simples "canção de
natal" para impulsionar o consumo capitalista. A letra é baseada em uma
campanha no final de 1969 por Lennon e Ono, que alugaram outdoors e cartazes em
onze cidades ao redor do mundo que dizia: "War Is Over (If You Want It)
Feliz Natal de John e Yoko!". Em 1971, os Estados Unidos estavam
profundamente enraizadas na impopular Guerra do Vietnã. A linha "A guerra
acabou, se quiser, a guerra acaba, agora!", foi levado diretamente a
partir do outdoors.
Muitos atribuem esta guinada de Lennon à influência de sua
mulher, Yoko Ono, militante stalinista, quem o estimulara a ter uma preocupação
mais de cunho social e pacifista empenhando-se em torná-lo mais criativo em seu
talento artístico, atuando como vanguarda de seu tempo a serviço da política de
"paz mundial" preconizada por Moscou. Tudo isto teria irritado os
empresários dos Beatles, ávidos por mantê-los prisioneiros da indústria
cultural de massas.
O reacionarismo belicoso do governo Nixon estava preocupado:
"Ele [Lennon] por si só não era um problema, mas ao apoiar gente que
queríamos colocar na cadeia, ele passa a representar um problema" (do
filme EUA vs John Lennon, dirigido por David Leaf & John Scheinfeld, 2006).
O ESTIGMA DE JOHN LENNON: MUDANÇA SEM DESTRUIR O VELHO
REGIME CAPITALISTA
Apesar de toda a sua rebeldia, Lennon não propunha uma nova
sociedade baseada na expropriação dos capitalistas, seguindo a linha de
colaboração de classes do PC. Em "Imagine", por exemplo, que muitos
afirmam ser apologia ao comunismo, ele prega muito mais uma sociedade de tipo
liberal, como aquela idealizada por Robespierre em sua face mais radical após a
tomada do poder pela burguesia frente ao Estado absolutista na Revolução Francesa.
Diz a canção "Acima de nós apenas o céu.../ Imagine não existir posses/Me
pergunto se você consegue/Sem necessidade de ganância ou fome/Uma irmandade de
homens". O "ideal revolucionário" de Lennon está sintetizado na
música "Revolution": "Todos nós queremos mudar o mundo/Você me
diz que isso é uma evolução/Bem, você sabe/Todos nós queremos mudar o mundo/Mas
quando você fala em destruição,/Você já sabe que não pode contar comigo?".
Descarta a possibilidade de uma revolução social e política para derrubar o
modo de produção capitalista.
Enquanto durou a efervescência da Guerra do Vietnã, Lennon
esteve na ativa. Depois restringiu-se praticamente ao anonimato político, para
dedicar-se como pai de família por pressão direta de uma Yoko
"quebrada" preocupada exclusivamente em um projeto pessoal. O
"sonho acabou". Voltou à cena artística cinco anos após o fim da
guerra. Logo em seguida, ao descer de sua limusine no luxuoso prédio Dakota, o
multimilionário Lennon era assassinado. Autointulava-se na música como um
"Working Class Hero" ("herói da classe operária"), mas
morreu refém da lógica de um "mundo melhor" sem a imperiosa
necessidade da revolução socialista. Seu último álbum fazia muito sucesso e o
semifascista presidente Ronald Reagan preocupava- se com a possibilidade de um
novo ascenso pacifista nos EUA, estávamos em plena "guerra nas
estrelas", um audacioso plano bélico contra a URSS. Lennon poderia
representar uma ameaça ao consenso ianque em oposição ao comunismo soviético,
por isso deveria ser silenciado pelas mãos de um demente "útil",
monitorado pelo FBI.
Quando a arte não está plenamente a serviço da classe
operária como obra de sua libertação do jugo burguês, ela estará
inevitavelmente sendo usada como elemento de opressão e alienação do
proletariado. John Lennon, neste sentido, foi no máximo um pacifista radical,
um agitador cultural em conexão com sua época de "utopias" todas elas
traídas pela política oficial de colaboração de classes do stalinismo.