quinta-feira, 16 de março de 2023

50 ANOS DO ASSASSINATO DE ALEXANDRE VANNUCHI: HONRAR SEU COMBATE À DITADURA MILITAR SEGUINDO NA LUTA REVOLUCIONÁRIA CONTRA A FARSA DA DEMOCRACIA DOS RICOS!

Durante esta semana ocorre uma série de homenagens para lembrar os 50 anos do assassinato de Alexandre Vannuchi Leme, morto pela ditadura militar em meados de março de 1973. Alexandre cursava Geologia na USP e militava na Ação Libertadora Nacional (ALN), organização política fundada por Carlos Marighella, que rompera com o PCB defendendo a luta armada enquanto o Partidão fazia oposição domesticada ao regime militar, sempre a reboque da chamada burguesia “progressista”. Ele foi preso por agentes do II Exército, pertencentes ao DOI-CODI e torturado durante dois dias até não resistir e morrer. Na venal Folha de S. Paulo, uma notícia fantasiosa e cínica trazia a seguinte manchete: “Terrorista morre atropelado no Brás”. Segundo a matéria, Alexandre morreu atropelado por um caminhão no cruzamento da rua Bresser com a avenida Celso Garcia. Com variações, outros jornalões deram a mesma versão oficial da ditadura assassina. Porém, os militantes do movimento estudantil e as organizações políticas de esquerda da época sabiam que ele havia sido trucidado pela ditadura e denunciaram “Mataram o Minhoca”, referência ao apelido carinhoso de Vannuchi entre seus camaradas de luta. É fundamental reivindicarmos sua decidida batalha política e ideológica pela derrubada da ditadura militar como parte do combate de classe para liquidar a ditadura do capital, seja ela sob a forma de “democracia” ou “ditadura” e abrir caminho para o comunismo!

O governo Lula sequer cogita propor revisar a Lei de Anistia, pois significaria quebrar o acordo firmado com os militares desde a crise do regime militar nos estertores da década de 70. A denominada “transição” da ditadura para o regime “democrático” burguês, elaborada pelo general Golbery tinha como estratégia manter intacta a estrutura e os métodos de repressão política como monopólio do Estado capitalista. 

A “Lei de Anistia”, promulgada em 1979, inocentou os carrascos dos militantes de esquerda, cujo “vespeiro” a burguesia e seus gerentes e ex-gerentes de farda ou civis não querem abrir, pois traria à tona a imensa podridão do regime capitalista, seus serviçais militares e civis. Todos os documentos relativos a este período estão guardados a sete chaves por exigência das FFAA como ultrassecretos. 

É preciso aproveitar as homenagens a Alexandre Vannuchi e denunciar em viva voz que o governo Lula é apenas o atual gestor do Estado burguês, um comitê dos negócios comuns da mesma classe reacionária que promoveu o golpe de 1964 e patrocinou o regime sanguinário. 

Sob o capitalismo, seja qual face expresse, o Estado não perde seu caráter ditatorial de classe. Portanto, Lula não pode e nunca irá voltar-se contra os senhores aos quais servem tão dedicadamente. Hoje, sob os signos da democracia, os reformistas armados de ontem administram bilionários negócios em favor de grupos econômicos nacionais e internacionais. 

Os ex-stalinistas do PCdoB atualmente officies-boys da burguesia, por exemplo, engalfinham-se junto aos partidos tradicionais na divisão do botim estatal e dos seus negócios, defendendo ardentemente todas as instituições do Estado capitalista, a mesma máquina assassina que seus ex-militantes da Guerrilha do Araguaia combateram. 

Essa é, sem dúvida, a maior ofensa à memória dos que tombaram na luta contra a ditadura militar. Um verdadeiro crime político a ser denunciado energicamente pelos revolucionários.

Alexandre Vannuchi se aproximou da ALN porque era contrário a orientação burguesa do PCB e sua capitulação frente ao golpe militar. Esta política provocou uma série de rupturas políticas nas fileiras do Partidão. A paralisia do stalinismo oficial gerou um leque de organizações políticas (ALN, PCBR, VPR, VAR-Palmares), que expressando uma resposta desesperada da pequena-burguesia radicalizada, buscaram o caminho do foquismo e da luta guerrilheira para combater a ditadura militar. 
Reivindicando praticamente o mesmo programa etapista e stalinista do PCB, mas criticando sua tática de integração sindical e parlamentar ao regime burguês e, depois, a ação conjunta com a própria oposição civil à ditadura militar, essas organizações políticas viraram as costas para o trabalho sistemático de organização da classe operária nas fábricas e seguiram o caminho da luta armada praticada por pequenos focos de militantes, tanto através da guerrilha urbana, como por meio da guerrilha rural. 

Não por acaso, a esmagadora maioria dessas organizações estavam dizimadas uma década após o golpe de 64. Essa orientação foi equivocada na medida que setores da classe operária e do movimento estudantil ainda resistiam à ditadura militar até1968. São exemplos desse combate das massas, a greve dos trabalhadores metalúrgicos de Contagem e Osasco, inclusive com ocupação de fábrica e a manifestação do 1º de Maio em São Paulo. 
Em oposição ao oportunismo do PCB e ao foquismo pequeno-burguês de suas dissidências, a posição correta dos marxistas revolucionários diante do golpe militar deveria ser a defesa da formação de uma frente única proletária abarcando todos os agrupamentos operários revolucionários, capaz de tornar-se a espinha dorsal de um poderoso movimento de massas para a reconquista das liberdades sindicais, operárias e democráticas (partidos, sindicatos, imprensa, direito de reunião) estranguladas pela ditadura militar. 

Somente a retomada da iniciativa política da classe operária em torno da defesa de suas reivindicações políticas e econômicas e por meio de comitês de frente única, que unisse o trabalho revolucionário legal e ilegal, poderia conseqüentemente, inclusive, arrastar para a luta contra o regime de exceção amplos setores da pequena burguesia radicalizada, projetando as lutas operárias em curso, através da construção de comissões de empresas e de oposições sindicais para desbancar os agentes do capital da direção do movimento operário.

Apesar das divergências com o programa defendido pela ALN, desde a LBI rendemos nossa sincera homenagem a Alexandre Vannuchi que lutou contra o regime dos gorilas sendo assassinado devido ao combate que fazia contra a dominação do país pelo imperialismo e seus títeres de farda. 

Desgraçadamente, uma característica fundamental da ALN foi a negação da teoria leninista sobre o papel do partido da vanguarda do proletariado no processo revolucionário. Sob a influência do guevarismo e da experiência da revolução cubana, adotou como lema “a ação faz a vanguarda”, partindo para a luta armada. O norte estratégico da ALN era a restauração da democracia burguesa e a criação de um governo que realizasse algumas reformas sociais, como a reforma agrária, e assumisse uma posição de independência frente ao imperialismo. 

Como já havia demonstrado Trotsky nas Teses da Revolução Permanente e, mais tarde, Lênin nas suas famosas Teses de Abril, essas tarefas da revolução democrática já não podem mais ser realizadas por nenhum setor dito “progressista” da burguesia nacional dos países coloniais e semicoloniais, visto que nesses países a burguesia nativa tem seus interesses diretamente vinculados ao domínio do capital imperialista. Portanto, só a revolução proletária e a Ditadura do Proletariado podem assegurar a realização das tarefas democráticas e de libertação nacional, abrindo caminho diretamente para o socialismo e não para uma etapa de desenvolvimento capitalista independente como defendia o stalinismo, visão com a qual, apesar da forma radicalizada da luta armada, a ALN não rompeu.

Mesmo com todas essas limitações políticas e programáticas, o incontestável heroísmo na luta contra a ditadura militar, fazem de Alexandre Vannuchi um herói dos estudantes brasileiros e de sua vanguarda comunista. Nós da LBI, que estamos firmes no combate por desmascarar a democracia dos ricos como uma face da ditadura do capital e dedicamos o melhor de suas forças e energias à construção do partido revolucionário, nos espelhamos no exemplo inquebrantável de Alexandre Vanucchi Leme que, apesar dos erros programáticos, não traiu a causa que defendia, morreu resistindo as torturas da ditadura militar e pagou com a sua própria vida na luta sem tréguas contra os gorilas genocidas!