sábado, 19 de abril de 2014


Gabo até a morte na defesa de Cuba... junto a Fidel nos acertos e também nos graves erros cometidos

A morte do escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez, no último dia 17/04, comocionou não só o mundo literário, mas também o conjunto da intelectualidade política mundial. Gabo, como era chamado pelos amigos, teve “gravado” na infância as histórias contadas pelo seu avô, o coronel Nicolás Marquez, que participou da guerra civil colombiana. Esta “influência” talvez tenha determinado os primeiros passos literários de Gabo, que notadamente admirava o autor tcheco Franz Kafka, em especial sua obra “A Metamorfose”. Nesta simbiose, dos contos mágicos de seu avô e no estudo do melhor acervo literário mundial, surge o escritor genial Gabo, que lançando o livro “Cem anos de solidão”, em 1967, crava seu nome no panteão dos mestres ao criar um novo estilo literário, o chamado “Realismo Mágico”. Mais do que uma “nova escola”, o Realismo Mágico representou na arte de escrever a simbologia da formação de uma nação, muito mais do que a história de só um país, o retrato mítico da América Latina, com todas suas agruras reais e sua magia peculiar fruto do “cruzamento” de várias civilizações.

Além de grande escritor, Gabo era um prodigioso jornalista. Foi correspondente internacional duas vezes: a primeira em 1958, na Europa, e a segunda em 1961, em Nova York, onde foi perseguido pela CIA por suas críticas a exilados cubanos (gusanos) e suas ligações com Fidel Castro. Na época ele trabalhava em nome da agência de notícias cubana Prensa Latina e como sua situação ficou insustentável nos EUA se mudou para o México, onde passou boa parte da vida. Neste interregno escreveu: Cem Anos de Solidão, O Amor nos Tempos do Cólera, Crônica de uma morte anunciada e tantos outros livros que se tornaram referência em todo mundo. Publicado em 1967, Cem Anos de Solidão é considerado o mais importante da carreira de García Márquez e também a segunda obra mais relevante de toda a literatura hispânica, ficando atrás apenas de Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes. Em 1982, García Márquez foi escolhido o vencedor do Nobel de Literatura. Foi o segundo latino-americano a receber o prêmio, tendo sido o chileno Pablo Neruda o primeiro. Em 1971, em meio ao governo de Allende (1970-1973), respondendo a uma pergunta de um jornalista nova-iorquino, declarou García Márquez: “Eu tenho a esperança de que toda a América Latina seja socialista, mas agora as pessoas estão muito iludidas com um socialismo pacífico, dentro da constituição. Tudo isso me parece muito bonito eleitoralmente, mas creio que é totalmente utópico. O Chile está condenado a um processo violento muito dramático. Mesmo que a Frente Popular vá avançando – com inteligência e muito tato, a passos bastante rápidos e firmes – chegará um momento em que encontrará um muro que lhe opõe seriamente”. Nesta altura Gabo já prognosticava o desenlace trágico, para a classe operária, da experiência política chilena da Frente Popular.

Amigo pessoal de Fidel, Gabo se manteve até a morte na defesa de Cuba... junto a Castro nos acertos e também graves erros cometidos. Alimentando ilusões no governo do Partido Democrata de Bill Clinton, em 1998 Fidel Castro pediu que Gabo se encontrasse com o presidente ianque para entregar-lhe um dossiê organizado pelo serviço de inteligência cubana que atuava secretamente nos EUA em que denunciava a ação de terroristas na Flórida. Longe de combater os agentes da reação interna, Clinton ordenou que a CIA e o FBI montassem uma operação de “guerra” contra Cuba, resultando na prisão dos chamados “5 Heróis cubanos”. Já em 2003, quando a “intelectualidade progressista” mundial, como José Saramago, criticou o Estado operário cubano pelos fuzilamentos dos sabotadores financiados pela CIA, o escritor colombiano se manteve firme (mesmo isolado) na defesa da Ilha. Por conta disso, o ex-amigo e depois inimigo declarado Mario Vargas Llosa lhe atacou violentamente denunciando-o como “Lacaio de Fidel”. Neste momento, Gabo soube ser firme e não somou-se ao “clamor” imperialista que em nome da democracia e dos supostos “direitos humanos” rechaçava o direito a que o Estado Operário se defendesse contra espiões e sabotadores contrarrevolucionários.

García Márquez também foi criador da Fundação do Novo Cinema Latino-Americano (FNCL), em Cuba, cuja missão era “unificar” a nova produção cinematográfica da região. Neste ano, a Escola Internacional de Cinema e Televisão (EICTV) completa 25 anos com 744 graduados, procedentes de 18 países da Ásia, África e América Latina. Um dos filhos de Gabo, Rodrigo Garcia, é diretor de cinema dedicando-se atualmente à criação de um enfoque crítico latino-americano sobre a chamada “sétima arte”.

A obra literária e a trajetória pessoal de Gabo ultrapassam historicamente os acertos e erros cometidos por este grande escritor latino-americano. Sua morte como uma crônica anunciada se dispersa em seus livros que já conquistaram a imortalidade física. Magia e realidade agora se fundem plenamente no espírito de um povo que resiste à deculturação de suas raízes. As lágrimas de crocodilo dos chacais imperialistas, como Clinton e Obama, não macularão o combate corajoso dado por Gabo por seus ideais socialistas e pela libertação de um povo continental. Nós da LBI prestamos nosso modesto tributo ao companheiro Gabo que soube honrar com dignidade cada minuto de sua vida na defesa de nosso povo oprimido, muito consciente de que a arte tem sua função histórica e revolucionária, assim como afirmou Trotsky: “Consideramos que a tarefa suprema da arte em nossa época é participar consciente e ativamente da preparação da revolução. No entanto, o artista só pode servir à luta emancipadora quando está compenetrado subjetivamente de seu conteúdo social e individual, quando faz passar por seus nervos o sentido e o drama dessa luta e quando procura livremente dar uma encarnação artística a seu mundo interior”. (Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente, 1938).