Gabo até a morte na
defesa de Cuba... junto a Fidel nos acertos e também nos graves erros cometidos
A morte do escritor colombiano
Gabriel Garcia Marquez, no último dia 17/04, comocionou não só o mundo
literário, mas também o conjunto da intelectualidade política mundial. Gabo,
como era chamado pelos amigos, teve “gravado” na infância as histórias contadas
pelo seu avô, o coronel Nicolás Marquez, que participou da guerra civil
colombiana. Esta “influência” talvez tenha determinado os primeiros passos
literários de Gabo, que notadamente admirava o autor tcheco Franz Kafka, em
especial sua obra “A Metamorfose”. Nesta simbiose, dos contos mágicos de seu
avô e no estudo do melhor acervo literário mundial, surge o escritor genial
Gabo, que lançando o livro “Cem anos de solidão”, em 1967, crava seu nome no
panteão dos mestres ao criar um novo estilo literário, o chamado “Realismo
Mágico”. Mais do que uma “nova escola”, o Realismo Mágico representou na arte
de escrever a simbologia da formação de uma nação, muito mais do que a história
de só um país, o retrato mítico da América Latina, com todas suas agruras reais
e sua magia peculiar fruto do “cruzamento” de várias civilizações.
Além de grande escritor,
Gabo era um prodigioso jornalista. Foi correspondente internacional duas vezes:
a primeira em 1958, na Europa, e a segunda em 1961, em Nova York, onde foi perseguido
pela CIA por suas críticas a exilados cubanos (gusanos) e suas ligações com
Fidel Castro. Na época ele trabalhava em nome da agência de notícias cubana
Prensa Latina e como sua situação ficou insustentável nos EUA se mudou para o
México, onde passou boa parte da vida. Neste interregno escreveu: Cem Anos de
Solidão, O Amor nos Tempos do Cólera, Crônica de uma morte anunciada e tantos
outros livros que se tornaram referência em todo mundo. Publicado em 1967, Cem
Anos de Solidão é considerado o mais importante da carreira de García Márquez e
também a segunda obra mais relevante de toda a literatura hispânica, ficando
atrás apenas de Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes. Em 1982,
García Márquez foi escolhido o vencedor do Nobel de Literatura. Foi o segundo
latino-americano a receber o prêmio, tendo sido o chileno Pablo Neruda o
primeiro. Em 1971, em meio ao governo de Allende (1970-1973), respondendo a uma
pergunta de um jornalista nova-iorquino, declarou García Márquez: “Eu tenho a
esperança de que toda a América Latina seja socialista, mas agora as pessoas
estão muito iludidas com um socialismo pacífico, dentro da constituição. Tudo
isso me parece muito bonito eleitoralmente, mas creio que é totalmente utópico.
O Chile está condenado a um processo violento muito dramático. Mesmo que a
Frente Popular vá avançando – com inteligência e muito tato, a passos bastante
rápidos e firmes – chegará um momento em que encontrará um muro que lhe opõe
seriamente”. Nesta altura Gabo já prognosticava o desenlace trágico, para a
classe operária, da experiência política chilena da Frente Popular.
Amigo pessoal de Fidel,
Gabo se manteve até a morte na defesa de Cuba... junto a Castro nos acertos e
também graves erros cometidos. Alimentando ilusões no governo do Partido
Democrata de Bill Clinton, em 1998 Fidel Castro pediu que Gabo se encontrasse
com o presidente ianque para entregar-lhe um dossiê organizado pelo serviço de
inteligência cubana que atuava secretamente nos EUA em que denunciava a ação de
terroristas na Flórida. Longe de combater os agentes da reação interna, Clinton
ordenou que a CIA e o FBI montassem uma operação de “guerra” contra Cuba,
resultando na prisão dos chamados “5 Heróis cubanos”. Já em 2003, quando a “intelectualidade
progressista” mundial, como José Saramago, criticou o Estado operário cubano
pelos fuzilamentos dos sabotadores financiados pela CIA, o escritor colombiano
se manteve firme (mesmo isolado) na defesa da Ilha. Por conta disso, o ex-amigo
e depois inimigo declarado Mario Vargas Llosa lhe atacou violentamente
denunciando-o como “Lacaio de Fidel”. Neste momento, Gabo soube ser firme e não
somou-se ao “clamor” imperialista que em nome da democracia e dos supostos “direitos
humanos” rechaçava o direito a que o Estado Operário se defendesse contra
espiões e sabotadores contrarrevolucionários.
García Márquez também
foi criador da Fundação do Novo Cinema Latino-Americano (FNCL), em Cuba, cuja
missão era “unificar” a nova produção cinematográfica da região. Neste ano, a
Escola Internacional de Cinema e Televisão (EICTV) completa 25 anos com 744
graduados, procedentes de 18 países da Ásia, África e América Latina. Um dos
filhos de Gabo, Rodrigo Garcia, é diretor de cinema dedicando-se atualmente à
criação de um enfoque crítico latino-americano sobre a chamada “sétima arte”.
A obra literária e a
trajetória pessoal de Gabo ultrapassam historicamente os acertos e erros cometidos
por este grande escritor latino-americano. Sua morte como uma crônica anunciada
se dispersa em seus livros que já conquistaram a imortalidade física. Magia e
realidade agora se fundem plenamente no espírito de um povo que resiste à
deculturação de suas raízes. As lágrimas de crocodilo dos chacais imperialistas,
como Clinton e Obama, não macularão o combate corajoso dado por Gabo por seus
ideais socialistas e pela libertação de um povo continental. Nós da LBI prestamos
nosso modesto tributo ao companheiro Gabo que soube honrar com dignidade cada
minuto de sua vida na defesa de nosso povo oprimido, muito consciente de que a
arte tem sua função histórica e revolucionária, assim como afirmou Trotsky: “Consideramos
que a tarefa suprema da arte em nossa época é participar consciente e
ativamente da preparação da revolução. No entanto, o artista só pode servir à
luta emancipadora quando está compenetrado subjetivamente de seu conteúdo
social e individual, quando faz passar por seus nervos o sentido e o drama
dessa luta e quando procura livremente dar uma encarnação artística a seu mundo
interior”. (Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente, 1938).