Afinal de contas é
Pasadena a “fonte” da “crise financeira” na Petrobras?
A maior empresa estatal
brasileira, a Petrobras, entrou com força no centro do cenário político
nacional, pautando os debates da disputa presidencial e ocupando as atenções do
parlamento brasileiro. Hoje (15/04) a presidente da estatal, Graça Foster,
esteve por cerca de seis horas no Senado Federal dando explicações sobre a
desastrosa compra da refinaria de Pasadena nos EUA, que resultou em prejuízo de
pelo menos 530 milhões de Dólares para a empresa, segundo as próprias palavras
de sua presidente. Porém, mesmo que dobrássemos o valor deste grande “furo”,
chegando a um bilhão de Dólares, ainda assim seria muito pouco para provocar
uma crise financeira em uma empresa que tem mais de cinquenta bilhões de
Dólares em caixa e patrimônio físico de mais de 350 bilhões de Reais. Mas o
mercado de ações “precificou” a suposta crise da estatal e desvalorizou suas
ações em mais de 50% só nos últimos dois anos, gerando um verdadeiro “carnaval”
fora de época entre os neoliberais que defendem “novos rumos” para a empresa.
Mais uma vez a esquerda revisionista (PSOL, PSTU etc..) entra de “carona” no
vagão da oposição conservadora reforçando o coro por mudanças na Petrobras...
Afinal de contas qual é o motivo real, mais além da especulação crônica, que
levou os rentistas internacionais a depreciar fortemente as ações da estatal na bolsa de Wall Street?
Em primeiro lugar é
necessário deixar absolutamente cristalino que a Petrobras apesar de pertencer
juridicamente à esfera do controle administrativo estatal, o estado brasileiro
possui 51% de suas ações detendo assim o poder de mando na empresa, segue uma
orientação empresarial de mercado, determinada por seus “investidores” privados
minoritários. Esta “vocação” de mercado da estatal foi acentuada ainda mais com
a oferta de suas ações preferenciais na bolsa de Nova York em 2000 por
iniciativa do governo FHC. Sob esta ótica encontramos as razões que levaram a
diretoria da empresa a comprar com um valor muito elevado uma refinaria
desativada no Texas em 2006, ao invés de investir na construção de novas
refinarias no Brasil, que por sinal estão a compasso de “tartaruga” desde a
inauguração da última no final da década de 70... A Petrobras tem investidos a
maioria de seus recursos na exploração do chamado “pré-sal”, anunciado
tolamente desde a “esquerda até a direita” como a verdadeira redenção nacional.
Não é propriamente uma guinada em sua linha empresarial, já que nos últimos
vinte e cinco anos a extração “offshore” (marítima) de petróleo tem sido uma
prioridade absoluta para a Petrobras, consumindo a maior parte de seus
investimentos.
É bem verdade que a
descoberta de novas jazidas marítimas, com grande potencial de exploração de
gás natural e petróleo, estimulou objetivamente a Petrobras a realizar
vultuosos investimentos na locação e construção de plataformas de extração e
navios tanques para o escoamento da produção. Com a quebra do monopólio
estatal, a Petrobras tem se associado às grandes transnacionais do setor
energético para “compartilhar” a exploração de novos campos, reduzindo drasticamente
sua taxa de lucratividade na venda do óleo cru, no mercado internacional de commodities
minerais. Mas é exatamente nesta questão que o “ponto” saiu fora da “reta”, ou
seja, a oferta mundial de um petróleo bem mais barato que o “offshore”, vindo
das reservas do rio Orinoco na Venezuela ou do gás de xisto na América do
Norte, deixaram o custo de extração do “pré-sal” muito “salgado”, se comparado
a outros valores de produção internacional. Em resumo, não basta ter descoberto
imensas reservas de petróleo no fundo do mar para transformar a Petrobras na
maior “empresa de energia do mundo”, como sonharam os “inocentes úteis” da
esquerda reformista. O anúncio das jazidas do “pré-sal” serviram em muito, no
primeiro momento, para sobrevalorizar as ações da Petrobras e de outras
empresas privadas como a OGX, no cassino da especulação no mercado bursátil,
passada a “onda” dos rentistas os preços das ações voltaram ao seu normal “desvalorizando”
em 50% a Petrobras e falindo a ilusão do “barão Eike”.
A “utilização política”
da Petrobras pelo PT tem sido um dos motes da oposição burguesa para tentar
explicar a queda do valor de mercado da empresa. Não temos a menor dúvida que a
indicação do conjunto da diretoria da Petrobras pelo governo de turno corresponde
ao estabelecimento de um verdadeiro “balcão de negócios” no interior da
estatal, favorecendo a corrupção material da oligarquia burguesa dominante e
seus “afilhados”. Mas este “vetor” corrupção tampouco é monopólio do PT, assim
como existiu em todas as gestões da Petrobras, obviamente com maior ênfase na
era FHC, não sendo a principal fonte do atual impasse financeiro da empresa. As
famosas “comissões” cobradas pelos diretores da estatal nas relações comerciais
com outras empresas e depois repartidas nos cofres dos respectivos “padrinhos”
políticos, já fazem parte “estrutural” do mecanismo da engrenagem do estado
burguês, atingindo todas as empresas “públicas” e o conjunto das instâncias
oficiais dos governos.
A atual “crise” da
Petrobras, se assim podemos definir o alto grau de seu endividamento e a
recente venda de ativos no exterior, sem levar em consideração a queda no valor
de suas ações, não é produto da desastrada compra de Pasadena e tampouco da corrupção
endógena nos bastidores de sua diretoria. É sim o reflexo direto do “modelo”
orgânico da empresa que prioriza a extração do óleo cru, e sua respectiva
comercialização “in natura” para os trustes internacionais, em detrimento de um
projeto nacional industrial petroquímico que agregue valor a commoditie
mineral. Enquanto as gigantes transnacionais de energia, como Exxon, BP, Total
etc... investem seus recursos em toda cadeia produtiva do petróleo, chegando na
“ponta final” da química fina, passando pelo refino e produção de todos os
derivados, a Petrobras prioriza o “fazendão” do óleo, fornecendo a commoditie
mineral a preço “raso”, apesar do elevado custo da extração em profundidade.
Como praticamente não existe capacidade de refino no país, a estatal é obrigada
a vender sua produção de óleo aos trustes para depois recomprá-la na forma de
derivados químicos e combustíveis refinados a um preço pelo menos de dez a
vinte vezes maior.