terça-feira, 15 de abril de 2014


Afinal de contas é Pasadena a “fonte” da “crise financeira” na Petrobras?

A maior empresa estatal brasileira, a Petrobras, entrou com força no centro do cenário político nacional, pautando os debates da disputa presidencial e ocupando as atenções do parlamento brasileiro. Hoje (15/04) a presidente da estatal, Graça Foster, esteve por cerca de seis horas no Senado Federal dando explicações sobre a desastrosa compra da refinaria de Pasadena nos EUA, que resultou em prejuízo de pelo menos 530 milhões de Dólares para a empresa, segundo as próprias palavras de sua presidente. Porém, mesmo que dobrássemos o valor deste grande “furo”, chegando a um bilhão de Dólares, ainda assim seria muito pouco para provocar uma crise financeira em uma empresa que tem mais de cinquenta bilhões de Dólares em caixa e patrimônio físico de mais de 350 bilhões de Reais. Mas o mercado de ações “precificou” a suposta crise da estatal e desvalorizou suas ações em mais de 50% só nos últimos dois anos, gerando um verdadeiro “carnaval” fora de época entre os neoliberais que defendem “novos rumos” para a empresa. Mais uma vez a esquerda revisionista (PSOL, PSTU etc..) entra de “carona” no vagão da oposição conservadora reforçando o coro por mudanças na Petrobras... Afinal de contas qual é o motivo real, mais além da especulação crônica, que levou os rentistas internacionais a depreciar fortemente as ações da estatal na bolsa de Wall Street?

Em primeiro lugar é necessário deixar absolutamente cristalino que a Petrobras apesar de pertencer juridicamente à esfera do controle administrativo estatal, o estado brasileiro possui 51% de suas ações detendo assim o poder de mando na empresa, segue uma orientação empresarial de mercado, determinada por seus “investidores” privados minoritários. Esta “vocação” de mercado da estatal foi acentuada ainda mais com a oferta de suas ações preferenciais na bolsa de Nova York em 2000 por iniciativa do governo FHC. Sob esta ótica encontramos as razões que levaram a diretoria da empresa a comprar com um valor muito elevado uma refinaria desativada no Texas em 2006, ao invés de investir na construção de novas refinarias no Brasil, que por sinal estão a compasso de “tartaruga” desde a inauguração da última no final da década de 70... A Petrobras tem investidos a maioria de seus recursos na exploração do chamado “pré-sal”, anunciado tolamente desde a “esquerda até a direita” como a verdadeira redenção nacional. Não é propriamente uma guinada em sua linha empresarial, já que nos últimos vinte e cinco anos a extração “offshore” (marítima) de petróleo tem sido uma prioridade absoluta para a Petrobras, consumindo a maior parte de seus investimentos.

É bem verdade que a descoberta de novas jazidas marítimas, com grande potencial de exploração de gás natural e petróleo, estimulou objetivamente a Petrobras a realizar vultuosos investimentos na locação e construção de plataformas de extração e navios tanques para o escoamento da produção. Com a quebra do monopólio estatal, a Petrobras tem se associado às grandes transnacionais do setor energético para “compartilhar” a exploração de novos campos, reduzindo drasticamente sua taxa de lucratividade na venda do óleo cru, no mercado internacional de commodities minerais. Mas é exatamente nesta questão que o “ponto” saiu fora da “reta”, ou seja, a oferta mundial de um petróleo bem mais barato que o “offshore”, vindo das reservas do rio Orinoco na Venezuela ou do gás de xisto na América do Norte, deixaram o custo de extração do “pré-sal” muito “salgado”, se comparado a outros valores de produção internacional. Em resumo, não basta ter descoberto imensas reservas de petróleo no fundo do mar para transformar a Petrobras na maior “empresa de energia do mundo”, como sonharam os “inocentes úteis” da esquerda reformista. O anúncio das jazidas do “pré-sal” serviram em muito, no primeiro momento, para sobrevalorizar as ações da Petrobras e de outras empresas privadas como a OGX, no cassino da especulação no mercado bursátil, passada a “onda” dos rentistas os preços das ações voltaram ao seu normal “desvalorizando” em 50% a Petrobras e falindo a ilusão do “barão Eike”.

A “utilização política” da Petrobras pelo PT tem sido um dos motes da oposição burguesa para tentar explicar a queda do valor de mercado da empresa. Não temos a menor dúvida que a indicação do conjunto da diretoria da Petrobras pelo governo de turno corresponde ao estabelecimento de um verdadeiro “balcão de negócios” no interior da estatal, favorecendo a corrupção material da oligarquia burguesa dominante e seus “afilhados”. Mas este “vetor” corrupção tampouco é monopólio do PT, assim como existiu em todas as gestões da Petrobras, obviamente com maior ênfase na era FHC, não sendo a principal fonte do atual impasse financeiro da empresa. As famosas “comissões” cobradas pelos diretores da estatal nas relações comerciais com outras empresas e depois repartidas nos cofres dos respectivos “padrinhos” políticos, já fazem parte “estrutural” do mecanismo da engrenagem do estado burguês, atingindo todas as empresas “públicas” e o conjunto das instâncias oficiais dos governos.

A atual “crise” da Petrobras, se assim podemos definir o alto grau de seu endividamento e a recente venda de ativos no exterior, sem levar em consideração a queda no valor de suas ações, não é produto da desastrada compra de Pasadena e tampouco da corrupção endógena nos bastidores de sua diretoria. É sim o reflexo direto do “modelo” orgânico da empresa que prioriza a extração do óleo cru, e sua respectiva comercialização “in natura” para os trustes internacionais, em detrimento de um projeto nacional industrial petroquímico que agregue valor a commoditie mineral. Enquanto as gigantes transnacionais de energia, como Exxon, BP, Total etc... investem seus recursos em toda cadeia produtiva do petróleo, chegando na “ponta final” da química fina, passando pelo refino e produção de todos os derivados, a Petrobras prioriza o “fazendão” do óleo, fornecendo a commoditie mineral a preço “raso”, apesar do elevado custo da extração em profundidade. Como praticamente não existe capacidade de refino no país, a estatal é obrigada a vender sua produção de óleo aos trustes para depois recomprá-la na forma de derivados químicos e combustíveis refinados a um preço pelo menos de dez a vinte vezes maior.

Para se ter uma pequena noção da política de completa subordinação da diretoria da Petrobras em relação às transnacionais imperialistas, podemos citar a rejeição feita da proposta de parceria venezuelana, que previa o refino do petróleo trazido do Orinoco em uma mega unidade industrial no estado de Pernambuco. O petróleo venezuelano, transportado em um oleoduto continental a ser construído pelo governo Chávez, teria um custo quinze vezes menor do que o “pré-sal”, além de implantar no Brasil o maior e mais moderno polo petroquímico das Américas. Por pressão das “gigantes” imperialistas a Petrobras rompeu a minuta inicial firmada com a PDVSA, o que obrigou o governo venezuelano a sair do projeto “Abreu Lima”, o resultado foi o atraso na implantação da refinaria em Pernambuco e obviamente a drástica redução da capacidade de sua planta industrial em relação ao projeto inicial. De forma nenhuma estamos defendendo o abandono da exploração do petróleo marítimo pela Petrobras (o que elevou sua condição tecnológica), ao contrário, lutamos pelo fim dos leilões e pela volta do monopólio estatal, mas devemos ter claro que abrindo mão de um projeto mais estratégico que tenha como foco a produção industrial e não simplesmente a extração “in natura” jamais romperemos a barreira da dependência internacional. Hoje o Brasil apesar da farta produção das plataformas “offshore”, que em tese nos levaria a autossuficiência, é forçado a importar desde gasolina e diesel até o nafta, gerando um enorme déficit na balança comercial do país. Não poderá haver uma genuína “soberania nacional” sem que tenhamos capacidade de produção industrial de nossos combustíveis, inserindo neste contexto a existência de um polo petroquímico com alta capacidade tecnológica. A Petrobras está na encruzilhada, ou se consolida como uma empresa mundial de ponta na prospecção e industrialização do petróleo, ou se “conforma” no papel de um simples coadjuvante fornecedor de commodities para os trustes imperialistas. Com a palavra a classe operária!