A tarefa dos
Marxistas-Leninistas na iminente guerra civil ucraniana é esmagar a reação
fascista, abrindo caminho para o retorno das Repúblicas Soviéticas!
Nos últimos dias houve
uma escalada nos enfrentamentos internos na Ucrânia, em um claro acirramento da
luta de classes no país que ganha contornos de uma guerra civil iminente. Um
mês após a Crimeia ter se unificado com a Rússia em uma decisão referendada por
98% de sua população, as principais cidades do leste ucraniano, uma região de
forte concentração operária, foram palco de verdadeiros levantes populares
contra o governo fascista e pró-imperialista imposto em Kiev. Tendo como
vanguarda de luta trabalhadores das fábricas de Donetsk e Lugansk, milhares de
operários e camponeses ocuparam as sedes das administrações locais e
parlamentos para proclamarem a instalação de “Repúblicas Populares”
independentes da Ucrânia, cujo governo central golpista é dominado pela direita
reacionária e grupos fascistas alinhados com o imperialismo ianque e a União
Europeia. As massas insurretas reivindicam a unificação com a Rússia e prometem
enfrentar a repressão planejada pelos vassalos do FMI encastelados em Kiev,
armando barricadas, tomando as armas das forças de seguranças locais e
preparando a defesa militar da região. Neste quadro pré-revolucionário, há uma
crise evidente no exército ucraniano deslocado para reprimir o povo nestas
cidades. Parte das tropas enviadas para o leste ucraniano desertou, somando-se
ao contingente russo de 100 mil homens estacionados na fronteira, enquanto
setores das FFAA comprados a peso de ouro pela CIA, cujo diretor geral John
Brennan visitou o país nestes dias, se enfrentaram com os trabalhadores que
formaram comitês de autodefesa, já deixando um saldo de vários mortos. Este
quadro político e social dramático e extremamente polarizado aponta no sentido
de uma guerra civil latente que pode tomar conta de toda a Ucrânia, exigindo
dos Marxistas-Leninistas uma posição clara através do chamado à unidade dos
trabalhadores da cidade e do campo (em particular do leste ucraniano) com o
objetivo de esmagar a reação fascista nas ruas. A experiência de luta do
proletariado ucraniano contra o nazismo durante a II Guerra Mundial
historicamente já demonstrou que a derrota do fascismo, tanto ontem como hoje,
não significa a luta pela “democracia” burguesa ou apenas o direito à separação
do leste do país se assim decidirem, mas o combate estratégico pela derrota do
imperialismo e seu governo lacaio. Esta realidade está criando as condições
para o ressurgimento de uma vanguarda comunista com suas bandeiras vermelhas
inscritas com a foice e o martelo sempre presentes nas manifestações populares.
Desde a LBI defendemos que no curso dos enfrentamentos militares é fundamental
lutar conscientemente (política e programaticamente) a fim de abrir caminho
para o retorno de Repúblicas Soviéticas no Leste do país e na própria Ucrânia
através da expropriação da burguesia restauracionista nativa com o objetivo de
tomar o poder político do Estado, combate de classe que pode ensejar toda a
região a seguir seu exemplo, rompendo com a miséria, o desemprego e a pobreza
impostos pela restauração capitalista advinda após o fim da URSS há mais de 20
anos!
Em um plano organizado
pelo Pentágono e a CIA, o governo golpista deu início nesta semana ao que
classificou de operação “antiterrorista”. Enviou soldados e tanques a locais
ocupados pelos manifestantes e ordenou que caças sobrevoassem cidades em que
grande parte da população está reivindicando um referendo para meados do mês de
maio, a fim de separar-se da Ucrânia ou para ampliar a federalização do país,
rejeitando a autoridade das forças direitistas instaladas no governo após o
golpe, claramente fascistas e neonazistas. Segundo relatos transmitidos pela
emissora Russia Today, soldados baixaram as armas durante a operação militar
contra os manifestantes, no leste da Ucrânia. Integrantes da 25ª Brigada,
enviada à base militar aérea de Kramatorsk, ocupada pelos manifestantes,
decidiram deixar as armas e trocar de lado, unindo-se às milícias de
autodefesa. Relatando um quadro iminente de guerra civil, a mídia vem
informando também que três pessoas foram mortas e outras 13 ficaram feridas em
confrontos entre os manifestantes e soldados enviados pelo Ministério do
Interior a outra base militar, na cidade de Mariupol. Além disso, a Força Aérea
Ucraniana enviou vários helicópteros e caças de combate que sobrevoaram as
cidades de Kramatorsk e Slavyansky, na região rebelde de Donetsk. Está claro
que os enfrentamentos tendem a se aprofundar e a guerra civil pode se espalhar
como um rastilho de pólvora em todo o país, colocando em confronto as massas em
luta contra a reação fascista apoiada pelo imperialismo e a UE! Note-se, dias
antes de autorizar a operação militar contra o leste ucraniano, o governo
golpista de Kiev assinou o “Acordo de Associação com a União Europeia” e um
“acordo” com o FMI baseado em um empréstimo de 18 bilhões de euros em troca de
um duríssimo pacote de medidas antipopulares: aumento de 50% no preço do gás e
da eletricidade, demissão de 20% dos funcionários estatais e incremento dos
impostos. Frente a este ataque social e militar, a tarefa colocada neste
momento é criar organismos de poder operário e popular, organizar o armamento
de todo povo para expropriar a burguesia a fim de estatizar os meios de
produção sob controle dos trabalhadores. Paralelamente, deve-se reivindicar do
governo russo e seus aliados o apoio político e militar aos trabalhadores e as
suas “Repúblicas Populares” que enfrentam as tropas enviadas por Kiev, chamando
inclusive os soldados a romper a hierarquia militar e assim unir-se aos
trabalhadores. Por seu turno, faz-se necessário um profundo trabalho de agitação
e propaganda comunista entre os ativistas para que não se limitem apenas à
reivindicação pela federalização da Ucrânia ou mesmo pela unificação com a
Rússia, bandeiras progressistas apesar de limitadas. O marco atual aponta que
as tarefas democráticas devem estar intimamente ligadas a luta pelo poder
político, como aponta o Programa de Transição elaborado por Trotsky: “A IV
Internacional defende incansavelmente os direitos democráticos dos operários e
suas conquistas sociais. Mas conduz este trabalho diário ao quadro de uma
perspectiva correta, real, ou seja, revolucionária. A medida que as velhas
reivindicações parciais mínimas das massas se chocam com as tendências
destrutivas e degradantes do capitalismo decadente - e isto ocorre a cada passo
-, a IV Internacional avança um sistema de REIVINDICAÇÕES TRANSITÓRIAS, cujo
sentido é dirigir-se, cada vez mais aberta e resolutamente, contra as próprias
bases do regime burguês”.
No campo diplomático a
Rússia, EUA e UE e o governo golpista da Ucrânia reuniram-se em Genebra neste
dia 17 de abril. Há uma enorme pressão sobre a Rússia para que assista
passivamente ao esmagamento militar das “Repúblicas Populares” que desejam a
unificação com seu território. Tanto que o ministro russo das Relações
Exteriores, Serguei Lavrov, anunciou um acordo sobre as etapas para uma suposta
“saída política” para o conflito. Ele indicou, durante uma coletiva de
imprensa, que este acordo prevê o desarmamento dos grupos armados ilegais e a
evacuação dos prédios públicos ocupados no leste do país: “A Rússia não tem
nenhum desejo de enviar suas tropas à Ucrânia”, garantiu Lavrov à imprensa.
Segundo o documento comum assinado pelo quarteto “Todos os grupos armados
ilegais deverão ser desarmados, todos os prédios ocupados deverão ser entregues
a seus proprietários legítimos, as praças e outros locais públicos nas cidades
ucranianas deverão ser liberadas.” (G1,17/4). O texto também inclui uma anistia
para aqueles que respeitarem as disposições do acordo. Entretanto, enquanto a
Rússia aparentemente recua, há novos relatos sobre o aumento da presença
militar da OTAN na região. A aliança militar imperialista planeja tomar ainda
mais medidas repressivas, enviando navios de guerra e intensificando patrulhas
aéreas na região do Mar Báltico e do Mediterrâneo. Um contratorpedeiro
estadunidense USS Donald Cook também zarpou do porto da Romênia, no Mar Morto,
dotado de um sistema de combate antimísseis. O contratorpedeiro formará parte,
junto com outros cinco navios, de um escudo antimísseis da OTAN, que entrará em
funcionamento a partir de 2015. “Nossos planos de defesa serão revistos e
fortalecidos”, disse o secretário-geral da OTAN, Anders Rasmussen, em uma
coletiva de imprensa em Bruxelas, Bélgica. Ele completou que a aliança
militarista ainda não chegou a um acordo sobre o envio de tropas para o leste
europeu, mas está pronta para intervir diretamente. Depois do acordo, Putin
declarou que todas as forças políticas da Ucrânia devem “dirigir a sua atenção
à formulação de uma nova Constituição que implique todas as forças políticas do
país, crie um Estado federal e garanta à Ucrânia o estatuto de não alinhado a
OTAN”. O recente acordo celebrado pelos EUA com a Rússia deve ser duramente
criticado. Não nos causou surpresa porque o caráter de classe do governo russo
o coloca no campo do limitado enfrentamento com o imperialismo, que pode
capitular a qualquer momento ante a ameaça de seus interesses mais imediatos,
concentrados principalmente na Crimeia e na base militar instalada na sua
península. Aparentemente, Putin e Lavrov trocam o reconhecimento pelas
potências capitalistas ocidentais da unificação da Crimeia com a Rússia pelo
isolamento da luta pela independência do leste ucraniano.
Em meio ao conflito em
curso, os revisionistas do trotskismo, como o PSTU (LIT) e CST (UIT), se
colocam mais uma vez ao lado do imperialismo, não só caracterizando o golpe de
estado como uma “revolução” como também se opondo à separação da Crimeia e do
Leste ucraniano. O PSTU afirma que “Qualquer organização que se reivindique
revolucionária e os ativistas mais conscientes devem se opor terminantemente a
qualquer tentativa de separatismo por parte dos oligarcas da Criméia ou outras
regiões do leste. O separatismo, no caso da revolução ucraniana, é sumamente
reacionário e não passa de uma jogada para dividir o povo e afastar o
proletariado industrial (mais numeroso e concentrado no leste) das mobilizações
de Kiev e do oeste” (Dois poderes na Ucrânia, LIT, 05/03). Estes agrupamentos
que saudaram o fim da URSS como uma “vitória revolucionária” agora se postam
mais uma vez ao lado dos falsos “revolucionários” que na verdade são hordas
fascistas! Além disso, se postam no campo militar da OTAN contra a Rússia, como
fizeram na Líbia ao apoiar os “rebeldes” mercenários contra Kadaffi, na época
saudando a “intervenção” dos bombardeios da OTAN! Longe desta política
pró-imperialista está colocado para o proletariado mundial e, particularmente,
para os trabalhadores das ex-repúblicas soviéticas rechaçarem as investidas da
UE, da OTAN, dos EUA e de seus agentes fascistas na Ucrânia. Ainda segundo o
PSTU, a “A Rússia não foi agredida pelo imperialismo. Ao apoderar-se da
Crimeia, Putin busca controlar essa península e manter a todo custo a sua
influência sobre a Ucrânia. Este foi apenas um primeiro passo, que se combina
com negociações com o imperialismo. Os que, nessas circunstâncias, dão seu
apoio à incorporação da Crimeia por Putin, fortalecem a política do
imperialismo de converter a Ucrânia em uma semi-colônia do tandem EUA–Alemanha”
(sítio PSTU, 03/04). Somente os ratos decompostos da LIT/PSTU, que ainda se
reclamam de esquerda, podem afirmar que apoiarão os neonazistas ucranianos em
caso de um enfrentamento concreto com as forças militares de Putin ou em meio à
guerra civil, em nome de uma suposta “revolução” em Kiev.
O frágil acordo entre a
Rússia e os EUA sobre a Ucrânia será testado na arena de luta de classes, mas
sem dúvida representa um freio à luta dos trabalhadores do leste do país contra
a reação fascista. Frente a esta realidade, o proletariado ucraniano deve antes
de tudo confiar em suas próprias forças, já que foi com sua ação direta que
impuseram as nascentes “Repúblicas Populares” e forçaram temporariamente o
recuo das FFAA ucraniana e dos bandos fascistas. Nos próximos dias saberemos
com mais detalhes os desdobramentos do cenário ucraniano, entretanto os
lutadores comunistas estão conscientes que a derrota do governo golpista
imposto pelo Departamento de Estado norte-americano é um primeiro passo para a
vitória do proletariado ucraniano e russo diante da ofensiva nazi-fascista em
curso na região! A tarefa continua sendo esmagar a reação fascista, abrindo
caminho para o retorno das Repúblicas Soviéticas! Nesta senda, o proletariado
deve empunhar um programa revolucionário para assumir o controle dos recursos energéticos
da região, impor a expulsão dos abutres multinacionais e a expropriação do
conjunto das burguesias restauracionistas para que as massas ucranianas,
georgianas, ossetas e russas possam conduzir vitoriosamente a luta estratégica
por uma Federação de Repúblicas Socialistas e soviéticas livres, fundadas por
novas Revoluções Bolcheviques.