quinta-feira, 17 de abril de 2014


A tarefa dos Marxistas-Leninistas na iminente guerra civil ucraniana é esmagar a reação fascista, abrindo caminho para o retorno das Repúblicas Soviéticas!

Nos últimos dias houve uma escalada nos enfrentamentos internos na Ucrânia, em um claro acirramento da luta de classes no país que ganha contornos de uma guerra civil iminente. Um mês após a Crimeia ter se unificado com a Rússia em uma decisão referendada por 98% de sua população, as principais cidades do leste ucraniano, uma região de forte concentração operária, foram palco de verdadeiros levantes populares contra o governo fascista e pró-imperialista imposto em Kiev. Tendo como vanguarda de luta trabalhadores das fábricas de Donetsk e Lugansk, milhares de operários e camponeses ocuparam as sedes das administrações locais e parlamentos para proclamarem a instalação de “Repúblicas Populares” independentes da Ucrânia, cujo governo central golpista é dominado pela direita reacionária e grupos fascistas alinhados com o imperialismo ianque e a União Europeia. As massas insurretas reivindicam a unificação com a Rússia e prometem enfrentar a repressão planejada pelos vassalos do FMI encastelados em Kiev, armando barricadas, tomando as armas das forças de seguranças locais e preparando a defesa militar da região. Neste quadro pré-revolucionário, há uma crise evidente no exército ucraniano deslocado para reprimir o povo nestas cidades. Parte das tropas enviadas para o leste ucraniano desertou, somando-se ao contingente russo de 100 mil homens estacionados na fronteira, enquanto setores das FFAA comprados a peso de ouro pela CIA, cujo diretor geral John Brennan visitou o país nestes dias, se enfrentaram com os trabalhadores que formaram comitês de autodefesa, já deixando um saldo de vários mortos. Este quadro político e social dramático e extremamente polarizado aponta no sentido de uma guerra civil latente que pode tomar conta de toda a Ucrânia, exigindo dos Marxistas-Leninistas uma posição clara através do chamado à unidade dos trabalhadores da cidade e do campo (em particular do leste ucraniano) com o objetivo de esmagar a reação fascista nas ruas. A experiência de luta do proletariado ucraniano contra o nazismo durante a II Guerra Mundial historicamente já demonstrou que a derrota do fascismo, tanto ontem como hoje, não significa a luta pela “democracia” burguesa ou apenas o direito à separação do leste do país se assim decidirem, mas o combate estratégico pela derrota do imperialismo e seu governo lacaio. Esta realidade está criando as condições para o ressurgimento de uma vanguarda comunista com suas bandeiras vermelhas inscritas com a foice e o martelo sempre presentes nas manifestações populares. Desde a LBI defendemos que no curso dos enfrentamentos militares é fundamental lutar conscientemente (política e programaticamente) a fim de abrir caminho para o retorno de Repúblicas Soviéticas no Leste do país e na própria Ucrânia através da expropriação da burguesia restauracionista nativa com o objetivo de tomar o poder político do Estado, combate de classe que pode ensejar toda a região a seguir seu exemplo, rompendo com a miséria, o desemprego e a pobreza impostos pela restauração capitalista advinda após o fim da URSS há mais de 20 anos!

Em um plano organizado pelo Pentágono e a CIA, o governo golpista deu início nesta semana ao que classificou de operação “antiterrorista”. Enviou soldados e tanques a locais ocupados pelos manifestantes e ordenou que caças sobrevoassem cidades em que grande parte da população está reivindicando um referendo para meados do mês de maio, a fim de separar-se da Ucrânia ou para ampliar a federalização do país, rejeitando a autoridade das forças direitistas instaladas no governo após o golpe, claramente fascistas e neonazistas. Segundo relatos transmitidos pela emissora Russia Today, soldados baixaram as armas durante a operação militar contra os manifestantes, no leste da Ucrânia. Integrantes da 25ª Brigada, enviada à base militar aérea de Kramatorsk, ocupada pelos manifestantes, decidiram deixar as armas e trocar de lado, unindo-se às milícias de autodefesa. Relatando um quadro iminente de guerra civil, a mídia vem informando também que três pessoas foram mortas e outras 13 ficaram feridas em confrontos entre os manifestantes e soldados enviados pelo Ministério do Interior a outra base militar, na cidade de Mariupol. Além disso, a Força Aérea Ucraniana enviou vários helicópteros e caças de combate que sobrevoaram as cidades de Kramatorsk e Slavyansky, na região rebelde de Donetsk. Está claro que os enfrentamentos tendem a se aprofundar e a guerra civil pode se espalhar como um rastilho de pólvora em todo o país, colocando em confronto as massas em luta contra a reação fascista apoiada pelo imperialismo e a UE! Note-se, dias antes de autorizar a operação militar contra o leste ucraniano, o governo golpista de Kiev assinou o “Acordo de Associação com a União Europeia” e um “acordo” com o FMI baseado em um empréstimo de 18 bilhões de euros em troca de um duríssimo pacote de medidas antipopulares: aumento de 50% no preço do gás e da eletricidade, demissão de 20% dos funcionários estatais e incremento dos impostos. Frente a este ataque social e militar, a tarefa colocada neste momento é criar organismos de poder operário e popular, organizar o armamento de todo povo para expropriar a burguesia a fim de estatizar os meios de produção sob controle dos trabalhadores. Paralelamente, deve-se reivindicar do governo russo e seus aliados o apoio político e militar aos trabalhadores e as suas “Repúblicas Populares” que enfrentam as tropas enviadas por Kiev, chamando inclusive os soldados a romper a hierarquia militar e assim unir-se aos trabalhadores. Por seu turno, faz-se necessário um profundo trabalho de agitação e propaganda comunista entre os ativistas para que não se limitem apenas à reivindicação pela federalização da Ucrânia ou mesmo pela unificação com a Rússia, bandeiras progressistas apesar de limitadas. O marco atual aponta que as tarefas democráticas devem estar intimamente ligadas a luta pelo poder político, como aponta o Programa de Transição elaborado por Trotsky: “A IV Internacional defende incansavelmente os direitos democráticos dos operários e suas conquistas sociais. Mas conduz este trabalho diário ao quadro de uma perspectiva correta, real, ou seja, revolucionária. A medida que as velhas reivindicações parciais mínimas das massas se chocam com as tendências destrutivas e degradantes do capitalismo decadente - e isto ocorre a cada passo -, a IV Internacional avança um sistema de REIVINDICAÇÕES TRANSITÓRIAS, cujo sentido é dirigir-se, cada vez mais aberta e resolutamente, contra as próprias bases do regime burguês”.

No campo diplomático a Rússia, EUA e UE e o governo golpista da Ucrânia reuniram-se em Genebra neste dia 17 de abril. Há uma enorme pressão sobre a Rússia para que assista passivamente ao esmagamento militar das “Repúblicas Populares” que desejam a unificação com seu território. Tanto que o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, anunciou um acordo sobre as etapas para uma suposta “saída política” para o conflito. Ele indicou, durante uma coletiva de imprensa, que este acordo prevê o desarmamento dos grupos armados ilegais e a evacuação dos prédios públicos ocupados no leste do país: “A Rússia não tem nenhum desejo de enviar suas tropas à Ucrânia”, garantiu Lavrov à imprensa. Segundo o documento comum assinado pelo quarteto “Todos os grupos armados ilegais deverão ser desarmados, todos os prédios ocupados deverão ser entregues a seus proprietários legítimos, as praças e outros locais públicos nas cidades ucranianas deverão ser liberadas.” (G1,17/4). O texto também inclui uma anistia para aqueles que respeitarem as disposições do acordo. Entretanto, enquanto a Rússia aparentemente recua, há novos relatos sobre o aumento da presença militar da OTAN na região. A aliança militar imperialista planeja tomar ainda mais medidas repressivas, enviando navios de guerra e intensificando patrulhas aéreas na região do Mar Báltico e do Mediterrâneo. Um contratorpedeiro estadunidense USS Donald Cook também zarpou do porto da Romênia, no Mar Morto, dotado de um sistema de combate antimísseis. O contratorpedeiro formará parte, junto com outros cinco navios, de um escudo antimísseis da OTAN, que entrará em funcionamento a partir de 2015. “Nossos planos de defesa serão revistos e fortalecidos”, disse o secretário-geral da OTAN, Anders Rasmussen, em uma coletiva de imprensa em Bruxelas, Bélgica. Ele completou que a aliança militarista ainda não chegou a um acordo sobre o envio de tropas para o leste europeu, mas está pronta para intervir diretamente. Depois do acordo, Putin declarou que todas as forças políticas da Ucrânia devem “dirigir a sua atenção à formulação de uma nova Constituição que implique todas as forças políticas do país, crie um Estado federal e garanta à Ucrânia o estatuto de não alinhado a OTAN”. O recente acordo celebrado pelos EUA com a Rússia deve ser duramente criticado. Não nos causou surpresa porque o caráter de classe do governo russo o coloca no campo do limitado enfrentamento com o imperialismo, que pode capitular a qualquer momento ante a ameaça de seus interesses mais imediatos, concentrados principalmente na Crimeia e na base militar instalada na sua península. Aparentemente, Putin e Lavrov trocam o reconhecimento pelas potências capitalistas ocidentais da unificação da Crimeia com a Rússia pelo isolamento da luta pela independência do leste ucraniano.

Em meio ao conflito em curso, os revisionistas do trotskismo, como o PSTU (LIT) e CST (UIT), se colocam mais uma vez ao lado do imperialismo, não só caracterizando o golpe de estado como uma “revolução” como também se opondo à separação da Crimeia e do Leste ucraniano. O PSTU afirma que “Qualquer organização que se reivindique revolucionária e os ativistas mais conscientes devem se opor terminantemente a qualquer tentativa de separatismo por parte dos oligarcas da Criméia ou outras regiões do leste. O separatismo, no caso da revolução ucraniana, é sumamente reacionário e não passa de uma jogada para dividir o povo e afastar o proletariado industrial (mais numeroso e concentrado no leste) das mobilizações de Kiev e do oeste” (Dois poderes na Ucrânia, LIT, 05/03). Estes agrupamentos que saudaram o fim da URSS como uma “vitória revolucionária” agora se postam mais uma vez ao lado dos falsos “revolucionários” que na verdade são hordas fascistas! Além disso, se postam no campo militar da OTAN contra a Rússia, como fizeram na Líbia ao apoiar os “rebeldes” mercenários contra Kadaffi, na época saudando a “intervenção” dos bombardeios da OTAN! Longe desta política pró-imperialista está colocado para o proletariado mundial e, particularmente, para os trabalhadores das ex-repúblicas soviéticas rechaçarem as investidas da UE, da OTAN, dos EUA e de seus agentes fascistas na Ucrânia. Ainda segundo o PSTU, a “A Rússia não foi agredida pelo imperialismo. Ao apoderar-se da Crimeia, Putin busca controlar essa península e manter a todo custo a sua influência sobre a Ucrânia. Este foi apenas um primeiro passo, que se combina com negociações com o imperialismo. Os que, nessas circunstâncias, dão seu apoio à incorporação da Crimeia por Putin, fortalecem a política do imperialismo de converter a Ucrânia em uma semi-colônia do tandem EUA–Alemanha” (sítio PSTU, 03/04). Somente os ratos decompostos da LIT/PSTU, que ainda se reclamam de esquerda, podem afirmar que apoiarão os neonazistas ucranianos em caso de um enfrentamento concreto com as forças militares de Putin ou em meio à guerra civil, em nome de uma suposta “revolução” em Kiev.

O frágil acordo entre a Rússia e os EUA sobre a Ucrânia será testado na arena de luta de classes, mas sem dúvida representa um freio à luta dos trabalhadores do leste do país contra a reação fascista. Frente a esta realidade, o proletariado ucraniano deve antes de tudo confiar em suas próprias forças, já que foi com sua ação direta que impuseram as nascentes “Repúblicas Populares” e forçaram temporariamente o recuo das FFAA ucraniana e dos bandos fascistas. Nos próximos dias saberemos com mais detalhes os desdobramentos do cenário ucraniano, entretanto os lutadores comunistas estão conscientes que a derrota do governo golpista imposto pelo Departamento de Estado norte-americano é um primeiro passo para a vitória do proletariado ucraniano e russo diante da ofensiva nazi-fascista em curso na região! A tarefa continua sendo esmagar a reação fascista, abrindo caminho para o retorno das Repúblicas Soviéticas! Nesta senda, o proletariado deve empunhar um programa revolucionário para assumir o controle dos recursos energéticos da região, impor a expulsão dos abutres multinacionais e a expropriação do conjunto das burguesias restauracionistas para que as massas ucranianas, georgianas, ossetas e russas possam conduzir vitoriosamente a luta estratégica por uma Federação de Repúblicas Socialistas e soviéticas livres, fundadas por novas Revoluções Bolcheviques.