segunda-feira, 14 de abril de 2014


Um ano após eleição de Maduro:
Derrotar os golpistas através da mobilização revolucionária dos trabalhadores no rumo da expropriação do capital! Superar a política Chavista de “reconciliação nacional” e manutenção
do regime burguês

Há exatamente um ano, no dia 15 de abril de 2013, Nicolas Maduro era proclamado presidente da Venezuela por uma escassa margem de votos, sucedendo o “Comandante Chávez” que morreu em março vítima de envenenamento tramado pelo CIA. Enquanto o candidato do PSUV alcançou os 7,51 milhões de votos, o fascistizante Henrique Capriles obteve a marca de 7,27 milhões, ou seja, o resultado foi 50,66% a 49,07%, uma vantagem de apenas 1,59% para o “chavismo”, com uma diferença de apenas 235 mil votos. Hoje, quando o país comandado por 14 anos pelo presidente Hugo Chávez é palco de uma nova ofensiva golpista da direita reacionária apoiada pelo imperialismo ianque e o governo de Maduro “estende a mão” a Capriles em busca de uma política de “reconciliação nacional”, faz-se necessário um rigoroso balanço desse dramático e curto período para traçar as tarefas imediatas e estratégicas colocadas para os marxistas revolucionários e a vanguarda classista e anti-imperialista do país, a fim de atuar com consciência de classe para derrotar a direita reacionária, já que a Venezuela encontra-se na encruzilhada entre a revolução e o fascismo, sendo o chamado “Socialismo do Século XXI” incapaz de tirar o país desse impasse pela via da vitória revolucionária dos trabalhadores. Desde já declaramos que mesmo com nossas profundas diferenças políticas e de classe com o governo “nacionalista burguês” de Maduro e sua política de conciliação, nos postamos incondicionalmente na trincheira de luta contra os golpistas e em frente única com as forças populares que apoiam o “chavismo”, buscando derrotar a reação fascista para forjar as condições para a construção de uma alternativa revolucionário dos trabalhadores! Não há a menor possibilidade de uma “terceira via” na Venezuela, ou as próprias massas ultrapassam as limitações da política nacionalista burguesa do Chavismo, ou este acabará sendo derrotado pela reação pró-imperialista no curso de concessões cada vez maiores para tentar inutilmente “equacionar” os conflitos.

Segundo o próprio Maduro, “Em um ano, aplicaram-me todas as formas golpistas e de sabotagem que aplicaram ao comandante Chávez em 14 anos. A oligarquia não respeita o poder soberano do povo, expresso pelo voto, e começou a conspirar contra o comandante Chávez, fizeram-lhe boa parte do que agora fazem contra mim” (Brasil de Fato, 14/04). Sua declaração faz referência à crise política e aos protestos no país que já provocaram 39 mortes e 608 feridos ao longo de dois meses. Como “resposta” suicida à ofensiva da direita, na semana passada o governo do PSUV e setores da oposição capitaneados pelo MUD de Capriles sentaram-se à mesa de negociações para discutir suposta “saída pacífica” para a crise. Maduro afirma que “Agora é um momento para o diálogo e a diplomacia. Na Venezuela, estendemos a mão à oposição. Também aceitamos as recomendações da União de Nações da América do Sul para que participem como testemunhas do diálogo com a oposição. Também fizemos um apelo público ao presidente Barack Obama, exprimindo nosso desejo de intercambiar embaixadores novamente. Esperemos que a sua administração, tal como os elementos menos radicais da oposição interna na Venezuela, responde de maneira recíproca. A Venezuela necessita paz. A Venezuela necessita o diálogo e a Venezuela tem que continuar em frente. Damos as boas vindas a qualquer pessoa que sinceramente queira ajudar a alcançar estes objetivos” (Artigo publicado no New York Times, 02/04). Em apoio a esta política, por meio de carta, o papa Francisco pediu para que ambos os lados demonstrassem o “heroísmo do perdão e da misericórdia” e para ter “coragem” de superar o conflito. O núncio apostólico em Caracas, Aldo Giordano, e três chanceleres da Unasul, entre os quais o brasileiro Luiz Alberto Figueiredo, atuaram como “facilitadores” do diálogo. Esta política é completamente suicida porque desarma a classe operária frente a reação fascista! Até mesmo James Petras, apoiador declarado do chavismo, alertou no artigo “Venezuela: Derrotar o fascismo antes que seja demasiado tarde” que “Os líderes políticos da oposição estão jogando um jogo enganador, passando constantemente de formas legais de protesto para uma cumplicidade secreta com os terroristas armados. Não há qualquer dúvida de que em qualquer putsch fascista, os oligarcas políticos surgirão como os verdadeiros dirigentes – e partilharão o poder com os líderes das organizações fascistas. No entanto, a sua ‘respeitabilidade’ fornece cobertura política, as suas campanhas de ‘direitos humanos’ para libertar arruaceiros assassinos e incendiários encarcerados conquistam o ‘apoio dos meios de comunicação internacionais’, enquanto servem de ‘intermediários’ entre as organizações americanas de financiamento e o subterrâneo terrorista clandestino. Quando se mede o âmbito e a profundidade do perigo fascista, é um erro contar apenas o número dos incendiários e atiradores, sem incluir os grupos de apoio logístico, de reserva e periféricos e os apoiantes institucionais que alimentam os agentes no terreno. Para ‘derrotar o fascismo antes que seja tarde demais’, o governo tem que avaliar realisticamente os recursos, a organização e o código operacional do comando fascista e rejeitar os anúncios abertamente tranquilizadores e ‘otimistas’ de alguns ministros, conselheiros e legisladores. O desafio na Venezuela é cortar a base econômica e política do fascismo. Infelizmente, até há pouco tempo o governo tem sido extremamente sensível à crítica hostil das elites além-mar e internas que se apressam a defender os fascistas – em nome da ‘liberdade democrática’” (Resistir info, 29/03). Tal realidade fica ainda mais evidente quando os três partidos abertamente golpistas (Vontade Popular-VP de Leopoldo López, Vente Venezuela e Aliança Bravo Povo), contrários até mesmo ao início do diálogo antes de o governo Maduro cumprir as exigências da MUD, são defendidos por Capriles que declarou “O VP é uma organização democrática que busca uma mudança no país de forma cívica, pacífica, democrática e constitucional”. Como se observa, sem dúvida alguma, há um avanço da contrarrevolução na Venezuela, com a burguesia nativa e a Casa Branca partindo para uma dura ofensiva diante da aberta polarização política e social, que definitivamente não se revolverá no terreno eleitoral. O dramático quadro econômico e social após 15 anos de governo “bolivariano”, com o agravamento da inflação, a continuidade da dependência ao petróleo e a necessidade de importar 40% dos alimentos fizeram neste período um setor do eleitorado chavista duvidar das perspectivas de “aprofundar a revolução” como apregoou Maduro há um ano. Os dados mostram que há um claro desgaste da via eleitoral para manter o chamado “Socialismo do Século XXI” que vem limitando o ascenso de massas e a luta direta pela ampliação das pequenas conquistas sociais, porque teme justamente que os trabalhadores avancem para além de seu programa nacionalista burguês, colocando na ordem do dia a expropriação das transnacionais, a nacionalização da terra e a destruição revolucionária do Estado burguês, o que significaria um choque aberto com as FFAA, pilar de sustentação do regime capitalista, ainda que vendida tragicamente pelos quatro ventos como “fiel à revolução bolivariana”. Por sua vez, a luta de classes dos últimos meses demonstrou, vide a radicalização das massas com as respostas dos trabalhadores aos ataques fascistas dos bandos criminosos de Capriles e López, que para avançar o proletariado deve focar sua luta revolucionária recorrendo aos seus próprios métodos de combate (greves com ocupações de fábricas e terra, comitês de autodefesa, combate a mídia burguesa reacionária, criação de organismo de poder popular).

Este quadro político dramático que dividiu a Venezuela ao meio nas eleições e segue com os conflitos de rua confirmou plenamente o acerto da posição principista da LBI de convocar em 14 de abril de 2013 o apoio crítico a Maduro, com total independência do chavismo e seu programa nacionalista burguês. Longe de patrocinar ilusões na candidatura do PSUV afirmamos que ela expressava deformadamente o sentimento e a tendência política das massas de lutar contra o imperialismo e seus marionetes. Por esta razão, apontamos em plena campanha eleitoral, que era necessário combater centralmente nas ruas, fábricas e no campo os inimigos de classe do proletariado, perspectiva que só se reforçou após o resultado eleitoral apertado e a crise política em curso. Os bolcheviques leninistas da LBI acertaram plenamente, nesta nova conjuntura aberta na Venezuela, em depositar pela primeira vez o apoio crítico ao chavismo, tendo como foco de análise o brutal avanço da ofensiva imperialista mundial detonada após a derrubada do regime burguês nacionalista líbio pelas forças da OTAN. Se o triunfo ou derrota histórica da classe operária venezuelana não se definirá no terreno eleitoral, um resultado desastroso nestas eleições poderia significar um “start” para a intervenção militar ianque aberta, já bem encaminhada com os golpes de estado em Honduras e Paraguay. Uma vitória de Capriles seria uma derrota profunda para a vanguarda operária do continente, fortalecendo um eixo político abertamente pró-imperialista que vem ganhando corpo com os golpes em Honduras e no Paraguay, tendo o apoio explícito da Casa Branca nesta senda reacionária. Os revisionistas, paladinos da “revolução árabe” patrocinada pela OTAN (LIT, PTS, PO, PCO) que chamaram o “voto nulo” nas eleições venezuelanas de um ano atrás, caso fossem coerentes, estariam ao lado de Capriles, Leopoldo López e suas marchas direitistas contra a “ditadura chavista”. Estes pseudo-trotskistas, que nas eleições de 2013 se travestiram subitamente de “puros e ortodoxos” ao simplesmente afirmarem ao proletariado venezuelano que Maduro representava as mesmas forças sociais de Capriles, não sabem onde enfiar a cabeça agora diante dos enfrentamentos que ora ocorrem nas ruas de Caracas e pelo interior do país. Ao contrário dessas seitas, no terreno concreto da luta de classes e no calor de cada combate com a direita golpista, estamos forjando a necessidade de uma alternativa independente da classe operária como agora ao denunciarmos a política de “reconciliação nacional” do PSUV. Como já denunciamos, a direita golpista e fascista está ávida para desferir um golpe letal contra Maduro. Esta manobra pode assumir a feição de uma falsa “mobilização democrática” tramada com a ajuda da CIA enquanto grupos abertamente fascistas atacam as forças populares. Por essa razão, não há espaço para disputar este suposto “movimento de massas” com as direções burguesas made in CIA, como pateticamente defendem setores da “esquerda” como a LIU e a UIT, em nome de “superá-las no calor da luta”, cabendo sim chamar a frente única com os setores populares e as forças políticas que apoiam o governo Maduro para derrotar os golpistas.

Alertamos que Maduro vem enfrentando uma “guerra” tendo dois fronts abertos: a direita reacionária agrupada no MUD e os setores do PSUV ligados diretamente ao alto comando das FFAA, ala representada por Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional. Lembremos que três generais da Força Aérea Venezuelana foram detidos recentemente por conspirarem um golpe de estado. Buscando se apresentar como representante militar do chavismo, Cabello trabalha com a possibilidade de substituir Maduro, um ex-sindicalista, em uma próxima disputa eleitoral com o MUD, realidade que pode vir a ocorrer antes mesmo do fim do mandato de seis anos de Maduro. Isto pode acontecer caso se convoque, via recolhimento de assinaturas previsto na própria constituição venezuelana, um referendo revogatório para confirmar ou não a continuidade do mandato de Maduro após transcorridos três anos na presidência.

O proletariado deve neste momento fazer através da ação direta a defesa da ampliação das conquistas sociais da classe operária e de repúdio aos golpistas, forjando no calor da batalha um programa genuinamente comunista de completa ruptura com o nacionalismo burguês. Devemos convocar a vanguarda classista para a ação direta, contemplando uma plataforma de ocupações de fábricas, nacionalizações de grupos econômicos sob o controle dos trabalhadores e socialização do latifúndio. A tarefa que se impõe nesta polarizada conjuntura, acompanhando a evolução política das massas, é a construção do partido operário revolucionário, única forma de combate consequente ao Estado capitalista, cabendo à vanguarda do proletariado adotar uma política de “estimular” as tendências de radicalização do setor popular e camponês do nacionalismo burguês para que se choque com os limites impostos pelo próprio Maduro e a direção do PSUV a frente do governo!