quinta-feira, 10 de abril de 2014


Argentina sob a pseudo “Greve geral” do 10/04: Um conluio entre as máfias peronistas, CGTs, centro-esquerda burguesa CTA, e as federações capitalistas da UIA e SRA. Mais uma vez o revisionismo (FIT) vai a reboque...

Ocorre hoje (10/04) uma “greve geral” na Argentina convocada pela oposição burguesa de direita contra o governo CFK. A convocação política denominada como “Paro Nacional” (para evitar o termo “Huelga General”) não poderia ser mais ampla, contando inicialmente com o apoio das centrais peronistas mafiosas: CGTs Moyano e Barrionuevo e a CTA do burocrata sindical Michelli, logo unificou interesses políticos com a UIA ( União industrial Argentina) e a ultrarreacionária oligarquia rural da SRA (Sociedade Rural Argentina). Com tímidas demandas por aumento salarial e contra a disparada inflacionária, patrocinada pela desvalorização do Peso em relação ao Dólar, os burocratas sindicais se juntaram às entidades patronais para, na verdade, exigir do governo Cristina que gire as exportações argentinas para outros mercados... rompendo com o que chamam de “dependência Bolivariana”. Para não deixar dúvidas sobre o porquê do apoio político de grandes grupos capitalistas à greve do dia 10, a ADEFA (Associação de Fábricas de Automotores), destacou em sua “convocação”: a abrupta queda na demanda brasileira e reclamou do Governo CFK que “intensifique suas negociações para abrir o mercado de automóveis a outros  países”. Além das federações capitalistas o “Paro” contou com o fervoroso respaldo dos partidos de direita como o PRO de Macri e da “Frente Progressista” do reacionário oligarca Binner, além é claro de todas as dissidências do Kirchnerismo. Os informes de hoje dão conta de que as empresas multinacionais “dispensaram” os trabalhadores, o que foi seguido por todos os gestores provinciais e distritais da oposição burguesa, somando no esforço de “engrossar” e “radicalizar” a paralisação convocada por 24 horas. É certo que o governo “nacionalista burguês” de Cristina vem assumindo uma linha cada vez mais neoliberal diante do agravamento da crise econômica que se agrava no país, notadamente com medidas de confisco salarial e maior repressão policial às mobilizações populares, porém os Marxistas Revolucionários não podem integrar-se em uma “frente de ação” com os setores mais sinistros da burguesia, sob a justificativa de apoiar uma “greve”, cujos objetivos passam bem distantes dos interesses históricos e imediatos da classe operária. Não poderíamos “ornamentar” uma convocação policlassista de direita (patrões e trabalhadores unidos pelo bem da nação contra o governo) com consignas de “independência de classe”, como tenta fazer a maioria da esquerda revisionista (FIT e agregados). Apesar do enorme descontentamento popular com um governo que reage à crise capitalista aprofundando a cartilha neoliberal dos rentistas internacionais, o movimento operário deve saber distinguir seus aliados na luta pelo poder socialista, dos “parceiros” demagógicos de ocasião que bradam ferozmente contra a presidenta CFK mas que representam os interesses do imperialismo em subordinar a nação a banca de Wall Street. Uma verdadeira greve geral está na ordem do dia, não só na Argentina, mas de todo o continente latino atacado pela ofensiva imperial, mas uma “greve justa” sob hipótese alguma pode contar com o apoio político das transnacionais, oligarquia e rentistas, disfarçados em “companheiros de luta” contra o “autoritarismo e corrupção” dos governos da “centro esquerda burguesa”.

Sem sombra de dúvida as tentativas realizadas por parte do governo para “contingenciar” a paralisação foram todas inúteis, desde as ameaças à burocracia sindical até a forte repressão federal não conseguiram impedir uma forte adesão de setores expressivos da classe, como Metroviários, ferroviários, condutores e servidores estatais em geral. O setor industrial seguiu a orientação da confederação patronal orientando a greve, assim como ocorreu com a Sociedade Rural de forte influência nas províncias do interior do país. Na ausência de uma direção revolucionária para o movimento de massas, o proletariado argentino atendeu o chamado da frente policlassista de oposição ao governo, reforçando objetivamente uma alternativa capitalista ainda mais conservadora e entreguista do que o atual bloco político Kirchnerista. Na prática, o que ocorreu hoje (10/04), melhor definido do que uma greve geral operária, foi uma reedição sindical dos protestos batizados de “20N”, ocorridos em 2012, onde a “pauta de reivindicações” não foi dirigida aos empresários nacionais, latifundiários ou corporações capitalistas internacionais, mas exclusivamente ao governo CFK.

Apesar da coordenação do “Paro” ter ficado politicamente a cargo das centrais sindicais, notadamente a CGT Moyanista, que até pouco tempo atrás apoiava o governo “K”, não se pode desconsiderar a influência das federações patronais em sua convocação. Este elemento, ainda que “camuflado” pela burocracia peronista mafiosa não pode ser menosprezado em uma rigorosa análise marxista, sob a justificativa de um “seguidismo” sindical na trilha do economicismo mais vulgar. Poderíamos entender como legítima a disputa política do movimento de massas com a direção de qualquer burocracia sindical (até a mais direitista), mas como Marxistas não podemos “disputar” um movimento “grevista” reacionário, pelos seus objetivos estratégicos mais além de algumas demandas corretas, gestado materialmente pelas câmaras patronais e pela oposição burguesa pró-imperialista. Uma “massiva” greve dirigida pela burocracia sindical que tem como objetivo impedir a entrada de operários negros (ou imigrantes) em uma determinada fábrica, jamais deve ser apoiada, ao contrário, deve ser caracterizada como reacionária, assim nos ensinou o legado de Trotsky. Também uma greve nacional que tem por objetivo central derrotar um governo “populista” burguês, para por no seu lugar um outro conservador alinhado integralmente com a Casa Branca, deve ser considerada como reacionária em toda sua linha.

Desgraçadamente, a esquerda revisionista argentina perdeu todas as referências de classe em sua sede voraz de ocupar postos no parlamento burguês. Juntos “Morenistas” e “Altamiristas”, agora colados de forma oportunista na FIT, se esforçam para maquiar a face reacionária do “Paro” imprimindo palavras de ordem “combativas” em sua plataforma, além de organizarem os piquetes para tornar esta “greve geral” minimamente “ativa”. Lado a lado com Macri e Binner, Altamira proclama o “fim precoce” de Cristina, “sonhando acordado” em ver o seu PO dobrar sua bancada parlamentar as custas da falência política do Kirchnerismo. Acontece que nesta linha o Partido Obrero atua como reboque de “esquerda” da oposição conservadora e pró-imperialista, pavimentando a vitória do ex-peronista Sérgio Massa à presidência da república em 2015. Aliás, veio do “novo” MAS a mais sincera definição política acerca do que pretende a esquerda revisionista nesta greve: “El país se encuentra en la recta final hacia el paro convocado por Moyano y Barrionuevo para el 10 de abril... El paro general se transforme en una verdadera huelga general política que ponga en cuestión no sólo el plan de ajuste, sino la estabilidad misma del gobierno de Cristina...Es decir, una jornada que se parezca lo más posible a una huelga general política.” (declaração do MAS 03/04, no original em espanhol  para que não seja “deturpada”...). Esta esquerda infame (PO, PTS, IS e MAS) pretende conjuntamente com a asquerosa máfia peronista, Moyano e Barrionuevo, organizar uma greve geral política para derrubar Cristina e eleger qualquer “diabo” indicado por Obama!

Somente a própria classe operária e seus organismos independentes de combate, e não agentes degenerados da burocracia sindical, terão as condições políticas necessárias para remover o nacionalismo burguês, a frente do estado capitalista, instaurando um novo poder, o governo operário como antessala da Ditadura do Proletariado. Uma genuína greve geral seria um bom “ensaio” para realizar esta tarefa histórica. No entanto “lutar” ao lado de bandos capitalistas reacionários para conspirar “ativamente” contra o governo CFK, só poderá ceder espaço à contrarrevolução golpista, de forma semelhante ao que ocorreu na deposição de Perón, em 1955, obrigando-o a partir para o exílio. Nós comunistas da LBI não apoiamos qualquer “movimento” ou “greve” protagonizada pelas “massas” ou mesmo trabalhadores, o fundamental sempre é aferir os objetivos políticos e a estratégia do movimento, para definir uma justa posição, sob a ótica dos interesses gerais do proletariado e seus aliados históricos.