terça-feira, 3 de junho de 2014


Exército brasileiro ocupa há 10 anos o Haiti a serviço da exploração da Ilha negra pelas transnacionais imperialistas

Neste mês de junho completa-se 10 anos da ocupação do Haiti, data da chegada das tropas da missão de “paz” da ONU (Minustah) comandadas pelo governo brasileiro. Nesse período ficou constatado que grandes empresas norte-americanos, canadenses e franceses exploram a mão de obra haitiana para produção têxtil, pagando em média R$ 10 por dia nas zonas francas implementadas no país após o golpe de estado patrocinado pelo imperialismo ianque. As consequências desta investida neocolonialista são evidentes: a migração em massa dos haitianos que não suportam essa situação ou a revolta dos que ficam. Para conter essa insatisfação popular, as tropas de “estabilização” da ONU comandadas pelo exército do Brasil fazem o trabalho de brutal repressão, inclusive contra greves e manifestações. O Conselho de Segurança da ONU aprovou em outubro passado a extensão da missão de ocupação do Haiti até o final de 2014. A “recomendação” foi dada diretamente pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, ventríloquo do Pentágono. O exército brasileiro continua a frente do comando da Minustah até esta data. A decisão foi tomada por unanimidade e contou com o apoio de todos os governos da centro-esquerda burguesa latino-americana. Além de Dilma, já enviaram forças militares ao país os governos Maduro, Evo Morales e Rafael Correa, em mais uma prova de que arroubo “anti-imperialista” dos paladinos do “Socialismo do Século XXI” não passa de uma farsa para acomodar os interesses de suas burguesias nativas junto ao imperialismo ianque. O Uruguai de Mujica e a Argentina de Cristina Kirchner também se somam a essa lista vergonhosa. A Casa Branca recorreu aos seus aliados no continente justamente para que as tropas ianques estejam de mãos livres para a ofensiva militar no Oriente Médio e na Ásia, mais particularmente a agressão em curso na Síria e Ucrânia.

Os governos do Brasil e do Equador se prontificaram em “ajudar” o Haiti a formar um novo Exército para substituir a força de paz da ONU em sua missão de reprimir a população trabalhadora do país. Para isso, firmaram parceria com o presidente do Haiti, Michel Martelly, que recentemente recebeu o apoio de herdeiros de Papa Doc, mais particularmente de seu filho, Baby Doc. O governo de Martelly visa reconstituir o Exército com a ajuda da centro-esquerda burguesa do continente. Tanto que o Ministério da Defesa do Brasil confirmou que está preparado para “auxiliar” o Haiti em tudo que precisar para restabelecer seu Exército, incluindo treinamento militar e engenharia: “O Brasil vai prover todo o seu know-how para ajudar o Haiti a reerguer seu Exército”, afirmou à Reuters um assessor do Ministério. Esse know-how é o utilizado na ocupação das favelas do Rio de Janeiro pelas FFAA para reprimir a população pobre! Sandra Honoré, chefe da MINUSTAH, cinicamente declarou que “Em 2004, quando a missão foi estabelecida, o Haiti encontrava-se em profundo estado de instabilidade, caracterizado por turbulências políticas e violência urbana – amplamente perpetrada por grupos armados. Nossa principal missão era estabelecer um ambiente seguro, estável, incluindo o apoio ao desenvolvimento e à profissionalização da Polícia Nacional Haitiana, ações para restaurar e manter o domínio da lei e da segurança pública, assistência na organização de eleições transparentes, promoção e proteção dos direitos humanos” (BBC, abril/2014). A Casa Branca e a ONU, como no Iraque e no Afeganistão, desejam empreender esforços internacionais para treinar e equipar uma nova força policial, uma meta fundamental para a missão da ONU no Haiti, com vista a liberar o máximo de seus assessores e estrategistas para a guerra contra o Irã e os conflitos com a Rússia.

Por outro lado, como afirmou Franck Seguy, que concluiu seu doutorado na Unicamp, com a tese A catástrofe de janeiro de 2010, a ‘Internacional Comunitária’ e a recolonização do Haiti: “Hoje, a ocupação do Haiti é terceirizada. Os países que têm tropas lá são todos periféricos em relação aos Estados Unidos e ao imperialismo de um modo geral. Países como Argentina, Bolívia, Uruguai, Paraguai, Chile, Senegal, Burkina Faso, Bangladesh, Iêmen, etc. Essa terceirização acontece militarmente e economicamente porque as zonas francas que estão sendo implementadas no Haiti são com empresas de países periféricos como Coréia do Sul e República Dominicana. A produção, porém, é destinada ao mercado norte-americano a favor do seu próprio capitalismo”. A continuidade da ocupação até outubro de 2014 foi aprovada mesmo dias depois que a própria OIT foi forçada a reconhecer o que todos já sabiam: a existência de sistema de trabalho forçado de crianças no Haiti. Segundo a OIT, uma em cada 10 crianças haitianas trabalha em regime forçado, o que na prática é um índice bem mais elevado que este. Com 225 mil crianças que trabalham a custo quase zero para as empresas transnacionais implantadas no país, o trabalho infantil sem qualquer direito é uma forma de escravidão moderna capitalista e amplamente praticado no Haiti, crescendo após o terremoto que matou mais de 200 mil pessoas na ilha. Estas trabalham em média de 14 horas diárias e em muitos casos recebem maus tratos, que chegam à exploração sexual pelos próprios soldados da ONU. Nos últimos dias foi denunciada novamente uma série de abusos sexuais cometidos pelas tropas da ONU no Haiti contra adolescentes da ilha negra ocupada. O contingente militar protagoniza todos os dias torturas, chacinas, estupros, que a grande mídia burguesa e a imprensa dos países invasores tratam de ocultar para manter a fachada de pacificadores e justificá-las a pretexto de “perseguir gangues mafiosas”. Esta é mais uma consequência da barbárie imposta pelas tropas invasoras comandadas pelo exército brasileiro em um país devastado por terremotos, doenças e fundamentalmente pela miséria social em decorrência da recolonização imperialista. Já faz mais de 10 anos, desde junho de 2004, que as tropas da ONU ocupam o país depois que o imperialismo ianque através dos seus marineres impuseram a saída de Aristide via golpe de estado e mudam suas marionetes a frente do governo fantoche, sendo o mais recente o cantor Michel Martelly, ou seja, um “novo” presidente foi escolhido para manter a velha dominação neocolonial.

Longe de apoiar a inócua política distracionista de pressão sobre o Conselho de Segurança da ONU e de “sensibilizar” o governo burguês de Dilma e seus parceiros “bolivarianos” a “retirar as tropas” é preciso fomentar uma saída operária para a barbárie social imposta pelo imperialismo, a única alternativa que pode evitar o agravamento das desgraças do país. Por isto, os revolucionários apoiam a organização da resistência armada haitiana pela derrota e expulsão das tropas invasoras, inclusive as brasileiras, uma vez que a ONU e o imperialismo nunca cederão aos apelos piedosos “pela retirada das tropas” como prega a esquerda reformista. Contra a tragédia capitalista incrementada pelo terremoto, cólera, os estupros e a miséria social é necessário que as massas da ilha organizem a resistência por uma nova expulsão dos colonizadores responsáveis pela “moderna” escravidão assalariada imposta pelo imperialismo através das tropas da ONU comandadas pelo exército brasileiro.