Exército brasileiro
ocupa há 10 anos o Haiti a serviço da exploração da Ilha negra pelas
transnacionais imperialistas
Neste mês de junho
completa-se 10 anos da ocupação do Haiti, data da chegada das tropas da missão
de “paz” da ONU (Minustah) comandadas pelo governo brasileiro. Nesse período
ficou constatado que grandes empresas norte-americanos, canadenses e franceses
exploram a mão de obra haitiana para produção têxtil, pagando em média R$ 10
por dia nas zonas francas implementadas no país após o golpe de estado
patrocinado pelo imperialismo ianque. As consequências desta investida
neocolonialista são evidentes: a migração em massa dos haitianos que não
suportam essa situação ou a revolta dos que ficam. Para conter essa
insatisfação popular, as tropas de “estabilização” da ONU comandadas pelo
exército do Brasil fazem o trabalho de brutal repressão, inclusive contra greves
e manifestações. O Conselho de Segurança da ONU aprovou em outubro passado a
extensão da missão de ocupação do Haiti até o final de 2014. A “recomendação”
foi dada diretamente pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon,
ventríloquo do Pentágono. O exército brasileiro continua a frente do comando da
Minustah até esta data. A decisão foi tomada por unanimidade e contou com o
apoio de todos os governos da centro-esquerda burguesa latino-americana. Além
de Dilma, já enviaram forças militares ao país os governos Maduro, Evo Morales
e Rafael Correa, em mais uma prova de que arroubo “anti-imperialista” dos
paladinos do “Socialismo do Século XXI” não passa de uma farsa para acomodar os
interesses de suas burguesias nativas junto ao imperialismo ianque. O Uruguai
de Mujica e a Argentina de Cristina Kirchner também se somam a essa lista
vergonhosa. A Casa Branca recorreu aos seus aliados no continente justamente
para que as tropas ianques estejam de mãos livres para a ofensiva militar no
Oriente Médio e na Ásia, mais particularmente a agressão em curso na Síria e
Ucrânia.
Os governos do Brasil e
do Equador se prontificaram em “ajudar” o Haiti a formar um novo Exército para
substituir a força de paz da ONU em sua missão de reprimir a população
trabalhadora do país. Para isso, firmaram parceria com o presidente do Haiti,
Michel Martelly, que recentemente recebeu o apoio de herdeiros de Papa Doc,
mais particularmente de seu filho, Baby Doc. O governo de Martelly visa
reconstituir o Exército com a ajuda da centro-esquerda burguesa do continente.
Tanto que o Ministério da Defesa do Brasil confirmou que está preparado para
“auxiliar” o Haiti em tudo que precisar para restabelecer seu Exército,
incluindo treinamento militar e engenharia: “O Brasil vai prover todo o seu
know-how para ajudar o Haiti a reerguer seu Exército”, afirmou à Reuters um
assessor do Ministério. Esse know-how é o utilizado na ocupação das favelas do
Rio de Janeiro pelas FFAA para reprimir a população pobre! Sandra Honoré, chefe
da MINUSTAH, cinicamente declarou que “Em 2004, quando a missão foi
estabelecida, o Haiti encontrava-se em profundo estado de instabilidade,
caracterizado por turbulências políticas e violência urbana – amplamente
perpetrada por grupos armados. Nossa principal missão era estabelecer um
ambiente seguro, estável, incluindo o apoio ao desenvolvimento e à
profissionalização da Polícia Nacional Haitiana, ações para restaurar e manter
o domínio da lei e da segurança pública, assistência na organização de eleições
transparentes, promoção e proteção dos direitos humanos” (BBC, abril/2014). A
Casa Branca e a ONU, como no Iraque e no Afeganistão, desejam empreender
esforços internacionais para treinar e equipar uma nova força policial, uma
meta fundamental para a missão da ONU no Haiti, com vista a liberar o máximo de
seus assessores e estrategistas para a guerra contra o Irã e os conflitos com a
Rússia.
Por outro lado, como
afirmou Franck Seguy, que concluiu seu doutorado na Unicamp, com a tese A
catástrofe de janeiro de 2010, a ‘Internacional Comunitária’ e a recolonização
do Haiti: “Hoje, a ocupação do Haiti é terceirizada. Os países que têm tropas
lá são todos periféricos em relação aos Estados Unidos e ao imperialismo de um
modo geral. Países como Argentina, Bolívia, Uruguai, Paraguai, Chile, Senegal,
Burkina Faso, Bangladesh, Iêmen, etc. Essa terceirização acontece militarmente
e economicamente porque as zonas francas que estão sendo implementadas no Haiti
são com empresas de países periféricos como Coréia do Sul e República Dominicana.
A produção, porém, é destinada ao mercado norte-americano a favor do seu
próprio capitalismo”. A continuidade da ocupação até outubro de 2014 foi
aprovada mesmo dias depois que a própria OIT foi forçada a reconhecer o que
todos já sabiam: a existência de sistema de trabalho forçado de crianças no
Haiti. Segundo a OIT, uma em cada 10 crianças haitianas trabalha em regime
forçado, o que na prática é um índice bem mais elevado que este. Com 225 mil
crianças que trabalham a custo quase zero para as empresas transnacionais
implantadas no país, o trabalho infantil sem qualquer direito é uma forma de
escravidão moderna capitalista e amplamente praticado no Haiti, crescendo após
o terremoto que matou mais de 200 mil pessoas na ilha. Estas trabalham em média
de 14 horas diárias e em muitos casos recebem maus tratos, que chegam à
exploração sexual pelos próprios soldados da ONU. Nos últimos dias foi
denunciada novamente uma série de abusos sexuais cometidos pelas tropas da ONU
no Haiti contra adolescentes da ilha negra ocupada. O contingente militar
protagoniza todos os dias torturas, chacinas, estupros, que a grande mídia
burguesa e a imprensa dos países invasores tratam de ocultar para manter a
fachada de pacificadores e justificá-las a pretexto de “perseguir gangues
mafiosas”. Esta é mais uma consequência da barbárie imposta pelas tropas
invasoras comandadas pelo exército brasileiro em um país devastado por
terremotos, doenças e fundamentalmente pela miséria social em decorrência da
recolonização imperialista. Já faz mais de 10 anos, desde junho de 2004, que as
tropas da ONU ocupam o país depois que o imperialismo ianque através dos seus
marineres impuseram a saída de Aristide via golpe de estado e mudam suas
marionetes a frente do governo fantoche, sendo o mais recente o cantor Michel
Martelly, ou seja, um “novo” presidente foi escolhido para manter a velha
dominação neocolonial.
Longe de apoiar a inócua
política distracionista de pressão sobre o Conselho de Segurança da ONU e de
“sensibilizar” o governo burguês de Dilma e seus parceiros “bolivarianos” a
“retirar as tropas” é preciso fomentar uma saída operária para a barbárie
social imposta pelo imperialismo, a única alternativa que pode evitar o
agravamento das desgraças do país. Por isto, os revolucionários apoiam a
organização da resistência armada haitiana pela derrota e expulsão das tropas
invasoras, inclusive as brasileiras, uma vez que a ONU e o imperialismo nunca
cederão aos apelos piedosos “pela retirada das tropas” como prega a esquerda
reformista. Contra a tragédia capitalista incrementada pelo terremoto, cólera,
os estupros e a miséria social é necessário que as massas da ilha organizem a
resistência por uma nova expulsão dos colonizadores responsáveis pela “moderna”
escravidão assalariada imposta pelo imperialismo através das tropas da ONU
comandadas pelo exército brasileiro.