Porque o PIB brasileiro não consegue “decolar” no país da “explosão” do consumo
Novamente as manchetes
da mídia “murdochiana” deram grande destaque ao resultado do tímido crescimento
do PIB no primeiro trimestre deste ano. A pífia evolução de 0,2%, contrastando
com o já fraco resultado do trimestre final de 2013 (0,4%), evidenciou novamente
uma perspectiva de repetirmos o “pibinho” em torno de pouco mais de 1% para
todo o ano de 2014. Acompanhando o relatório do IBGE acerca da variação do PIB
vem a notícia sobre o péssimo desempenho da nossa Balança Comercial, que teve o
pior resultado para o mês de maio dos últimos doze anos. Paradoxalmente, o
mesmo mês de maio obteve o melhor resultado deste ano em nível de superávit
mensal nas exportações, o que aponta um quadro alarmante das exportações
brasileiras para o conjunto do ano, exatamente nesta questão econômica
considerada o “grande trunfo” dos governos da Frente Popular desde 2003.
Contraditoriamente ao “sombrio” noticiário macroeconômico podemos aferir que o
consumo de bens e serviços no país continua a bater recordes mundiais, como a
venda de equipamentos eletrônicos ou mesmo a “conquista” da terceira posição
internacional no mercado da aviação civil, superado apenas pelos EUA e a China.
No nicho da construção de novos “Shoppings” o Brasil só fica atrás mesmo dos
Ianques, a “pátria” dos grandes templos fechados do consumo, revelando que os
níveis da poupança interna continuam bem elevados, apesar das constantes altas
na taxa de juros para a pessoa física. Se a bolha de crédito continua inflando
as vendas, e a média da massa salarial teve um leve ganho sobre a inflação
nominal dos últimos oito anos, com a consequente retração do desemprego formal,
o quadro dos vetores macroeconômicos apontam em direção contrária. Mas, qual é
a razão de fundo desta aparente contradição entre o que se “vê nas ruas” e o
esgotamento do “modelo” baseado na entrada de divisas monetárias, que ainda
conserva seu “colchão de gordura”, em torno das consistentes reservas cambiais
do Tesouro Nacional? Por quanto tempo o estado brasileiro poderá “bancar a farra” do crédito
e do consumo em uma situação econômica limítrofe do encerramento de seu lastro
superavitário das exportações de commodities agrominerais? Parece que a
situação falimentar da indústria nacional (em seus aspectos tecnológicos e
financeiros) já respondeu precocemente esta questão.
Diante da retração nas
projeções do “mercado” para o PIB em 2014, reforçadas ainda mais com os novos
dados revelados pelo IBGE, a equipe econômica do governo Dilma responsabilizou
a alta inflacionária pelo fiasco. O ministro Mantega reconheceu desta forma que
as seguidas elevações na taxa SELIC de juros não surtiram o efeito desejado, a
não ser “engordar” ainda mais a remuneração financeira dos rentistas e da banca
parasitária. Para conter a especulação inflacionária o governo da Frente
Popular se mostrou completamente impotente diante dos monopólios e grandes
atacadistas, recusando-se a adotar qualquer medida de controle de preços e
estoques para “equalizar” a demanda e oferta de produtos básicos para a
população trabalhadora. Desta forma, a “receita” neoliberal do PT para combater
a inflação continua sendo a de elevar os juros e represar salários,
principalmente os da esfera estatal. Neste cenário onde a ciranda financeira é
abertamente incentivada pelo governo, dando um “tiro no próprio pé” com o
aumento da dívida pública, o PIB brasileiro não encontra condições mínimas de
um crescimento efetivo, “condenando” a produção industrial nacional a um papel
secundário na economia, lançada ao atraso e sucateamento das forças produtivas.
O “modelo” econômico
executado pelas gerências petistas está lastreado exclusivamente nas
exportações, seja de um variado mix que vai da soja, carne, minério de ferro ao
petróleo. Com um mercado mundial favorável (focado nos BRICs) nos últimos dez
anos, o país acumulou uma “gorda” reserva cambial de cerca de trezentos bilhões
de Dólares, contra vinte bilhões da era FHC, apesar de toda a privataria das
empresas estatais. Com a “gordura” acumulada, o Tesouro Nacional passou a ser
um grande e seguro “fiador” de uma enorme massa de crédito financeiro
internacional que aportou no país, alavancando principalmente o comércio de
bens e serviços. A frota de veículos dobrou no Brasil nos últimos oito anos, enquanto
continuamos importando bens de capital (máquinas industriais de transformação)
pelo completo atraso técnico científico do país. Mas as importações brasileiras
não se restringem a equipamentos pesados, também não fabricamos, por exemplo,
sequer os combustíveis de nossos automóveis e aviões, obrigando a “gigante”
PETROBRAS (somente na produção do óleo cru) a comprar fora do país (por um
preço bem elevado) os derivados fósseis para movimentar a frota nacional e a
indústria que depende das usinas de geração de energia a gás e diesel. Parece
uma piada de mau gosto, mas no país do “pré-sal” a maioria da gasolina das
bombas é importada dos trustes imperialistas, pela ausência de modernas
refinarias (a mais “novinha” tem quase quarenta anos) e polos petroquímicos com
capacidade de abastecer a demanda nacional.
A ausência de um projeto
de desenvolvimento capitalista “autônomo”, por parte do PT, com fortes traços
para impulsionar o conhecimento científico e uma vigorosa indústria nacional em
todos os ramos da produção, impedem que o país tenha um significativo crescimento
do PIB. Enquanto pratica a demagogia social da distribuição de renda, pela via
dos programas assistenciais do governo, o país retrocede historicamente à época
do “grande fazendão”, ao sabor da crise estrutural do modo de produção
capitalista em nível mundial. Se direcionar a economia brasileira para a
restauração da China “funcionou bem” por uma década, este “lance” de Lula foi
incapaz de resolver as principais contradições de nosso país, acorrentado a uma
burguesia impotente diante das imposições do imperialismo. Agora que os BRICs
retraíram drasticamente suas compras do mercado brasileiro, as classes
dominantes tupiniquins começam a pressionar por mudanças no esgotado “modelo”
neoliberal petista, ameaçado pela estagnação e pela interrupção no fluxo do capital
financeiro internacional.
Nós Marxistas
Revolucionários nunca nutrimos a menor expectativa na possibilidade da Social
Democracia, hoje representada no país pelo PT e PCdoB, levar a frente um
projeto “sério” de crescimento capitalista nacional. Os dados econômicos
festejados politicamente pela Frente Popular nos últimos anos não passavam da “cosmética
do consumo” diante do impasse estrutural do capitalismo nativo associado e
dependente ao capital financeiro internacional. Afirmamos categoricamente que
somente o planejamento socialista da economia nacional será capaz de reverter a
situação do profundo atraso em que se encontra o país. Porém, a estatização da
economia, eliminando a função dos parasitas intermediários como empreiteiras,
bancos e atacadistas etc... somente será possível com a construção de um novo
poder político dos explorados, surgido pela via da revolução proletária.