Banco dos BRICS uma tímida e limitada ação contra a hegemonia de Wall Street
Somente as exportações
brasileiras para o mercado chinês alcançaram a cifra de 46 bilhões de Dólares
em 2013, configurando o grande parceiro comercial do país. O interesse da
burguesia restauracionista chinesa no Mercosul vem crescendo a cada ano,
levando pesados investimentos principalmente para o setor energético na
Argentina. Para o próximo ano o governo do “Partido Comunista” pretende
descarregar no Brasil um braço pesado de sua indústria automobilística, mas
para financiar esta empreitada o banco BRICS ainda é apenas uma ficção, suas
reservas não suportam o tamanho da operação. O suporte virá mesmo do banco
nacional chinês em parceria com o BNDES, acontece que grande parte dos recursos
do BNDES são captados no mercado financeiro ianque (assim como os bancos de
fomento da Rússia, Índia e África do Sul), nesta perspectiva o banco BRICS se
restringirá a pequenas operações de crédito na área de infraestrutura, deixando
para os barões de Wall Street a “tarefa” de agenciar os negócios internacionais
do bloco.
A China é o único país dos BRICS que não faz parte da cadeia financeira internacional (imperialista), seu poderoso sistema bancário ainda conserva as mesmas características herdadas do antigo estado operário, com apenas algumas modificações, portanto tem interesse direto na formação de um outro “cinturão” de crédito alternativo ao impulsionado pelos EUA. Comentou-se nos bastidores da última cúpula em Fortaleza que o governo chinês propôs ao bloco um aporte próprio de 50 bilhões de dólares, enquanto os outros quatro países entrariam com 20 bilhões cada, perfazendo um total inicial para o banco BRICS compatível com seu potencial de negócios. A proposta chinesa não era nenhum devaneio, 20 bilhões para países como Brasil e Índia, por exemplo, pouco significaria em termos de suas próprias reservas cambiais, porém a questão em jogo é bem mais profunda do que um “acerto financeiro” e os outros governos submissos ao FMI (tendo o Brasil como “carro chefe”) não concordaram com a dimensão proposta pelos chineses.
Além das “reticências” semeadas pelo governo Obama contra a iniciativa dos BRICS, as críticas mais ásperas à formalização do novo banco de “desenvolvimento” vieram da esquerda revisionista. Estes setores do movimento operário estão muito próximos da ótica política do imperialismo ianque quando a questão é combater (pela direita) os governos da chamada “centro-esquerda” burguesa, como o Brasil, Venezuela e Argentina, por exemplo. Em relação a Rússia e China os revisionistas preferem o alinhamento “democrático” com a OTAN contra o que classificam de “autoritarismo” dos governos “nacionalistas”. Voltando ao Banco BRICS, o PSTU & CIA afirmou que se tratava de mais um apêndice do neoliberalismo para financiar projetos capitalistas não “sustentáveis” contra o meio ambiente. Abstraindo a tolice de pensar que um banco internacional em plena era de hegemonia do capital financeiro sobre o planeta pudesse financiar algum “projeto socialista sustentável”, estes “ingênuos” senhores não conseguem enxergar as contradições fundamentais e secundárias no interior das classes dominantes. Se o banco “briquiano” por razões óbvias não será “socialista” isto não impede que tenhamos uma plataforma para o enfraquecimento do imperialismo diante da iniciativa “defensiva” dos governos semicoloniais. A crítica correta do proletariado aos BRICS deve partir da incapacidade histórica deste bloco burguês tornar-se uma alternativa concreta à hegemonia dos barões de Wall Street que devastam inteiramente nações e conquistas dos povos.
Para os Marxistas Revolucionários o combate mundial dos povos deve ter como inimigo central o imperialismo. As burguesias nacionais, inclusive as restauracionistas como a russa e a chinesa, se inclinam a mediar suas contradições econômicas com o imperialismo sempre na forma da subordinação, no caso do banco BRICS não foi diferente. Um país como o Brasil que precisaria investir no mínimo cerca de 60 bilhões de Dólares na construção de novas refinarias de petróleo, para romper sua dependência na importação de combustíveis e outros derivados, quando recusa a “oferta” chinesa de um aporte deste valor (pela via do banco “briquiano”) revela o seu grau de servilismo ao grande “amo do norte”. De todas as formas ainda é muito cedo para “decretar” prematuramente a inutilidade do banco dos BRICS, estamos atravessando uma etapa onde a defenestrada ofensiva imperial provoca fissuras inclusive no campo de seus antigos aliados, como o governo russo. Um avanço militar sobre a China também não é uma hipótese que deve ser descartada, principalmente pelos atuais planos do Pentágono em relação a Ásia. A classe operária deve manter-se totalmente independente dos blocos capitalistas, porém sempre disposta a “golpear junto” contra o pior inimigo dos povos e que ameaça a humanidade.