Levante negro em
Ferguson (EUA): Os explorados se rebelam contra o estado de terror policial
imposto no coração do monstro imperialista
Milhares de pessoas
tomaram as ruas de Ferguson, um subúrbio da cidade de Saint Louis no estado
norte-americano do Missouri desde o assassinato do jovem negro Michael Brown
em 09 de agosto. Pelo menos seis tiros, todos disparados pela frente pelo
policial branco Darren Wilson (dois deles na cabeça), deixaram Brown morto
depois de perseguido, mesmo desarmado e de braços para alto, sob a falsa acusação de consumo de maconha e roubo. A tentativa da polícia e do IML de
encobrirem a autoria do crime via autópsias falsas e de preservarem a
identidade do policial deu origem a uma onda de protestos populares nestes
dias, com confrontos de rua e a imposição do Estado de Emergência e do toque de
recolher pelo governo local, no que foi apoiado pelo “falcão negro”, Barack
Obama. Tropas da polícia e da Guarda Nacional fortemente armadas lançaram
granadas, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os
manifestantes que responderam com coquetéis molotov, tentando ocupar o centro
de comando que a polícia estabeleceu na vizinhança, no que foram acusados pela
mídia venal de “vândalos e terroristas” da mesma forma como a Rede Globo faz
aqui no Brasil contra os ativistas. Dezenas de pessoas foram presas e outras
gravemente feridas em um condado pobre onde vivem perto de 22 mil pessoas, em
sua maioria trabalhadores negros. Desde sábado, os protestos se estenderam a
várias cidades dos EUA expondo mais uma vez a divisão de classe e de cor no
coração do monstro imperialista! Este cenário reafirma o estado de terror
policial imposto contra o povo pobre enquanto o imperialismo ianque incrementa
sua ofensiva belicista por todo o planeta, como agora no Iraque! Não por acaso,
Valerie Jarrett, a cínica conselheira de Obama declarou: “Nosso objetivo
imediato é garantir a segurança dos moradores de Ferguson, o fim dos saques e
do vandalismo”. Agentes do FBI estão dando suporte à bárbara ação policial que
deve ser respondida com comitês de autodefesa do povo pobre e dos
trabalhadores!
Como ocorreu no
caso Amarildo (morto no interior de uma UPP na Rocinha no Rio de Janeiro),
também em Ferguson (EUA) a família do jovem Brown se declarou escandalizada com
o que considera versões manipuladas divulgadas pela polícia e a mídia para
tentar “responsabilizar a vítima e desviar a atenção”. Enquanto a comunidade
negra enfatiza que Michael era um rapaz pacato que estava prestes a ser um
universitário, comerciantes e neonazistas espalham pelas redes sociais que o
jovem já tinha ficha policial, como se tal “crime” fosse motivo para
assassiná-lo. A polícia de Ferguson, composta na maioria por policiais brancos
racistas, demorou seis dias somente para divulgar o nome do policial que matou
o jovem negro e ainda plantou informações para fazer crer que ele era suspeito
de assalto a um estabelecimento comercial. Michael Brown foi o quinto homem
negro desarmado morto pela polícia nos últimos 30 dias, com casos em estados
diferentes do país, mostrando que o problema da perseguição ao povo negro é
nacional. De acordo com um relatório do Sentencing Reform, um grupo que promove
a reforma do sistema carcerário americano, um em cada três homens negros deverá
ser preso pelo menos uma vez durante sua vida. O assassinato de Brown não é a
única causa da revolta popular de Ferguson. É apenas a faísca que desencadeou
o levante negro. A pobreza, a segregação, o desemprego e um clima de racismo
antinegros próprio do capitalismo ianque senil e doente colocaram literalmente
fogo na pequena Ferguson e a região metropolitana de St. Louis, no Missouri.
Como denunciaram
vários jovens amigos de Brown, sua morte é o resultado concreto do assassinato
em massa de adolescentes nas periferias dos grandes centros urbanos, sendo
parte de uma política de estado nos EUA, herdeira da legislação racista que foi
“reformulada” depois da luta pelos direitos civis nos anos 50 e 60. A mídia
ianque apoia plenamente a legislação racista justamente para reprimir os
setores descontentes com a crise econômica. Um relatório feito pelo instituto
Pew Center, em 2011, revelou dados estarrecedores sobre o caráter racista do
verdadeiro “estado policial” que reina no coração do monstro imperialista, que
é responsável por nada menos do que 5% da população carcerária mundial (e 25%
do continente americano). Apesar de corresponderem a 12% da população estadunidense,
negros estão no topo de todas as estatísticas policiais. Nas prisões, existe um
branco para cada 11 negros. Pesquisas indicam que quatro de cada cinco jovens
negros serão aprisionados em algum momento de suas vidas. E o destino traçado
pelo sistema pode ser ainda mais trágico: cerca de 40% dos que estão nos
corredores da morte são negros, proporção que chega a 60% em estados como a
conservadora Pensilvânia (onde a população negra não chega a 10%).
Diante do risco de
revolta popular da população negra por todo o país, Obama (após apoiar a
repressão policial em Ferguson), declarou cinicamente que a morte do jovem era
uma “tragédia”, porém pediu “calma a população” e que a “lei será cumprida”. O
lobo em pele de cordeiro só não disse que as “leis” estão a serviço da
burguesia e seu estado policial... A execução de Michael Brown faz lembrar um
caso recente, mas que tomou rumo totalmente contrário. O jovem negro Troy Davis
foi executado com a pena capital após ser acusado com testemunhas falsas de ter
matado um policial branco. Num caso, um jovem negro é executado no meio da rua
e o policial assassino é protegido pelo Estado burguês. Noutro caso, a justiça
penal não teve muitas dúvidas do que ocorreu e executou Troy Davis em setembro
de 2011. Outro exemplo é o de Mumia Abu Jamal até os dias de hoje preso por
acusação falsa de ter morto um policial. O “falcão negro” não deseja desagradar
seus anos capitalistas brancos e já prepara a transição para um governo de
corte abertamente fascista em 2016, possivelmente sob o comando do Tea Party ou
algo afim.
Os ataques de claro
conteúdo fascista e racistas estão em consonância com a época de ofensividade
bélica e de reação ideológica preconizada pelo imperialismo ianque do qual
Obama é porta-voz, como vemos, por exemplo, na Ucrânia, cujo governo golpista é
apoiado pelos EUA. Como não há um contraponto revolucionário à degradação de
uma sociedade doente que recorre a um estado policial contra seu próprio povo,
a humanidade tende a caminhar para a barbárie imposta pelo império decadente.
Desgraçadamente, se não houver uma direção política que aponte uma saída
comunista para os trabalhadores de todo o planeta, assassinatos racistas,
carnificinas neonazistas e guerras genocidas acontecerão como norma de
sobrevivência do regime capitalista senil. Sem a intervenção do proletariado
nesta conjuntura fascistizante em defesa da liquidação deste estado policial e
pela liberdade imediata dos negros e trabalhadores encarcerados, o capitalismo
não se extinguirá, nem cairá de podre, ao contrário, arrastará a humanidade
para a barbárie. Estamos vendo a volta com força do fascismo ianque em escala
interna e planetária. Para que não se repitam novas cenas sanguinárias como o
assassino do jovem negro Michael Brown dentro e fora dos EUA, somente a ação
revolucionária do proletariado mundial poderá reverter estas tendências
nefastas, se valendo da luta pela liquidação do modo de produção capitalista e
tendo como estratégia a imposição de seu próprio projeto de poder socialista.