quinta-feira, 14 de agosto de 2014


Morte de Eduardo também reposiciona o PSOL na rota do apoio a Marina Silva

Enquanto os barões da mídia ainda “choram” e lamentam pela morte de Eduardo Campos, refazendo um cenário político muito parecido com a morte de Tancredo Neves em meados dos anos 80, seus reacionários estafetas quase em histeria clamam para que Marina Silva assuma imediatamente o comando da campanha presidencial do PSB para poder derrotar Dilma. Mas também no campo da chamada “esquerda socialista” (na verdade social democrata) a ausência de Campos parece que já começa a provocar novos realinhamentos eleitorais. O fato (quase consumado) de Marina assumir o protagonismo da disputa pelo Planalto, ainda que pela legenda do PSB já que o REDE não se oficializou, recolocou na ordem do dia a antiga aproximação entre o PSOL e a ex-senadora ecocapitalista. Não é demais relembrar que o PSOL caminhava a passos largos para celebrar uma coligação com o REDE, caso o partido de Marina obtivesse seu registro eleitoral. Como o REDE foi indeferido pelo TSE e seguiu pelo caminho do “entrismo” no PSB, talvez supondo que o “cacique” Campos abrisse mão de sua postulação para Marina, o PSOL decidiu por manter um “nome próprio” nestas eleições presidenciais. Porém, várias “pontes” foram construídas entre o REDE e o PSOL, incluindo uma “fração Marineira” mantida no partido e encabeçada pela vereadora Heloísa Helena. O comunicado oficial do PSOL sobre a morte de Eduardo não deixa dúvidas a respeito desta “inclinação”, passando por cima do caráter de classe oligárquico e burguês do PSB: “Recebemos com perplexidade e emoção a notícia do falecimento do presidenciável Eduardo Campos. A tragédia que atingiu Campos, sem precedentes na história democrática, também nos toca e reveste de luto este processo eleitoral.” (Luciana Genro, Jorge Paz e Coordenação de Campanha do PSOL). O PSOL pernambucano seguindo o mesmo norte político, foi tomado de “amnésia”, esquecendo que o então governador Campos reprimiu duramente os ativistas das “Jornadas de Junho” em seu estado. Para um partido que se reivindica representante do legado político das “Jornadas”, parece muito contraditório afirmar que: “O PSOL em Pernambuco recebe com muita tristeza esta notícia. Pernambuco e o Brasil perdem um quadro político importante, homem público jovem e talhado desde ainda muito cedo na vida pública, adversário político dos mais inteligentes e respeitáveis.” (Nota da executiva do PSOL/PE). Agora é esperar que os “Marineiros” do PSOL assumam a defesa oficiosa da candidatura Marina, já que não seria mais possível registrar legalmente uma nova coligação. Quanto a corrente do deputado Ivan Valente (majoritária no controle do partido) não haverá grandes problemas para “alaranjar” a campanha de Luciana, posto que a própria candidata do PSOL também é simpática a esta iniciativa. A base política desta “aliança informal” que está se gestando entre o PSOL e Marina está calçada na identidade programática existente entre as duas correntes partidárias, mais além é claro dos possíveis dividendos eleitorais desta operação. A defesa de um “capitalismo sustentável”, para as oligarquias dominantes é lógico, unifica solidamente o REDE, o PSOL e até mesmo os Morenistas do PSTU (integrante do cortejo das carpideiras de Eduardo), que em coro uníssono rechaçam a Ditadura do Proletariado e a violência revolucionária do poder das massas em movimento.

A forte “atração” que a candidatura de Marina Silva exerce no campo neoliberal não é segredo para ninguém. Apoiada pelo capital financeiro, tendo como “chefe de gabinete” a senhora Neca Setúbal (dona do banco ITAÚ), Marina montou a equipe econômica de seu futuro governo com nada menos do que os “pais do Plano Real”, em uma clara indicação para o mercado de que irá implementar a “agenda” de Wall Street no Brasil. O “estranho” mesmo é que o PSOL, incluindo neste bojo suas alas mais a “esquerda”, sinta-se tão seduzido pela nova oportunidade dada pelo “acaso” a Marina. Neste cenário aberto para o PSOL, o importante será colar as candidaturas ao parlamento com mais potencial eleitoral ao nome Marina, como Heloísa e Freixo, por exemplo, ficando para Luciana Genro o papel de “enfeite do bolo” da farra eleitoral oportunista.

Lembremos que todas as “pontes” de Marina com o PSOL estão plenamente estabelecidas ligando importantes figuras públicas do partido à candidata eco-capitalista já no primeiro turno da eleição presidencial. Como a tendência é que Marina vá para o segundo turno em disputa contra o PT, sendo uma exímia puxadora de votos, não temos dúvida que pelo país afora diversos candidatos do PSOL ao legislativo federal e em vários estados estabeleçam a aliança com o REDE/PSB “para derrotar o governo Dilma”. Nesta “coligação” está integrado o PSTU que já fez inclusive esta experiência em Belém, quando Marina apoiou a candidatura de Edmilson Rodrigues para prefeito da capital paraense em 2012 ainda no primeiro turno, estando o PSOL integrando a aliança com o PSOL e PCdoB, no que foi “premiado” com a eleição de um vereador na capital do Pará. A mesma coligação se repete agora no Pará, novamente com o PSTU tentando eleger Cléber Rabelo deputado federal colado ao nome de Edmilson Rodrigues. Vejamos o que Edmilson afirmava sobre Marina em 2012: “A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que é referência nacional e internacional na pauta do meio ambiente, declarou publicamente apoio à candidatura de Edmilson Rodrigues à Prefeitura de Belém, nesta segunda-feira, 27, durante coletiva de imprensa no Hotel Regente, em Belém. ‘O eleitor está aprendendo a diferenciar o candidato que só tem o discurso de sustentabilidade, do candidato que tem histórico coerente com a plataforma de sustentável, que é o Edmilson. Eu sei que o Edmilson tem esse comprometimento porque demonstrou isso quando foi prefeito (entre os anos de 1997 a 2004). Agradeço a oportunidade de estar aqui para apoiá-lo Marina é ex-filiada do Partido dos Trabalhadores (PT), concorreu à Presidência da República pelo Partido Verde (PV), em 2010, quando obteve 20 milhões de votos, e, hoje, sem partido, lidera um movimento nacional de defesa do meio ambiente com crescimento socioeconômico. Marina e Edmilson atuaram juntos no movimento sindical dos professores, nos anos 80. ‘A Marina tem um pensamento estratégico para a construção de um futuro civilizatório, ético e voltado à sustentabilidade” (Blog Edmilson50, 28/08/2012). O mesmo ocorre agora com o apoio que o PSTU presta à candidatura de Heloísa Helena ao Senado em Alagoas, sendo a parlamentar do REDE a maior representante de Marina dentro do PSOL.

Para “consumo interno”, o PSTU se diz contrário às coligações com partidos patronais, chegando a implorar ao PSOL para “rever” sua política de alianças, enquanto para o “grande público” se coliga novamente com Edmilson Rodrigues em Belém e Heloísa Helena em Alagoas, mesmo estes tendo o apoio de Marina Silva. O PSTU irá criticar timidamente a candidatura eleitoral de Marina, porém de fato fará uma “aliança tática” com a representante da “nova direita” para derrotar eleitoralmente o PT, copiando a mesma política do PSOL. Até mesmo o PCB que está coligado com o PSOL e o PSTU seguirá esta política vergonhosa. Já vimos esta conduta em vários casos, sendo o exemplo do “Mensalão” (quando esta “esquerda” defendia a prisão de Dirceu e outros membros da direção do PT) como a melhor demonstração da unidade do PSOL e PSTU com a direita, desde o DEM, PSDB até o REDE. No campo internacional esta política se enquadra com a “frente única” que a LIT celebra com a reação burguesa (inclusive fascista) desde a Líbia e a Ucrânia, passando pela Síria. Neste sentido, de fato, a direção nacional do PSTU é defensora da ampliação da política de alianças do partido, rompendo de vez com a velha tradição de formação de frentes unicamente com partidos da “esquerda” pequeno-burguesa. Estamos vendo, a partir da aliança estabelecida agora em Belém e Alagoas, o “começo do fim” do PSTU enquanto partido que se reivindicava formalmente revolucionário, que a passos largos vai se tornar mais uma legenda “domesticada” da esquerda socialdemocrata refém do regime democratizante, onde os apetites eleitoralistas, sindicalistas e aparelhistas, já com enorme peso no partido e que corrompem grande parte de sua militância vinculada a essas estruturas, vão esmagar qualquer traço de bolchevismo, ainda que formal, que mantinha até então o PSTU fora das alianças diretas com a burguesia e seus partidos.

O certo é que a ascensão de Marina “atiçou” o apetite eleitoral do PSOL e de seus candidatos a deputados, colocando literalmente em marcha um novo realinhamento de forças nestas eleições que se apresentam de “esquerda”, mas acabam fazendo o jogo da fração mais reacionária da burguesia. A base política desta “aliança informal” que está se gestando entre o PSOL e Marina está calçada na identidade programática existente entre as duas correntes partidárias, mais além é claro dos possíveis dividendos eleitorais desta operação. Não temos a menor dúvida que Luciana Genro (que já recebeu financiamento dos capitalistas para sua campanha eleitoral) se integrará passivamente nesta onda, mesmo mantendo formalmente sua postulação à presidência. Ela será um braço auxiliar de Marina em nível nacional, enquanto nos estados os candidatos a cargos parlamentares com maior “apetite” colarão de fato seus nomes ao da candidata do REDE. Aos Marxistas Revolucionários cabe tarefa de denunciar ativamente mais esse engodo montado pelo imperialismo e sua mídia venal, que com a ajuda da “esquerda” (PSOL e PSTU) busca vender Marina como a “terceira via” entre PT e PSDB quando de fato ela não passa de uma velha representante dos interesses do grande capital com uma “nova” embalagem.