Hyrlanda agita piquete do MOB na porta do Bradesco
“Organizar a greve geral pela base para derrotar os banqueiros, impor conquistas ao governo Dilma e superar as direções ‘chapa branca’ da CUT-CTB!”
O Jornal Luta Operária
entrevista a bancária Hyrlanda Moreira, histórica militante Trotsquista e
dirigente do Movimento de Oposição Bancária (MOB). Hyrlanda completa este ano
30 anos de militância revolucionária ininterrupta, iniciada no começo de 84
quando ingressou nas fileiras da então Convergência Socialista. Ela, hoje
funcionária do Bradesco após a privatização do BEC, nos fala sobre os rumos da
campanha salarial de 2014 que ocorre em pleno ano eleitoral e dos desafios da
construção de uma direção classista para a categoria.
Jornal Luta Operária
(JLO): A Contraf-CUT entregou nestes dias a pauta de reivindicações dos
bancários a Fenaban, quais as exigências dos trabalhadores aos patrões e ao
governo Dilma?
Hyrlanda Moreira (HM).
De fato, no último dia 11 de agosto, o Comando Nacional dos
Bancários/Contraf-CUT entregou à Fenaban a pauta de reivindicações da
categoria, aprovada na 16ª Conferência Nacional da Contraf, realizada dias 25 a
27de julho. Os 634 delegados, em sua maioria dirigentes sindicais, eleitos
bionicamente em fóruns viciados como as conferências regionais, definiram como
eixo da campanha salarial dos bancários a reivindicação de reajuste salarial de
apenas 12,5%, referente à inflação do período mais 5% de “aumento real”, além
de PLR de três salários mais R$ 6.247,00, piso igual ao salário-mínimo do Dieese
de R$ 2.979,25. A primeira rodada de negociação já foi marcada para os dias 19
e 20 de agosto, sobre o tema saúde e condições de trabalho. Após a entrega da
minuta geral da categoria o Comando Nacional também entregou às direções do
Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal as pautas específicas de
reivindicações dos trabalhadores das duas instituições públicas, mas que
negociam seguindo os critérios de arrocho salarial e ataques ditados pelos
bancos privados, como Bradesco e Itaú.
JLO: O rebaixamento da
pauta foi “justificado” pelo fato de 2014 ser um ano eleitoral. Não deveria ser
o contrário, explorando as divisões no seio da burguesia?
HM: A pauta vem sendo
rebaixada ano após anos, entretanto, considerando que 2014 é um ano eleitoral,
os burocratas sindicais da CUT-CTB aproveitaram para presentear os banqueiros e
o governo da frente popular com a surrada estratégia de Mesa Única da Fenaban e
uma pauta ainda mais rebaixada. Além disso, sem qualquer pudor, aprovaram o
apoio à reeleição de Dilma, legítima representante do capital financeiro e do
agronegócio em nosso país. Não é a toa que a lucratividade dos bancos bate
recorde a cada trimestre, graças as altas taxas de juros, incrementado pela
rotatividade e demissões, assédio moral, terceirização, aumento de
correspondentes bancários, extrapolação da jornada de trabalho, privatizações,
cobrança de altas tarifas contra a população, etc. Em 2013, os bancos lucraram
R$ 60,7 bilhões e, só nesse primeiro semestre de 2014, o resultado dos três
maiores bancos privados(Itaú, Bradesco e Santander) chegou a R$ 19,6 bilhões,
que representa um acréscimo de 22,9% referente ao mesmo período do ano passado.
JLO: A CUT e seus
sindicatos dizem que se deve apoiar a reeleição de Dilma (PT) para derrotar a
direita e o tucanato, qual a posição do MOB sobre esta questão?
HM: Esta política
colaboracionista da burocracia da CUT/CTB em subordinar e atrelar a campanha
salarial dos bancários aos interesses do capital financeiro e ao próprio
governo Dilma, inclusive apoiando sua reeleição apenas revela o grau de
decomposição política dessas direções sindicais. Dilma vem aplicando a política
da direita e do tucanato. Como FHC, mantém os salários arrochados nos bancos
públicos (BB, CEF, BNB) e privilegia os banqueiros, que tem tido lucros
recordes. Por esta razão, contra esta política eleitoralista nós defendemos o
voto nulo e o boicote ativo à farsa eleitoral! Se depender deles e de seu
eleitoralismo “chapa branca”, os bancários amargarão nova derrota nas mãos da
gestão da frente popular e seguirão divididos através de assembleias separadas
por banco, negociações específicas com pautas rebaixadas, substituição de luta
pela reposição das perdas salariais e aumento real por abonos e PLRs
insignificantes, submissão à justiça patronal, terceirização de piquetes etc.
Longe de ser resultado de um processo amplo e democrático, essa pauta é produto
de um calendário burocrático, montado para liquidar com a vontade e participação
da base e, desse modo, fazer prevalecer os interesses dessa burocracia sindical
parasita para preservar o governo do PT em um ano eleitoral. Afinal, uma
categoria cuja base nacional é em torno de 500 mil bancários não pode permitir
que 634 burocratas governistas a represente. É necessário romper com esse ciclo
vicioso.
JLO: Como a vanguarda
classista pode opor-se à política de colaboração de classes da CUT e da CTB? A
Conlutas e a Intersindical podem ajudar nesta tarefa ou são um obstáculo à luta?
HM: Não é uma tarefa
fácil, pois os trabalhadores encontram-se paralisados pelas direções
chapa-branca (CUT/CTB) e pelas reformistas, a exemplo do PSTU/Conlutas e
PSOL/Intersindical, que buscam apenas canalizar a insatisfação e disposição de
luta dos trabalhadores para o terreno eleitoral, seja para assumir a direção
dos aparatos sindicais seja para gerir o Estado capitalista e suas
instituições. O MNOB/CSP-Conlutas/PSTU centraliza as maioria das oposições
sindicais com uma política oportunista, inclusive chegando ao cúmulo de
unificar atividades, de caráter midiático, com a burocracia governista, formar
chapas sindicais com setores da CUT e CTB, privilegia o corporativismo e a
divisão da categoria na defesa das mesas de negociação por banco, apoia a tática
da burocracia de dividir as assembleias específicas por banco, etc. É preciso
construir uma alternativa classista desde a base da categoria!
JLO: Qual programa de
luta o MOB defende para esta campanha salarial bancária?
HM: Para responder as
reais reivindicações da categoria que tanto sofre com o arrocho salarial, falta
de isonomia salarial e de tratamento, assédio moral institucionalizado,
terceirizações, metas absurdas, demissões, é preciso preparar pela base uma
campanha salarial verdadeiramente unificada pela base. Só com essa política
classista, defendida pelo MOB/TRS, é que os bancários podem evoluir no processo
de estruturação política e organizativa de um polo de Oposição alternativo de
direção classista, apesar de que o apoliticismo, provocado pela atual etapa de
reação ideológica no mundo, ajuda a isolar fortemente a política de
independência de classes. É preciso, portanto, que os trabalhadores entrem em
cena como protagonistas das lutas, resgatando seus métodos de ação direta e
empunhando suas bandeiras históricas: reposição integral das perdas salariais,
escala móvel de salários, estatização do sistema financeiro, sob controle dos
trabalhadores, reversão das privatizações, estabilidade no emprego, jornada de
6 horas, isonomia de tratamento, pela redução da jornada de trabalho sem
redução salarial, luta contra a ofensiva imperialista contra os povos e a
recolonização nacional, oposição de classe ao governo Dilma, por um governo
operário e camponês, pelo socialismo!