“ACORDO DE PAZ” FARC-SANTOS: VITÓRIA DA “REAÇÃO DEMOCRÁTICA”
BURGUESA CONTRA A LUTA REVOLUCIONÁRIA NA COLÔMBIA... OS MARXISTAS-LENINISTAS
NÃO TEM NADA A COMEMORAR!
Está sendo comemorado como “histórico” pela mídia mundial e
os governos de todos os matizes políticos o acordo celebrado entre o governo de
Manoel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Seus
representantes assinaram no final desta semana em Cuba o “acordo de cessar-fogo
bilateral e definitivo” após mais de meio século de conflitos no país. O acordo
oficializado em Havana (sede dos chamados “diálogos de paz” entre as duas
partes) inclui cessar fogo, entrega de armas e garantia de segurança para os
guerrilheiros que passariam a civis. As FARC se comprometeram a depor suas
armas em até 180 dias à ONU, que as destruirá e utilizará o material na
construção de três monumentos. “Hoje é um dia histórico para a Colômbia”, disse
Santos. Além dele, compareceram à cerimônia o comandante das FARC, Timoleón
Jiménez, e o presidente de Cuba, Raúl Castro, que atuou como um dos mediadores
do processo. Serão estabelecidas 22 áreas de transição temporárias e 8 campos
para os guerrilheiros das Farc, que devem existir por seis meses, onde os
militantes entregarão suas armas e voltarão à vida civil. Os que tiverem que
responder por crimes terão penas reduzidas, em alguns casos podendo ser
convertidas para prestação de serviços. A negociação entre o governo de Santos
e as FARC envolveram seis pontos. Quatro deles já estavam definidos: a
participação política dos guerrilheiros, as drogas ilegais, o programa agrário
e a justiça e vítimas. Na quarta-feira desta semana, chegou-se ao acordo sobre
o quinto ponto, que é o desarmamento da guerrilha e depois sobre o sexto, que é
a convocação de um referendo para aprovação popular do acordo. Acertada a
entrega das armas pelas FARC e o plano de sua transformação em partido político
subordinado as regras da democracia burguesa, o imperialismo ianque felicitou o
governo colombiano por ter chegado a um acordo de cessar-fogo definitivo com a
guerrilha: “Apesar de persistirem os desafios no momento em que as duas partes
continuam negociando um acordo de paz definitivo, o anúncio de hoje representa
um importante avanço para por fim ao conflito", declarou Susan Rice,
assessora para segurança nacional do presidente Barack Obama. Durante seu
discurso na cerimônia formal de assinatura do pacto em Havana, o
secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que o cessar-fogo “fortalecerá o
caminho” rumo à paz definitiva na Colômbia: “Na ONU estamos fazendo todo o
possível para que este processo de negociação se transforme em uma
implementação da paz. Trabalhemos juntos para que a promessa da paz que se sela
hoje em Havana se torne realidade”. Também participaram do ato na capital os
presidentes do Chile, Michelle Bachelet, e da Venezuela, Nicolás Maduro, para
demonstrar o aval dos governos da centro-esquerda burguesa. Para entrar em
vigor, o acordo de paz precisará passar por um referendo popular, a ser
convocado pelo governo Santos. A Corte Constitucional ainda não se pronunciou
sobre a legalidade do referendo, que caso seja convocado se tornará objeto de
disputa entre Santos e o ex-presidente Álvaro Uribe. Santos, comandando um
governo de “centro-direita” foi ministro da Defesa de Uribe e ordenou o
assassinato do comandante Afonso Cano, mas agora é acusado de ser um “traidor”
pelo seu antigo chefe. Para nós, revolucionários trotskistas, não há nada a
comemorar! As “negociações de paz” com Santos e o conjunto das medidas
anunciadas pelas FARC foram sendo tomadas desde 2012 no marco de uma enorme
pressão “democrática” de seus “aliados”, particularmente do governo venezuelano
e os irmãos Castro, comandantes da burocracia cubana, elas não fortalecem a
luta revolucionária na Colômbia e no mundo, na verdade a sabotam . A ofensiva
militar imperialista na Líbia e na Síria, apoiando-se na onda de “reação
democrática” que varre o Oriente Médio, é a prova do que afirmamos. Frente a
essa conjuntura dramática, os revolucionários bolcheviques criticam
publicamente as decisões tomadas pela direção das FARC porque estas medidas
desgraçadamente levam paulatinamente à sua rendição política e não “só”
militar. Através de concessões crescentes se aposta na via da conciliação de
classes e na política de integração ao regime títere como prega Piedad Córdoba
e seu movimento “Colombianos pela Paz”. Na Colômbia, mais que em qualquer outra
parte do mundo, hoje a simples luta sindical contra os patrões e as
multinacionais exige a ruptura do proletariado com os limites da legalidade
burguesa e a construção de milícias operárias armadas para desarmar os
exércitos paramilitares e as escaramuças do aparato repressivo. Não é por acaso,
que os mesmos moralistas pequeno-burgueses de “esquerda” se mostram tão
preocupados com os danos que os métodos da guerrilha causam à consciência e à
organização dos trabalhadores, sejam incapazes de conclamar a organização de
milícias operárias para combater o assassinato sistemático de trabalhadores
pelos bandos armados burgueses. Isso acontece porque tal tarefa deve ser
encabeçada por um genuíno partido trotskista completamente independente da
opinião pública burguesa e de sua moral, armado de um programa revolucionário
capaz de preparar pacientemente a insurreição das massas colombianas. É vital
para o movimento de massas colombiano organizar milícias operárias tão fortes
que sejam capazes de acaudilhar atrás de si as organizações guerrilheiras, submetendo-as
militarmente à democracia das assembleias proletárias para desarmar o aparato
repressivo oficial e paramilitar assassino.
Os “acordos de paz” celebrados hoje são fruto de um processo
de iniciou sobre a pressão direta de Hugo Chávez já em 2008. Não esqueçamos que
dias após os guerrilheiros das FARC terem sido massacrados pelo governo Uribe,
cujo ministro da defesa era Manoel Santos, em uma operação militar conjunta com
o imperialismo ianque no Equador, Hugo Chávez defendeu que as FARC entreguem as
armas: “Que (as Farc) entreguem as armas, que formem um partido político, mas
que não lhes matem” (Folha On Line, 07/02/2008). Agora seu “pedido” começa a
tornar-se realidade. Tal declaração tratou-se de um chamado à completa rendição
militar das FARC pela via de um acordo para esta se integrar ao simulacro da
democracia burguesa colombiana. A proposta tem como consequência direta e
prática não só o enfraquecimento político da guerrilha, mas a sua completa
exterminação física, tendo em vista a experiência das próprias FARC, que na
década de 80 deslocou parte de seus quadros para a constituição da Unidade
Patriótica e impulsionou um partido político legal, tendo como resultado o
assassinato de cerca 5 mil dirigentes pelas forças de repressão do Estado, pilar-mestre
da democracia bastarda colombiana. Essa tragédia teve como base as mesmas
ilusões reformistas hoje patrocinadas. Ao narcotraficante regime burguês
colombiano não interessa sequer a conversão da guerrilha em partido político
desarmado, apenas sua extinção. Ainda que consideremos justo que as FARC tomem
medidas de autopreservação neste momento delicado do combate, pois a guerrilha
tem todo direito de negociar a liberdade de seus presos políticos através da
troca de reféns, definitivamente não é anunciando o desarmamento total e sua
integração ao bastardo regime democrático o melhor caminho para se defender dos
ataques do genocida regime colombiano, muito menos tendo ilusões de que este
possa chegar a algum acordo com a guerrilha que não seja baseado na sua
liquidação enquanto força política e militar.
Somando-se ao coro reacionário daqueles que responsabilizam
os “métodos” das FARC pela ofensiva militar do governo Colombiano, ou seja, o
uso da luta armada e da captura de prisioneiros de guerra, na época Chávez
instigou as FARC a “que humanizem a guerra, que não utilizem o sequestro como
uma arma” (Idem). Fidel também aconselhou a guerrilha a libertar
incondicionalmente os que continuavam retidos: “Critiquei com energia e
franqueza os métodos objetivamente cruéis do sequestro e a retenção de
prisioneiros nas condições da selva. Mas não estou sugerindo a ninguém que
deponha as armas, se nos últimos 50 anos os que o fizeram não sobreviveram à
paz. Se algo me atrevo a sugerir aos guerrilheiros das FARC é simplesmente que
declarem por qualquer meio a Cruz Vermelha Internacional a disposição de pôr em
liberdade os sequestrados e prisioneiros que ainda estejam em seu poder, sem
condição alguma” (Cubadebate, 05/07/08). Em 2012 o conselho de Fidel começou a
ser “atendido” e agora virou a base do acordo, no lastro do próprio pacto
celebrado recentemente entre a burocracia castrista e Obama que vai acelerar a
restauração capitalista.
Diante do cerco crescente neste momento de maior fragilidade
das FARC, os marxistas revolucionários sempre declararam seu apoio
incondicional à guerrilha diante de qualquer ataque militar do imperialismo e
do aparato repressivo de Santos. Simultaneamente, apontamos como alternativa a
superação programática da estratégia reformista da direção das FARC baseada na
reconciliação nacional com a oposição burguesa e a unificação da luta armada
com o movimento operário urbano sob a estratégia da revolução socialista para
liquidar o regime facistóide e organizar a tomada do poder pelos explorados
colombianos. Defendemos que uma política justa para o confronto entre a
guerrilha e o Estado burguês passa por aplicar a unidade de ação contra Santos,
com a mais absoluta independência política em relação ao programa reformista
das FARC. Ao lado dos heróicos guerrilheiros das FARC e honrando o sangue
derramado pelos comandantes Afonso Cano, Manuel Marulanda e Mono Jojoy, que
morreram em combate, apontamos como alternativa programática a defesa da
estratégia da revolução socialista e da ditadura do proletariado, sem
patrocinar nenhuma ilusão na possibilidade de construir uma “Nova Colômbia” sem
liquidar o capitalismo e seus títeres, como hoje desgraçadamente defende o
atual comandante das FARC, Timoleón Jiménez.
As “negociações de paz” com Santos e o conjunto das medidas
anunciadas pelas FARC são apoiadas pelo conjunto da esquerda mundial e os
governos “progressistas” da América Latina. Elas estão sendo tomadas no marco
de uma enorme pressão “democrática” dos “aliados” da guerrilha. A
centro-esquerda burguesa na Colômbia apoiou as “negociações de paz”. Omer
Calderón, presidente do partido colombiano União Patriótica (UP) junto com o
Polo Democrático chancelaram as iniciativas de Santos em torno do tema.
Calderón destacou que a expectativa do povo colombiano é que as negociações de
paz avancem para que prevaleça a democracia no país e que o fim das agressões a
militantes populares. Lembremos que por conta desta mesma política suicida a
União Patriótica, surgida em 1985 teve dois candidatos presidenciais seus
mortos (a candidata atual, Aida, também sofreu atentado recente do qual
escapou). 5 mil militantes da UP foram assassinados incluindo oito
congressistas, 13 deputados, 70 vereadores, 11 prefeitos. As “negociações de
paz” entre as FARC e o governo Manuel Santos, saudadas pela esquerda reformista
nacional e internacional como um grande avanço, mostraram sua real face macabra
desde que começaram: mais de 200 guerrilheiros mortos desde 2012 até agora. Não
esqueçamos que em meio aos “diálogos” o governo anunciou novos investimentos no
combate às FARC e a aproximação com a OTAN, tanto que a proposta de formalizar
um cessar-fogo durante as “negociações” foi rechaçada pelo presidente
colombiano várias vezes até a celebração final. Como observamos, trata-se de
uma farsa montada justamente para eliminar fisicamente a guerrilha, como a LBI
já denunciava quase isoladamente na “esquerda” quando se anunciou o acordo
costurado por Chávez e Fidel entre a guerrilha e o governo capacho do
imperialismo ianque. Na verdade está em curso uma ofensiva geral contra a
guerrilha pela via da “reação democrática” no lastro do recrudescimento global
da ação do imperialismo contra os povos, nações e forças políticas que são
obstáculos a seus ditames, como as FARC, a Síria e o Irã, alvos imediatos da
sanha imperialista.
Fica cada vez mais claro que a única “paz” que sairá destas
negociações é a dos cemitérios, já que desgraçadamente as vidas dos heroicos
combatentes das FARC foram sacrificadas em nome de uma política que em nada
serve para a luta revolucionária e, muito menos, para libertar a Colômbia do
domínio da burguesia e do imperialismo. Não resta dúvida que Santos e Uribe são
dois lados da mesma moeda na política de eliminação física e política da FARC
patrocinada pelo imperialismo ianque, sendo o atual presidente partidário de
uma orientação que está sendo bem mais sucedida que a do chacal Uribe, de quem
foi ministro da defesa, já que vem neutralizando tanto a guerrilha como a
própria “esquerda” colombiana. A direção da guerrilha nos últimos anos veio
cada vez mais apostando em uma ilusória solução negociada para o enfrentamento
que já dura várias décadas. Tanto que as FARC anunciaram que pretendem formar
um partido político submetido as regras da democracia burguesa. A história está
prestes a se repetir na Colômbia, desta vez como uma segunda tragédia, posto
que as FARC parece ter esquecido o desastre do passado quando se “converteu” em
partido institucional, em nome da “paz” e teve a maioria de seus quadros
dirigentes assassinados pelo regime burguês. Por esta razão, denunciamos este
acordo e o consideramos parte da estratégia de Obama de deixar como seu legado
não só a reaproximação com Cuba, mas a aniquilação das FARC pela via da
"reação democrática".